Volume 1
Capítulo 35: Nove Colinas
Léo e Van-Nee passaram 5 dias vivendo como uma família normal, colhendo as batatas do quintal, matando a saudade e contando as suas respectivas aventuras pessoais dos últimos 4 anos e meio. Após darem baixa da posse da área agrícola antes administrada por Van-Nee, a família seguiu para o local acordado para o encontro com os demais, como ainda havia tempo, os três seguiram uma rota mais longa, passando pelo litoral do reino do Leste.
Seguindo pela estrada pouco usada entre a Cordilheira Escaldante e as 9 colinas, Léo, Van-Nee e Andreia adentraram o Reino do Norte, alcançando a vista do mar após 3 dias de caminhada. Seguindo o trajeto do litoral do oceano na direção sul, os três contornaram as 9 colinas, em busca de algo que poucos conheciam.
— O templo da Colina Hermes! — Van-Nee exclamou, quando finalmente adentraram em uma construção de pedra, na base da colina mais ao leste.
— Hermes? Interessante esse nome! — Léo pareceu se interessar — Tem algum significado?
— É o nome da pessoa que construiu esse lugar, ou pelo menos é o que a lenda conta, dizem que ele construiu uma colina em cima da sua casa de pedra, e todos os dias se sentava lá em cima para assistir o nascer do sol.
Van-Nee explicou calmamente a Léo enquanto curiosamente vasculhava o lugar.
— As outras colinas também têm nomes e histórias do mesmo tipo? — Léo perguntou enquanto acendia uma tocha para iluminar o lugar.
— Sim! — Van-Nee sorriu apontando na direção da colina mais próxima — A segunda colina se chama Afrodite, a terceira se chama Gaia, as outras também tem nomes, mas eu não lembro de todas.
Van-Nee estranhou a curiosidade de seu marido, mas fez de conta que não se importava, já que ele viveu muito tempo nesse mundo, era normal querer saber algumas coisas, seguindo as instruções dela os três desceram as escadas ao fim do corredor.
No andar de baixo havia um altar antigo, construído com vários blocos de pedra desgastados, indicando que o local havia sido construído há muito tempo. Além das pedras, não havia nada, mas o que a família buscava era algo escondido, uma coisa que somente alguns poucos conheciam a existência, um objeto que pertencia a um deus.
Van-Nee tateou o chão em busca de algo, enquanto Léo segurava a mão de Andreia, ambos, pai e filha, com olhares atentos.
— Achei! — Van-Nee limpou a poeira sobre um dos blocos de pedra do piso, revelando um desenho em baixo relevo, representando um sol.
— Então essa é a fechadura? — Léo disse se aproximando.
Van-Nee apenas balançou a cabeça, indicando que seu marido estava certo. Em seguida ela retirou um objeto metálico dourado do bolso, era uma insígnia do sol, tinha o formado exato do desenho no piso. Van-Nee encaixou a insígnia no espaço em baixo relevo e se afastou, Léo também recuou alguns passos, permanecendo atrás de sua esposa.
Uma fileira de blocos de pedra começou a lentamente se mover para baixo, causando um leve tremor, e formando uma escada de 7 degraus. Van-Nee apressou-se em descer, Léo não se moveu, apenas pôs sua filha nos braços, para que a criança não tentasse seguir a mãe.
Assim que pisou no andar secreto, a escuridão cercou Van-Nee, mas ela era uma maga excepcional, em dois segundos o local estava iluminado, revelando uma quantidade absurda de ouro em torno da jovem, e demonstrando que o espaço lá em baixo era muito maior do que a colina em si.
— Calma Van-Nee, se riquezas materiais pudessem tirar sua concentração agora você estaria vivendo no Castelo de Prata. — Ela disse a si mesma.
Léo permanecia no andar de cima, aguardando sua esposa, enquanto relembrava quando, na viagem, ao explicar o que buscava, ela disse claramente que somente uma pessoa poderia descer por vez, caso duas ou mais descessem, apenas uma poderia voltar.
Enquanto isso, lá em baixo, Van-Nee desesperadamente buscava um objeto que pertencera a um deus, no meio de toneladas de tesouros, mas além da regra de só descer uma pessoa por vez, ela sabia que existia uma outra regra:
— Apenas aquilo que você mais deseja pode ser retirado, e esse algo deve se ater a um único objeto, eu desejo apenas uma coisa… — Van-Nee repetia para si mesma.
O degrau inferior por onde ela tinha entrado moveu-se para cima, ficando igual em altura com o segundo degrau. Essa era a terceira regra, tinha um tempo total de 5 minutos para que a porta se fechasse.
— Onde está essa mão? — Falou Van-Nee em voz alta.
Meio segundo depois ela sentiu alguém próximo a ela, lhe observando.
— Então o que você mais deseja é a mão? — Uma voz estranha veio daquela figura embaçada.
— Quem é você? — Van-Nee perguntou, enquanto preparava uma magia de ataque.
— Eu? — A figura parecia sorrir — Eu sou o maior ladrão de todos os tempos…
Van-Nee sentiu um arrepio misturado com uma sensação de desconforto, mas no momento em que lançou sua magia de ataque, a figura sumiu, reaparecendo instantaneamente atrás dela.
— Você é rápida! — A figura se aproximou de Van-Nee — Mas eu sou mais, foi assim que eu roubei a mão de um deus! Que é exatamente aquilo que você mais deseja.
A ex-sacerdotisa ficou estática, ela não conseguia acreditar que aquela figura de aparência borrada era real, se fosse uma ilusão, era muito bem-feita.
— Apenas me dê a mão e eu vou embora! — Van-Nee resolveu barganhar, porém não obteve resposta alguma.
Ao mesmo tempo um som seco veio da escada, os degraus estavam se movendo novamente, só restavam 4 degraus. Como o estranho permanecia em silêncio, apenas sorrindo. Van-Nee resolveu ignorar a figura e continuar buscando a mão do deus.
A figura seguiu Van-Nee fazendo piadas idiotas e comentários desnecessários, no objetivo de tirar a concentração da jovem. Após poucos instantes o terceiro degrau se moveu, Van-Nee se desesperou, ela sabia que não conseguiria passar se faltassem apenas dois degraus, a porta estaria muito estreita
Van-Nee teve então um estalo de genialidade, acreditando ter descoberto quem era seu importunador, resolveu então mudar de estratégia, virou-se para a figura que lhe seguia e perguntou:
— Qual seu nome?
—Dentre todos os que vieram aqui em todo esse tempo, você é a primeira que pergunta meu nome… Todos querem saber quem sou, mas nunca perguntou o meu nome.
A figura expressou um tom de solidão e arrependimento.
— Meu nome é Hermes, eu sou um ladrão, o maior ladrão de os tempos, eu criei esse lugar, mas há muito tempo estou preso aqui, faz tempo que não recebo visitas, o último que ficou preso aqui não aguentou a pressão e sucumbiu à loucura e suicidou-se…
Van-Nee sorriu, ela parecia ter descoberto algo surpreendente.
— Por que está preso aqui em baixo? — Perguntou ela.
— Por causa dos meus crimes… — A figura parecia mais pesarosa.
— Quais exatamente?
— Eu roubei 3 coisas que não devia: A mão do deus da transmutação, o cajado do deus da sabedoria e um fio de cabelo do deus sol.
Van-Nee sorriu muito mais, ela estava a um passo de conseguir o que queria. Ao mesmo tempo o quarto degrau se moveu, era a última chance de Van-Nee
— Todos esses 3 pertences sagrados estão aqui? — Van-Nee expressava desejo.
— Não! Se eu tivesse com qualquer um deles ao meu alcance, já teria saído daqui… É mais complicado do que parece.
— Você também é um deus, certo? — Van-Nee tinha um olhar de vitória.
— Então você descobriu? Parabéns! Mas é uma pena que não deixarei que saia, você ficará me fazendo companhia pela eternidade.
A figura ficou sorridente, mesmo que sua aparência fosse meio embaçada. Então se moveu em direção a Van-Nee.
No mesmo instante Van-Nee correu em direção à porta, ainda estava longe, então usou uma magia de velocidade, e chegando perto lançou uma de impulso, arremessando a si mesma para fora. Ao mesmo tempo o quinto degrau se moveu, ficando um espaço que não caberia uma pessoa adulta.
Já do lado de fora, Van-Nee olhou para baixo, onde a figura rapidamente apareceu, como se estivesse olhando para ela.
— Você conseguiu entrar na minha casa, roubar informações e fugir! Quando revelei algumas pistas eu pensei que poderia descobrir o meu segredo, mas nunca que poderia fugir de mim. — A figura estranha parecia feliz — É uma boa ladra, merece uma recompensa adequada…
No mesmo instante os dois degraus restantes se moveram e a porta se fechou, Van-Nee apanhou a chave em forma de sol no chão, e para sua surpresa, o objeto dourado começou a perder o brilho, ficando acinzentado, em seguida mudou a forma, se transformando em uma manopla.
— Espera! — Léo estava atordoado com o acontecimento — O que aconteceu exatamente?
— Eu roubei de um ladrão! — Van-Nee disse cheia de si — Eis a mão de um deus!
A ex-sacerdotisa pôs a manopla, que magicamente se ajustou à sua mão esquerda, e os 3 saíram em direção ao sul, sempre seguindo o litoral.
Leonardo continuava sem entender o que realmente havia acontecido.