Volume 1

Capítulo 4: Respostas

Felipe entrou em sua sala pessoal apressadamente, com um ar mais tenso do que qualquer pessoa ali já tinha visto, nem mesmo Lídia, sua companheira de trabalho nos últimos 4 anos conseguia imaginar o que poderia ter acontecido, a jovem de pele branquíssima, óculos e tranças pretas preferiu ficar em silêncio do que falar qualquer coisa que pudesse irritar Felipe, apesar do tempo de convivência e da proximidade informal dos dois, ele ainda era o chefe da seção.

— Lídia! — Exclamou Felipe — Vou usar minha habilidade de ponderar, não deixe que ninguém me atrapalhe!

— Sim, chefe… — Respondeu Lídia.

Felipe foi ao fundo da sala, parou próximo à uma estante cheia de livros muito bem organizados, escolheu um de filosofia, mas não era o conteúdo do livro que lhe interessava. Mover levemente o livro era a chave para abrir aporta secreta atrás da estante.

Ouviu-se um estalo de fechadura e um som metálico de engrenagens, a estante moveu-se lentamente para a direita, revelando uma sala ampla cheia de livros jogados no chão por todos os cantos, papeis com vários símbolos, e ao centro um tapete com padrões geométricos compondo um mosaico colorido.

Nas paredes estantes cheias de livros de capas desgastadas, quadros em molduras ricas em detalhes, e um quadro com anotações em diversas línguas diferentes. Diferente da do quarto de André e da sala pessoa de Felipe, o local era mais escuro, com aparência medieval, um local onde ele se sentia em casa, lhe lembrava sua habitação no Outro Mundo.

Felipe sentou-se no centro do tapete, entrelaçou as pernas frente ao corpo, juntou as duas mãos de modo que as pontas dos dedos se tocassem, e começou a respirar lentamente, como se estivesse meditando.

Embora Lídia já tivesse visto aquela cena umas dezenas de vezes, ainda era algo maravilhoso, aos poucos ela se aproximou da entrada secreta que permanecia aberta, encostou uma mão na porta e ficou assistindo Felipe usar o seu poder exclusivo.

Mesmo não sabendo os detalhes de como funcionava o poder de Felipe, Lídia sabia que quando ele fazia aquilo, era capaz de encontrar respostas para quase todos os problemas, com base nos seus conhecimentos acumulados. Outro ponto importante do poder do chefe da inteligência era a sua memória perfeita, uma vez que visse um rosto, ouvisse algo ou lesse um texto, era capaz de se lembrar perfeitamente, e através da “ponderação”, chegar a conclusões com uma precisão milimétrica.

Haviam ainda outros pontos da habilidade que Felipe disse que ela não precisaria saber, pois não eram importantes. Lídia assistia a cena de Felipe em seu momento de reflexão com um sorriso no rosto, e um pensamento na cabeça.

Será que um dia eu poderia ter um poder só meu também?

Os olhos de Felipe se abriram, estavam totalmente brancos, como se não houvessem íris ou pupilas, além de emitirem um brilho forte.

É uma nova habilidade? — Pensou Lídia — Não, é apenas algo que eu nunca vi

Por cerca de quinze minutos Felipe permaneceu imóvel, como uma estátua. Sob o olhar vigilante de Lídia, que volta e meia retornava a sua mesa para atender uma ligação, ele ponderou calmamente, até finalmente mostrar sinais de que estava chegando ao seu limite.

Aos poucos os olhos de Felipe foram se fechando, sua respiração foi se tornando mais acelerada, ao ponto de ficar ofegante, até que abrisse novamente os olhos e com uma expressão de espanto, Lídia correu para ajuda-lo, era por isso que ele não queria que mais ninguém visse o que havia ocorrido, esse era o seu momento de fraqueza, onde a pessoa mais respeitada do local precisava ser amparada por sua secretária pessoal.

— É muito complexo… — Disse Felipe como se estivesse muito cansado — São milhares de possibilidades…

— O que? — Indagou a garota — Não entendi…

— O Cavaleiro de Prata… — Continuou Felipe, enquanto tentava recuperar o fôlego — Se acontecer o mesmo que da última vez, temo que ninguém seja capaz de pará-lo…

—Mas ele está preso no “Outro Mundo”, né? — Lídia começava a tremer — Tem algum perigo dele conseguir vir para o nosso mundo?

— Não… Segundo o André o maldito… Já está aqui…

A resposta de Felipe deixou a garota em pânico, mesmo assim ela reuniu todas as suas forças e ajudou seu chefe a voltar à primeira sala, sentou-o em uma cadeira acolchoada, e após, dirigiu-se à estante, voltou o livro-chave à sua posição original fazendo com que a porta se fechasse.

Enquanto a porta secreta lentamente se fechava, Felipe explicou:

— André não me deu informações suficientes… Então trabalhei em cima de suposições, de uma forma ou de outra, não consigo chegar a uma resposta satisfatória… Existem milhares de possibilidades, e cada uma tem um baixo percentual de chances de ocorrer, entretanto não podemos descartar nenhuma… Não posso deixar que tudo se repita.

Lídia continuava de pé ao lado de seu chefe, relembrando as histórias que ele sempre contava sobre o Outro Mundo, e o nome do Cavaleiro de Prata sempre fora atribuído à culpa de tudo de ruim que aconteceu aos heróis, foi ele quem manipulou todos do início ao fim.

Os pensamentos de Lídia foram interrompidos pelo som da porta enfim se fechando.

Poucos segundo após o clique típico de fechaduras que ocorrera ao encerrarem os sons de engrenagens, o telefone em cima da mesa de trabalho de Lídia tocou, ainda trêmula a jovem se apressou em atender.

— Eh… E-Escritório da divisão de inteligência e segurança mundial, Lídia falando, pois não…

Após escutar o que quem estava do outro lado da linha estava falando, ela olhou sorridente para Felipe, enquanto respondia.

— Pode deixar, eu passo o recado ao meu chefe…

— Quem era? — Perguntou Felipe, que estava bem mais calmo e já respirava normalmente.

— O pessoal do escritório de NY! — Exclamou a garota — Eles confirmaram a vinda dos 3… e disseram que os de Paris chegam no mesmo dia.

— Quando exatamente? — Perguntou Felipe.

— Na sexta, chefe.

— Ótimo, temos 3 dias para fazer os preparativos — Felipe disse essas palavras enquanto punha o braço sobre o rosto. Sinal claro de que estava disposto a tirar uma soneca, o sono era um efeito colateral do seu poder.

— Devo chamar o Kawã também? — Perguntou baixinho Lídia, com medo que sua pergunta pudesse incomodar Felipe.

Felipe não respondeu, apenas fez um sinal positivo levantando o polegar direito.

Assim serão 9, mas um dia serão os 33…. — Pensou Lídia enquanto pegava o telefone para ligar para o próximo convidado.



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