Volume 1

Capítulo 45: Meus Segredos (1)

André saiu cedo acompanhado por Zita, os dois pegaram um ônibus e viajaram por horas, por mais que a garota perguntasse ele jamais lhe revelaria o destino, então ela preferiu apenas acompanha-lo. Zita ainda cogitou pedir ajuda a algum dos outros heróis, mas os mais próximos a ela tinham voltado ao Outro Mundo, e mesmo ela não tendo poderes e temendo por sua segurança e do seu amado.

O local marcado para o encontro era um cemitério cheio de árvores por entre os túmulos, com muitas sombras, se tivesse alguns bancos e não reparasse nos túmulos, qualquer um poderia confundir com uma praça.

Zita ficou parada próximo ao portão de entrada, vigiando à distância e preparada para intervir a qualquer momento. André caminhou por entre os túmulos com as mãos nos bolsos, não demorou muito a avistar Sônia com um vestido longo e óculos de sol.

André não perdeu tempo, ele não queria estar ali, então já chegou perguntando:

— O que deseja me falar?

— Apenas algumas trocas de informações! — Sônia respondeu séria.

— E precisava mesmo de tantos seguranças para isso?

— Segurança nunca é demais… Você não confia em mim e eu não confio em você!

— Mas três carros de apoio, onze à paisana e sete atiradores é um pouco demais, não acha?

— Na verdade são apenas cinco atiradores.

— Não precisa mentir, eu perdi meus poderes mas tenho boas habilidades de percepção! Um na van, um no prédio ao Sul, um no prédio ao Leste, e dois aqui dentro, um fingindo ser um bêbado, e outro com a arma disfarçada de muleta.

— Aquela muleta é uma arma?

— Ninguém segura uma muleta como se fosse atirar com ela, é bem óbvio pelo braço tenso, dedo indicador posicionado, e olha para cá exatamente a cada 17 segundos , um intervalo perfeito, somente alguém com um treino muito intenso chega a esse nível de precisão.

— Também não tem nenhum no prédio ao Leste…

— Tem sim, ele me seguiu desde a minha casa, mas entrou naquele prédio com uma caixa de violoncelo, ninguém toca violoncelo naquela região rural, e o que alguém que tocaria em uma orquestra estaria fazendo lá tão cedo? É bem óbvio…

— A Elizabeth parece não percebido todos…

— Há uma pequena diferença entre nós, ela é uma sacerdotisa e eu sou um guerreiro. Ela já matou, mas nunca esteve próxima da morte tantas vezes quanto eu.

— Você foi capaz de descobrir todos tão rápido? É realmente um monstro como os outros descreveram…

— Não vim aqui para ser insultado.

— Ok, ok… Tudo bem, precisamos conversar, há informações que eu gostaria de obter e outras que posso lhe fornecer. Vamos nos ater ao diálogo.

— Que tal assim: cada um faz uma pergunta por vez, não tenho motivos para mentir, então pode me perguntar o que quiser que responderei com total sinceridade, mas em compensação terá que me responder também. Não tente mentir por que eu sou bom em detectar mentiras, se desconfiar que mentiu eu simplesmente irei embora.

— Tudo bem. Eu começo: Por qual motivo me salvou?

— Não sei do que está falando, seja mais específica.

— Na Divisão de pesquisa e Desenvolvimento… Descobri que Alice estava naquele lugar para me matar e pôr a culpa em vocês, e aproveitou do momento em que eu baixei a guarda para atentar contra a minha vida, mas você se atirou em mim, me salvando, tudo que quero saber é o motivo parar ter me salvado.

— Ah… Eu só achei você parecida com alguém importante para mim, apenas isso… Agi por reflexo, não acontecerá novamente, não se preocupe.

— Não seja cínico! Mesmo assim, obrigada!

— Minha vez de fazer uma pergunta. O que fizeram com a centelha da Zita?

— Não posso responder essa pergunta…

— Então encerramos por aqui!

— Espere!.. Há um soldado que recebeu o poder da chama… Ele está treinando para controlar… Não sei os detalhes dessa parte da pesquisa então é tudo que posso lhe dizer…

— É suficiente! Sua vez de perguntar.

— Por qual motivo escolheu esse nome, André Lima?

— Eu não escolhi, minha mãe escolheu.

— Felipe disse que você não lembrava do seu passado, apenas o nome. Mas parece que você lembra mais do que diz.

— E Felipe é um grande mentiroso, ele sabe mais do que finge saber.

— Sua vez de perguntar.

— Por que escolheu me encontrar aqui?

— Por causa da pergunta anterior, o verdadeiro André Lima está enterrado bem aqui, nesse túmulo! Acredito que em uma conversa direta poderei descobrir que você realmente é, e por que se passa por uma pessoa que morreu há doze anos.

— Acredite, ainda há muita coisa sobre mim mesmo que desejo descobrir.

— Então quem sabe descobrimos algo juntos, vamos à próxima pergunta: O que lembra sobre a sua família? A desse mundo.

— Lembro pouca coisa, lembranças vagas, minha mãe era bonita e dedicada ao trabalho… Meu pai era engraçado e passava muito tempo viajando… E a minha irmã mais velha, que era quem mais cuidava de mim.

Sônia fez alguns segundos de silêncio, como se processasse todas aquelas informações, André por sua vez preferiu ficar em silêncio também e dar um momento a ela.

— Lembra os nomes deles?

— Calma. É a minha vez de perguntar! Qual a sua relação com a criança enterrada nesse túmulo?

— Essa pergunta eu não posso responder…

— Seu silêncio é a melhor resposta! Então me adianto à sua próxima pergunta: Sim eu lembro os nomes de todos da minha família original, mas não importa o quanto insista eu não direi a você!

— Por mim tudo bem, aprecio a sua sinceridade e não forçarei que me responda. Mais alguma pergunta? Já que antecipou a minha pergunta, é o seu turno novamente.

— Qual o objetivo da Aliança Internacional?

— São muitos, há muita gente envolvida e cada um tem o seu próprio objetivo. Desde ter poderes igual aos heróis, ficar extremamente rico com os recursos do Outro Mundo, descobrir algo inédito que revolucione a ciência, até alcançar a imortalidade e a dominação mundial.

— Entendo… Então de qualquer forma a organização a qual você participa é um perigo para os dois mundos!

— Minha vez. O que você sabe sobre o Cavaleiro de Prata? Todos falam dele mas nunca explicaram o motivo de temê-lo.

— Sei o suficiente para matá-la aqui mesmo se você tiver alguma relação com aquele desgraçado…

— Eu sei que você o odeia, o que preciso são de informações que possam me ajudar descobrir se ele está de alguma forma envolvido com a AI.

— A única coisa que posso dizer é que ele é um monstro que controla as pessoas para que elas lutem pelas suas causas distorcidas, uma pessoa extremamente perigosa e o maior estrategista que já conheci, supera até mesmo o Felipe. Se ele estiver com a sua organização, vai fazer de tudo para abrir um portal e dominar aquele mundo.

— Então é como eu desconfiava… Ele está por trás dos líderes da AI, tenho certeza agora.

— Eu voltei para esse mundo com a missão de encontra-lo, então preciso que me responda: Há algum indício da existência dele nesse mundo?

— Sim, existe! Quando o portal abriu há pouco mais de quatro anos, ninguém viu quem saiu primeiro, mas as câmeras de segurança de um local próximo flagraram uma pessoa com roupas estranhas vindo da direção do portal, o que é muito esquisito, já que era uma região pouco movimentada naquele horário.

— Isso é muito interessante! Então as minhas suposições estavam realmente certas, ele veio para esse mundo!

— Tem mais… Nenhuma das câmeras conseguiu identificar o rosto do indivíduo, mas mesmo assim, meses depois ao ser criada a Aliança Internacional, recebemos ordens de apagar essas filmagens com a desculpa de que era para preservar a segurança dos heróis.

— Isso aumenta as minhas certezas! Uma pena que foram apagadas…

— Mas eu tenho uma cópia… Não me julgue, é uma mania minha.

— Agora sim estamos chegando a algum lugar. Miraa sempre dizia que uma pessoa preparada vale por um exército.

— Enquanto eu faço o download da filmagem para o meu smartphone, me faça a próxima pergunta, assim que baixar enviarei para o e-mail de Elizabeth.

— A Aliança está mesmo preparada para uma guerra entre os dois mundos?

— Infelizmente sim…



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