Volume 2
Capítulo 62: O Orbe de Andreia
Em meio à um mundo de guerras e soldados afiando suas armas para a batalha que se aproximava, haviam duas pessoas que pareciam não se importar com nenhum problema e queriam apenas se divertirem uma tarde ensolarada.
— Achei outra! — Gritou Andreia levantando uma concha que acabara de recolher da areia da praia.
— Essa aí é grande… — Léo sorriu enquanto sua filha corria na areia molhada buscando conchinhas como se fossem tesouros.
— Vocês dois estão me desconcentrando! — Reclamou Van-Nee.
Enquanto pai e filha corriam pela praia em busca de conchas de moluscos, a ex-sacerdotisa da floresta praticava o uso da manopla que havia afanado da Colina Hermes. Sentada com as pernas dobradas em posição de lótus, usando o objeto na mão esquerda, ela mantinha os olhos fechados e a respiração lenta.
Tentando evitar uma piora no humor da sua esposa, Leonardo chamou sua filha para ir um pouco mais longe, prometendo a ela que teria mais chances de encontrar uma concha gigante. A criança abriu um sorriso e seguiu o pai pela areia molhada, sob o olhar cálido de sua mãe.
Sentindo que tinha finalmente liberdade para se concentrar, Van-Nee respirou fundo, e abrindo a mão em direção à um pequeno amontoado de areia, começou a entoar o feitiço.
— “Deus de outrora,
Ser que és imortal,
Longe de todo mal,
Peço vos que agora,
Ouça o meu pedido,
Deste chão repartido,
Dê pureza à um cristal”.
A manopla emitiu um brilho dourado que foi se intensificando aos poucos, ao passo que a areia começou a se mover em círculos. A velocidade do giro da areia foi aumentando gradativamente até formar um vórtice turvo com um brilho cintilante no centro. O movimento da areia gerava uma brisa leva em todas as direções, balançando os cabelos escuros de Van-Nee.
A tempestade de areia foi se intensificando e produzindo um som agudo, o barulho era tamanho que podia ser ouvido onde Leonardo e Andreia estavam.
— Mamãe tá fazendo aquilo mais uma vez? — A menininha perguntou.
— Ela não vai se dar por vencida! Quando resolve fazer algo, minha esposinha não desiste no meio do caminho.
Ao longe os dois pararam de procurar conchas e ficaram observando Van-Nee e o turbilhão de areia à frente dela. Não demorou muito a perceberem que estava chegando ao fim.
Aos poucos a areia foi pousando enquanto o vento persistente ainda formava círculos sobre a camada de areia mais fina, o som agudo cessou e Van-Nee estava com a respiração pesada, e ainda de olhos fechado.
Abrindo os olhos lentamente enquanto tentava recuperar o fôlego, a ex-sacerdotisa aparentava ter corrido uma maratona, com certa dificuldade se levantou e foi ao monte de areia.
Não havia nada de diferente na areia que Van-Nee usara o feitiço, mesmo assim ela andou um pouco em círculos, ainda tonta, como se tivesse procurando algo.
De pé sobre o monte de areia Van-Nee suspirou e pensou:
— Com essa são quanta falhas mesmo? 35 ou 36? Já nem lembro…
A ex-sacerdotisa tentou descontar sua frustração chutando a areia, mas algo pesou em seu pé, provocando uma dor e fazendo com que ela pulasse algumas vezes em um pé só enquanto proclamava alguns palavrões característicos do reino do Sul. Mas o estado de ódio foi rapidamente suprimido quando ela viu o motivo da dor.
Uma esfera transparente brilhava no meio da areia amontoada, causando um brilho nos olhos da ex-sacerdotisa assim como um sorriso em seus lábios. Era pequena ao ponto de caber na palma da mão, mesmo assim Van-Nee olhava como se fosse um tesouro.
Quando viu Van-Nee pulando sobre o monte de areia, Leonardo apressou-se em retornar para conferir o que teria acontecido. Pondo Andreia nos braços, ele correu em alta velocidade, até chegar no local em que sua esposa estava.
Ao chegar, pôs sua filha no chão e pediu que ela procurasse mais uma concha enquanto ela falava com sua esposa.
— O que houve? — Léo estava com semblante de preocupação.
— Apenas um leve equívoco… — Van-Nee deu um sorrisinho.
— Então deu errado outra vez?
— Não exatamente… — Levantando a mão com a esfera brilhante, ela continuou — Aprecie a minha primeira criação transmutada!
— Ah… Então é para isso que a manopla serve?
— Sim, ele tem o poder de transformar qualquer substância em outra totalmente diferente! Gostou?
— Achei interessante, mas o que você criou a partir de areia? Um cristal? — Leonardo pegou o objeto esférico da mão de Van-Nee e ficou girando por alguns segundos.
— É um Orbe! — respondeu ela, tomando o objeto de volta.
— Que serve para..?
— É como um cristal de armazenamento, um item mágico de alta qualidade, mas com uma capacidade de armazenamento irrestrita e quase infinita.
— E como funciona? Vem com manual de instruções? — Brincou o herói.
— Tente usar uma descarga elétrica! — Van-Nee devolveu o orbe a Léo e deu dois passos para trás.
Leonardo descarregou o seu poder elétrico no Orbe, que absorveu os raios e se iluminou por um segundo, voltando ao normal em seguida.
— Então podemos colocar qualquer magia aí dentro? — Perguntou o herói com admiração.
— Magias, feitiços, energia pura… Em quantidade e diversidade incontável, as possibilidades são infinitas. — Van-Nee exibiu um sorriso triunfal.
— Ou seja, você acabou de criar algo extremamente perigoso… — Léo a encarou com um olhar acusatório — Não foi?
Os olhos de Van-Nee brilharam e sua expressão pareceu com a de um uma fera que embosca sua presa.
— Perigoso para os nossos inimigos, mas para nossa filha será uma excelente arma!
— Você quer deixar algo tão perigoso assim com uma criança de seis anos? — Perguntou Léo olhando para sua filha que brincava alegremente na areia da praia.
— Não se preocupe! Eu fiz isso pensando na segurança da nossa filha, vou adicionar um feitiço de restrição que é simples, porém, inquebrável. Confie em mim, vai dar certo.
— Não estou duvidando de você, apenas tenho medo de uma criança por aí com um Orbe de destruição em massa…
— Eu sei, mas me preocupo de irmos para a linha de frente e deixarmos nossa criança desprotegida…
— Sim, eu também me preocupo, mas em breve ela terá sete anos, a idade ideal para iniciar os treinos mágicos, acho que não teria problemas começarmos a ensina-la algumas coisinhas sobre defesa pessoal!
— Nossa filhinha é um prodígio, desenvolvendo habilidade mágicas sozinha desde os primeiros anos de vida, até mesmo o “Herói Guardião” tremeu perante ela… — Van-Nee não evitou de sorrir lembrando a cena — Amanhã iniciamos o treino de Andreia!
E dando um beijo em seu marido continuou.
— Por enquanto vamos apenas aproveitar o dia na praia.
— Sim, não sei quando, ou até “se”, poderemos ter outro dia na praia…
O casal foi em direção à sua filha e ficaram se divertindo por mais algum tempo, até que o sol se escondesse por detrás da linha do horizonte, finalizando aquele maravilhoso dia em família.