Volume 2

Capítulo 99: O Retorno do Herói

Quando André e Zita voltaram ao carro encontraram Eduardo e Amanda espremidos com Sônia e Wagner no banco traseiro. Os dois estavam escondidos na sombra de Gledson e precisaram sair para que ele protegesse André.

André sentou no banco do carona, ao lado de Lídia, e Zita sentou em sua perna. Não era muito confotável, mas no banco traseiro parecia estar pior. Lídia acelerou o veículo e forçou a passagem por entre as SUV’s à frente causando danos a todas as latarias envolvidas. Diferente de minutos antes, agora ela parecia estar bastante animada.

— Acha mesmo que vamos conseguir fugr deles com um carro elétrico? — Sônia perguntou lá de trás.

— Não é um simples carro elétrico! — Lídia respondeu — É “o” carro elétrico. Essa belezinha aqui pode ultrapassar os 220 quilômetros por hora como se fose nada.

— Então sugiro que faça isso ou eles vão nos pegar. — Eduardo comentou.

Wagner abriu os olhos, fazendo uma careta que parecia mais feia graças ao seu rosto inchado, ele olhou para todos dentro do carro tentando entender o que acontecia, e reparou ainda que Gledson estava de pé em cima da traseira do veículo.

— Mas que merda tá acontecendo?

— Muita coisa. — Lídia respondeu animada — Um dia te conto a história completa.

— Isso se sobrevivermos. — Sônia reclamou.

— Em resumo… — Amanda disse — Tem uma loira atacando de Amazona de Prata, um coreano de fogo e mais um monte de caras armados até os dentes tentando nos matar.

Wagner ouviu o que cada um disse, e depois de alguns segundos em silêncio, gritou:

— Por que sempre que o andré está envolvido em algo a tendência de dar merda é grande?

— São seus olhos. — André retrucou.

— Não me desconcentrem! — Lídia reclamou — Essa parte da estrada tem muitas curvas e eu preciso estar atenta para evitar de jogar todos nós em uma ribanceira!

E o silêncio se fez. Mais à frente podia ser vista uma grande curva fechada cuja queda parecia ser perigosa, e todos procuraram alguma coisa para se agarrar. Até Gledson se fundiu às sombras do carro.

Naturamente os carros da Aliança Internacional reduziram um pouco a velocidade, mas Lídia fez o movimento inverso, ela mudou a marcha e pisou mais forte ainda no acelerador. O aumento na velocidade fez todos terem seus corpos impulsionados para trás, só conseguindo mover os olhos.

Quando chegou na entrada da curva Lídia girou o volante completamente no sentido horário enquanto dava uma leve desacelerada e reduzia a marcha, girando o volante no sentido contrário o mais rápido que conseguia, pisando mais uma vez no acelerador até encostar no final.

O carro pareceu deslizar pelo asfalto, fazendo a curva de lado como não houvesse atrito entre suas rodas e a estrada. Ao chegar ao final da curva veículo já estava de frente para a estrada e sem perder velocidade.

— Puta merda! — Amanda disse — Quase me caguei agora!

— Eu esqueci de respirar… — Disse Sônia.

— Não sabia que conseguia fazer algo desse tipo, Lídia. — Zita comentou ainda trêmula.

— É um hobbie… — Lídia comentou muito animada — Sempre venho por aqui nas folgas.

— O Felipe está sempre cercado de pessoas estranhas. — Amanda disse.

— Brincadeira… — Lídia disse — Eu nunca tiro folga.

Só então o primeiro dos carros da AI fez a curva, então foi nesse momento que entenderam que a manobra arriscada de Lídia havia garantido uma boa distância, e com a quantidade de curvas que ainda havia pela frente eles poderia até despistar os perseguidores em breve.

— Falta muito para o trecho linear? — Perguntou André.

— Não muito. — Lídia respodeu mais séria agora — Acho que uns cinco ou seis quilômetros e poderemos usar o poder total dessa belezinha.

— Como assim “poder total”? — Wagner questionou.

— A gente não tinha falado nada porque pensamos não ser seguro, vocês sabem, escutas e outras coisas do tipo. — Lídia explicou — Mas esse carro tem uma capacidade de converter energia cinética em eletricidade!

— E daí? — Amanda parecia confusa.

— Já assistiram o filme “De volta pro futuro”? — A motorista perguntou com um risinho.

— Vai fazer a gente viajar no tempo por um acaso? — Eduardo perguntou.

— Não no tempo… — André foi quem respondeu — No espaço!

Então ele motrou a oitava chave, uma chave antiga como qualquer outra, parecendo ser apenas um objeto em ferro. Sem detalhes, sem brilho, sem um destaque que lhe caracterizasse como um objeto criado pelos deuses.

Zita abriu uma parte secreta no painel do veículo onde havia o espaço idêntico ao de uma fechadura antiga, e pegando a chave da mão de André a pôs lá e girou duas vezes no sentido antihorário.

— Agora é só aguardar o carro ter energia o suficiente para abrir o portal.

— Ainda não entendo. — Sônia disse.

— Eu explico. — Zita tentou se virar sobre as pernas de André até ficar de frente com a conselheira — Abrir um portal é muito complicado, exige muita energia, e essa chave foi feita para ser utilizada por seres que transcendem o conhecimento humano. Logo é de se esperar que ela exija uma quantidade de “poder” que somete um deus seria capaz de fornecer. Por isso usar a energia cinética do carro.

— Aaaaah… — Os olhos da conselheira se iluminaram.

— Além disso, nós não vamos arriscar abrir um portal e permitir que outros passem sem o nosso conhecimento. Então que tal se usarmos o poder da chave para forçar o carro e todos dentro dele a cruzar o tecido da realidade? — Zita deu um sorriso animado.

— Uma ideia bem ousada! — Eduardo exclamou.

— E arriscada! — Wagner comentou?

— Estão com medo de morrer? — Perguntou André.

— Não! — Os dois responderam ao mesmo tempo.

— Eu estou… — Amanda disse levantando o indicador.

— Então reza praquele carro não alcançar a gente… — Lídia disse olhando pelo retrovisor.

Uma das SUV’s estava se aproximando, e suas janelas haviam soladados com armas apontadas preparados para atirar a qualquer momento.

— Só mais uma curva! — Lídia avisou.

Assim que terminou de falar ela repetiu o movimento de girar o volante trocando a aceleração, garantindo ao veículo a sua permanência dentro da curva sem perder velocidade. Mas quase saiu da estrada, um dos pneus chegou a ficar metade de fora do asfalto.

— Etamos perdendo aderência. — Ela explicou — Ainda bem que o resto agora é linha reta.

Então todos sabiam o que estava por vir.

Exceto Lídia, todos os presentes no interior do veículo fecharam os olhos e tentaram manter a respiração em um ritmo calmo. Pelo barulho no porta-malas ela concluiu que Gledson havia usado as sombras para entrar lá e não ficar para trás no momento do rompimento da barreira que separa os mundos.

Então começaram os tiros. E esse era o momento que ela estava esperando.

— Próxima parada: Outro Mundo! — Lídia anunciou.

Ela socou bem forte o centro do volante, acionando o mecanismo secreto que relocava toda a energia armazenada para os motores, e sentiu a força G tentar esmagar seu corpo contra o assento, pelo menos este era bem macio. Coitados dos que estavam apertados dividindo um mesmo banco.

Tudo que restou na estrada foi um rastro em chamas por onde os pneus do carro passaram e o eco do estrondo ensurdecedor causado pelo tecido da realidade que separa os mundos sendo rompido à força.

Quando Lídia abriu os olhos mais uma vez estava sozinha dentro do carro, de ponta-cabeça, presa pelo cinto de segurança. Com um pouco de dificuldade ela conseguiu se soltar e sair, encontrando do lado de fora Sônia pondo as tripas pela boca e Amanda tentando ajudar a conselheira a se recompor.

Wagner e Eduardo olhavam os arredores como se tentassem reconhecer o local. Mas André e Zita não estavam lá, Lídia lembrou que eles estavam no banco da frente e sem cinto de segurança.

Pelo visto os dois haviam atravessado o parabrisas e caído mais longe, Lídia foi à frente procurá-los e viu os dois voltando parecendo meio tontos e com alguns machucados pelo corpo. Depois ela foi abrir o porta-malas, mas Gledson já havia sído de lá.

Vendo que todos estavam vivos e aparentemente bem, Lídia levantou então a vista e tentou entender em que lugar eles estavam exatamente. Era o topo de uma montanha, em meio a outras centenas de montanhas semelhantes. Na iluminação da lua tudo parecia azulado, e mesmo sendo noite fazia um pouco de calor.

André e Zita chegaram perto dela abraçados, ambos parcendo sentir um pouco de dor.

— Vocês sabem que lugar é esse? — Lídia perguntou — Digo, a gente tá mesmo no Outro Mundo?

— Sim… — Zita disse em um sorriso dolorido.

André olhou para os lados, parecendo incrédulo do tamanho do seu azar.

— Um mundo tão grande e a gente veio parar logo na porcaria da Cordilheira Escaldante?



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