Volume 3

Capítulo 105: O Pináculo Derretido

— Então… — Sônia olhou para todos os lados — Acho que vocês sabem onde estamos, não é?

— Sim, no Outro Mundo! — Eduardo respondeu.

— Essa foi previsível… — Amanda comentou.

— Acho que não é mais “Outro Mundo” e sim “Este Mundo”. — Gledson disse.

— Alguém aqui consegue trabalhar sério? — Sônia rosnou.

— Essa é a Cordilheira Escaldante! — Zita disse sem se vivar — Como pode perceber, mesmo durante a noite essa região é quente, então não vai gostar de como é durante o dia…

— Também não vai gostar dos habitantes locais. — Eduardo completou.

— Quem moraria em um lugar quente e cheio de montanhas? — Sônia parecia incrédula.

— Eu morei aqui por cerca de cinco anos. — Disse Zita — Acho que seria bom dar um “oi” para a minha antiga família.

— Tou fora! — Wagner disse — Os sacerdotes do fogo podem ter guardado algum ressentimento…

— Concordo com o Wagner. — Eduardo disse — Nem sabemos exatamente o quão longe estamos do Pináculo Derretido…

— Não muito, sigam-me. — Zita disse enquanto seguia montanha abaixo.

— E não se preocupem com a possibilidade de guardarem mágoas. — André adicionou — Eles têm outros assuntos mais importantes para se preocupar.

— E o que fazemos com o carro? — Lídia perguntou.

— Deixe isso comigo! — Gledson ergueu a mão em direção ao veículo e as sombras começaram a engoli-lo.

Antes que as sombras combrissem interiramente o carro, Amanda imitou o gesto de Gledson, os vidros do automóvel se transformaram em líquido e flutuaram rapidmente em direção a ela, se juntando ao braço da garota e formando uma manopla transparente, indo até a altura do ombro da garota.

As sombras de Gledson terminaram de cobrir o vaículo, o que significava que agora o carro estaria dentro das sombras controladas por Gledson, e iria para onde o herói fosse.

Então os oito partiram montanha a baixo.

Acima de suas cabeças, o céu iluminado pelo azul da lua apresentava um espetáculo aos olhos, as milhares de estrelas que brilhavam pareciam tremeluzir acima da cadeia de montanhas de pedras esbranquiçadas, e que pareciam ser azuis devido à luz lunar.

Mesmo sendo noite, o céu ainda estava azul, completando a beleza daquele cenário. Era realmente uma visão de outro mundo, e Sônia estava maravilhada com tudo aquilo, mesmo que não quisesse que os outros percebessem. Ela era muito boa em esconder o que sentia.

Manter aquela cara fechada era cansativo, mas ela precisava continuar com a postura de conselheira da Aliança Internacional, mesmo que já não soubesse mais sequer se a organização ainda era existente.

Mas ela já estava cansada. Depois de tudo que fez pelo mundo, o que ganhou em troca? Foi traída. Depois de sacrificar sua vida, e de perder sua família. Depois de tantos anos de pesquisa, depois de quebrar tantas regras, foi descartada como lixo.

E aqui estava ela, em uma dimensão paralela, um local estarnho e misterioso onde magia é real e deuses existem. Deuses… Desde os treze anos ela não acreditava em deus ou religião alguma.

E onde ficava esse tal lugar onde Elizabeth dizia ter morado?

Sônia sabia que ela havia passado um tempo em um tipo de monastério chamado de Montanha de Fogo, mas acreitava que a alcunha do lugar se devia à religião dos seus habitantes. Porém, agora passando por todo esse calor, ela não dividava que a garota tivesse morado em um vulcão de verdade.

E eles andaram, e andaram. Continuaram andando. Subiando e descendo e contornando e adentrando túneis, atravez da infinidade de montanhas onde o calor parecia ser uma amostra grátis do inferno.

Ela desejava que na montanha de fogo tivesse uma geladeira com muuuuuuita água gelada. Sônia tomaria um banho com água gelada. Ela dormiria em uma banheira de gelo, nem que isso lhe custasse um rim. Ou os dois.

Quando os primeiros raios solares anunciando o dia estavam surgindo no horizonte por detrás das montanhas, eles finalmente chegaram. Na visão da ex-conselheira era apenas mais uma montanha com mais uma caverna, mas ou outros pareciam ver algo diferente.

André, Zita e Gledson olhanvam para o lugar com satisfação. Amanda, Eduardo e Wagner pareciam prefrir estar em qualquer outro lugar do mundo. Pelo menos Lídia aparentava não estar entendendo nada também, Sônia não ficaria bem se fosse a única pessoa ali sem saber o que exatamente era aquele lugar.

Os sentinelas pareciam não entender o que eles faziam ali. Ótimo, mais alguém compartilhava o sentimento. Mas Eliabeth explicou que precisavam de um lugar para descansar e eles deixaram todos entrar.

O local era uma caverna que se estendia e ramificava infinitamente, e sempre havia alguém nos corredores. Algumas daquelas pessoas tinham cicatrizes e deformações faciais, Sônia lembrou de perguntar o motivo a Elizabeth quando saíssem dali, não seria educado perguntar na frente deles.

André perguntou a um deles, o qual pareciam ser bem familiarizado, onde estava alguém chamado Nupac. O jovem indicou o caminho a ser seguido, e os oito foram por lá.

No final do corredor havia uma câmara maior e bem mais ampla, e lá dentro estava um homem meditando, ou dormindo sentado. André se aproximou e saudou o homem, que abriu os olhos e sorriu.

Sônia achou melhor apenas observar o desenrolar e tentar obter alguma informação relevante. Amanda, wagner e Eduardo pareciam se preparar para fugir, e Lídia tirava fotos com o celular.

— Bem vindos ao Pináculo Derretido! — O homem disse abrindo os braços cordialmente e revelando um rosto deformado.

— Estamos de volta. — Zita andou na frente e abraçou homem.

— Quanto tempo, minha criança. — Nupac disse com um sorriso naquele rosto distorcido, e se virando para André — Você também, que bom ver que continua sobrevivendo.

— Quanto tempo, Nupac. — André também abraçou o homem de rosto deformado, o que chamou a atenção dos outros heróis — Queria que você soubesse que deu tudo certo.

— O que deu certo? — Lídia perguntou.

— Nupac me deu parte do que eu precisava para romper o tecido da realidade e atravessar os mundos.

— Então é por isso que sua mão esquerda parece uma escultura de carvão enfaixada? — O sacerdote perguntou.

— Sim, você também estava certo em relação a isso. Mas a parte boa é que me livrei daquela maldição. — André explicou como se estivesse aliviado — Até tenho conseguido dormir bem, e desde que completei o ritual nunca mais tive uma alucinação ou pesadelo.

— Alucinação? — Foi a vez de Sônia perguntar.

— Ele passou por muita coisa. — Zita falou baixo, enquanto André contava para Nupac as coias que conheceu no mundo do qual os heróis vieram.

— Então… — Sônia olhou os arredores compostos por corredores cavernosos escavados em rocha — O que exatamente é esse lugar? Um tipo de templo pro deus do fogo?

— Essa é a casa do deus do fogo, mas há séculos ele está dormindo nas lavas desse vulcão adormecido. Os sacerdotes tem a missão de cuidar desse lugar até que ele acorde, em troca todos ganharam a habilidade de ser imunes ao fogo.

— Imunes? Tipo, não sentem calor ou se queimam? — Sônia ficou surpresa — mas alguns tem o rosto deformado, achei que era resultado de alguma forma de ritual ou acidente de trabalho, mas se eles não se queimam…

— Isso é normal! — Zita interrompeu — apenas os que têm mais de cem anos apresentam essa característica.

— Cem anos? — Sônia mudou a expressão de surpresa para incredulidade — Eles vivem mesmo tanto tempo?

— O Nupac ali tem mais de quinhentos anos.

— Mas… Isso não… Como é possível?

— Eles dizem que esse lugar guarda um poder capaz de aumentar a longevidade, muitos dizem que é o segredo da imortalidade dos deuses.

— Humpf. Lendas?

— Esse é um mundo fantástico onde magia é real, posso não ter mais poder algum, mas já corri por esses corredores coberta por chamas. Então, se existe uma história de que há um segredo para a imortalidade, eu acredito.

A conversa das duas foi interrompida pela chegada dos outros sacerdotes do fogo, estes traziam um pequeno baú e entregaram a Zita. Ela recebeu com felicidade, como se soubesse o que era aquilo.

Sônia aproximou-se e olhou, lá dentro estava algo que parecia ser um pedaço de pano com estampa de escamas. Mas quando Zita tirou da caixa e levantou, ela pôde ver que era um tipo de roupa, que parecia um maiô com pernas.

— Ai caramba… —Ela disse— É o meu traje de batalha à prova de fogo, normalmente se usa isso para não se queimar! Mas o meu caso era diferente…— Zita corou encarando o objeto — A primeira vez que usei o poder máximo sem estar usando isso acabei nua…

— Eu lembro! — André comentou — Você conseguiu chamar a atenção de todo mundo no campo de batalha.

Depois de ouvir isso, Sônia não sabia o que dizer.



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