Volume 3
Capítulo 114: A Jornada Ao Leste (1)
Após passarem um tempo na Montanha de Fogo, André, Zita, Sônia, Lídia, Eduardo, Gledson e Amanda começaram uma viagem rumo ao Reino de Leste. A trajetória escolhida atravessava parte do Reino de Prata e cruzava a Grande Falha, e após atravessar essa última, eles se dividiriam.
Assim que o sol se aproximou do horizonte e a temperatura amenizou, os sete começaram a descer a cordilheira no sentido leste.
Mesmo com os efrites, o povo da montanha de fogo, pedindo para ficarem mais um pouco, o grupo não quis perder tempo. Ficando apenas o suficiente para coletarem informações e fazerem um curativo no ferimento do tiro que Lídia havia ganhado horas antes de atravessar.
— Você conseguiu lidar bem com um ferimento de bala. — Zita comentou — Não sei se eu conseguiria ficar de boa com um buraco desses atravessando minha barriga…
— Na hora doeu muito. — Lídia comentou — Mas depois eu até esqueci, se não fosse a dor e a mancha de sangue na roupa, eu nem lembraria mais.
— Você tem treinamento militar? — Sônia perguntou — Eu quase tenho certeza pela forma que segurou a arma e se movimentou, sem contar como lidou com o ferimento.
— Ah… — Lídia desviou o olhar — Não sei se posso…
— De alguma forma o Felipe conseguiu apagar todos os registros das pessoas mais próximas a ele. — Sônia explicou — A Aliança Internacional jamais conseguiu uma informação que fosse sobre você e o Valmir, nem temos certeza se esses são os nomes reais de vocês dois.
Lídia abaixou a cabeça, respirou fundo e começou a mexer nos cabelos. Ela desfez as tranças e depois amarrou em um rabo de cavalo, depois encarou Sônia.
— Sargento Lidiane Alves, serviço de inteligência do exército brasileiro. Minha missão era investigar as ações da Aliança Internacional dentro do território nacional, Valmir é meu parceiro de missão, mas Felipe descobriu nossas identidades e nos recutou para trabalhar diretamente sob o comando dele, transformando o setor de inteligência na Divisão de Inteligência e Segurança Mundial.
Sônia estava de boca aberta, ela esperava que Lídia guardasse segredos, mas não tantos.
— Por que está contando isso?
— Não há motivo algum para continuar escondendo.
— Então vocês se infiltaram no AI?
— Basicamente, Felipe infiltrou toda a agência de inteligência brasileira na Aliança internacional, e nós descobrimos TODOS os segredos de vocês.
— Todos?
— Sim. Inclusive o da pesquisa de portais…
Sônia suspirou e virou para o lado, ela estava mais pálida do que gostaria. Haviam segredos na Aliança que poderiam colocá-la em uma situação bem complicada se fossem divulgados, mas por outros lado haviam alguns que ela gostaria de descobrir.
—Pesquisa de portais? — Zita perguntou — Mas tem mais algum segredo sobre isso?
— Ah, pode apostar que tem. — Lídia disse em um falso tom sombrio.
— Mas achei que sabíamos tudo sobre o projeto chaveiro…
— A pesquisa envolvendo portais iniciou há quase vinte anos, cerca de quatro anos antes de sermos sugados para cá. — André disse.
O rapaz estava mais afastado, então Sônia não imaginava que eu ouvia a conversa.
— Você lembra, então? — Sônia perguntou tentando não aparentar desespero.
— De quando tudo deu errado? — André se aproximou — Sim eu lembro. A última vez que vi meu pai, os gritos da minha irmã sendo sugada para dentro daquela coisa azul…
— PARE..! — Sônia estava de cabeça baixa e ofegante — Por favor… pare…
Mas André apenas se virou para Lídia e perguntou:
— Isso vocês já sabiam?
— Sabíamos que a família da conselheira havia desaparecido em um acidente de laboratório, mas nunca foi feito nenhum relatório sobre aquilo.
— Só duas pessoas conseguram sair de lá com vida. — André continuou — Esse é o motivo para não haver um relatório.
— Você nunca havia dito nada sobre isso! — Zita reclamou — Por que agora? Do nada?
— Pensei que estávamos revelando segredos.
— Mas falar isso só faz mal a ela. — Lídia apontou para Sônia que estava encostada em uma rocha, trêmula e com lágrimas descendo pelo rosto.
André não disse mais nada, apenas andou na frente. As duas garotas foram ajudar Sônia a se recompor.
— Ele lembra? — Ela se perguntava — Como é possível?
— Só seria possível se ele fosse seu filho, não é? — Gledson disse, saindo das sombras ao lado das três, assustando-as.
—Eu já disse que ele não é meu filho! — Sônia rosnou.
— Minta o quanto quiser, mas você sabe a verdade. — Ao dizer isso ele se misturou às sobras da montanha mais uma vez.
— Maneiro esse poder de sumir do nada. — Lídia disse com os olhos brilhando.
— Alguém pode me explicar o que está contecendo? — Zita olhou para Lídia e depois para Sônia com uma expressão dura — Ou me dizem o que estão escondendo, ou ficaremos aqui por muito tempo.
— Antes de vocês virem para cá… — Sônia respirou e continuou — …muito antes da AI existir. Havia uma pesquisa sobre desenvolvimento de energia limpa e renovável, a ideia era criar um modelo autoalimentável… Eu era a cientista chefa da equipe.
— E o que isso te a ver com os portais?
— Uma equipe de arqueólogos encontrou uma chave muito estranha, que emitia um tipo de energia dsconhecido e levaram para avaliarmos…
— Por que logo para vocês?
— Porque foi meu marido quem encontrou. — Sônia finalmente olhou nos olhos de Zita — Ele acreditava que aquilo poderia ajudar na minha pesquisa, e ao mesmo tempo eu poderia descobrir do que se tratava a chave…
— Uma chave? — Zita coçou o queixo — Não é possívelque seja uma das sete…
— Quando conectei a chave no gerador de campo eletromagnético para tentar identificar o tipo da energia emitida, a ela se quebrou e abriu um portal que sugou quase tudo lá para dentro.
— Ah.
Zita e Lídia ficaram sem expressão, estavam finalmente entendendo o que havia acontecido.
— Onde sua família entra na história? — Lídia questionou.
— Dizer que estava levando a minha família para conhecer o meu local de trabalho foi a forma menos suspeita de fazer meu marido entrar sem chamar atenção. Mas acabamos levando as crianças… — Ela parou e chorou — Não era para ter acontecido…
— E como você escapou?
— Não sei. Eu estava dentro da sala com meu marido e nossa filha, o André estava na outra sala, mas assistia tudo por detrás do vidro. Então a coisa apareceu, sugou tudo e quando vi estava caída no chão, tudo estava destruído, e meu filho gritava de desespero na sala ao lado.
— Puta merda! — Lídia exclamou.
Zita achava que essa era a história completa, mas Sônia continuou:
— Quatro anos depois meu garotinho não havia se recuperado das sequelas daquele dia. Segundo os médicos, a energia entrou em contato com o corpo dele e causou danos internos… Então, na noite de 25 de Julho, doze anos atrás, ele foi dado como morto. Mas assim que seu coração parou de bater seu corpo desapareceu, assim, do nada, na minha frente…. Um momento ele estava ali, e um segundo depois não estava.
Zita realmente não esperava por aquela, ela tinha algumas coisas para peruntar para Sônia, mas não importava mais.
— Acho melhor a gente ir… — Zita disse.
— Não! — Sônia enxugou as lágrimas e disse — Ouça o resto! Dia depois eu fui visitada por um grupo de pessoas estranhas, elas disseram que diversos sensores ao redor do mundo captaram a emissão de uma onda de energia, essa onda pareceu ressoar em 32 pontos diferentes dentro do território nacional.
— Ah não… — Zita tremeu.
— Puta que pariu! — Lídia pôs as mãos na cabeça.
— Essas pessoas já investigavam uma primeira onda de energia semelhante de quatro anos antes, e avaliavam a possibilidade de ser um convergência de realidades paralelas, mas eu achei aquilo muita bobagem. Só até saber que outras 32 crianças com exatamente a mesma idade do meu filho haviam desaparecido. Nesse dia foi fundada a Aliança Internacional.
— Então vocês já sabiam que estávamos em outro mundo antes de voltarmos? — Zita agarrou Sônia pelos ombros e balançou.
— S-sim… sabíamos…
— Então foi tudo planejado?
— Nós não tínhamos com prever quais alterações vocês tinham sofrido ao longo de oito anos em uma dimensão desconhecida…
Zita soltou os ombros de Sônia e virou-se de costas para a conselheira, ela ficou um tempo olhando para o céu tentando encontra a melhor reação.
— Lídia, o Felipe sabia disso? — Zita perguntou.
— Possivelmente, mas não tenho certeza…
— Hunpf…
Zita permaneceu em silêncio, de costas. Mas voltou a perguntar, dessa vez para Sônia.
— Por que fingiu não saber quem é o André?
— E-eu… eu sou a errada na história! — Sônia respondeu — Quando soube por vocês que ele tinha conseguido uma vida nova, sem aquela doença que destruiu os seus orgãos internos, e estava nesse mundo aqui… Achei que era o melhor…
Sônia chorou mais uma vez.
— Foi minha culpa. Tudo minha culpa… Eu matei meu marido, minha filha… e perdi meu filho…
— Não, você não perdeu. — Zita disse se afastando — Ele está ali na frente.