Volume 3

Capítulo 126: A Arma das Armas

Quando Eduardo e Wagner chegaram aos portões da Cidade de Prata, encontraram um cenário desolador. Estava tudo muito diferente do que eles haviam deixado, a muralha estava cheia de buracos, os portões abertos, as casas destruídas, e em cima do que restou dos postos de vigia não haviam guardas, e sim soldados da Aliança Internacional.

Pelo visto os boatos eram verdadeiros.

Eduardo ansiava que em meio a toda a confusão causada, não tivessem encontrado o item que ele havia escondido anos atrás. Aquela coisa era perigosa demais para cair nas mãos do Cavaleiro de Prata ou de alguém da Aliança Internacional.

Nem mesmo Wagner sabia o que Eduardo buscava, mas estava ali para tentar fazer algo pelo reino que ele protegeu por oito anos. Mesmo sem seus poderes, ele ainda tinha suas habilidades físicas e técnicas de combate. Além do mais, já estava bem recuperado da surra que pegou de André.

Os dois heróis que viajavam juntos não eram exatamente amigos, nem sequer tinham qualquer interesse em comum, isso tornou a viagem chata e tediosa. Eduardo começou a se perguntar se era por ter viajado tanto que André havia desenvolvido aquela personalidade difícil de se entender.

E mais uma vez ele se pegou pensando em André. Em como tudo sempre virava de pernas para o ar quando aquele cara de aparência simples e fama de mau aparecia. Meses atrás Eduardo estava fazendo pesquisas avançadas sobre melhoramento genético de plantas em universidade da França, e agora estava, literalmente, em outro mundo.

Em meio a tudo ele ainda se sentia feliz, pelo menos estava melhor que seus dois parceiros de time. Anne estava presa, e Jonas liderava uma guerra contra o Sul. Por mais que Eduardo não entendesse os motivos de alguém querer guerrear contra o Sul, lhe doía saber que um amigo estava contra o reino que o acolheu.

Por mais que o deserto não tenha sido a sua casa, a Floresta Sagrada foi o lugar ode ele viveu e treinou por anos. Os sacerdotes da floresta lhe ensinaram a extrair o potencial das plantas, como fazer poções quase milagrosas, e como se comportar em meio a natureza.

Esse era uma dos principais motivos de Eduardo ser mais isolado. Os outros heróis, como Wagner, amavam a guerra e a destruição. Talvez os outros não fossem tão diferentes de André, apenas não reconhecessem isso.

Ou talvez André fosse apenas incompreendido, ele até mesmo ajudo a recuperar a Semente da Mãe Terra, resgatou escravos, e salvou a pele de Leonardo e Van-Nee. Mesmo que Leonardo tenha feito merda em seguida…

E lá estava ele pensando em André mais uma vez.

Talvez se aliar a André fosse o melhor, no final das contas. Mesmo que ele não fosse a melhor pessoa para lidar, mas era sempre dedicado a seja lá qual fosse o plano maluco que passasse em sua cabeça.

E talvez também, ter Wagner como companhia não fosse tão ruim. Ele conhecia a Cidade de Prata e o Cavaleiro, além de ser uma dos que mais tinha contatos dentro da parte militar da AI. E principalmente pelo que Eduardo estava buscando.

Somente Wagner seria capaz de extrair o potencial daquela coisa até o limite, talvez não mais agora que estava sem poderes. Mas ao mesmo tempo, aquilo viria a calhar para substituir os poderes de Wagner.

Precisava servir.

Então eles chegaram aos portões do castelo. Os guardas da AI sabiam quem eram aqueles dois, e não se opuseram à entrada deles. Wagner parecia estar nervoso, o que Eduardo achava normal para quem perdeu os poderes. Mas Eduardo estava calmo, ele não era considerado perigoso e nem tinha tanto valor para a Aliança.

Entrando na sala do trono, eles viram uma cena inusitada. Uma barreira cúbica e translúcida cobria o Trono de Prata, haviam algumas letras flutuantes nas paredes da barreira, mas Eduardo estava longe demais para ler.

E também havia marca de fuligem no chão ao redor, e alguns sinais de explosões externas. Mas a barreira estava intacta.

— Finalmente chegaram! — Um homem de armadura disse, de costas para os dois.

— Sabiam que a gente vinha? — Wagner perguntou.

— Eu esperava que algum dos 33 viesse, fico feliz que não seja nenhum da trindade ou o problemático.

Eduardo entendeu que a trindade deveria ser Leonardo, Zita e Lucas. E obviamente, André seria o problemático. Essas quatro teriam o maior potencial de estragar o que o Cavaleiro de Prata estava fazendo ali. Seja lá o que fosse, Eduardo não se importava o suficiente.

— O que estão fazendo? — Wagner perguntou.

— O general está tentando explodir a barreira de Jonas. — O Cavaleiro disse como se fosse algo normal.

Eduardo sabia que aquilo era perigoso, e possivelmente não daria certo, mas acho melhor ficar em silêncio. Também parecia que o cavaleiro não acreditava que explosivos comuns seriam capazes de destruir a barreira.

— Preciso de algo… — Eduardo resolveu falar alguma coisa.

— O que? — O Cavaleiro moveu a cabeça levemente para cima, mas sem se virar para os dois heróis.

— É algo que deixei aqui antes de voltar para o nosso mundo…

— Façam o que quiserem, desde que não me atrapalhem. — O Cavaleiro de Prata respondeu sem sequer olhar para os dois.

Eduardo olhou para Wagner e gesticulou para irem para outro lugar. Ele estava ansioso pela quantidade de soldados com fuzis andando pelo castelo, mas a atitude do homem na armadura foi o que ele esperava.

Depois de tanto tempo ele não havia mudado nada. Atitude arrogante, postura firme, assustador… Eduardo lembrava exatamente do primeiro ano de treino, antes de ser enviado para a Floresta Sagrada. Não eram boas memórias.

Assim que saíram da sala do trono, os dois aceleraram o passo, atravessando um longo corredor e descendo uma escadaria espiral até onde ficava o depósito de armas. Não havia ninguém na porta, bem diferente de anos atrás.

Talvez, agora que tinham armas de fogo, eles achavam que armas brancas não tinham mais tanta serventia.

Eduardo entrou primeiro e começou a procurar nas paredes. Wagner entrou pouco depois e ficou olhando a quantidade de armas. De adagas curtas para arremesso até longas espadas de decapitar cavalos, ali dentro tinha tudo. Mas ele nunca precisou delas antes, já que seu poder podia prover a arma que precisasse.

Ele pegou uma espada e fez alguns movimentos simples, depois pôs exatamente onde havia achado. Então pegou um machado, depois uma lança, um par de adagas, e foi passando de arma em arma até que Eduardo lhe chamasse atenção.

— Pega aquela lança ali na parede! — Ele apontou.

Era uma lança curta, um tipo de arma pouco usada, principalmente em batalhas abertas onde havia espaço e armas de longo alcance poderiam ser melhor aproveitadas. Wagner pegou e girou algumas vezes, não era seu tipo preferido de arma, mas em um ambiente fechado, como o corredor de um castelo, seria bem efetiva.

Mas ao pegá-la ele percebeu algo, um poder vinha da arma. Um poder semelhante ao seu.

— Mas… Isso é…

— Sim, é um artefato divino. — Eduardo confirmou antes que Wagner terminasse a frase — A que tem o poder de mudar de formato de acordo com a vontade de quem a usa. Aquela que foi criada pelo mesmo deus que te escolheu como herói!

— Acho que a gente não deveria estar com essa coisa, sabe? — Wagner pôs de volta na parede.

— Deixa de besteira e pega a Arma das Armas! — Eduardo revirou os olhos.

— Pega você! — Wagner cruzou os braços — De todos os artefatos sagrado, esse é o único que eu não posso usar e você sabe disso!

— Eu não sei usar nenhuma arma, e você é o único que pode fazer isso!

— Esqueceu o que aconteceu quando o Leonardo usou “Raio”?

— Aquela foi uma emergência, e agora estamos em outra. Agora imagina se esse pessoal que está lá em cima descobre que tem um artefato divino aqui e baixo.

Wagner bufou e esfregou as têmporas.

— Olha Edu, eu confesso que foi uma ideia genial usar uma forma que ninguém se sentisse atraído a usar, e também esconder à vista de todo mundo. Mas essa coisa é perig….

Wagner parou de falar, algo fez ele sentir um arrepio. Quando olhou para Eduardo, viu que ele também estava assustado. Tinha algo muito errado acontecendo e os dois sentiram.

— Esse abalo… Isso pareceu com a magia perdida… — Eduardo comentou depois de algum tempo.

— Do que está falando?

— Alguém libertou outra magia perdida, isso é um problema.

— E quem seria louco o suficiente?

— Não sei, mas se tem uma das magias perdidas por aí, vamos precisar dessa coisa sagrada!

Wagner pegou a lança curta e entregou a Eduardo.

— Tudo bem, mas você carrega. Eu só vou usar isso e libertar outra magia perdida em último caso.

Eduardo assentiu e recebeu a lança, ao tocar a mão do herói da floresta a lança rapidamente encurtou mais ainda, se tornando uma adaga de lâmina dupla. Eduardo pegou uma semelhante em uma pilha de armas e retirou apenas a bainha. Em seguida embainhou o artefato divino e o prendeu na cintura, assim ninguém desconfiaria do que ela estava carregando.

— Agora escolha a arma mais chamativa que lhe agradar. — Eduardo disse a Wagner — Assim eles nunca vão desconfiar do que viemos atrás.



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