A Aurora Dourada Brasileira

Autor(a): W. Braga


Volume 1

Capitulo 3: ARTEFATO

Três luas se passaram, desde que a sacerdotisa Niara e seus leais cavaleiros reais haviam saído da cidadela de Nincira.

Nesse dia... fazia um pouco de calor, sem haver uma única nuvem no céu e ventava muito pouco.

O grupo atravessava um campo de trigo e viram pequenos ani­mais selvagens passarem diante deles, fazendo a sacerdotisa Niara com sorriso meigo.

Após trotarem pela estrada pouco movi­mentada. Atravessaram as fronteiras dos reinos, na qual eram marcadas por uma enorme pedra retangular e cinzenta.

Nela, havia inscrições em vários dialetos, informando que o caminho que vinha em seguida pertencia a outro reino.

Chegaram enfim, às terras de Vanesia, em homenagem ao primeiro cavaleiro que liderou e defendeu a cidade na primeira invasão estrangeira.

Este reino: possuía muitos povoados e vilarejos, grandes cida­des, algumas belas com arquitetura ocidental, na qual havia sido trazida por seus colonizadores.

A sacerdotisa, vendo que já havia deixado as terras do seu reino, saiu da formação que seus protetores faziam em sua volta e disparou em uma ligeira cavalgada.

Sem perderem muito tempo, os cavaleiros reais fizeram o mesmo.

Quando a alcançaram novamente, formaram novamente um círculo defensivo. Onde o líder do grupo, que aparentava ter mais idade que os demais.

Olhou fixamente para a sacerdotisa, com olhar sério e de reprovação pela atitude dela.

Ela, vendo isso, percebeu que atitudes impulsivas poderiam colocar a sua vida e a dos outros em risco.

O sol despontava no meio do céu claro, sem uma única nuvem.

Pelo caminho, o grupo via habitantes alegres e muita prosperidade: transportavam muitos alimentos, animais e outros produtos.

Vinham de suas grandes plan­tações e rebanhos ou de pequenas fábricas e de outros lugares.

Seguiam para a cidadela para a qual a caravana da sacerdotisa se encaminhava.

Cavalgaram por bastante tempo dava para perceber que era o inicio da tarde.

Mais à frente, do alto de um vale, bem ao longe. Avistaram a linda cidadela, a qual tinha o mesmo nome do reino.

Era a cidade de Vanesia. Protegida por uma descomunal muralha, que acercava completamente.

Pela visão de Niara havia em torno de quarenta e duas arcovas de altura. Descomunal como da cidadela de Nincira.

Vanesia era uma das cidadelas que mais possuía templos.

O seu comércio era bastante forte, com muitos mercadores e produtos estrangeiros vindos pelo mar. Sendo conhecida por ser a segunda mais rica e próspera das terras de Téryna.

Ao seu redor, havia muitas casas de vários aspectos e formas.

Bem afastada da cidadela, ao leste, havia uma enorme cadeia de monta­nhas e lá se encontrava a mais alta delas. Tanto do reino de Vanesia quanto de toda Téryna. Era conhecida como Montanha de Difanys.

Onde estava descrito nos antigos pergaminhos: que foi dado o nome por causa de uma das mais poderosas feiticeiras supremas, que viveu no início da era de Téryna.

Niara pelos conhecimentos adquiridos sabia que essa cidadela era governada pelo rei Niro, desde que ele era ainda jovem e por sua bela e adorável esposa, a rainha Tyra.

O grupo de cavaleiros e a sacerdotisa pararam à beira do cami­nho para descansar e alimentar-se, tanto eles como os cavalos.

Sem gastar muito tempo, voltaram a cavalgar no mesmo ritmo de antes.

Estava para se aproximar o entardecer. A sacerdotisa Niara e seus cavaleiros reais passaram pelo povoado que beirava a estrada principal.

Todos os olhavam incrédulos, surpresos e admirados com essa visão da sacerdotisa guiada e protegida pelos vinte cavaleiros for­temente armados.

Como estavam dentro do território real. As estradas eram bem vigiadas e com isso eles dei­xaram suas capas mais abertas. Dessa forma suas vestimentas ficaram à vista.

Logo começaram os sussurros, murmúrios e cochichos entre os presentes:

— Quem são eles?

— De que reinos são?

— Essa jovem é sacer­dotisa ou princesa?

Mas o grupo seguiu em frente em sua cavalgada.

Somente Niara, demonstrava simpatia com um sorriso amigável e sereno. Ao contrario de seus guardiões, com cara fechada e séria, estavam atentos e prepa­rados para defendê-la.

Assim, afastaram-se do povoado que antecedia a muralha.

Em trotes mais lentos, o grupo começou a aproximar-se dos babilônicos portões principais.

Feitos de madeira rústica reforçada dupla­mente com vários e estranhos símbolos entalhados. Havia ainda barras e correntes de hortis para fortalecer ainda mais os portões que se encontravam fechados.

Do alto, a sentinela vestia uma armadura em tons de azul-escuro e vermelho, com detalhes prateados nas articulações e um elmo também prateado, exibindo o brasão da cidadela: um sol no centro e um olho dourado em relevo. Sob a armadura, vestia roupas de algodão grosso ou couro de animais selvagens.

Estava bem armado: com uma lança pontiaguda e resistente, que poderia atravessar uma armadura facilmente... Mesmo à longa distância e havia duas espadas embainhadas em sua cintura.

Avistou o aproximar da sacerdotisa na companhia de sua guarda. Avisou os demais cavaleiros dispostos pela enorme e extensa mura­lha defensiva.

Momentos depois, os grandes portões se abriram lentamente.

Quem estava por perto. Ouvia-se o ranger de sua pesada estrutura movimentando-se vagarosamente.

Enquanto os portões abriam-se, um pequeno grupo de oito cava­leiros da guarda da cidadela, na qual usavam o mesmo tipo de armadura da sentinela. Foram de encontro para recebê-los.

Levavam a bandeira do reino presa nas lanças que estavam em suas mãos.

Ao se encontrarem, a sacerdotisa Niara se apresentou em poucas palavras e pediu para ir até o rei.

Sem perder tempo, todos foram em direção aos grandes portões de entrada da cidadela.

Ao passarem, os enormes portões se fecharam lentamente com os fortes ruídos de suas dobradiças de metais, que rangiam mesmo banhados de óleo para lubrificar as peças do objeto de defesa.

Os cavaleiros do reino de Vanesia escoltaram a sacerdotisa e seus guardas. Seguindo em frente pela rua principal feita de pedras triangulares e cinzas.

Por onde passavam, eram observados por todos os presentes, com olhares atentos e cercados de diversos comentários.

Passaram pelo interior da grande cidadela, defendida por uma segunda muralha com altas torres. Contudo, essa barreira, feita dos mesmos blocos de pedra que a primeira, só com dimensões menores.

Dentro da cidadela. Niara observava os residentes com sorrisos cativantes e alegres, um povo harmonioso.

Continuaram a galopar até que chegaram a uma terceira e ainda menor muralha. Que agora protegia todo o palácio.

Os portões dessa muralha eram também de madeira reforçada como as outras duas.

Eles se abriram rapidamente e de lá saiu um segundo grupo de cavaleiros, dessa vez, da guarda real.

Seus trajes eram mais altivos, bem acabados e esplendorosos, no peitoral da armadura, o mesmo brasão visto por Niara na roupa da sentinela.

— Meu nome é Hedell! Sou o comandante da guarda real e os levarei até o nosso rei, pois sua majestade já os aguarda! — falou o comandante com muita seriedade.

Niara concordou com um simples gesto de cabeça.

A guarda real do palácio assumiu posição para guiá-los para dentro do palácio.

Ao passarem pelos portões, esses se fecharam rapidamente.

Passou-se pouco tempo. Todos já haviam deixado seus cavalos com os servos do palácio e caminhavam rapidamente em direção do inteiro da construção.

Ascenderam pela escadaria de pedras avermelhadas, ladeada por postes dourados. Em suas extremidades, pequenos recipientes de metal rústico continham óleo inflamável, trazido pelos mercadores de terras distantes. Quando aceso, iluminava todo o local.

O interior do palácio, nos corredores, estava cheio de cavaleiros da guarda real.

Niara reparou: todos bem armados e com vestimentas de grande beleza.

Andaram apressadamente pelo longo corredor, sempre acompa­nhados por um grande número de cavaleiros do reino de Vanesia.

Em grupos de quatro a sete: andavam por todos os corredores fazendo rondas rotineiras para proteger a família real de invasores.

Depois de uma breve caminhada, o grupo de cavaleiros de Vanesia e a sacerdotisa com sua guarda entraram na sala do trono.

Igualmente muito bela e decorada, repleto de diversas plantas em valiosos jarros de porcelana. Com estranhos detalhes dourados e vermelhos. As cortinas de seda em várias tonalidades claras.

Ao se aproximar, Niara sentiu o aroma suave que vinham das flores.

No altar ao fundo do salão. encontrava-se o rei Niro e a sua bela rainha Tyra. Sentados em luxuosos tronos, em cima de um pequeno altar decorado com lindas plantas e flores.

Na parte de baixo e em volta: estavam os cinco conselheiros, com suas vestimentas refinadas de tecidos nobres. Aguardavam pela sacerdotisa Niara.

Então tomando a frente do grupo. Niara sozinha se aproximou do altar onde estava o rei e da rainha e curvou-se, reverenciando-os.

O rei se levantou, deu três passos à frente e disse:

— Sejam todos bem-vindos ao meu reino e à minha cidadela! O que a trouxe aqui, linda sacerdotisa? — falou o rei sorrindo, enquanto voltava calmamente e sentava-se no grandioso trono ao lado da rainha, que sorria para o marido.

Niara estava próxima, levantou-se e disse serenamente:

— Agradeço por ter nos recebido, majestade! Venho, com muita tristeza pelo momento vivido por meu povo, para pedir a sua ajuda. — sua face mostrava-se triste.

A expressão do rosto do rei mudou, ficando apreensivo.

— O quê? Ajuda!! — levantou-se indignado com o tom de voz já exaltado. — Tal pedido só poderia vir de sua rainha! Porque eu deveria ajudá-la... se sua rainha se recusou a enviar seus exércitos contra a invasão dos bárbaros ao meu reino?

— Sim, majestade. Eu sei dessa recusa de minha rainha... por isso, como princesa curvo-me e peço perdão em nome dela e do meu povo. — argumentou Niara humildemente. Com uma expressão serena no rosto. Abaixou a cabeça em um ato de desculpa.

O rei Niro, mesmo indignado com o pedido, ao ver seu ato, teve o coração tocado pelo gesto gentil e humilde dela, sendo assim compadeceu-se e falou:

— Levante-se, minha jovem sacerdotisa! Eu aceito seu perdão!

Ela se levantou com um sorriso singelo. Tendo a certeza de que conseguiria o auxílio do rei.

— Muito bem, qual ajuda você necessita? — falou o rei mais calmo, voltando a se sentar em seu trono.

— O meu reino e toda a terra de Téryna estão sendo ameaçados por uma maléfica criatura. Muito poderosa vinda das trevas! Ela virá para destruir todos os reinos e nenhum exército deste mundo terá como enfrentar essa criatura. Por isso precisamos de sua ajuda majestade.

O rei riu, mesmo tendo a expressão do rosto apreensiva.

— Minha jovem sacerdotisa, se você está dizendo que nenhum exército pode contra esse ser! O que veio me pedir então?

— Eu sei majestade! Mas há algo aqui em seu reino, na sua cidadela... com poderes místicos que pode ajudar a derrotá-la!

— O quê? Um feiticeiro! — riu novamente o rei. — Eu sou um rei e não um feiticeiro. Além disso, nem possuo um aqui em minha cidadela. Como posso ajudar? Acho que você veio ao lugar errado!

— Também sei que não há nenhum feiticeiro em sua cidadela! Mas sei também que possui algo ainda mais poderoso! — argumen­tou Niara.

— O que seria então, minha jovem sacerdotisa? — perguntou com uma expressão de curiosidade.

Cheia de convicção a sacerdotisa Niara respondeu:

— Eu sei disso. Foi através dos meus sonhos que encontrei o caminho até o seu reino. Há um objeto místico aqui guardado... na verdade, uma espada! Os antigos pergaminhos do Templo das Três Luas confirmam meu sonho. É conhecida como a espada do Olho de Cristal... forjada pelos primeiros seres viventes das terras de Téryna. Nas profundezas da Montanha Sagrada de Difanys. Também sei que possui o poder de revelar o que está oculto e de purificar qualquer criatura das trevas com sua forte luz interior.

Os conselheiros e todos ali presentes surpresos com tamanho conhecimento sobre o tal objeto místico... murmuravam entre si.

O rei Niro riu novamente, mas agora com expressão de surpresa.

— Minha jovem é impossível ter, em minha cidadela ou em meu reino, tal objeto tão poderoso. Portanto não poderei ajudá-la!

— Majestade, minhas revelações são verdadeiras! Eu as vi e sei que a espada está aqui em seu reino! — a jovem argumentou.

— Já lhe disse que é impossível esse objeto ou espada mística estar em meu reino! Suas revelações estão enganadas! — falou o rei Niro, mudando a expressão do rosto para nervosismo, assim como a sua voz.

— Mas, majestade...

— Silêncio! — interrompeu o rei, levantando-se do seu trono, já irritado com a impertinência da sacerdotisa. — Já lhe disse que esse objeto...

Nesse momento, a rainha interveio. Segurando firmemente uma das mãos do rei, e todos ali presentes no salão ficaram surpresos. Observando o que viria em seguida.

A rainha Tyra sabia sobre a profecia por meio dos antigos per­gaminhos do Templo de Difanys.

Vendo a verdade nas palavras da sacerdotisa, intercedeu por Niara. Afinal, o rei, mesmo sabendo da criatura que viria para des­truir toda Téryna, preferiu se recusar a ajudar.

A senhora de Vanesia se levantou do trono calmamente. Ficou ao lado do rei e olhou em seus olhos.

— Meu senhor, meu rei e amado marido! Chegou a hora. A jovem sacerdotisa tem razão. Se deixar de ajudar agora, será tarde demais para todos nós! — falou com olhar de serenidade.

Neste momento, o rei ficou em silêncio e pensativo... observando tudo e todos.

Próximo dali, por trás de enormes e lindas cortinas de seda de várias cores. Dentro da sala do trono, em pé um jovem observava tudo.

Era um belo cavaleiro de estatura mediana e com belas vestes reais. Seu cinto: prendia à cintura duas bainhas com duas espadas em ambos os lados, uma maior que a outra, em algumas ocasiões utilizava somente a espada maior e um punhal médio, que também ficava preso em sua cintura.

O rei avistou aquela figura que andava entre as cortinas e cha­mou com um gesto de sua mão direita. Convocava o jovem a sua presença.

O jovem rapaz saiu de onde se ocultava e encaminhou-se len­tamente na direção deles.

Ao se aproximar, o cavaleiro curvou-se perante o rei e a rainha, levantou-se e virou para cumprimentar a princesa e sacerdotisa Niara.

O rei com muita satisfação olhando para a jovem Niara e anunciou:

— Este é o meu filho! O herdeiro do trono de Vanesia. O príncipe Walery! Ele é o portador da Espada mística Olho de Cristal! Forjada nas misteriosas profundezas das altas e frias montanhas sagradas de Difanys. Conforme você revelou filha de Tanys. Meu filho, com muita coragem e honra... irá acompanhá-la para ajudá-la em sua tarefa de destruir essa misteriosa criatura!

O jovem rapaz. Olhando para Niara, manifestou-se:

— Será uma grande honra para mim, sacerdotisa! Eu irei pro­tegê-la de qualquer perigo com essa espada e ajudarei na realização dessa missão. — ele parecia determinado e satisfeito ao abrir um lindo sorriso em seus lábios.

Então, o jovem príncipe retirou lentamente de sua bainha a poderosa espada.

O som do metal nobre, ao desembainhar, era suave como o tocar de um instrumento musical de fino gosto.

Assim, revelou à sacerdotisa todo o esplendor daquele objeto místico, uma espada diferente de qualquer outra.

O cabo era preto e cheio de detalhes cravados em prata.

A lâmina quase branca irradiava esplendor e resistência. Ainda na lâmina, havia sido gravado no metal um dialeto incompreensível para muitos, inclusive para o seu portador.

O Olho de Cristal brilhava nas cores mes­cladas, branco e prata: era como uma estrela no céu em uma noite escura.

Walery estava com muita alegria no coração, o que era visível na expressão do seu rosto.

Niara, com os olhos cheios de lágrimas que escorriam pelo seu singelo rosto de pele clara e suave, sentia uma felicidade muito grande.

O rei disse:

— Mas esta noite vocês permanecerão conosco para se banha­rem, alimentarem-se e descansarem. Partirão somente ao amanhecer.

— Sim, majestade! Eu agradeço a hospitalidade. — concordou Niara

O príncipe Walery sorria para a sacerdotisa.

Durante boa parte de sua vida... o jovem príncipe havia sido preparado para esse momento. Sabia que um dia usaria a espada mística da qual era o portador.

Niara reverenciou o rei e a rainha e em seguida se afastou, virou­-se e saiu com sua guarda.

O grupo da sacerdotisa foi escoltado pelos cavaleiros da guarda do palácio para aposen­tos. Onde eram destinados aos nobres que visitavam o palácio. Ficando para trás o rei, a rainha, os conselheiros e o príncipe na sala do trono.

Ao lado do príncipe, estava o seu pai, o rei, com as mãos nos ombros do filho, olhavam-se e sorriam.

— Vá, meu filho, prepare as suas coisas e provisões para uma longa e perigosa viagem!

— Sim, meu pai e meu rei! Farei isso imediatamente. — ao ter­minar de dizer, reverenciou e saiu apressadamente da sala do trono.

O anoitecer caiu rapidamente...

Um grande banquete foi realizado para todos: em um enorme e bem decorado salão, com muita música, danças e apresentações artísticas.

Estavam sentados em confortáveis cadeiras de madeira nobre e assentos acolchoados.

A mesa era de grande comprimento, feita também de madeira nobre e bem trabalhada. Em cima dela, muitos pratos deliciosos e de diversos aromas, assim como eram as bebidas saborosas.

Bem ao centro da mesa: estava o rei Niro, em seu lado esquerdo e a rainha Tyra. Ao lado direito, o príncipe Walery e ao lado dele, estava sacerdotisa Niara. Muito feliz por já ter encontrado o primeiro portador dos objetos místicos.

Um pouco afastados deles: estavam os conselheiros e suas esposas, sacerdotes e sacerdotisas dos templos da cidadela e nobres acompanhados por suas esposas. Todos convidados pelo rei.

A alegria era vista por todos, inclusive por Niara. Foi uma ver­dadeira festa.

Mais tarde, após o jantar, todos foram para os seus aposentos e os convidados para suas moradias.

A princesa e sacerdotisa Niara estava sempre acompanhada dos seus fiéis cavaleiros reais.

O grupo de Tanys foi levado por um das servas do rei ao quarto onde a sacerdotisa dormiria.

Ao entrar no aposento... Niara encon­trou bem arrumado, com novos enfeites com novas flores perfu­madas e mais lindos vasos decorados, feitos de vidro ou porcelana.

Ela caminhou a passos curtos na direção da cama, passou as mãos por cima do lençol, sentiu a suavidade do tecido. A serva, então, mostrou o outro cômodo, um pouco menor, onde ela pode­ria se trocar.

Niara foi para o aposento menor, fechou a porta e lá viu peças de roupas para dormir.

Ela já havia estado ali antes, quando chegara ao palácio fora levada àquele aposento. Ela deparou-se com luxo, beleza e conforto. Para se banhar e trocar de vestimentas e assim participar do jantar com a família real.

Demorou pouco, trocou suas roupas por outras, deixadas pelas serviçais da rainha. Os tecidos eram nobres e ao mesmo tempo adequados para aquela noite fria.

Ela abriu a porta do aposento, surpresa, só via os seus guardas reais. A serva já havia saído deixando instruções ao responsável da guarda.

Niara olhou para a cama e deu alguns passos até ela. Arrumou as cobertas e os travesseiros. Ela sentiu com eram muito macios, deitou-se suavemente e aconchegou-se embaixo das cobertas.

Antes de pegar no sono. Ela observou que as cortinas da sacada haviam sido fechadas por seus guardas, impedindo que qualquer animal voador entrasse e ameaçasse a princesa. Isso sem contar o vento suave e frio que soprava.

Por estar demasiadamente cansada, a sacerdotisa adormeceu rapidamente, com um sorriso em seus singelos lábios. Dormiu feliz, mesmo sem saber como seria o encontro com os demais desconhecidos, os portadores dos tais objetos misteriosos e místicos.

Durante a noite. Em seu descanso, nenhum presságio veio em seus sonhos.

Para a segurança da princesa, dois cavaleiros ficaram de guarda no corredor em frente à porta.

Dentro do quarto havia mais três: um na sacada do aposento e dois ocultos nos cantos do quarto.

O restante dos cavaleiros da guarda da princesa descansava no quarto ao lado, indicado pela serva do rei que os havia trazido.

Durante a madrugada, os cavaleiros de Nincira revezavam-se cuidadosamente, sem atrapalhar o sono da princesa.

Em Vanesia, a madrugada foi calma por toda a cidadela.

A alvorada ergueu-se radiante com os lindos raios de sol, aquecendo aquela manhã fria.

Fizeram a ceia matinal no mesmo salão do jantar da noite pas­sada. Dessa vez, o silêncio era percebido pelo rei, pela rainha, por seu filho e pela sacerdotisa: nenhuma palavra havia sido dita.

O tempo foi suficiente para se alimentarem bem. Quando ter­minaram, saíram acompanhados pelas guardas reais dos dois reinos. Eram protegidos por uma formação circular.

Caminhavam até a saída do palácio, onde os cavalos trazidos pelos servos do palácio os aguardavam.

Passaram pela saída: eles estavam no pátio que ficava em frente ao palácio.

Desceram os degraus na direção dos animais. De forma ágil e rapidamente todos montaram em seus cavalos, inclusive o príncipe Walery.

Antes que o portador da espada mística montasse, com uma rápida despedida emocionante entre mãe e filho ocorrer. Onde as lagrimas da rainha escorriam pela pele suave e clara.

Walery ainda nem imaginavam os perigos que ainda viriam pelos caminhos.

Com tudo pronto. O grupo saiu galopando lentamente até pegarem uma velocidade maior.

Para trás ficou o rei Niro, sentindo muito orgulho do seu filho, assim como a rainha Tyra. Mesmo chorando, sabiam que tinham agido corretamente ao enviar seu único filho em uma missão que poderia custar a vida dele.

No entanto, a esperança de vitória era ainda maior, com o intuito de salvar o reino de Tanys, mas também toda Téryna.

As sentinelas observavam de cima da muralha que cercava e prote­gia o palácio, o grupo de cavaleiros com a sacerdotisa e o príncipe adentrarem na cidadela.

Cavalgaram pela estrada principal que dava para os grandes portões.

Como era muito cedo, poucos habitantes se encontravam nas ruas, esquinas, encruzilhadas e em outros locais por onde eles passaram.

Eram observados pelos poucos que sussurravam e murmuravam:

— Por que o príncipe está com esse estranho grupo?

— Nossa, que pressa! Por que será?

Chegaram aos fortificados portões da colossal muralha que pro­tegia toda a cidadela.

Se abriram lentamente enquanto eles se aproximavam, ouviram o forte e alto rugido do metal e da madeira se esbarrando.

Eles atravessaram os portões como se fossem flechas lan­çadas ao ar.

As sentinelas do alto da muralha viram-nos passar pelo povoado em rápidos galopes.

Eram guiados pela sacerdotisa, por um caminho o qual somente ela conhecia. Foram pela estrada adentro até sumirem da vista dos cavaleiros que faziam a proteção da construção defensiva.

Assim foi o dia inteiro, uma cavalgada veloz e sem muitas pala­vras. Pararam somente uma vez para se alimentarem à beira do caminho, dentro de um bosque, onde a sombra e o vento suave refrescavam.

O descanso, no entanto, foi breve e logo voltaram a galopar, pois a sacerdotisa tinha urgência.

No fim do entardecer, todos pararam para descansar. Alguns cavaleiros da cidadela Nincira começaram a montar as tendas. Enquanto outros faziam a guarda do local e outros acendiam foguei­ras, pois logo esfriaria.

O céu estava nublado e poderia chover a qualquer momento. A noite caiu sem que eles percebessem.

Niara conversava com o príncipe Walery, enquanto ceavam perto de uma das fogueiras bem no centro do acampamento.

A princesa falava sobre o seu reino, as belezas do seu povo alegre, os costumes e, principalmente, de sua amada mãe, a rainha Andinara. Ela deixava o príncipe curioso por conhecer o reino e a cidadela em que ela morava.

Niara nem tocou no assunto da profecia e o príncipe Walery também nada perguntou.

Logo depois que cearam, Niara repetiu o gesto de se lavar, seguida pelo príncipe Walery.

Quando a sacerdotisa foi na direção de sua tenda, Walery se despediu dela.

— Boa noite, sacerdotisa tenha um bom descanso. Amanhã, teremos um longo dia, pelo que parece.

Com um meigo e lindo sorriso, ela retribuiu as palavras. Virou e andou até a sua tenda.

Entrou para descansar, já pensando no caminho a prosseguir pela manhã, enquanto Walery arrumava um lugar perto dos cavaleiros de Nincira, que já estavam descansando.

De madrugada, uma leve chuva caiu sobre o acampamento, apagando as fogueiras acesas e deixando os cavaleiros reais atentos e apreensivos.

Walery pegou uma manta grossa e impermeável que havia tra­zido e deixado do seu lado, caso fosse chover e, assim, dormiu até o dia amanhecer...



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