Volume 1 – Arco 1
Capítulo 2: Vila Fashr
A carruagem de Fashr viajou mais algumas horas, durante todo esse tempo, Namhr ficou com Mythro no colo e limpou o sangue de sua cabeça, e a lama de seu corpo. Ela o cobriu eventualmente, pois ao prosseguir do caminho, um congelante frio os ataca.
— Quando chegarmos em casa, eu vou limpar você corretamente, assim está muito perigoso para você pegar alguma doença.
Mythro olha para Namhr e a abraça. Fashr observa e fica quieto.
Eventualmente a carruagem diminui a velocidade.
— Senhor Fashr, chegamos!
— Ótimo.
Fashr então se levanta na carruagem e abrindo a porta, ele desce.
— Eu voltei, todos!
— Vamos pequeno.
Namhr se levanta com Mythro no colo e também desce da carruagem, rapidamente uma aia chega perto dela.
— Srta Namhr, quem é este?
— Ah, ele é…
— My… thro
Fashr se vira e dá um leve sorriso.
— Ho, ao menos o nome dele ele sabe dizer? Isso não prova que ele tem pais que o nomearam Namhr?
– Hmph! Tire esse sorriso do rosto, não vamos jogá– lo de volta ao vale. Eu vou ensinar a ele tudo, o Senhor pode ficar despreocupado.
— Ora Namhr!
Namhr ignora seu pai e junto com a aia passa pelos portões da vila, fazendo seu caminho em meio da multidão.
Logo alguns homens chegam perto de Fashr.
— Senhor Fashr, quem era aquela criança?
— Encontramos ele no chão, machucado, sua Srta é bondosa e trouxe ele para cá. Ele trabalhará como qualquer um de nós para sobreviver aqui, então não se preocupem com sua entrada em nossa vila.
— Senhor Fashr é justo!
— Sim!
Fashr é um homem sábio, as vilas do abismo, são pobres e dependem muito dos homens que trabalham duro para poder se manter no árduo e frio ambiente.
O frio deste lugar vem de uma fenda com um enorme abismo.
— Senhor Fashr, como foi a viagem?
— Ótima! Eu tinha razão em levar aquelas pedras para a cidade imperial, fomos bem recompensados!
Fashr então tira um saco grande da traseira da carruagem, onde tem um guarda volumes e mostra seu conteúdo.
Diversas notas de diferentes cores são mostradas.
— Senhor… Isso são notas vermelhas de gradães?
— Sim, lá nós vimos a grande fortuna que podia ser feita com aquele pouco de pedra azul. O seu nome é pedra cósmica, é uma acumulação de energia cósmica em pedras que só são solidificadas após muitas dezenas de anos! Seu valor é inestimável, nos rendeu 3 anos de trabalho.
— 3 anos?
Todos os homens ficam espantados.
— Sim, voltem a vila, chamem suas mulheres, filhos, filhas e idosos, hoje, comemoramos! Todas as dívidas serão pagas e tornarei nossa vila mais rica.
— Senhor Fashr!
Todos os homens começam a chorar, vivendo no abismo é uma tarefa árdua, poucos tipos de alimentos conseguem suportar ao frio intenso, sem contar a terra pouco fértil. Os animais vivem doentes devido ao pouco que são alimentados, devido a escassez de comida. Muitos da vila morrem ao comer estes animais, pois preferem arriscar com doenças, do que a fome.
— Vamos! Foi uma viagem longa, nosso povo precisa da gente.
Fashr e os homens então atravessam os portões, que logo se fecham.
No meio da vila, há uma casa, seu formato é o de dois L’s opostos. Esta casa pertence a Fashr, que é o atual líder da vila. No lado esquerdo da casa há uma mulher que espera à tricotar.
— Senhora! Senhora!
Uma aia entra correndo no lado esquerdo da casa à gritar.
— Ora, acalme-se. O que acontece? Você viu o porquê do alvoroço lá fora?
— Senhor Fashr voltou!
A mulher para de tricotar imediatamente e se põe de pé. Ela joga seu trabalho na cama e corre à porta de sua casa.
Quando ela está prestes a abrir, a porta abre, e do outro lado da porta há uma bela jovem, com cabelos negros, porém com as pontas roxas.
— Namhr!
— Mãe!
A senhora não perde tempo e logo abraça a filha, mas muito de seu aperto é mitigado pois há uma criança nos braços de sua filha.
— Quem é este pequeno?
— Mythro! Encontramos ele no chão, na passagem do vale, aquela que pegamos para ir para à cidade imperial.
— Sei… Seu pai concordou com isso?
— Sim e não.
— Ora Namhr!
— Eu vou cuidar dele!
— Eu e seu pai ainda vamos discutir sobre isso.
— Eu não vou abandonar ele, eu que trouxe.
— Ele não é um gato menina, pessoas precisam de muito mais do que simples atenção.
— Eu sei, eu vou cuidar dele, como você cuida de mim, que tal?
A mãe de Namhr suspira e afaga a sua cabeça.
Enquanto elas conversam, a volta de Fashr é muito bem-vinda pelo seu povo, e todos se preparam para poder comemorar. Muitos homens vão às suas famílias e trazem as boas novas.
— As pedras que achamos deram muito dinheiro! Nossa vila vai mudar!
— As dívidas que temos com a vila dos caçadores será totalmente paga, e poderemos melhorar nossa vida aqui na vila!
Naquela noite todos se esbanjaram na amarga bebida, que não traz nem sensação quente ou prazerosa, mas mascarava a fome. Os animais saudáveis foram abatidos, e suas carnes foram ao fogo, para alimentar toda a vila, em sua conquista.
No dia seguinte, Namhr acordava com Mythro nos braços, este que já estava usando roupas limpas e tinha tomado um bom banho.
— Mythro, Mythro. Acorda.
Namhr balança o pequeno em seus braços suavemente, tentando acordá-lo com o menor esforço possível.
Mythro abre os olhos vagarosamente, ele enxerga a jovem ao seu lado e a abraça forte.
— He, está tudo bem, nada vai te fazer mal.
Namhr começa a fazer cafuné nos longos cabelos de Mythro, ela olha fundo em seus olhos, inseguros e ativos, desvendando cada canto da casa, como um bebê.
— Olhos dourados… Você deve ser de alguma raça especial fora do abismo, né?
— Nam
— Você quase falou meu nome! Mas tem som de URN no final, vamos Nam-urn.
— Nam…hr!
De maneira arrastada, Mythro consegue falar.
— Isso, você aprendeu!
Namhr ri contente, e um ar de satisfação e inspiração enche seu peito.
— Vem, vamos andando.
Namhr pula da cama e troca seu vestido de dormir para uma calça laranja e uma camisa preta.
Mythro está vestindo a mesma coisa, só que para seu tamanho. Ele encara o que Namhr faz, mas não desce da cama ainda.
— Vem, vem!
Namhr vai puxá-lo pela mão, só que ele acaba caindo da cama.
— Desculpa, você está bem?
— Namhr!
Uma voz forte atravessa o corredor, do outro lado da casa é possível ver uma figura de um homem magro, porém forte, andando com uma mulher de seu lado.
É Fashr e sua esposa.
— Pai…
Um suspiro sai da boca de Fashr, ele se aproxima e pega Mythro que caiu e está com algumas lágrimas nos olhos.
— Tem que ter mais cuidado com ele, ele deve ter esquecido de como é andar.
Namhr olha para Mythro com um rosto choroso e começa a chorar também.
— Calma pequena, ser mãe é algo que toda mulher tem dentro de si, mas leva tempo para amadurecer esse lado.
— Mas eu não quero ser mãe dele, nós somos que nem… irmãos!
— Somos muito diferentes dele, veja, ele é queimado pelo sol, e tem uma…
Fashr para de falar por um momento e encara a testa de Mythro.
— O quê? E daí que ele é queimado pelo sol, se eu sair mais um pouquinho eu também fico!
— Marido?
— Ele tem uma marca na testa. Nunca vi nada parecido.
— Talvez um machucado?
— Como eu não posso saber o que é um machucado? Veja, é como duas pedras em fogo colidindo, e então uma explosão. Krima, olhe, olhe!
Fashr então vira Mythro para sua esposa Krima, e tira os cabelos da testa dele.
— Isso… – Krima fica sem resposta após ver a marca.
— Ele deve ser de alguma raça especial de fora do abismo.
— E isso é preocupante filha, fora do abismo, as pessoas são muito mais fortes do que nós, nosso cultivo é impedido por que temos sangue, ossos e carne suja. Como nos foi falado na capital por diversos experts.
— É culpa do abismo né?
— Sim…
— Mas bem, o clã dele deve ter sido exterminado, os clãs do norte estão sempre lutando por recursos.
— Então ele é órfão?
Os três ficam quietos por alguns instantes, como se decidindo as próximas palavras.
— Vamos ficar com ele.
Fashr e Namhr ficam surpresos, pois é Krima quem finalmente quebra o silêncio.
— E por quê?
— Fashr, eu não sou a mãe verdadeira de Namhr, mas a amo muito. Eu já acolhi uma filha de outra mãe, por que não posso ter um filho também?
Fashr olha para Namhr e então para Krima. Ele então ri um pouco e joga Mythro no ar.
— Então assim será!
Mythro fica super espantado.