Arbidabliu: Infantes Brasileira

Autor(a): Magnus R. S. Alexandrino


Volume 1

Capítulo 29: Desagravo II

— Eles treinaram muito.

Toda a situação e a música sensibilizam Doug, que se abala emocionalmente ao ver que um grupo de amigos está se tornando inimigos e acaba se distraindo, dando mais vantagem para Donny, que o ataca de perto e depois se distancia atacando-o de longe. Os projéteis causam danos, mas não o ferem de forma perigosa. Com a ajuda da magia de Jake, os danos deixam Doug mais fraco, ao ponto de cair exausto. Em um momento de fúria, ao ver Doug caído, Júlio usa tudo que tem e aprendeu.

— Não tem o que perder agora!

 Com magia, Júlio derrota Jake, neutralizando sua magia, abafando sua música, cansando sua mente e, por último, tenta destruir o instrumento musical. Por serem cordas especiais, elas vibram e repelem o dano para Júlio, que é desarmado, cambaleia perto de cair e desiste da batalha em seguida, ao ver que só tem ele e por querer ver se Doug está realmente bem.

— Sem energia eu não tenho chance...

Pedro se aproxima com um semblante sério e diz.

— E esse é Júlio, o sensato e mais inteligente dos Infames, pena que uma relação ruim o deixe no lado errado do campo.

— Não há lados... E, infelizmente, essa discussão não curará nada.

— Infelizmente não...

Donny e Jake se aproximam de Pedro, e os três olham para os outros derrotados com um ar desapontado pelo caminho que a amizade de todos percorreu desde que se conheceram. Depois de alguns segundos de silêncio e reflexão, os guardas da ilha entram e levam Meena e Rupert para serem medicados, e Júlio faz questão de levar Doug, ele mesmo. Pedro, Donny e Jake se reúnem e comemoram sua vitória, indo ao boticário para se medicarem dos ferimentos, que não são graves. Ao saírem, eles se encontram com Onilda, que está nervosa e agitada.

— Cheguei tarde?

— Sim! Mas não se preocupe, os “Infames” estão bem.

— Também estou preocupada com vocês.

— Obrigado, mestra... Estamos bem, bem melhor que antes.

— E os outros?

— Estão na enfermaria, mas nada sério.

Pedro, Donny e Jake seguem seu caminho após dizer onde os outros estão, e Onilda vai até a enfermaria. No caminho ela é abordada por alguns alunos que fazem perguntas referentes aos estudos e treinos, tomando um pouco de seu tempo. Depois de responder-lhes, ela chega até a enfermaria e vê uma antiga colega de quarto de Meena saindo do local com um ar suspeito.

— Eu me lembro dela, essa moça não teve uma boa conduta nos últimos tempos... Minha intuição me alerta.

Onilda usa magia para ver dentro da enfermaria e observa Júlio chegando com comida, Rupert e Doug descansando, e Meena acordada, reclamando que alguém escreveu ofensas em seu rosto com uma tinta difícil de limpar.

— Eu sabia que tinha algo.

Um guarda aborda Onilda, que se justifica antes de ser questionada.

— Me desculpe, eu usei magia para ver algo importante, depois eu relato isso.

— Certo, mas a senhora precisa de ajuda?

— Não, obrigada, acredito que não seja nada grave.

Onilda vai atrás da moça já pensando em o que fazer. Dentro da enfermaria, Doug acorda e busca algo para ajudar a limpar a zombaria que fizeram com Meena. Rupert logo, ao ver o fato, julga sem pensar.

— Só pode ter sido Pedro e os outros!

A acusação dele logo alimenta ainda mais a raiva com que Mena está.

— Quem eles pensam que são?

Meena, sem escutar mais ninguém, sai embravecida da enfermaria. Júlio tenta impedi-la, mas ela não lhe dá ouvidos e corre. Júlio ainda demostra preocupação, e Rupert comenta.

— Deixe-a resolver, não vai acontecer nada demais.

— Não é bom quando pessoas agem com impulsividade e com ódio.

Doug comenta, sendo apoiado por Júlio:

— E se eles não fizeram isso? Terá mais problemas...

Meena agiliza seus passos e dissimula tranquilidade para que ninguém suspeite que tenha algo de errado; em pouco tempo ela acha Pedro saindo do boticário, indo em direção de alguns bancos por perto. Ela o segue e vê que os três estão juntos se medicando e conversando tranquilamente.

— Foi uma briga difícil, temos que admitir.

— Sim, o bom é que os treinos deram resultado.

— Não cantem vitória, Ray não estava hoje, se tivesse, seria tudo diferente.

— Sim, mas temos que agradecer a Gym pelas técnicas do clã da floresta de Pando.

— O lar de vocês dois, meus Jakdon.

— Eu quero reclamar, mas seria uma honra mesmo ser de um lugar como Pando, espero ter a chance de aprender mais coisas de lá.

— Sim, e quase foram cinco contra três.

— Verdade... Então vamos cantar vitória, quatro contra três, e nós ganhamos.

— Sim, somos bons!

Meena se aproxima amistosamente, os três a veem, e Pedro comenta:

— Meena! Já recuperada?

— Sim...

— O que é isso na sua cara?

Donny vê a zoação que fizeram com Meena e ri, lembrando que ele e Jake fizeram com Pedro algo parecido, para se vingarem das zombarias dele.

— Lembra, Pedro?

Meena logo entende que ele é o autor da ofensa e aproveita a baixa guarda dele para atacá-lo, ela o fere com uma lâmina pequena, que entra fundo em seu peito. No susto e por impulso, Pedro bate em Meena, jogando-a para longe deles. A garota ameaça atacá-lo, mas Pedro a desarma e, antes de atingi-la novamente, Onilda aparece. Com magia, Onilda separa os dois, mas Pedro avança novamente e ofende Meena.

— Retardada, louca!

Onilda usa magia para defender Meena e dá um tapa em Pedro, que se choca e para de atacar, seu olhar bravo troca para um olhar triste e desapontado como uma grande mágoa.

— É assim?

— Para com isso! São três contra um?

Meena aproveita que está sendo defendida e os acusa.

— Esses idiotas pintaram meu rosto e zombam de mim, não só hoje!

— Acalme-se, Meena...

Pedro balança a cabeça e dá as costas para as duas, indo ajudar Jake, que fica desesperado ao ver Donny perder a consciência.

— Foi em um lugar crítico, ele está perdendo muito sangue!

Onilda se aproxima preocupada e se recorda, vendo o ferimento.

— Ele é hemofílico, o que houve?

Pedro responde com ar de desinteressado na preocupação dela.

— Pergunte para os seus favoritos...

Onilda olha para Meena, que não mostra nenhum arrependimento, e fica perplexa.

— Você fez isso Meena?

— Eles que...

Onilda levanta a voz e pergunta com tom bravo.

— Foi você que fez isso?

— Sim!

A moça da qual Onilda foi atrás está com ela e não foi notada, nesse momento a garota se aproxima e diz bronqueada.

— Viu, ela é louca e tem que ficar longe dos outros normais daqui.

— Calada! Pode ir embora, mas eu ainda vou falar com o seu mestre sobre o ocorrido.

Pedro chama uma das mulheres que trabalham no boticário e consegue socorrer Donny, com Jake. Onilda pensa em ir atrás, mas a decepção e memórias ruins tomam seu estado emocional; ficando sem reação, ela ainda olha Meena, que está brava e sem nenhuma noção do mal que fez.

— Meena... Não foram eles que fizeram isso com você...

— Mas eles sempre buscam uma forma...

— Meena? Mesmo que sejam eles os culpados por essa afronta, ferir fisicamente ou até mortalmente é a solução?

Sem resposta, Onilda ainda questiona.

— Você está feliz por sua “vingança”?

A raiva de Meena diminui rapidamente e fica com um aperto em seu peito, a consciência pesa, ela abaixa a cabeça e, antes de dizer algo, Onilda fala.

— Estou desapontada com você, Meena, vou tomar algumas sanções disciplinares e espero que você pondere bem suas escolhas daqui para frente.

— Mestra...

Onilda sai em direção da enfermaria para ver se Donny está bem. Meena volta para os seus amigos e explica tudo o que aconteceu, deixando Júlio e Doug mais preocupados com tudo. Passando um tempo, todos eles recebem um chamado do castelo, Ray pedindo a presença deles para comunicar algo. Tarde da noite, se encontram Rupert, Meena, Doug, Júlio e Onilda com Ray, em uma sala do castelo; no caminho, Onilda teve uma pequena conversa com Maxmilliam, que já adiantou o assunto. Onilda chega à sala muito desanimada, esperando só o pronunciamento oficial de Ray, ele está sentado com uma funda em seu colo, arma usada pelo seu pai quando treinava. Ray segura forte o pano e questiona o seu grupo.

— Jake, Pedro e Donny... Sabem se eles viram?

Onilda toma a frente e responde a Ray:

— Me desculpe, Ray, eles tiveram alguns problemas essa tarde.

— Todo bem... Bem...

Onilda faz sinal para que os outros confortem Ray, todos se aproximam dele, que está triste, pronto a chorar. Ao ser abraçado e acolhido por seus amigos, Ray diz, com os seus olhos cheios de lágrimas:

— Meu pai...

Nada mais foi dito, minutos de silêncio foram feitos e depois disso houve mais conforto do que perguntas. Em um momento mais calmo, Ray comentou:

— Gostaria que todos estivessem aqui... Sinto falta das canções dos Infantes.

Onilda sorri e comenta.

— Minha voz não é muito bela, mas posso recitar um poema...

— Por favor, mestra, eu adoraria ouvir.

No poema, Onilda fala sobre amizade, que amigos estão sempre ao seu lado, nos bons e nos maus momentos, agradecendo sempre por estar ali. No final ela fala sobre a infelicidade de nada durar para sempre e sobre o “adeus”, e que novas emoções virão, apesar de algumas ficarem para trás. Onilda aproveita para falar sobre amadurecimento e os obstáculos que vão encontrar na vida. O clima triste do dia agitado deixa todos mais flexíveis a mudanças, fazendo com que fiquem pensativos com suas atitudes passadas e o que farão no futuro. No fim da noite, todos vão dormir e, no caminho para seus quartos, eles comentam alguns pontos. Doug com Júlio:

— Gostaria de dizer para o Ray sobre nós, ele é nosso amigo, e até hoje não falamos do nosso amor, ele ficará feliz por nós.

— Sim, mas depois de hoje, é melhor a gente esperar outro momento para dizer.

— Em momentos assim, eu também quero dizer para todos que eu o amo.

— Doug... Obrigado... Eu também te amo.

— Que o nosso “Adeus”, que a mestra falou, seja muitas décadas à frente.

— Séculos!

Meena comenta com Rupert:

— Por que aqueles futrespurco atacou a universidade?

— Foi o que Onilda disse, eles queriam ter todo conhecimento para si, então tomaram a maior fonte de conhecimento do continente.

— Acho que deve ter algo a mais que isso.

— É possível...

— Infantes... Nós, os Infantes, teremos essa missão, vamos nos tornar mais experientes e agarrar a primeira oportunidade para ir ao futrespurco investigar ou até acabar com eles.

— Isso pode demorar, mas eu gostei da ideia.

— Bom, em um dia mais calmo, podemos comentar isso com todos, mesmo que sejam anos à frente, esse futrespurco terá que pagar pelo que fez.

Ray diz para si mesmo, em um quarto solo no castelo.

— Pai, você treinou muito com essa arma... “funda”, confesso que é bem diferente... Mas, a partir de hoje, vou treinar com ela, minhas habilidades com essa arma serão uma homenagem a você, pai, nas batalhas que enfrentarei você estará comigo... E minha empatia será minha mãe, que mostrará o caminho a seguir, sabendo sempre em quem confiar e com quem andar... Eu amo vocês...

Na manhã seguinte, Jake e Pedro ficam sabendo do acontecido, de que Ray perdeu seu pai, e eles conversam em particular.

— Temos que contar para o Donny!

— Sim, mas depois que ele se curar por completo...

— Fico triste pelo Ray... Não faz essa cara porque eu sei que você também está.

— Sim, estou, mas é difícil não ligar ele com os outros “infames”.

— Depois de ontem, é melhor a gente se afastar mesmo, no fim você tinha razão, essa amizade não existe mais, até desconfianças ruins têm contra nós.

— Sim... Mas você está certo de que mesmo assim devemos prestar nossos sentimentos para Ray. Ynascar foi um grande herói... Quem diria que ele seria derrotado pelo futrespurco?

— Eu vejo essas mudanças como um sinal. Não podemos ficar focados em ajudar só Pronuntio ou seus aliados.

— Depois vamos conversar com Donny sobre isso, já comentamos antes sobre nos aventurar mais e lutar por mais causas.

— E o que você acha?

— Que o mundo precisa conhecer Jakdon como eu conheço.

— Você é desprezível...

Pedro ri para descontrair e continua.

— Depois de pegarmos mais experiência e conhecimento sobre o mundo fora dessa ilha, nós iremos atrás de soluções, batalhar pelo que acreditamos.

— Sim!

— E continuar com o plano Jakdon.

— Não!

— Precisaremos de ouro para nos ajudar. E vocês dois gostam de cantar, você mesmo já parou de reclamar com tudo.

— Eu sou sempre contra.

— Mas diminuiu as reclamações, aceita que economizamos tempo e você foca mais no que sabe fazer.

— Tocar instrumento?

— Não, Tocar o Donny!

— Vou colocá-lo ao lado do Donny na enfermaria!



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