Lorde Sem Olhos Brasileira

Autor(a): Sr. V


Volume 1

Capítulo X: “Amizade inesperada”

Caíram eles a rolar pelo chão, por sorte a areia era macia e graças a isso não se machucaram pra valer. Se levantaram já em seguida sem perder tempo, saíram às pressas.

O verme ainda estava em sua cola já os alcançando novamente. O sol por vez começava a sumir no horizonte, logo seria noite.

— Ele está chegando mais perto!! — disse o Sátiro.

— Porque voltou pra me ajudar naquela hora?! Foi burrice a sua. Você já teria se salvo a essas horas.

— Nem eu sei por que fiz isso. Acho que prefiro morrer com companhia!

— Hahaha. Boa escolha! — Aku sorriu gentilmente para ele.

Foi quando Aku avistou uma árvore morta mais a frente. Colocando sua mente para pensar, uma ideia logo surgiu o trazendo esperanças.

— Acho que tive uma ideia!!

— Teve? Qual?!

— Só faça o que eu fizer.

O sátiro não entendeu, mas sem escolha decidiu o seguir sem mais perguntas. Eles corriam em direção a árvore morta, correndo com tudo de si. O verme por vez mantinha o ritmo logo atrás. 

Aku parou bruscamente já próximo ao tronco e, segurou o braço do sátiro para ele parar:

— O que foi, algum problema?!

Os dois permaneciam parados, encarando o monstro debaixo da areia que se aproximava com uma força absurda. Torne por vez ainda excitava, sua mente gritava para ele correr, mas ao encarar o olhar sério de Aku decidiu confiar.

O monstro já saia de em meio a areia, sua boca se abrindo para eles. Deslizava sobre a areia em direção de suas presas que os encaravam de frente.

— Ele tá vindo!! — Gritou Torne.

Aku por vez mesmo com suas pernas tremendo, não ousou se mover. A criatura por vez saltou esticando seus dentes como estacas.

— Nós vamos morrer!! — Gritou o sátiro.

— … Agora!!

Aku empurrou o sátiro para o lado, pulando na outra direção. O verme por vez abocanhou o chão e com o grande impacto virou. Suas costas assim atingindo o tronco que ao se despedaçar com o impacto, findou perfurando a criatura.

— Ooohhhh!!

Ela com dor começou a se debater, o que fez rasgar ainda mais seu corpo. Algumas vísceras saíram para fora, e um sangue verde criou uma poça ao seu redor.

Aku se levantava, ele olha ao seu redor enquanto a poeira baixava, então vendo o monstro já morto em sua frente. O verme já tinha seus últimos espasmos, seu corpo já aceitava o abraço suave da morte.

— Ele morreu!! — Gritou o sátiro. — Isso!! Humano você é mesmo louco, hahaha. Gostei de você! — disse dando um tapinha em suas costas.

E antes que Aku pudesse comemorar, sua capa começou a emanar uma energia estranha. Os olhos dos lobos brilhavam, o sangue da criatura por vez começou a se mover, e então escorrendo até Aku começou a subir por seu corpo. 

Aku por vez caiu apavorado, enquanto o sangue adentrava os olhos de sua capa. Lhe começou a faltar o ar, logo caiu desmaiado no chão.

***

Horas depois ele já acordava. Já era noite, ele estava deitado próximo a alguns ossos bem grandes e havia uma fogueira em sua frente que iluminava um pouco o ambiente ao redor, ele ainda estava no deserto.

Essa era uma noite sem lua, estava uma escuridão total, tudo mais adiante da luz fogueira não passavam de trevas.

A fogueira soltava pequenas faíscas que subiam desaparecendo no breu total, não demorou muito para ele notar a carne assando, o cheiro era ótimo. O sátiro por vez o encarava do outro lado da fogueira, seu olhar era sério e cheio de perguntas:

— O que é você? Não acho que seja um humano, mesmo tendo aparência de um.

—Por que acha isso?

— Um humano comum não estaria por essas bandas. E você é estranho forasteiro!

— É… talvez eu seja mesmo.

— Não brinca comigo! Heróis são amados pelo povo, andam com suas legiões de seguidores e vivem suas vidas de forma nobre. Não vejo uma legião de seguidores, nem sequer roupas nobres e muito menos o rosto de um aventureiro poderoso! E se fosse mesmo um herói, iria invocar sua arma divina e matar aquela criatura. Não ficar fugindo dela!

— É mais complicado do que parece!

— Bem, eu não tenho o direito de fazer tantas perguntas… Todos temos segredos, certo?

— É, pode ser…

— Você não me parece muito animado. 

— Quase fui morto… Me pergunto como teria sido mais fácil se eu tivesse um grupo.

— Andar sozinho pode ser difícil, pois realmente é. Porém, é mais prático! Está procurando algo no deserto?

— Estou procurando uma guilda, ela fica no reino de Astrid, eu acho.

— Olha, desculpe decepcioná-lo… Mas o reino de Astrid não fica nesta direção! Embora eu acredite que tenha uma guilda mais adiante.

— Então você está me dizendo que andei tudo isso e quase morri por nada?!

— Sim, isso mesmo. Mas isso foi para sua sorte, tá?

— Como assim?

— Não recomendaria ir ao reino de Astrid. Lá foi dominado por demônios há alguns milênios.

— Milênios? Mas me disseram que era um bom lugar para subir de nível!

— Ou alguém queria se livrar de você… ou querem desesperadamente que fique mais forte. Ir lá e suicidio!

Aku ficou pensativo, ainda não conseguia encontrar uma resposta, embora soubesse que algo parecia errado. Torno por vez continuou:

— Uma gilda, é? Você não me parece um aventureiro. É muito novo, e… fraco.

— Você também não é lá essas coisas!

— Hahahaha. Certo, certo. Mas o que vai fazer na guilda? Quer ser um aventureiro ou fazer outra coisa?

— Desejo ficar mais forte. Forte o suficiente para derrotar o mal deste mundo. Forte o suficiente para ajudar meus amigos e as pessoas importantes.

— Motivos nobres. Com mal do mundo… você se refere ao que exatamente?

— O lorde demônio, claro! Eu irei derrotá-lo, custe o que custar.

Torne o encarou com um olhar de espanto. Ele parecia surpreso com aquilo, se perguntava como um humano fracote derrotaria o ser do caos.

— Hmp, boa sorte! Já escutei histórias terríveis sobre ele. Dizem boatos por aí que ele tem cabeça de bode, corpo de urso e braços de serpente. Sem contar os olhos de corações pulsantes e as asas de urubu.

Aquilo deixou Aku pensativo, imaginando em sua cabeça cada detalhe dessa descrição bizarra. O ser medonho se formava em sua mente, isso o enchia de pavor.

— Hahaha. Está com medo? Deveria estar mesmo. Ele é um monstro sem coração, viciado em poder e morte! Bem… No fim nem sei se ele existe mesmo. Talvez seja só lenda, minha mãe me contava para que eu não saísse de casa a noite.

— Sei…

— Mas e porque você quer enfrentar o lorde demônio?

— Ele é o mal deste mundo. Sendo real ou não, vou me garantir de manter ele como lenda apenas. E… vou te falar em, você faz muitas perguntas, não?

— E você continua respondendo elas. É seu costume acreditar tão cegamente em um estranho?

— Acredito que se quisesse fazer algo comigo, já teria feito. — Encarou ele, se aproximando mais da fogueira. — Agora é minha vez de fazer as perguntas! A propósito me chamo Aku. Sou novo por aqui, mas que mal a pergunta, você seria um sátiro, né?

— Sim, isso mesmo. Sou um sátiro; metade bode e metade humano, um verdadeiro e legítimo sátiro.

— Eu sabia!! E pensar que de histórias, um dia eu veria um de verdade bem na minha frente. Nossa, isso é tão legal!!

— Oi?

— Você também tem bons movimentos. Poderia ter me deixado para trás se quisesse!

— Você não está com medo de mim?

— Não, por quê? 

— Os humanos tem algumas lendas com meu povo. 

— Lendas? Bem, digamos que sou novo por aqui. Não sei de muita coisa ainda! E tenho que te agradecer, você é o primeiro meio humano com quem converso. A maioria que vi no castelo não falava nada.

— Não os culpe… Não se sinta ofendido também. Eles apenas não podem falar, segundo a tradição, os escravos da corte tem suas línguas cortadas para não repassar informações a inimigos.

Naquele momento Aku se espantou com o comentário de Torne. Seu mundo fantasioso começava a ruir, enfim o lado podre desse mundo começava a dar as caras.

— Como assim?! Línguas cortadas?

— Você não sabia? É algo comum, sabe… Não é atoa que eles são escravos e as pessoas que fizeram isso seus donos! Os humanos odeiam meio humanos, e qualquer coisa diferente deles. Se acham superiores aos outros, e esse jogo de poder serve apenas para alimentar o ego inflado deles. Ter escravos para os humanos é considerado um bem necessário. Bem, fazer o que né?

— Como assim bem necessário?! Isso é cruel! Eu realmente não sabia disso.

— Calma, eles são apenas escravos. Os humanos podem fazer o que quiserem com eles! São só pessoas que foram capturadas, só isso.

— Só isso?! E daí que eles são escravos?! Eles continuam sendo seres vivos!! Seres com vida e sentimentos!! Pessoas. Isso não é justo, isso é desumano e muito cruel!

— Hum? Você é estranho, sabia! De onde você vem não tem escravos?

— Claro que não!! Bem, no começo muito tempo atrás tinha isso em vários lugares, mas eram pessoas humanas escravizando outros humanos!

— O que? Humanos escravos de humanos? Que intrigante.

— Sim, havia descriminação de um lado! Pois haviam pessoas de pele branca e outras com pele escura. Era uma merda aquele tempo, foram períodos tristes da humanidade, porém as coisas mudaram, todos são iguais perante a lei agora. Ainda tem descriminação e pessoas racistas, mas... Você podia ser preso por causa de preconceito.

— Parece um bom lugar.

— E é, mas também era muito chato! Pra mim o que mais sinto falta é das bebidas de lá, amava um refresco nos dias quentes. Sem contar os mangás e animes, vivia no meu quarto maratonando “One Piece”!

— One, o quê? Piece?

— “One Piece”! Anime de piratas… Se bem que é muito mais que isso. Diria que é uma família vivendo uma aventura.

— Parece maravilhoso. Piratas e família, é? Hahaha.

— Obrigado, Torne. Você me deu vários motivos para pensar mais.

Torne ao escutar isso, sorriu. Os olhos de Aku brilhavam com sinceridade, ele parecia aos poucos se decidir.

— Então quer derrotar o lorde demônio?  Aceita um conselho?

— Conselho?

— Não vá para o norte onde fica esse reino! Além do reino estar dominado por demônios, naquela direção também fica o Abismo do Traidor. Um abismo imenso onde contam as lendas, que se você cruzar os limites uma vez, uma doce voz vai te chamar e te levar até a beira do abismo. Assim você pula para a morte! A lenda diz que o lugar foi amaldiçoado por um homem o qual traiu alguém importante. Ele então tentou se matar enforcado em uma corda no velho carvalho, mas a corda quebrou e ele caiu para sua morte. As aves do céu, devoraram seu corpo enquanto ele gritava amaldiçoando o lugar.

— E por que ele se matou?

— Se arrependeu de ter traído essa pessoa.

— O arrependimento sempre dói. Tenho pena dele! Talvez ele tenha sido apenas um inútil como eu… Um mero figurante na história de um salvador.

— Ninguém é inútil! Só existem pessoas que não sabem como ajudar. Mas também não é como se elas fossem inúteis de fato. Inúteis são pessoas que desistem dos sonhos e desejos, elas não sabem o que estão perdendo ao desistir da vida. Você parece ser muito bonzinho! Isso vai ser a causa da sua morte um dia. Melhor mudar isso, antes que seja tarde.

— Hahaha. Obrigado pelo conselho “amigável”!

— Quer me acompanhar neste banquete?

Disse pegando um dos espetos na fogueira e jogando para ele. Que ao segurar, percebeu que ainda estava quente.

— Quente, quente, quente!!

Ele jogava o pedaço de um lado para o outro em suas mãos enquanto Torne ria, finalmente soprou para esfriar a carne um pouco.

— É carne de quê? — Perguntou ele dando a primeira mordida.

— Carne de Mongo. 

— Hm… Mongo é gostoso. Hahaha, nome engraçado. O que é um Mongo?

— Se lembra do verme de mais cedo?

Aku se engasgou, começou a tossir, Torne o entregou às pressas uma garrafa de água. Ele por vez bebeu com vontade, já se recuperava quando:

— Por que comeria essa coisa?!

— Carne é carne! Além disso, é muito gostosa. — disse enquanto comia seu pedaço.

Aku estava com nojo, mas sua fome falou mais alto, ele começou a comer com pressa. Parecia realmente gostoso, ele só parou de comer quando chegou no quinto pedaço. Torne por vez sorria dele:

— Ei, ei. Mais calma ai rapaz! Vai mais devagar, caso contrário não vai sobrar pra mim.

— Hm. Desculpe, é que já faz uns dias que não comi nada.

— Sinceramente tivemos sorte. Era apenas um Mongo filhote, se fosse um adulto aquele seu plano não teria funcionado!

— O que?! Um filhote?!

— Sim, e o mais assustador nem são os mais velhos. Tem lendas antigas que dizem que nessas planícies esquecidas pelos deuses tem o rei Mongo. O deus dos Mongos… Chamamos ele de “Grande Mangras”… O verme que é tão grande que seu corpo poderia dar seis voltas no mundo.

— Isso me parece só uma lenda mesmo.

— Sim, também acredito que seja. E espero que seja! Pois dizem que se ele se mover, os reinos serão varridos do mapa. Dizem também que dentro dele está o inferno, se você é engolido por ele, você cai no tormento eterno. Os demônios não podem fugir de dentro dele porque ele é muito poderoso.

— Está vendo, só uma história.

— É pode até ser. Mas vai que é verdade!

— Hmp. Você sabe muitas histórias, né? Tem alguma sobre os deuses?

— Não muitas. Eles não são do tipo que aparecem muito, sabe? Nem sei se eles existem mesmo. Pergunto-me se são reais... Porque se forem, eles nos odeiam! Tanta violência, caos, morte, dor, fome, sofrimento... Tanta gente boa que não merece o tipo de coisa que passa. Pessoas boas que nascem com problemas, pessoas boas que nascem em um lugar pobre. A vida é difícil!

— Nessa eu vou ter que concordar… Aliás… O que você faz por aqui? Ainda não perguntei muito sobre você.

— Me perdi da minha tripulação.

— Tripulação?!

— Sim, eu sou um…

(Continua…)



Comentários