Medo da Escuridão Brasileira

Autor(a): Marcos Wolff


Volume 11 – Arco 4

Capítulo 106: Pai e filho.

 

Any

 

Me coloquei para lutar contra um demônio… isso por conta de tudo o que já aconteceu na minha vida, peguei com força a lança que estava em minhas mãos, aquele demônio foi mandado pelo Riki, o deus da criação, eu sabia que poderia vencer pois o falso rei era o ponto principal, ele quem é forte o suficiente, o demônio simplesmente domina as pessoas que estão em volta, percebi isso com o tempo, as pessoas nunca caíram por conta do rei, e sim por conta dessa coisa que estou prestes a lutar… fechei meus olhos e respirei fundo.

Um demônio não pode ser atacado ao menos que tenha alguma coisa espiritual contra essa alma perdida, então, sou a única capaz de lutar contra ele já que tenho alguma coisa haver com o Riki.

Avancei pra cima dele, mesmo que estivesse no ar não iria conseguir se movimentar muito rápido, ele não ataca, apenas tenta desviar, isso por conta do seu corpo estar interligado com o do falso rei, mas a lança se balança quando bate na parede, e logo jogo com tudo no corpo do demônio que cai no chão, me aproximo e seguro seu pescoço…

— É hora de selar aqueles que tentam ser os mais fortes…

Levantei meus dois dedos da mão esquerda e logo… vi um sorriso no rosto do demônio e ele sumindo aos poucos, o homem que estava atrás de mim lutando contra o Hideki solta muito sangue… e nesse momento percebo que era apenas… uma mentira.

— Não… não pode ser assim… — diz o homem que estava no chão.

Acima do Hideki uma pessoa aparecia aos poucos, aquele rosto completamente familiar aparece mais uma vez em minha vida…

— Sabe Hideki… às vezes… seu inimigo não é quem você pensa.

Uma fumaça roxa domina o local, me deixando sem visão do que estava acontecendo, logo… escuto o Kay falando:

— HIDEKI, PEGA TODO MUNDO E SAÍ!

Não tinha como sair…

Minha visão estava completamente travada, não tinha como olhar pra nenhum lado já que parecia estar cega….

— Faz um tempo… meu querido filho.

Hideki paralisa, mas logo consigo me mexer e pular pra cima dele, o jogando pra trás de mim…

— E parece que tens companhia… não é mesmo, Any…

— O que uma pessoa como você veio fazer aqui nesse reino?

— Estou apenas visitando o meu filho pela única vez… as vezes é necessário fazer algo desse tipo.

Eu sabia que havia alguma mentira nisso, afinal de contas, não neutralizei o demônio, ele sumiu, como se tivesse se desvinculado do corpo daquela pessoa, mas, no final de contas, aquela pessoa era uma espécie de portal para o deus da criação, como se fosse ele mesmo…

— Sabe, por mais que ele tenha algum tipo de proteção, não há nada que você possa fazer, Any…

Riki… de alguma forma, me joga em direção a parede mais distante… ele usou um poder para me mover com sua mente, algo que está além da minha percepção… a dor não era tanta, eu conseguia me mexer no final das contas, mas por algum motivo… minhas pernas estavam tremendo. Por conta de Riki estar na minha frente, eu estava com muito medo, não conseguia pensar direito no que deveria fazer naquele momento, então… eu travei por um tempo…

Eu sabia que não poderia deixar o Hideki morrer ou até mesmo cair no papo do pai dele, mas estava além da minha percepção fazer alguma coisa naquele momento, então decidi observar tudo por um tempo.

— … Pai… há quanto tempo.

— Sim… creio que esteja me esperando desde que eu te vi pela última vez na academia de batalha.

— Óbvio. 

— Sente medo? Desconfiança? Alguma coisa?

— Não…

— No final das contas você é que nem a sua mãe…

Decido me aproximar da Emilly que estava amarrada e ajudá-la a sair dali… foi fácil de fazer isso, e ela até mesmo já tinha desmaiado por conta de tanta pressão e por tudo o que tinha acontecido, então deveria dar uma forma de levá-la para um lugar seguro…

— Filho… você pode estar se perguntando o motivo de tudo isso estar acontecendo com você.

Hideki se prepara e pega sua espada, apontando para o seu pai e se afastando alguns passos.

— Nem tanto para ser realista.

— Hm…

— No final das contas a única coisa que conseguia me perguntar, era o motivo de VOCÊ estar fazendo tudo isso.

— Eu?

— Sim… Por muito tempo me perguntei se foi você quem matou a mamãe, ou se foi você quem planejou tudo isso, mas óbvio que não era essa a conclusão que cheguei… não conseguia imaginar que meu pai faria todo esse tipo de coisa.

— Eu também não conseguia imaginar que foi meu filho quem matou minha mulher… você deve se lembrar daquele momento…

— Eu? A mamãe?... MAS ELA MORREU NA MINHA FRE-

Riki joga Hideki na parede e o enforca com muita força.

— Naquela época… você nem sequer deve lembrar do que aconteceu. 

O terror paira pelo ar, e tudo o que consigo fazer é assistir… mas óbvio que não é a mesma coisa que acontece com o meu corpo, ele solta a Emilly com cuidado no chão, e logo avança pra cima do homem que apareceu de repente. Uma parede aparece na minha frente, então pulo por cima dela tentando dar uma ataque direto em Riki, mas é parado pelo escudo que tinha em volta dele.

— Sabe… as vezes é hora de fazer aquilo que vocês mais gostam…

— Do que você está… falando… pai?

— Hoje… será o dia perfeito para vocês lutarem até não dar mais…

Então ele joga o Hideki com tudo no chão, quebrando todo o piso e criando uma cratera.

— Eu estarei te esperando lá, na cidade futurista… filho… agora é hora de voltar… a todos… terem medo da escuridão.

O vento começa a ficar forte, e então me joga pra longe, pra fora do castelo junto com a Emilly, uma risada maligna se escuta, quebrando tudo o que estava em volta, o resto do castelo se quebra e some, e consigo ver o Hideki voando pelo céu. Um tornado estava na minha frente, ele era grande ao ponto de chegar no escudo que estava em volta da cidade.

Ele começa a quebrar o escudo… até que Kay aparece do meu lado, me pega no colo junto com a Emilly e começa a correr, a cidade toda estava caindo em ruínas, e logo atrás da gente estava um oceano de lava que dominava tudo em uma velocidade extrema.

— Kay…

ANY, NÃO É HORA PARA CONVERSAR, EU VOU TE SOLTAR EM UM LUGAR SEGURO, ASSIM VOCÊ CORRE PRA LONGE DA CIDADE COM TODOS QUE ESTIVEREM LÁ…

— E você?

— Eu vou ficar para salvar o reino… existem coisas que não sou capaz de fazer, e salvar muitas pessoas é isso.

— Espera, você vai se sacrificar?

— Aquele cara… que apareceu do nada… ele mandou pra gente o verdadeiro deus da guerra, agora estamos aqui lutando contra ele… não há tempo para explicação, só temos que aceitar tudo o que está acontecendo agora e tentar salvar todos que ainda restam.

— …

— Eu conto com você. Vá.

Logo ele me solta junto com a Emilly… o mar de lava ainda estava vindo em nossa direção.

— Kay…

Ele não parece ter me escutado, então ele cria uma barreira mágica capaz de parar um pouco, o impacto daquele mar causa um pouco de dano nele… mas logo consegue voltar ao normal e arrumar tudo o que estava acontecendo.

— Eu… NÃO VOU DEIXAR QUE VOCÊ ESTRAGUE UM REINO QUE FOI IMPORTANTE PRA ELA!

Peguei a Emilly no colo e corri até a torre que poderia ser conhecida como a biblioteca desse reino, muitas pessoas estavam lá dentro e por conta disso me enfio com a princesa lá dentro… 

Logo escutei uma voz familiar, era a Maki que estava lá dentro cuidando de todas as pessoas.

— Vamos gente, para o segundo andar, não quero ver ninguém aqui embaixo.

Ela estava andando em minha direção…

— Any, você está aqui, junto com a Emilly.

— Sim… o que aconteceu?

— Krig… está entre nós.

— Krig?...

— Sim, e se ele está aqui… provavelmente a Mier também está. 

A Maki cerra seu punho.

— Mier… a deusa dos oceanos?

— Sim, eu tenho certeza que ela estaria aqui.

— Mas… por quê?

— … talvez para resolver assuntos pendentes com a Shiori.

— Bem, o que você vai fazer, Any?

— Não sei o que posso fazer, não irei lutar contra um deus… não de novo.

— Naquela época tínhamos ajuda do Hideki, ele provavelmente vai correr para ver seu próprio pai de novo… ou talvez, ele esteja procurando a Shiori.

— Onde ela está?

— No mesmo quarto desde que a gente saiu para fazer tudo isso.

— Entendi.

— Bem, a gente tem que fazer alguma coisa para ajudá-lo, toda a população acordou do nada, não sei o que vocês fizeram dentro daquele castelo, mas alguma coisa boa poderia ter sido.

— O Riki… ele apareceu por nossa causa.

— Não… tenho certeza que de uma forma ou outra ele iria aparecer, agora é hora de fazer o que Solveig me pediu, proteger a Shiori a todo custo.

Pela janela a gente consegue ver uma chuva de raios roxos, não dava para saber o que estava acontecendo lá fora…

— Fica a seu critério, Any…

— … eu vou cuidar da população.

— Entendo, é bom manter sua própria casa. 

— …

Maki dá um tapinha no meu ombro e logo passa por mim, saindo da torre e indo em direção ao quarto onde Shiori estava.

Um tempo depois comecei a retirar todas as pessoas da biblioteca para movê-las em direção a floresta, era hora de retirá-las da cidade com o intuito de salvar toda a população, por conta disso subi em uma caixa alta e falei para todos que estavam lá:

— PRECISO DA AJUDA DE TODOS VOCÊS, SE QUEREM SOBREVIVER… PRECISARÃO SEGUIR O QUE IREI DIZER.

As pessoas logo pararam de falar e começaram a me escutar.

— Sei que pode ser complicado para vocês, já que muitos irão perder suas casas e até mesmo famílias, mas quero que entendam que isso não está sendo fácil para ninguém, então a gente vai sair…

— Claro que não!

— A minha casa não pode ser perdida!

— Esse reino é dos guerreiros e a gente não vai lutar?

— Mas que porra é essa?

— GENTE, ME ESCUTEM!

As pessoas param de falar por conta do meu grito.

— ESSA LUTA ESTÁ ALÉM DO QUE VOCÊS POSSAM IMAGINAR, ISSO AQUI NÃO É UMA GUERRA, É APENAS UMA LUTA ONDE UM LADO ESTÁ DANDO CERTO, E É O LADO INIMIGO!... Eles querem que vocês lutem para diminuir o resto dos seres humanos, por isso peço para que usem a cabeça dessa vez e pensem melhor se irão fugir ou apenas fingir que estão lutando, sendo que na verdade todos irão morrer.

— Hideki… e até mesmo a Maki… eles não estão lutando por vocês, e sim por eles mesmos, não achem que só por conta de ter algumas pessoas poderosas, vocês vão poder lutar junto, eles não querem isso, pois está muito distante da realidade de vocês!

Cerrei o punho… até escutar uma voz extremamente familiar.

— Exatamente.

Era Emilly, que estava aos poucos se levantando, se recuperando da queda.

Eu vi… com meus próprios olhos… eles estão muito distante de nós… por conta disso, corram o máximo que puderem, essa luta não é nossa, mas é no nosso reino.

— Princesa…

As pessoas começam a se levantar do chão como uma forma de dizer que concordam com o que está acontecendo, por isso… eles começam a andar em direção a entrada…

— Obrigado gente… me sigam.

Era hora de todos fugirem pelo bem da população, o mundo lá fora não está divertido, por conta disso era hora de proteger todo mundo e seguir em frente de alguma forma, eu queria… que pelo menos uma vez… algo desse certo.

Emilly segura minha mão e decide que irá correr comigo, acenamos uma para a outra, e logo a porta se abre… todo mundo começa a correr em direção a floresta, porém… no primeiro momento que viramos para a direita, havia uma pessoa lá, seus longos cabelos feitos de água… e até mesmo seu fino e delicado corpo…

— Parece que encontrei algumas pessoas interessantes nisso…

Antes que ela pudesse fazer alguma coisa, um dragão aparece e tenta confrontá-la, de cima dele… uma pessoa estava lá, era Hiro.

ANY, EMILLY, CORRAM! NÃO HÁ TEMPO… NÃO VOU CONSEGUIR SEGURÁ-LA POR MUITO TEMPO!

Ignoramos o fato de ser ele e assim continuamos a correr sem olhar pra trás, e quando chegamos na borda da cidade, todos conseguem passar…

— Deu tudo certo… Emilly…

Nenhuma resposta…

— Emilly?

Quando olhei para o meu lado, ela não estava lá, envolta das pessoas também não… por conta disso começo a entrar em desespero até perceber… que ela ficou lá com o dragão e o Hiro…

 



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