Volume 1
Capítulo 37: Ao Paraíso (3)
“O que é isto?”
Encarava o pedaço de papel que caiu da prateleira.
“Ah, verdade. Consegui isso aqui de uma das Caixas da Necessidade…”
Lembrou de receber aquele item como bônus de início. No início, não tinha se importado muito, já que estava surpreso com o Nove Olhos. Além disso, após encher a bolsa de comida, que roubou da loja de conveniência, havia deixado aquele objeto no fundo da bolsa. Sentiu-se um pouco surpreso por ter esquecido.
— Ei, Sungjin.
— Fala. — Ele ergueu a cabeça e encarou Seol.
— Qual a classificação da sua Marca mesmo?
— Bronze.
— Então você conseguiu uma Caixa Aleatória, né? Lá no auditório.
— Sim.
— O que veio nela?
— Um papel talismã. Por quê? Isso tem alguma importância agora?
— Não, é só que eu tô um pouco curioso. O feitiço que vem com o talismã pode fazer qualquer coisa que você quiser?
— Não. No meu tá escrito “Unir”.
Olhou de volta para o papel talismã que estava em cima da prateleira e franziu o cenho. Não tinha nada escrito no dele.
— Tem como você me mostrar?
— Ih, foi mal. Já usei no Tutorial. A gente deu de cara com o Gaekgwi assim que saímos do nosso esconderijo — disse, coçando a nuca um pouco sem graça.
— Hmm. Será que alguém ainda tem um que não usou?
— Acho que não. A Zona Neutra tá quase fechando, já se passou um bom tempo desde o início.
— Ué, como assim?
— Eles são bônus de início, não são?
— Não entendi. — O jovem ficou surpreso. Não imaginava que o Marca de Ouro não sabia daquela informação. Afinal, essa informação era quase que senso comum para os Invocados. Bem, a menos para quem prestou atenção às explicações.
— São tipo os celulares. Tá sabendo que a gente tem que devolvê-los antes de sair daqui, né?
— Sim.
— É assim. Tanto os bônus de início, quanto os celulares não são coisas que conseguimos por nosso próprio esforço.
— Aham.
— Itens assim a gente ou devolve antes de sair da Zona Neutra, ou desaparecem sozinhos. Esse lugar é um local especial conectado com o Tutorial, então itens de lá podem ser usados aqui, mas não podemos levá-los para o Paraíso.
— Mas a gente não consegue levar as armaduras e as armas? Que merda, eu tava pensando em levar as minhas bolas de feitiço comigo também.
— Armaduras e armas você comprou com os próprios pontos, então não conta. E você conseguiu essas bolas de feitiço sozinho depois de ter a quantidade de moedas suficientes, certo? Então elas são diferentes dos bônus de início, já que você teve que correr atrás pra conseguir esses itens.
Era a primeira vez que ouvia falar em algo parecido. Ficou um pouco confuso enquanto encarava aquele pedaço de papel que guardava.
— Por exemplo, se você fez alguma coisa usando os bônus de início, é reconhecido que a atitude foi por mérito seu. O negócio é que os bônus em si não contam. — O que o jovem dizia era que o papel talismã que Seol carregava seria inútil a partir de amanhã.
— Espera aí. A bolsa conta…?
O jovem balançou a cabeça em concordância como se aquilo fosse óbvio.
“Quase que eu fiz merda.”
Começou a refazer toda a arrumação que tinha planejado. Por pouco não perdera tudo. Ao mesmo tempo, se arrependia por não ter conseguido usar aquele item, mas logo uma sensação de curiosidade cresceu dentro de si.
Você obteve um Papel Talismã.
Diferente do anúncio das bolas de feitiço, nem uma informação fora dada sobre o papel talismã quando esta mensagem apareceu na sua visão. Todavia, não enxergava esse item como inútil. Era um bônus de início de um Marca de Ouro, afinal. Devia ter um valor, pelo menos, maior do que aquele recebido pelos Marcas de Prata e Bronze.
“Se eu tivesse pelo menos uma pista…”
Começou a pensar ainda mais.
“Está se divertindo? A sua experiência durante o Tutorial foi tão desagradável assim? Quer acabar com tudo? Como diabos você sabia do que ele precisaria aqui…?!”
Logo conseguiu se lembrar das palavras de Han após ver o que as Caixas da Necessidade carregavam, ainda no auditório. Por outro lado, o Guia pareceu tão aliviado quando Seol o contou que a sua Janela de Status fora atualizada.
“Buscando pelo “melhor item” para a situação atual. Por favor, aguarde.”
Depois, lembrou-se da mensagem que apareceu logo depois de abrir a primeira Caixa da Necessidade. Em seguida, do conselho de Kim Hannah.
“Será que…”
Quando essas informações começaram a se encaixar, caiu em um dilema. Devagar, começou a tocar o pedaço de papel.
— E você? Ganhou o que de bônus de ini… An? — As palavras do jovem foram interrompidas. Seol tinha sumido.
— Hyung…?
Voltou para o primeiro andar e encarou o pergaminho preso no topo do quadro de avisos. A praça principal estava silenciosa, já que todos estavam arrumando a bagagem.
“Tem até um limite de tempo…”
Engoliu em seco. Esticou o braço e o destacou do quadro. Naquele momento, o pergaminho não emitia mais um brilho vermelho, mas sim uma luz alaranjada que dizia “Manter Distância”. Porém, o sentimento de incerteza não durou muito. O brilho de “Recuo Recomendado” não estava mais ali, o que o deixou mais confiante.
“Talvez eu possa sobreviver.”
No entanto, ainda era muito perigoso. Semicerrou os olhos. Segurou o pedaço de papel com ainda mais força.
Tzzzt.
Acompanhado pelo som de algo rasgando, ele desapareceu.
***
Foi teleportado para uma floresta muito densa.
“Onde é que eu tô? Será que tô em uma inundação…”
Os pensamentos foram interrompidos logo que começou a analisar os arredores, deixando-o boquiaberto.
“Fodeu!”
Conseguiu ver uma montanha enorme. Os penhascos eram recurvos e muito pontiagudos. Não conseguia enxergar o pico. As nuvens não permitiam. Também teve a visão de inúmeras estruturas defensivas como paredes construídas ao redor de uma boa parte da montanha. Todas essas construções pareciam muito resistentes, fazendo-o começar a entender o motivo daquela missão ser considerada impossível.
“Como é que eu vou conseguir?!”
O problema não era mais algo que seis sobreviventes conseguiriam resolver — até mesmo um exército bem organizado teria dificuldades em conquistar tal local. Finalmente pôde entender o que Kim Hannah tentou alertá-lo.
Tentou ficar mais calmo e começou a andar. A fortaleza até que não era tão distante quanto havia pensado. Como não tinha ideia do que poderia acontecer, pensou que seria melhor ficar o mais próximo que conseguisse antes de tentar usar o papel talismã. Porém, à medida que se aproximava, ficava com mais receio. Como estava com “Nove Olhos” ativo desde que saiu da Zona Neutra, pôde perceber que o ambiente saiu de um vermelho mais claro para um muito, muito escuro. E então…
“Que porra é essa?”
Para preto.
Os penhascos começaram a emanar uma coloração preta. A opressão era tanta que, mesmo sem perceber, começou a caminhar para trás.
Swish.
De repente, um ruído agudo o atingiu. Tinha recuado bastante, mas, ao ouvir aquele barulho, logo parou. Quando passou a mão na bochecha, viu sangue.
— Que humano insolente! Ohohoho! — Uma sedutora voz feminina ecoou.
Olhou em volta, muito confuso. Não podia ver nem sentir nada ao redor. O que tinha acabado de acontecer? Não, aquela não era a hora para coragem. Precisava fugir. Um movimento errado e acabaria morto. Puxou o papel talismã e…
— Não sei que tipos de pensamentos tolos o guiaram para cá, porém!
E, sem hesitar, rasgou o papel.
Você usou o Talismã Onipotente.
— Porém! Como uma Guardiã, não posso permanecer sentada observando tamanha insolência!
Escaneando o feitiço “mais necessário” para a situação atual. Por favor, aguarde.
— A punição por invadir estas terras sagradas será a sua mor… O quê?
O feitiço, Área Limitada: Grande Terremoto foi ativado.
Um terremoto de magnitude 12 irá iniciar na área designada.
Woong, woong, woong, woong!!!
Uma imensa barreira foi formada entre o lugar em que estava e a fortaleza. Então, a barreira se expandiu ainda mais e cercou completamente toda a montanha com uma membrana muito mais densa do que qualquer uma que já havia visto em outros feitiços.
— O que fez, humano?! — A voz ficou surpresa à medida que os efeitos do Talismã Onipotente se desenrolaram.
Estrondo!
Um som indescritível foi feito. Foi tão alto que logo perdeu a audição. Parecia que milhares de placas tectônicas estavam colidindo umas contras as outras. E, por fim, a terra se separou…
O chão foi dividido em dois e a montanha começou a tremer.
KWANG!
A terra se partiu e explodiu. Era a única forma que podia descrever o que viu.
— Aaaaaaahhhhhhh!! — A figura de uma mulher emergiu de uma das árvores. Ela estava presa.
Como estava a salvo do lado de fora da Barreira, não soube dizer se era a sua própria visão ou se a montanha estava mesmo sendo esmagada. Essa era a força descomunal daquele feitiço.
— Aaaaahhhhhhh! Aaahhhhhhhhh!!!
Todo o terreno ondulava e se quebrava, fazendo com que aquela figura feminina pulasse sem parar. No entanto, o terremoto tornou-se ainda mais forte do que antes e logo os gritos de desespero cessaram.
Encarou toda a catástrofe por mais um tempo antes de ajoelhar no chão. Ao observar tal espetáculo acontecendo bem na frente dos seus próprios olhos, um medo indescritível tomou conta de si. Sentiu-se uma mentira.
No final, fechou os olhos e cobriu as orelhas. Não demorou muito para que tudo preso na barreira sucumbisse à calamidade.
Você completou uma missão de dificuldade “Impossível”.
Você recebeu um cupom de uso único para a loja VIP.
172800 Pontos de Sobrevivência foram adicionados à sua conta.
Conta: 477997
Quando abriu os olhos após ouvir todos esses avisos, já estava de volta ao primeiro andar.
— Ufaaaa… — Deu um suspiro de alívio como se tivesse perdido dez anos de vida. Balançou a cabeça enquanto continuava no chão tentando regular a respiração.
“Era só uma missão. Isso, nada mais do que uma missão…”
Depois de se acalmar, percebeu que um pequeno pedaço de papel estava grudado no seu peito. Era o cupom de uso único para loja VIP. Foi nesse momento que percebeu que tinha conseguido.
Cerrou os punhos com força. Sentia-se incerto e inseguro sobre quando iria rasgar o pergaminho no meio, mas agora que tinha acabado, o sentimento de satisfação e felicidade preenchiam-no.
Após verificar a quantidade de PS que tinha, levantou e saiu.
Os companheiros sempre o avisavam para investir em novos equipamentos, mas ele sempre guardava os prêmios. Como havia conseguido uma recompensa extra, sabia que, pelo arrependimento, não conseguiria dormir se não gastasse nada e saísse da Zona Neutra.
Com cuidado, carregou o cupom e subiu as escadas. Abriu a porta para a loja VIP no oitavo andar e encontrou uma outra cliente.
— Você também veio? — Era Odelette Delphine. — O que você veio comprar? Eu queria um Elixir Divino, mas parece que não tem mais pra mana.
Mal ouviu o que a Maga disse e foi correndo para o catálogo de itens disponíveis.
- Elixires Divinos: 30000 PS cada - Força x1, Vigor x1, Agilidade x1, Resistência x2, Sorte x2.
Foi ele quem comprou todos os Elixires de Mana, mas um frasco dos de Agilidade e Sorte também tinham sumido. Os seus companheiros haviam comprado. Eles tinham investido nos equipamentos, mas isso não significava que não sobraram pontos para gastarem em Elixires Divinos.
— Delphine, tá pensando em comprar um desses?
— Não. Não vou comprar.
— Entendi. Ei, senhorita? Me dá todos os Elixires Divinos que sobraram, por favor!
— Oi? — Um suspiro de surpresa escapou pela boca da Maga após ouvir aquilo.
210000 pontos desapareceram logo de cara e sete frascos de Elixires Divinos foram para as mãos de Seol.
— E… — Enquanto guardava os pontos, também já sabia como queria gastá-los. Apenas comprou todos os Elixires porque conseguiu uma quantia extra.
- Lágrimas de Psiquê: 250000 PS x1
— Me vê uma Lágrimas de Psiquê também!
— Oiiiii?!
Com aquela compra, 250000 pontos também foram gastos.
O problema começou. Não planejava ganhar aquele cupom de uso único, afinal.
- Lembrança da Moira: 600000 PS (1)
- Penitência de Miyai: 100000 PS (1)
- Estigma Divino: 300000 PS (1)
- Semente da Árvore da Vida: 400000 PS (1)
- Folha de Afrodite: 150000 PS (5)
Nem se importou em olhar os itens mais baratos do que 100000 pontos. Permaneceu com o olhar fixado nesses cinco, pois já tinha pensado muito no assunto. Após uma análise, decidiu excluir a Penitência de Miyai e a Folha de Afrodite das suas possíveis escolhas.
“Vejamos. Lembrança da Moira, Estigma Divino e Semente da Árvore da Vida…”
Depois de pensar muito, tomou uma decisão.
— Me dá o Estigma Divino…
O motivo daquela escolha era simples. Tanto a Lembrança da Moira, quanto a Semente de Ygdrassil possuíam efeitos que pareciam beneficiar mais o coletivo. Por outro lado, o Estigma Divino parecia mais voltado para a ajuda individual.
Logo que mostrou o cupom, a empregada responsável pela loja VIP e de Odelette Delphine ficaram muito surpresos.
— N-não acredito!
— Nooosssaaaa!
— Posso pegar? — A pergunta de Seol fez com que a vendedora apenas balançasse a cabeça em concordância, pois ainda estava muito chocada.
— Sim, sim, você pode pegar o que quiser com isso. M-mas c-como?
— O-o que é isso? Não é aquilo, é?! Ou é? Você completou aquela missão?! Mas, mas! Como conseguiu?!
Ignorando as duas, ele agarrou a pedra que brilhava em azul em cima da bancada. Então, virou-se e saiu. Correu para o próximo destino, uma loja comum que vendia armas. Temia que, se continuasse na loja VIP por mais um segundo, acabaria esquecendo os outros dois itens que ainda queria. Restavam 17997 pontos.
Pôde ouvir a desesperada Maga chamando-o, mas não conseguiu responder, pois estava muito focado no objetivo de se livrar de todos os Pontos de Sobrevivência o mais rápido possível.
Viu vários sobreviventes olhando os estoques. Atrás deles, conseguiu ver Aragaki Yuzuha, então levantou o braço e a chamou.
— Aqui!
— Sim? — A vendedora saiu correndo na direção dele.
— Quanto custa a lança mais cara daqui?
— A mais cara? Hmmm. Acho que é uma que custa 22500 pontos, mas pra você é 15750. De qualquer forma, como posso te ajudar?
— Me dá.
— Oi?
— Me dá a lança. Vou comprar.
— Ai, você é o melhor mesmo!!
Como a comissão por vendas contava como uma conquista para ela, era improvável que Yuzuha hesitasse. Em pouco tempo trouxe o item. A lança brilhava em uma luz prata, demonstrando o quão afiada estava. Por fim, a vendedora fez uma profunda reverência de gratidão.
Dos 2197 pontos que sobraram, Seol gastou todos que podia, reservando o valor necessário para sair da Zona Neutra.
— Hahahahahahahaha! — Ria enquanto subia as escadas, mas achou melhor cobrir a boca. Mesmo que se sentisse muito bem, aquela risada lhe pareceu muito esquisita.
Decidiu guardar os Elixires Divinos para um dia difícil. Pensava em usá-los apenas após um desafio no qual precisasse ficar mais forte. Fora que, como ainda podia melhorar muito, achou que utilizá-los naquele momento seria estupidez.
“O Estigma Divino eu só vou conseguir usar quando chegar em um templo…”
Porém, podia usufruir do item restante sem problema algum.
Retornou para o quarto e terminou de arrumar tudo. Apagou todas as luzes e foi em direção ao banheiro. Depois de espantar Yun Seora que estava escondida na banheira, ele mesmo deitou-se ali.
Encarou o claro líquido que ondulava no frasco por um tempo antes de remover a tampa e bebê-lo. Assim que começou a sentir uma refrescante sensação na garganta, sentiu muito sono, o que talvez fosse um sinal de que os efeitos já estavam se manifestando.
Com uma expressão de felicidade no rosto fechou os olhos. Não tinha a menor ideia do que poderia acontecer no dia seguinte.