Volume 1
Capítulo 4: Laço familiar inexistente
“Espere, talvez eu esteja ficando um pouco animado demais aqui.” Gustav sentou-se na beirada da banheira e voltou a segurar o queixo. “Quero dizer, e se tudo isso é apenas coisa da minha cabeça?” Mais uma vez questionando sua sanidade.
“Como posso confirmar que tudo o que estou vendo aqui é real? Posso tentar usar essas habilidades e capacidades? Se isso for real, não seria bom demais para ser verdade?” Ele questionou com um tom duvidoso.
[Para usar as habilidades desbloqueadas, em sua mente diga o nome da habilidade e ‘ativar’, antes ou depois]
Dentro de sua linha de visão uma notificação apareceu, um pouco acima do painel de habilidades e capacidades.
Ele leu em voz alta e semicerrou os olhos. “Ativar… qual habilidade eu tento primeiro?” Querendo saber se sua mente apenas pregava peças nele, ele desejava confirmar a veracidade do assim chamado sistema o mais rápido possível.
O jovem então olhou para o painel de habilidades e capacidades novamente.
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[Habilidades e Capacidades]
» Investida – Nível 1
» Regeneração – Nível 1
» Metamorfose – Nível 1
» Imunidade à toxina – Nível 1
» Recriação – Nível 1
» Aquisição de Linhagem – Nível 1
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Seus olhos percorrendo o painel, até que finalmente percebeu que somente Investida seria uma habilidade plausível para testar a veracidade da situação.
Gustav se levantou e caminhou em direção à porta oposta à banheira.
Em uma inspeção mais detalhada do quarto, não havia literalmente nada a ser encontrado, exceto a banheira, onde ele dormia, colocada no centro e um pequeno armário no canto leste.
“Fechar interface do sistema!” Após falar, o painel fechou e os caracteres desapareceram.
Ele tinha decidido que tentaria ativar a habilidade Investida do lado de fora.
Ao sair pela porta, chegou até uma pequena passagem que levava à sala de estar.
“Endric, mamãe confia que você se sairá bem hoje.” Uma leve voz feminina cheia de ternura podia ser ouvida mais à frente “Pelo que ouvi, esses inspetores estarão distribuindo bolsas de estudo para a academia MBO.”
“Sim, mãe, vou deixá-la orgulhosa.” Uma vozinha masculina respondeu. “Esses inspetores seriam cegos se não me notassem, já que sou o mestiço de melhor rank em toda a escola.” A voz masculina transbordava orgulho.
“Esse é um bom filho.” A mulher respondeu. “Agora, deixe-me levá-lo até a escola.” Assim que ela terminou de falar, Gustav apareceu na sala de estar.
Era uma sala pequena, mas bem estruturada. As paredes revestidas com ladrilhos azuis que brilhavam ligeiramente. Sofás verdes dispostos em ‘L’ e um gabinete alguns metros atrás. No gabinete havia uma esfera que projetava uma imagem de dois metros de altura em forma holográfica. Era a imagem de três pessoas.
Um homem de meia-idade com um rosto quadrado e cabelos loiros sujos, uma mulher de cabelos compridos e castanhos, parecia estar por volta dos quarenta anos, e um menino parecido com Gustav, com lindos cachos pretos.
Parada no batente da porta estava a mulher de antes, um garoto de um metro e meio estava ao seu lado, ele usava o mesmo uniforme escolar marrom que Gustav.
Seus rostos eram iguais aos da mulher e do garoto na imagem holográfica.
Eram sua mãe e seu irmão mais novo. Eles se viraram e notaram Gustav vindo da passagem.
“Vamos.” Eles o ignoraram totalmente enquanto a mulher abria a porta e falava. “Hmm.” Endric assentiu com a cabeça.
“Mãe, você não vai me levar também?” Gustav perguntou rapidamente antes que eles pudessem sair.
Sua mãe parou de andar e se virou para encará-lo com uma expressão de nojo. “Já disse para você parar de me chamar assim! Eu não sou sua mãe! Eu tenho apenas um filho e ele está bem aqui!” Ela disse esfregando o cabelo do garoto do seu lado “Você é apenas uma deficiência sem qualquer utilidade!” Afirmou asperamente.
“Você deveria estar feliz que minha mãe e meu pai permitiram que você permanecesse nesta casa e ainda pagam suas taxas escolares, mesmo que seja um desperdício!” Endric adicionou.
“Eu não sei como eu e Liam acabamos criando uma criatura inútil como você!” A mulher falou novamente.
As palavras de menosprezo fizeram Gustav abaixar a cabeça em desânimo, ouvir esse tipo de coisa não era nada fora do comum, mas ainda se sentia mal sempre que os ouvia falar assim com ele.
Ele conseguiria suportar o mundo o tratando assim, mas quando eram as pessoas que deveriam ser sua família, doía de uma maneira inexplicável.
Ainda assim, ele não podia culpar seu irmão mais novo, afinal, o tipo de sociedade em que ele nasceu moldou seu caráter.
“Lixo como você merece andar até a escola.” Endric afirmou e se virou enquanto puxava sua mãe pelo braço.
Slam!
A porta bateu com força assim que eles saíram, deixando Gustav mergulhado na autopiedade enquanto permanecia na mesma posição por vários segundos.
Ele se lembrava de quando seu irmão tinha cinco anos, eles brincavam muito e naquela época ele era uma criança afetuosa, amorosa e brincalhona.
Houve uma vez quando brincavam de esconde-esconde e Endric acabou se machucando. Gustav foi culpado pelo ferimento e recebeu mais de duzentas chicotadas de seu pai. Ele nunca poderia esquecer aquele dia, sua bunda sangrou, ele implorou por perdão, mas seu pai não deu ouvidos. “SEU LIXO! VOCÊ QUER MATAR MEU ÚNICO FILHO ÚTIL!” Sua mãe gritou do lado, no meio das chicotadas. Era apenas um pequeno hematoma que sararia em algumas horas, mas eles o chicotearam como se tivesse cometido uma grave ofensa. Nesta era, mesmo que alguém perdesse um braço, ele poderia ser curado, quem dirá um pequeno machucado.
Também se lembrou de quando seu irmão tinha oito anos, mais ou menos na mesma época, a atitude dele estava se tornando igual à da sociedade. Ele também usou as capacidades de sua linhagem para atacar Gustav, causando um corte de dezoito centímetros nas costas.
Os mesmos pais que lhe deram chicotadas por causar um ferimento leve em seu irmão dois anos atrás, riram e elogiaram Endric por aumentar o domínio das habilidades de sua linhagem. Até hoje o jovem tinha uma cicatriz nas costas porque ninguém o tratou devidamente.
Após ficar na mesma posição por um tempo, Gustav finalmente começou a andar novamente. “O que eu esperava, já não faço isso há muito tempo?” Ele riu desanimado e saiu pela porta. “Os inspetores da MBO vêm hoje? Devo chegar à escola a tempo!” Afirmou com um olhar animado enquanto corria.
Nesse ponto, ele até havia se esquecido das habilidades e capacidades que estava prestes a testar. Sua prioridade agora era chegar à escola o mais rápido possível, afinal, aqueles inspetores estariam visitando-a hoje. Após testarem os alunos do ensino fundamental, onde a classe do seu irmão ficava, eles definitivamente visitariam o médio depois.
Gustav podia ser visto correndo nas ruas como um louco e suando como um criminoso prestes a ser julgado por assassinato.
Esta era a rua 34 da Cidade de Plankton. Era uma área comercial na periferia da cidade, então boa parte dos prédios eram pequenos, mas a maioria tinha a forma de um octógono e uma aparência de ficção científica. Alguns deles poderiam até transformar sua forma e perfurar o solo se o proprietário quisesse.
Conforme avançava, ele se aproximava da área de edifícios altos. Veículos que se moviam pelo ar podiam ser vistos adiante dando uma vista esplêndida, mas isto era muito comum para pessoas vivendo nesta época.
A Cidade de Plankton era uma das seis cidades mais tecnologicamente avançadas do mundo que surgiram após a chegada dos slarkovs. Prédios altos e encantadores que emitiam uma vibração de ficção podiam ser vistos. Alguns deles tinham vídeos passando por toda a estrutura, mostrando propagandas e coisas diferentes que eles faziam nos prédios comerciais. Um em particular à frente tinha o formato de um frasco cônico de cabeça para baixo e no corpo do prédio brilhava o comercial de um novo produto médico. Uma jovem mulher de cabelo azul, vestindo uma roupa médica, falou enquanto segurava uma garrafa vermelha de sete centímetros.
“Nós da Foton Lab criamos um novo tipo de solução de grau A para ajudar no fortalecimento de linhagem…”
O áudio chegou aos ouvidos de Gustav enquanto ele cruzava a rua, mas mesmo assim ele não prestou atenção e continuou correndo.
Ele sorriu quando olhou para frente e viu um brilho azul circular na passarela, perto da estrada.
As pessoas na passarela podiam ser vistas entrando na luz e, imediatamente, desaparecerem.
O círculo era grande o suficiente para acomodar mais de cinquenta pessoas, então os que estavam na passarela entraram sem precisar diminuir o ritmo ou parar, já que o número de pessoas andando não era muito.
“Depois disso, só preciso passar por mais dois círculos de teletransporte antes de chegar à escola” Murmurou Gustav ao entrar no círculo.
Esse era um círculo de teletransporte localizado em diferentes partes da cidade para facilitar o transporte. Este em particular era para pedestres e levava a outro local na cidade. Ele salvou cerca de duas horas de caminhada, desde que a cidade era muito vasta.
Assim o número chegar a dez e nenhuma outra pessoa estiver a menos de dois metros do círculo, as pessoas de dentro serão teletransportadas imediatamente.
Quando Gustav entrou, tinha em torno de trinta pessoas. Outro homem de terno entrou e ficou ao lado dele. À medida que mais pessoas que estavam a menos de dois metros entram, o rosto do homem pode ser visto se contorcendo de desconforto e após mais alguns segundos ele se afasta e fica ao lado de uma mulher.
‘Hum?’ Gustav se perguntou sobre o motivo do estranho comportamento do homem quando finalmente sentiu o cheiro de si mesmo.
“Ekk! Eu não tomei banho hoje.” Devido à sua idiotice, ele exclamou em voz alta e o resto das pessoas no círculo de teletransporte se viraram para olhar para ele com nojo.