Volume 1
Capítulo 6: Nós éramos totalmente brancos
Numa casa em um bairro rico, um bebê perguntou para um homem:
“Hong, qual é o nome daquilo? O que faz?”
O homem já parecia acostumado com as perguntas, então respondeu apaticamente:
“É um microondas. Eu não sei direito como funciona, mas basicamente serve para aquecer alimentos depois de terem esfriados.”
Agora, para a situação atual.
Durante os seis primeiros meses depois de nascer, o bebê era muito quieto, curioso e observava muito as coisas à sua volta silenciosamente.
Logo que se passaram seis meses, o bebê passou a falar fluentemente.
Ye Hong já sabia que seria rápido, mas foi ainda mais rápido do que o que a mulher disse. Ele ficou um pouco surpreso, mas no final só podia aceitar a situação.
O bebê, depois de aprender a falar, começou a fazer perguntas sobre várias coisas. E o engraçado é que todas as perguntas eram sobre coisas complexas. Como por exemplo:
“O que é a luz?”
“O que é a escuridão?”
“O que é a matéria?”
“Espaço?”
“Tempo?”
Sobre vários temas complexos que o próprio Ye Hong não sabia nada.
Depois de receber a missão de cuidar do bebê, Ye Hong decidiu parar de trabalhar. Afinal, ele vinha de uma família rica, e pelo fato do bebê ser especial, sabia que tinha que ficar cuidando dele em tempo integral, não poderia simplesmente larga-lo em casa enquanto trabalhava.
Durante os próximos seis meses, ele e o bebê passaram todo o tempo juntos, na maior parte do tempo, na frente do computador, já que o bebê era extremamente curioso sobre muitas coisas diferentes.
O bebê já sabia falar, e aparentemente também sabia ler. Por causa da sede de conhecimento dele, a melhor solução que Ye Hong conseguiu pensar foi a internet. Ele ficou no computador pesquisando coisas, e o bebê lia e os dois debatiam o assunto.
É claro, debater não era o termo correto, eles simplesmente comentavam. Isso porque não havia debate, a criança era simplesmente inteligente demais, ele entendia as coisas ainda mais rápido que o próprio Ye Hong.
O bebê passava dezesseis horas por dia dormindo. Durante as oito hora do dia acordado ficava junto com Ye Hong no computador, pesquisando sobre coisas complexas sobre a vida e o universo. Filosofia, física… Coisas complexas.
Não passou nem um mês direito e não havia mais conversa entre os dois. O bebê falava o que digitar, ele digitava, o bebê lia, e continuava assim. O assunto ficava cada vez mais complexo. Tão complexo que Ye Hong nem sabia o que estava sendo pesquisado, quanto mais comentar sobre o assunto.
Mas estranhamente, Ye Hong não se importava e só continuava ajudando o bebê a pesquisar, aparentemente ele não conseguia dizer não ao bebê.
Depois de quase seis meses, o bebê que já tinha lido tudo que o interessava na internet e, portanto, começou a perceber uma coisa:
“Hong, eu já aprendi tanta coisa… Por que existe ainda tanta coisa que eu nem sei o que é, e pra que serve?”
O bebê leu tanto sobre assuntos complexos como Física, Matemática, Astronomia, Filosofia que, depois de seis meses, percebeu que não sabia o que eram coisas simples como abajur, janelas, cortinas, como funcionava o microondas, o computador…
Ele passou seis meses em frente a um computador, e na cabeça desse bebê, o computador era um lugar aonde ele ia para adquirir conhecimento.
Ele não sabia o que era um telefone, para que serviam roupas. E para tudo isso, ele perguntava à Ye Hong.
Depois de um tempo, Baijian já tinha perguntado sobre tudo o que tinha na casa e ele queria ainda mais.
Porque ele percebeu através disso algo muito importante: Mesmo tendo aprendido tanto, sempre tem mais coisas para aprender.
Ele ganhou então, uma sede enorme por conhecimento, sempre querendo aprender mais e mais.
Afinal, é um bebê sem senso comum. Ele só conhecia aquilo que lia, via e ouvia. Por ter vivido tão pouco tempo, seu conhecimento é limitado, e existem tantas coisas que ele não conhece que é simplesmente ridículo.
Portanto, o bebê insistiu:
“Hong, tem tanta coisa que eu não sei. Rápido, me ensine tudo que você sabe. Ensine-me logo!”
O bebê parecia desesperado por conhecimento, e Ye Hong não sabia o que fazer. Ele poderia ajudar o bebê a adquirir mais conhecimento, mas todo esse conhecimento parecia estar mais fazendo mal do que bem. O bebê parecia um viciado, querendo cada vez mais de algo. Portanto, ele disse lentamente:
“Baijian, você é um bebê que nasceu há apenas um ano. É normal você não saber muito, esse tipo de coisa se aprender com o tempo gradualmente à medida que se cresce, não precisa ficar tão ansioso por conhecimento.”
“O conhecimento não vai fugir. Você ainda tem muito tempo de vida, acabou de nascer. Não precisa se apressar para adquirir conhecimento, deixe as coisas acontecerem naturalmente com o tempo.”
Depois que Baijian escutou isso, ele pensou um pouco e assentiu. Afinal, é um bebê inteligente, percebeu que estava ansioso demais.
Depois que esse surto de sede de conhecimento acabou, Baijian começou a se comportar como uma criança… Quer dizer, quase.
Logo, chegou o dia do seu aniversário, fazia exatamente um ano que Baijian nasceu. Ye Hong queria fazer uma festa com várias pessoas, mas percebeu que não contou a ninguém de sua família ou amigos sobre Baijian. Se ele contasse, perguntarão a origem dele, e Ye Hong ainda não tinha uma explicação preparada.
Portanto, o aniversário foi bem solitário, só os dois. Mas realmente não parecia solitário, a presença um do outro se certificava disso, os dois são muito próximos e bons amigos. A relação deles nem parecia pai e filho, e mais amigos.
Se tivesse que citar uma situação pai e filho, seria quando Baijian ficou descontrolado com sua sede de conhecimento e Ye Hong o acalmou. Aquele foi o mais próximo de um momento pai e filho, e foi também o único momento que Ye Hong realmente ensinou algo importante para Baijian.
Criar e educar uma criança não se trata apenas de ensinar coisas como: Matemática, Física e etc… O que ele ensinou para Baijian naquele dia sim foi realmente importante.
No dia do seu aniversário, eles estavam conversando alegremente na cozinha enquanto comiam um bolo que Ye Hong comprou, quando de repente, algo estranho aconteceu.
Baijian olhou para Ye Hong estupefato, totalmente atordoado, como se algo inacreditável tivesse acontecido. Seu rosto ficou branco e, sem aviso prévio, começou a gritar:
“Hong! Hong! O que aconteceu com você?! Hong!!”
Baijian começou a chorar e gritar por Ye Hong. Parado sem saber o que fazer, Ye Hong ficou observando o que Baijian estava fazendo:
“Hong!! Cadê você? Para onde você foi? Hong!!”
Baijian começou a olhar em volta como se estivesse procurando por algo, e como não achava, começou a chorar. Ye Hong então entendeu que Baijian não estava o vendo.
Se aproximando rapidamente de Baijian, Ye Hong o segurou pelos ombros e disse preocupado:
“Baijian! Estou aqui, na sua frente. Você está me vendo? Sou eu, Hong!!”
Baijian olhou estupefato para Ye Hong. E depois de alguns segundos de silêncio, começou a lutar para fugir das mãos de Ye Hong, mas como que um bebê que acabou de completar um ano poderia fugir do aperto de um adulto de vinte e seis anos?
Mas Baijian continuou se debatendo mesmo assim, e com medo de machuca-lo, Ye Hong o soltou.
Depois de se libertar, Baijian correu para a porta do corredor que ficava a uns seis metros da cozinha, olhou para Ye Hong com um olhar que tinha uma mistura de medo e raiva, e gritou agressivamente:
“Quem é você? Porque você tem a voz de Hong? Onde está Hong?”
Ye Hong ficou ainda mais confuso. Não é que Baijian não consegue vê-lo, ele simplesmente não está o reconhecendo. Em choque, Ye Hong falou:
“Sou eu Baijian, Hong! Sou eu! O que está acontecendo? Você não está conseguindo me reconhecer?”
Baijian ainda olhava cautelosamente para Ye Hong, claramente ainda não acreditava. Observando Ye Hong por um tempo, Baijian disse incrédulo:
“Não tem como ser você. Fora a voz, você é totalmente diferente de Hong.”
Ye Hong estava sem palavras, como assim sou diferente?
“Como que a minha aparência é diferente? Me explique.”
Baijian o observou por um tempo e respondeu:
“Tudo é diferente. Você tem uns fios pretos na cabeça, sua pele tem uma cor estranha, você usa roupas e sapatos de forma estranha, o seu rosto é estranho… Tudo é estranho.”
Ye Hong não tinha a menor ideia do que isso significava, e o que estava acontecendo.
‘’Como assim fios pretos na cabeça? Isso é o meu cabelo. Minha pele está normal, e estou usando as minhas roupas e sapatos corretamente. Meu rosto também está normal. Eu não entendo. ’’
Ye Hong foi até o banheiro para se olhar no espelho e falou enquanto voltava. Baijian não parecia convencido, então começou a argumentar:
“Cabelo? Não, seu rosto tem uma cor estranha, bem como uma aparência estranha. Não só seu rosto, a cor dos seus braços também é estranha. E não é assim que se usam roupas e sapatos.”
Baijian disse isso enquanto estendia o braço para apontar o cabelo, o rosto, as roupas e os sapatos de Ye Hong.
Foi nesse momento que, olhando para as próprias mãos, ele gritou espantado:
“Aaaaaahhhh!! O que está acontecendo?! O que aconteceu com os meus braços??!!”
Com as mãos estendidas na frente do rosto, Baijian olhava para as próprias mãos e os próprios braços com um semblante pálido.
Correndo rapidamente até Baijian, Ye Hong segurou seus braços e os examinou. Assim que viu que estavam normais, soltou um suspiro de alívio.
Isso tudo é muito estranho, o que diabos está acontecendo?
Baijian ficou em choque por alguns segundos, e assim que se recuperou e viu seus braços sendo segurados por Ye Hong, rapidamente se soltou e voltou correndo para a cozinha.
Olhando cautelosamente para Ye Hong, Baijian começou a examinar suas mãos, seus braços, seus pés, sua barriga… Ele examinou tudo completamente atordoado.
Ye Hong ficou ao lado observando as ações de Baijian, sem saber o que fazer. A mãe de Baijian disse que ele era especial, que algumas coisas estranhas poderiam acontecer e que era para ele lidar com isso, mas ele com certeza não esperava algo tão estranho. O bebê não o reconhece e está examinando o próprio corpo como se o estivesse olhando pela primeira vez.
Depois de alguns minutos, o bebê de repente olhou para Ye Hong, e pareceu ter pensado em algo. Andando lentamente até Ye Hong, Baijian cautelosamente tocou a perna dele e perguntou:
“Você é Hong? Embora sua aparência seja totalmente diferente, sua voz é igual e você não parece querer me fazer mal. Você realmente é Hong?”
Ye Hong olhou calmamente para Baijian e respondeu:
“Claro que eu sou. Quem você acha que passou oito horas por dia nos últimos meses com você em frente ao computador? Quem te preparou comida? Quem te ajudou no banheiro? Quem te ensinou coisas? Conversou com você? Fui eu!”
Assim que escutou isso, os olhos de Baijian rapidamente começaram a umedecer. Depois de se segurar por um tempo, ele não aguentou mais e começou a chorar como se algo que o causasse muito medo tivesse ido embora.
Se agachando, Ye Hong abraçou suavemente Baijian. Em meio a soluços, Baijian começou a falar:
“Eu pensei que você tinha sumido… Eu fiquei com tanto medo… Eu pensei que não ia te ver mais… Eu estava com tanto medo!”
Ye Hong esperou silenciosamente Baijian se acalmar. Depois de chorar por alguns minutos, Baijian se acalmou, e olhando para Ye Hong, perguntou:
“Hong, o que está acontecendo? Por que sua aparência mudou? Por que a minha aparência mudou?”
É isso que está confundindo Ye Hong. Para Baijian, a aparência dele e de si próprio mudou. Pensando silenciosamente por alguns segundos, Ye Hong perguntou:
“Como que era a nossa aparência antes?”
Pensando por alguns segundos, Baijian simplesmente respondeu:
“Nós éramos totalmente brancos.”