Volume 4
Capítulo 258: Satisfeito
Depois que Raven jurou sua lealdade, o menino olhou para o resto das pessoas e disse:
“Raven, como você foi o primeiro a me aceitar como seu mestre, lhe darei o direito de escolher uma pessoa dentro desse grupo para entrar na Blank sem a minha avaliação, bem como o direito de liderar todos os que entrarem depois disso. Você será o líder dessas pessoas.”
Raven se curvou um pouco e agradeceu:
“Obrigado Jovem Mestre, mas eu não confio muito no meu julgamento, então abro mão do meu direito de escolher alguém.”
O menino olhou para Raven com o canto dos olhos e disse:
“Você não precisa confiar em mais nada, só precisa confiar em mim, e eu te confiei esse direito. Escolha.”
Raven assentiu solenemente e olhou para as pessoas presentes. Obviamente, ele não pode escolher ao acaso, ele deve escolher entre as pessoas que conhece. E fora algumas pessoas que ele simplesmente ouviu o nome, ele só conhece seus companheiros da Ratatosk. Entre essas pessoas, só existe uma pessoa que Raven poderia arriscar escolher.
“Jovem Mestre, escolho Lívia. Eu trabalhei com ela na Ratatosk em várias operações. Sejam suas habilidades, ou seu caráter, ela é alguém que muito admiro.”
Lívia, que estava presente e testemunhando tudo, ficou extremamente infeliz por dentro ao ser indicada por Raven. O menino já havia parado de pressionar as pessoas, e por isso ela considerou se deveria tentar fugir. Mas depois de pensar cuidadosamente, ela percebeu que não tinha como isso dar certo.
Embora Lívia não fosse leal a Ratatosk, ia contra seus princípios abandonar um grupo só por medo de morrer. Mesmo que lhe dessem condições de trabalho melhores, ela só abandonaria a Ratatosk se lhe dessem um bom motivo para tal. Por isso, ela ficou muito decepcionada com Raven por ter escolhido servir alguém só por medo de morrer.
Para ela, embora essa situação seja desesperadora, ela já tinha passado por situações bem piores. Situações onde ela não conseguia nem mesmo ver formas de sobreviver. Embora essa seja uma situação desesperadora, pelo menos há uma boa chance de sobreviver se o menino a aprovar.
Por causa disso, ela não queria se comprometer, e estava pensando em formas de lidar com isso. Sua última esperança era que a Ratatosk enviasse pessoas para salvá-la. Por isso, essa era a pior situação possível, já que ela tinha que decidir agora, não tinha tempo pra esperar.
Raven, que entendia bastante o personagem de Livia, deu alguns passos a frente e disse:
“Livia, eu sei que você não é leal à Ratatosk. Tenho certeza que o Jovem Mestre não vai te desprezar por escolher a Blank, e você também receberá melhores condições.”
Vendo que não tinha mais como se esconder, Livia saiu de dentro da multidão de pessoas, e disse:
“Raven, você traiu a Ratatosk. Você sabe muito bem que o que eu mais odeio é traição. Mesmo que eu não seja leal a eles, eu não vou traí-los a menos que eles me traiam primeiro.”
Raven suspirou ao ouvir isso, ele sabia desde o início que seria impossível, mas tentou mesmo assim. O menino, no entanto, se sentou na cadeira novamente e disse:
“Se for só isso, então suas preocupações são desnecessárias.”
Ele então pegou um celular do bolso e mexeu um pouco. Depois de um tempo, ele mostrou a tela do celular para todos verem.
Todos eram cultivadores de Sistema de Energia, já haviam a muito tempo desenvolvido seus olhos, e por isso conseguiam ler facilmente o que tinha na tela do celular:
Hot Sand of Evil: Destruída.
Pocket Robber: Destruída.
Book of Xena: Destruída.
Ratatosk: Destruída.
Link Sisters: Em batalha.
E a lista continuava, o menino continuou descendo a lista, e havia mais de cinquenta nomes diferentes. Cada nome tinha um status. Alguns estavam “Destruída”, alguns estavam “Em batalha”, outros estavam “Parcialmente destruída”, só havia uma que estava “Sobreviveu”.
Ao ler os nomes, todos entenderam que eram as organizações em que estavam. Havia até mesmo organizações que eles não conheciam, ou que não tinha membros presentes.
Lívia, a que estava mais perto, não conseguiu segurar sua descrença e perguntou em choque:
“Você quer dizer que as destruiu?”
Ao ouvir isso, o menino deu um pequeno sorriso e disse:
“Eu? Por que eu me daria o trabalho de fazer isso?”
Livia ficou surpresa, e não conseguiu dizer nada. Raven, que estava ao lado do menino, perguntou:
“Jovem Mestre, o que isso significa?”
O menino olhou novamente a lista, desligou o celular e colocou no bolso:
“Essas são várias organizações que sofreram ataques hoje ao mesmo tempo em todo o mundo por um único grupo. Eles se autodenominam União. É um grupo formado por várias organizações secretas que se uniram por um mesmo objetivo: destruir a ordem do mundo, e estabelecer um governo unificado.”
“Seus objetivos imediatos são: a destruição ou anexação das organizações não-governamentais, destruição das doze famílias, dissolução de todos os governos e estabelecimento de um governo central.”
Ao ouvir isso, a grande maioria dos presentes ficou surpresa, embora alguns nem tanto. O menino viu isso e disse:
“Alguns aqui sabem sobre a União... Bom, não é exatamente um grande segredo. Os líderes das organizações listadas no meu celular sabiam. Antes de haver isso tudo, por uns dois anos, houve várias negociações da União com as organizações de vocês. Eles queriam anexar organizações pequenas como a Ratatosk para aumentar seu poder.”
“Algumas aderiram e aceitaram serem anexadas, outras não concordaram. As que aceitaram, estarão sendo anexadas hoje. Os líderes ganharão altos cargos na União, e quando o governo central for estabelecido, ganharão vastos territórios.”
“As que não aceitaram, serão destruídas hoje. Várias incursões lideradas por cultivadores de Centralização de Energia atacaram todas as suas bases. O status no meu celular é um status dado ao vivo pela União, consegui isso ao hackeá-los.”
“Você entenderam agora? Mesmo essa situação atual, onde vocês foram todos reunidos aqui, foi um plano da União pra diminuir o poder de suas organizações. Se não fosse por minha intromissão, vinte minutos atrás teria caído um míssil nuclear e matado todos os presentes.”
“Por isso, vocês não têm muito escolha. Vocês não têm mais pra onde voltarem.”
Ao ouvir isso, Lívia ficou extremamente chocada, e não sabia se acreditava. Se o que o menino disse for verdade, entrar pra organização dele não iria contra seus princípios. Claro, isso se o menino não tiver nada a ver com isso tudo. Se ele tiver alguma coisa a ver com essa União, ela nunca se uniria a ele.
Pensando assim, ela ficou em silêncio, esperando ganhar algum tempo pra pensar no que fazer. Os presentes também tinham muito que pensar. Se tudo fosse verdade, eles de fato não estariam traindo suas respectivas organizações ao entrar na Blank.
Raven, que ainda estava processando o que ouviu, perguntou de repente:
“Jovem Mestre, como você sabia sobre isso?”
O menino sentado na cadeira simplesmente responde apaticamente:
“Acha mesmo que eu não saberia de algo tão grande acontecendo?”
Raven assentiu com a cabeça e se retirou para trás do menino, que novamente se levantou e apontou aleatoriamente pra alguém:
“O próximo é você, vem.”
Vendo que o menino parecia ter deixado ela de lado por enquanto, Lívia se sentiu aliviada, ela ainda não havia decidido se entraria na Blank.
A pessoa apontada pelo menino era um homem de meia-idade. Ele tinha uma aparência ocidental normal, e parecia um pouco hesitante em se aproximar.
Vendo que o menino continuava olhando pra ele, o homem finalmente se aproximou e se sentou na cadeira de frente pro menino.
“Você já é mais velho, provavelmente 58 anos? Cultivadores têm uma juventude mais longa afinal.”
O homem ficou surpreso e assentiu lentamente com a cabeça enquanto perguntava:
“Como você sabe isso? Pesquisou sobre mim de antemão?”
As pessoas em volta começaram a achar que essa conversa era uma atuação, e olharam pro desenrolar das coisas desconfiadamente.
“Eu posso não conseguir ver a partir de sua aparência, mas posso saber a idade de alguém de outra forma. Pessoas mais velhas são diferentes. Embora sua aparência indique que você tenha 37 anos no máximo, o jeito que você anda, o jeito que você fala, o jeito que você olha... Cada movimento seu pode indicar inúmeras coisas.”
“Desde seus hábitos, até coisas como sua idade e personalidade. Eu julguei sua idade como 58 observando seus olhos, seu jeito de andar, seu corte de cabelo e os músculos de seu corpo.”
O homem ficou surpreso, mas não acreditou muito. Como poderia existir alguém que conseguia analisar a idade de uma pessoa dessa forma? Embora ele tenha acertado, o homem acreditava que o menino tinha pesquisado sobre ele antes.
“Qual seu nome?”
O homem olhou para seus companheiros que estavam atrás o observando de perto e respondeu:
“Dalton.”
O menino então encarou o rosto de Dalton e começou a dizer:
“1,93. 105 kg. Centralização de Energia estágio avançado.”
“É gentil, geralmente não gosta da idéia de matar pessoas, embora faça isso já que é seu trabalho. Julgando pela sua aparência, e a de seus companheiros, você veio da organização Gorgon Eye, que tem ligações estreitas com os governos da França e da Espanha.”
“Sua natureza gentil às vezes traz problemas para seu trabalho, como hesitar em matar alguns tipos de pessoas como crianças, mulheres e idosos.”
“Você tem irmãos... É o mais velho de quatro irmãos. Dois meninos e uma menina. Desde pequeno, você teve que ajudar sua mãe no cuidado de seus irmãos. Sua mãe morreu cedo, e seu pai era ausente, sempre trabalhando muito, e por isso, desde jovem, tudo relacionado aos cuidados de seus irmãos era de inteira responsabilidade sua.”
“Seus dois irmãos morreram... Foram pegos no conflito entre cultivadores, e por isso você é super protetor da sua irmã. Embora tenha se vingado de seus irmãos, isso não fez você se sentir nem um pouco melhor. Quando sua irmã se casou, foi um grande choque pra você. Você provavelmente investigou muito a outra parte...”
“Embora seu pai sempre esteve ausente, você sempre o respeitou muito por trabalhar tanto pela família. Hoje em dia, ele já é um senhor de idade, e por seu respeito, você tem problemas para matar idosos já que lembram seu pai.”
“Embora tenha problemas para matar certos tipos de pessoas, ainda faz de qualquer jeito já que decidiu que era necessário. Você sente que a única coisa que sabe fazer é matar, e que se tirassem isso de você, não seria nada...”
“Você está juntando dinheiro para deixar para seus sobrinhos, já que sua irmã teve alguns problemas na vida dela... O marido morreu, e ela não tem uma boa renda.”
“Sua vida amorosa é bem parada. Você sente que com seu atual estilo de vida, não merece ter uma esposa, já que teme que um dia a deixe sozinha. Ter filhos está fora da mais selvagem das suas imaginações.”
Raven, que estava do lado, ficou um pouco surpreso já que o menino parecia estar falando mais sobre a vida dele do que de fato sobre ele em si...
O menino finalmente terminou de falar, e quando deu uma olhadela em Raven que estava ao lado, disse:
“Ele é bem mais simples do que você. Por causa do que aconteceu com sua mãe, você tem muitos pensamentos complicados. Isso virou um vício onde você complica tudo a sua volta também. Até mesmo coisas como relacionamentos... Aquela Lívia, que você escolheu, você a ama certo? Você é desnecessariamente complicado.”
Ouvindo pela primeira vez a opinião do menino sobre ele, Raven ficou envergonhado.
“Já Dalton não, ele é bem mais simples. Sua vida foi boa, e embora seus irmãos tenham morrido cedo, ele tinha sua irmã para preencher o vazio.”
Ouvindo isso, Dalton ficou em silêncio pensando sobre sua vida. De fato, quando vingou seus irmãos, ele não sentiu nem um pouco de felicidade, apenas um vazio enorme. Ele lembrava bem daqueles dias.
Na época, depois de se vingar, ele ficou bem chateado por umas semanas. O que fez com que ele ganhasse forças foi o pensamento de sua irmã ainda viva. Ele decidiu então concentrar toda sua atenção em sua irmã. Tudo o que ela precisava, ele cuidava, até da menor das coisas.
Quando ela conseguiu um namorado, ele custou a aceitá-lo, e só depois de muitos testes. Ele acreditava que sua irmã merecia alguém que daria sua vida por ela, e por isso o rapaz sofreu muito.
Pensando sobre sua vida, Dalton sorriu, percebendo que não se arrependia de nada. O menino, que esteve observando Dalton o tempo inteiro, sorriu e falou:
“Ei, você ainda não morreu, por que está com essa cara de ‘estou satisfeito’?”
Ao ouvir isso, Dalton sorriu amargamente e respondeu:
“Você consegue até mesmo ler minha mente? Não posso mesmo resistir a você. Por favor, me deixe entrar na Blank.”