Volume 1

Capítulo 13: Pondo as Cartas na Mesa

— Ah… Isso é para o Leonardo, foi a esposa dele quem mandou

Foi impossível para a maioria dos presentes conterem a expressão de surpresa.

— Como assim? — Gritou Kawã — Ele é casado?

Ao que parecia, era um segredo conhecido apenas por André e Leonardo, então devia ser muito secreto, para que os outros heróis, incluindo os mais próximos a Leonardo desconhecessem tal fato.

Léo recebeu o livro, e ficou alguns segundos olhando fixamente com uma expressão triste, seus olhos marejaram, a respiração ficou mais acelerada, seus lábios tremiam. Léo deu as costas para os demais e caminhou em direção à saída, enquanto todos olhavam em silêncio, ele apenas disse:

— Podem continuar sem mim…

Mesmo que entendessem o porquê exato dele se retirar de forma tão abrupta, não era possível compreender que o conteúdo daquele livro era mais importante naquele momento do que a reunião. Os heróis preferiram não interferir nos assuntos pessoais de Leonardo.

Assim que Léo saiu e a porta se fechou atrás dele, a reunião recomeçou, com Jonas interrogando André.

— Agora gostaria que me explicasse como conseguiu passar para cá, se a última chave foi destruída.

— Simples! — Respondeu André — Descobri que existem três formas de viajar entre os dois mundos, a primeira é através das chaves, mas cada chave só pode ser usada uma vez, inclusive, não existem mais chaves para as portas, mas existe uma segunda forma, uma chave para abrir uma “janela”, essa pode ser usada quantas vezes for preciso, eu consegui descobrir onde estava, mas também descobri uma terceira forma de viajar, eu chamo de “quebrar a parede”, consta em sacrificar seu poder, suas mãos e perder muito sangue em um ritual macabro e doloroso…

— Como assim? — Interrompeu Jonas — Por que não usou a segunda forma?

— Eu tinha a oportunidade de me livrar daquela maldição, que por sua culpa, estava impregnada na minha alma pelos últimos 11 anos…

Jonas engoliu seco e não rebateu o comentário de André, apenas baixou a cabeça esperando ouvir o resto da história.

— Eu achei as ruínas de Motog, o Templo dos Mortos… — Continuou André — E lá estava a oitava chave, mas também falava de como os mundos são separados por uma espécie de “véu”, que foi construído pelos deuses para conter as diferentes formas de energia mística dentro de seus respectivos mundos.

Anne levantou a mão, sinalizando que queria falar, André assentiu com a cabeça.

— Lembro que certa vez Felipe teorizou que havia uma possibilidade de existirem infinitas realidades alternativas sobrepostas e separadas por… eeh… não lembro o nome…

— O tecido da realidade — Completou Felipe.

André novamente assentiu com a cabeça, concordando com a garota. Em seguida continuou.

— O que está escrito em Motog, condiz com a teoria de Felipe, há algo que separa os mundos, mas pode ser rompido, as portas são buracos estáveis que precisam ser abertos e depois fechados, enquanto que as janelas ao serem abertas, se fecham sozinhas após um tempo, mas é possível rasgar o tecido da realidade com as próprias mãos, se for forte o suficiente e estiver disposto a abandonar quase tudo. E foi o que fiz, sacrifiquei meus braços, meu sangue e aquele poder amaldiçoado, e agora estou livre…

— Então só fez isso para se livrar dos seus poderes? — Perguntou Lucas — Tentar suicídio apenas para se livrar de uma maldição?

— Não! Uma nova relíquia apareceu, sabem que isso significa que novamente o poder foi desbalanceado, em breve uma nova crise vai assolar aquelas terras, e os 7 reinos cairão em uma guerra de proporções épicas! — Rebateu André — Até mesmo os Filhos do Leste estão se preparando, dessa vez será maior, e vocês não estarão lá!

—Nem você! — Gritou Kawã de forma arrogante — Como pode abandonar aquelas pessoas mediante a ameaça de uma crise de larga escala? Pessoas morrerão! E você terá a culpa de ter fugido…

André encarou Kawã, andou lentamente e direção a ele, e olhando diretamente em seus olhos disse:

— Não esqueça, vocês que foram escolhidos pelos deuses daquele mundo para serem heróis, eu fui para lá por acidente, meu poder era apenas uma maldição, eu matei, destruí, e causei sofrimento, mas eu não sou um herói, isso é responsabilidade de vocês… Mas me diga, o que você fez de bom? Até onde me lembro, todos vocês têm sangue nas mãos!

— Eu nunca matei ninguém! — Rebateu Felipe em tom ríspido.

— Mas elaborou o plano de ataque sobre as cidades do Leste, sua estratégia causou a morte de pessoas inocentes! — André gritou enquanto se virava para encarar Felipe — Cada um de vocês fez um juramento de proteger aquele mundo, mas quando acabou a guerra acharam que o dever estava cumprido, e partiram sem olhar para trás.

— E você, como sempre, vai fugir? — Perguntou Lucas.

— Não, eu rasguei o tecido da realidade para encontrar o maldito Cavaleiro de Prata, vou leva-lo de volta, e obrigar ele a desfazer todas as merdas que vocês fizeram sob o comando dele… Mas dessa vez eu farei minhas próprias escolhas, não serei manipulado por ninguém, seja herói, rei ou deus!

André estava bastante alterado nesse ponto da reunião, sua expressão facial era de profundo ódio.

— Enquanto vocês ficam aqui com suas famílias, vivendo suas vidinhas felizes, eu estava tentando impedir uma segunda guerra, e agora tive que vir atrás da pessoa que mais odeio para salvar aquele mundo que tanto odeio, e não me restou nada a não ser pedir ajuda a vocês, que eu também odeio!

— É recíproco — Murmurou Jonas.

— Quanto ódio! — Exclamou Felipe.

— Você não é o primeiro a me dizer isso…

Zita caminhou lentamente até André, se colocando atrás dele, tocou seu ombro e disse:

— Eu, Elizabeth Cruz, Herdeira da Chama, discípula do Deus Fênix, prometo ajuda-lo, assim como prometi proteger o mundo místico, em nome dos sacerdotes da montanha de fogo!

Eduardo fez o mesmo movimento, tocando o outro ombro de André, proclamou:

— Eu, Eduardo Sales, Protetor da Floresta Sagrada, discípulo da Mãe Terra, prometo ajuda-lo, assim como prometi proteger o mundo místico, em nome dos sacerdotes do Templo da Floresta.

Após Eduardo, foi a vez de Felipe, que mesmo hesitando um pouco, repetiu o mesmo ato de tocar o ombro de André, pondo sua mão sobre a de Zita, disse:

— Eu, Felipe Lins, Guardião da Sabedoria, discípulo da Sabedoria Divina, prometo ajuda-lo, assim como prometi proteger o mundo místico, em nome dos Sábios da Torre.

Por fim, Lucas repetiu a mesma ação dos outros três, pondo sua mão sobre a de Eduardo.

— Eu, Lucas Queiroz, Arauto dos Vendavais, discípulo da Tormenta, prometo ajuda-lo, assim como prometi proteger o mundo místico, em nome dos Guerreiros Nômades.

Os demais não se manifestaram em prol de André, ainda estavam relutantes em aceitar as suas palavras, mesmo que fosse impossível refutá-las.

Jonas se pôs de frente para André, com uma postura arrogante, as duas mãos para trás, nariz empinado, e em tom ríspido disse:

— Creio que todos nós estamos dispostos a voltar àquele lugar novamente, se for para impedir uma possível guerra! Mas se for preciso chegar a esse ponto, saiba que não farei por você! E mais, é pessoal, por mim você estaria morto!

— Eu entendo — Respondeu André — Reconheço que alguns aqui já tentaram me matar, e eu só não matei você, Jonas, por que acho que ainda não sofreu o suficiente, sua morte não apagará seus pecados.

Ao dizer essas palavras, André deu as costas e saiu, logo atrás foram Zita e Lucas, Felipe decidiu então encerrar a reunião, enquanto pensava.

Pelo menos dessa vez não tivemos ninguém gravemente ferido…



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