Volume 1

Capítulo 20: O Sorriso

André saiu da sala de comando com um ar de tranquilidade, por mais que uma nova guerra se aproximasse ele estava com fé de conseguiria resolver com a ajuda dos outros 32, afinal era a missão para o qual eles foram escolhidos pelos deuses, impedir uma guerra era responsabilidade de todos os 33.

Mesmo sem seus poderes ele não temia nada, fazia tempo desde que tinha sentido medo pela última vez. O reencontro com seus antigos companheiros de aventura tinha sido melhor do que ele poderia prever, apesar das ideias não terem sido iguais no começo, acabaram por chegar em um acordo, fato que nunca havia ocorrido no outro mundo. Talvez todos estivessem amadurecendo.

André parou em frente à porta de seu quarto, lembrava do que deixou para trás, sua mãe adotiva e mestra, Miraa a Rainha do Leste, sua irmã e melhor amiga Surii, Olho de Peixe, Flor de Pedra, Caniço, Lilás, e os outros da toca dos ratos, os seus companheiros de guerra, os moradores da planície e da montanha solitária, até mesmo a figura do trono de pedra com a macabra coroa marrom-acinzentada passou pela mente do jovem, que perdido em pensamentos não notou a aproximação de um militar com arma em punho.

— Você deve ser o tal André! — Disse o militar.

André acordou de seus devaneios, virou-se e viu um homem de cabelo grisalho e barba rala, aparentava ter uns 50 anos, usava um uniforme semelhante ao do Tenente Glover, com uma diferença no padrão afixado nos ombros, carregava algo que devia ser uma arma, mas André não conhecia bem o que era exatamente.

Atrás dele vinham outros 6 soldados enfileirados portando armas similares. Ao se aproximarem de André, o militar com aparência de velho parou enquanto os outros deram a volta circundando o jovem que permanecia parado em frente à porta de seu quarto.

— E quem são vocês? — Perguntou André, ignorando os soldados que o cercavam.

— Sou o Sargento Mário Fidelis, e esses são os meus soldados! Estamos aqui sob ordens diretas da Aliança Internacional para leva-lo conosco. Sugiro que se renda e venha pacificamente conosco, ou eles vão atirar!

— Senhor Sargento… — André tentou ser educado, coisa rara para ele — Eu não tenho interesse de causar qualquer problema que seja, no entanto devo recusar sua oferta…

— Você não conhece essas armas, não é? — Indagou Fidelis — Elas são mais fortes do que suas magias, antes que você consiga dizer suas palavras mágicas, um projétil já terá perfurado seu crânio, então não resista!

— Entendo! — Disse André calmamente — Vocês claramente estão com medo, mas não precisa, eu não tenho mais meus poderes… Acho inclusive que o senhor não entende bem como os poderes dos heróis funcionam.

O sargento não deu ouvidos às palavras de André e continuou apontando a sua arma para o rapaz enquanto falava.

— Os seus amigos sempre o descreveram como alguém calado, tímido, retraído… Mas vejo que não verdade é apenas um falastrão que está tentando enrolar, me impedindo de cumprir minhas ordens! Mas você está cercado, então por favor, coloque as mão atrás da cabeça e fique de joelhos.

— Cercado? Já estive nessa situação algumas vezes, e até mesmo em situações piores, só estou tentando lhe dizer que já conversei com outro militar e esclareci os motivos pelo qual não irei…

Antes que André terminasse sua explicação, Fidelis sacou um punhal e avançou em direção à André, que simplesmente girou corpo rapidamente, desviando com facilidade do ataque. Mas o verdadeiro objetivo de Fidelis era pôr André no centro do corredor, e agora o rapaz estava totalmente cercado por 7 militares bem armados.

André entendeu o que acabara de acontecer, andou em direção a Fidelis e pediu licença para entrar no quarto, mas o Sargento encostou a lâmina afiada no pescoço dele, e novamente o ordenou que se rendesse.

— Você virá conosco, prefere inteiro ou faltando alguns pedaços? — Rosnou o sargento com uma expressão psicótica — Diferente do Glover, eu tenho ordens para leva-lo mas não precisa ser intacto, eles vão conseguir as informações que desejam até mesmo se você estiver morto.

— Estou tentando ser pacífico a pedido de Felipe, mas não me entregarei facilmente… Há sempre uma terceira opção…

— Acha mesmo que consegue se livrar de nós? Meus homens foram selecionados entre os melhores, você não tem chance alguma!

André deu dois passos para trás enquanto murmurava:

— Foi mal Felipe, eu não queria uma segunda guerra, mas eles começaram…

Fidelis acenou com a cabeça, no mesmo instante o soldado que estava logo atrás de André apontou a sua arma para a nuca do rapaz desarmado. Mas antes que fosse capaz de atirar, André girou e acertou um chute lateral nos braços do soldado gerando um estalo seco, como se algo tivesse sido quebrado, o soldado largou a arma e caiu no chão com uma expressão de agonia.

Ao mesmo tempo todos os outros soldados apontaram as suas armas para André, fazendo menção de atirar, mas ele foi mais rápido, abaixou-se rapidamente saindo da linha de tiro, enquanto girava novamente o corpo na direção oposta e acertando um chute de calcanhar no pescoço do soldado caído, gerando um novo estalo, o soldado caiu desacordado, possivelmente morto.

André apoiou-se sobre um joelho e os punhos enfaixados, e no segundo seguinte desapareceu da vista dos soldados, um movimento simples usando distração e impulso, mesmo seu corpo estando sob os efeito colaterais da travessia, ele ainda conseguia realizar esse tipo de movimento.

Usando o soldado que o atacou primeiro como distração, André fez menção de se mover para uma direção, e quando todos olharam nessa direção ele foi para o lado oposto, dando a impressão de ter desaparecido no ar.

Atacando os dois soldados mais afastados do centro do corredor, André foi rápido em matar ambos com chutes fortes mirando o pescoço, o que gerou dois estalos secos que foram ouvidos ao mesmo tempo em que os dois soldados mortos voavam em direção ao centro do círculo, Fidelis olhou na direção em que veio o estalo, mas André não estava mais lá.

Usando o mesmo movimento de distração e impulso, André foi ao extremo oposto, visando as suas próximas vítimas. Um novo estalo, seguido de um grito abafado, e outro soldado voando da direção oposta em direção às 3 primeiras vítimas, ele finalmente tinha aparecido, estava pisando na cabeça de um soldado, que aparentava estar desacordado. André tinha um sorriso maligno em seu rosto.

— Ah! Eu tinha até esquecido essa sensação… — Disse André como se estivesse adorando o momento.

O soldado restante não sabia como reagir, nem mesmo o melhor treinamento tinha ensinado como enfrentar o demônio parado ali na sua frente. Mas Fidelis, como líder, não podia deixar seus soldados morrerem, ele mirou na cabeça de André com a pistola na mão direita, enquanto mantinha seu punhal na esquerda, sabia que dessa forma seria o próximo alvo do herói descontrolado.

André foi em direção a Fidelis sem tentar esconder sua presença, mas fazendo movimentos em ziguezague visando desviar da mira da pistola, enquanto o sargento mirava o punhal em seu peito, mas o rapaz com toda sua experiência de combate, abaixou um pouco o corpo, e o punhal atravessou seu ombro ao mesmo tempo em que acertava um soco com a mão direita enfaixada no queixo de Fidelis.

Os dois se afastaram, Fidelis tinha deixado a pistola cair e agora era ele quem caía, André arrancou o punhal do ombro usando os dentes, o arremessou com a boca em direção ao último soldado, que tentou desviar, mas André foi rápido o bastante para girar o corpo acertando um chute de calcanhar no cabo do punhal que girava horizontalmente, mudando bruscamente a direção da arma, fazendo ela acertar o olho direito do soldado, atravessando a parte frontal do crânio.

Tudo foi resolvido com selvageria em poucos segundos.

Fidelis viu que estava sozinho, desarmado e caído, André estava ferido mas ainda estava em pé com um ferimento que parecia ter acertado algum vaso sanguíneo, o sangue que descia do ombro de André já chegava ao chão, seria questão de tempo até ele colapsar, o sangue do último soldado morto escorria pelo chão do corredor se juntando ao de André em um tapete vermelho vivo.

Foi quando passos anunciaram a chegada de alguém, eram Felipe e Glover, os dois parecia ter adivinhado o que estava acontecendo, pois vinham com muita pressa, ao verem a cena Glover ficou horrorizado, mas Felipe parecia já estar acostumado com tal selvageria. Felipe tocou o comunicador no ouvido e ordenou:

— Lídia! Peça para os outros heróis virem ao quarto do André, temos um problema daqueles…

Enquanto Felipe encarava André que não conseguia parar de sorrir, Glover foi oferecer ajuda a Fidelis, era difícil aceitar que um garoto desarmado conseguiu matar 6 soldados treinados e armados.

Eles não tiveram nem tempo de atirar… — Pensou Glover passando o olhar por cada um dos soldados e relembrando não ter ouvido tiros.

Enquanto Fidelis se levantava amparado por Glover, André se explicava para Felipe, mesmo ajudando o sargento, Glover estava mais interessado em ouvir o que André dizia. Fidelis aproveitou e sacou um revólver de cano curto que estava escondido no cano da bota, mirou e disparou na nuca de André, à queima-roupa, assim não tinha como ele desviar.

A bala simplesmente parou flutuando no ar à poucos centímetros da cabeça de André, que se virou lentamente, atraído pelo som do disparo. Enquanto Fidelis estava de boca aberta tentando entender o que tinha impedido a bala de adentrar o crânio do rapaz, ele viu no outro lado do corredor, uma figura bem conhecida, um outro rapaz, bem vestido, cabelo arrumado, levemente acima do peso, era Jonas.

— Desculpa Sargento! — Disse Jonas — Mas eu ainda tenho uma dívida para com André, não posso deixa-lo morrer… Não ainda.

André olhou para Jonas como se não acreditasse no que tinha acontecido, nem mesmo um tiro à queima-roupa tinha o assustado tanto quanto a atitude de Jonas de criar uma barreira em torno de André e Felipe, assim os protegendo do tiro.

— Então é você quem deve morrer! — Bradou violentamente o sargento, enquanto apontava o revolver para Jonas.

Antes que o militar fosse capaz de atirar, Jonas apontou dois dedos para Fidelis, criando uma barreira em torno do sargento, em seguida fechou o punho, a barreira lentamente se comprimiu esmagando-o e abafando os seus gritos. Assim que a barreira foi desfeita, o corpo retorcido do sargento caiu no chão, enquanto Glover agradecia a deus por ser o cara da diplomacia e não da selvageria.

Jonas e André apenas se olharam e foram em direções diferentes, se nada dizer. Glover seguiu Felipe ainda assustado com o que aconteceu, ele não tentaria mais levar André.

Agora sim deu merda! — Pensou Felipe.



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