Volume 2

Capítulo 61: O Reino Aliado

Dois dias inteiros de caminhada, atravessando montanhas e florestas, carregando apenas provisões necessárias e poucas armas, onze pessoas com roupas diferentes das que normalmente se via por aquelas redondezas finalmente se aproximaram da capital do Reino de Aço.

Após saírem da região montanhosa, Jaiane e Raniely reconheceram a estrada de pedras que cortava o reino ao meio e servia para o transporte de minérios para a região central, onde estavam localizadas as melhores forjas do continente. Para chegar à capital, bastava seguir por aquela estrada, indo na mesma direção que as comitivas carregadas de minério bruto.

Guiando os soldados do Mundo Original, as duas heroínas seguiram em uma viagem exaustiva em direção à capital, e ao chegarem diante da muralha gigante e dos portões em metal com figuras em alto relevo simbolizando a história do povo local os soldados da AI não conseguiram evitar de ficarem de boca aberta, era uma cena que normalmente se via em filmes apenas.

Do alto da muralha de pedra um soldado com uma lança na mão, e um arco e aljava repleta de flechas ordenou que eles se identificassem. Jaiane pediu a Raniely que deixasse por sua conta, e ficando transparente, flutuou suavemente até o topo do muro, onde os soldados sentinelas do Reino de Aço, após reconhece-la, esperavam em posição de reverência com um joelho no chão.

— Heroína Jaiane “Espírito de Aço”, é com muito orgulho que recebemos a vossa senhoria e seus companheiros! — O Capitão da Guarda disse com a cabeça baixa — Nos perdoe por não reconhecê-la rapidamente, achávamos que não estava mais nesse mundo.

— Tudo bem pessoal, não precisa de formalidades! Eu preciso apenas falar com o Rei Tálio, vocês podem nos deixar passar?

— Claro, os portões serão abertos imediatamente! Mas não será possível falar com o Rei Tálio… — E vendo a cara de Jaiane que não tinha entendido, o Capitão continuou — Algumas coisas mudaram depois que vocês foram embora.

Após a notificação para que os portões se abrissem, Jaiane flutuou de volta ao chão, para junto de seus companheiros de viagem, e adentraram a cidade. A capital do Reino de Aço era diferente da Cidade de Prata, onde na primeira havia menor discrepância entre as classes sociais, por não ser um reino de nobres e sim de trabalhadores.

Mesmo assim, as casas eram bem construídas, e as ruas pavimentadas com blocos produzidos a partir da escória do minério forjado na cidade, fazendo parecer que tudo ali era novo. A rua que se formava do portão principal ligava diretamente ao castelo real, o que facilitou a ida das duas heroínas e dos soldados da AI.

Ao entrarem pelos portões da castelo, os onze chamaram muita atenção dos guardas, serviçais e nobres que ali estavam. Principalmente as duas heroínas, não havia uma pessoa sequer naquele reino que não soubesse os seus nomes, poderes e façanhas de outrora em defesa daquelas terras.

Rapidamente um alvoroço se formou, e cada vez mais pessoas chegavam para ver os ilustres visitantes. Aqueles que desejavam uma audiência com o rei cederam sua vez para que as duas heroínas e seus companheiros tivessem total prioridade.

Quando chegaram em frente ao trono, a pessoa que estava sentada não era bem quem esperavam ver. Em vez do velho, barbudo, de cabelos grisalhos e coroa em aço reluzente, estava um jovem de cabelos escuros e longos, sem barba, um tanto magro e alto. A coroa por sua vez repousava sobre o braço do trono construído em aço puro.

— Que felicidade eu sinto em revê-las, heroínas de outro mundo! Jaiane, “o espírito de aço”, e Raniely, “a arqueira invicta”!

As duas deram um passo à frente e fizeram uma mesura em respeito e agradecimento. Jaiane iniciou as falas, enquanto Raniely permaneceu em silêncio com a cabeça baixa.

— Príncipe Stanis, estamos de volta e trouxemos alguns soldados do nosso mundo, buscamos formar uma aliança entre os dois mundos!

— Sejam bem vindos, senhores! Espero que o nosso mundo esteja ao seu agrado. — Stanis disse com tom acolhedor.

— Precisamos falar com o Rei Tálio, é algo importante para o Reino de Aço. — Raniely disse com entusiasmo — E pode mudar esse mundo.

— Meu pai está morto… — Stanis disse com pesar.

— Como assim? — Jaiane ficou assustada.

— Flek? — Perguntou Raniely com expressão irritada.

— Sim… O Rei de Prata armou para dominar todo o Oeste, porém, mesmo após a morte de meu pai e do Rei de Bronze, e a captura da princesa regente do Reino de Cristal, Flek continuou pressionando os outros reinos com medo de alguma revolta, já que ele não confiava em nenhum de nós… E pensar que o seu fim veio pelas mãos da pessoa de sua confiança, Jonas, “o herói guardião”.

— Soubemos que havia uma crise, mas não imaginei que estaria a esse ponto… — Raniely comentou.

— Souberam? Mas vocês não estavam no seu mundo? — Stanis pareceu confuso.

— Aaaah… — Jaiane fez uma careta — Foi o André! Sabe o filho mais novo de Miraa, do Leste? Ele conseguiu atravessar e levar notícias, mas como não somos exatamente aliados, então recebemos apenas um relatório parcial da Divisão do Felipe…

— André? Quer dizer, o Deco do Leste? Aquele cara ainda está vivo? Como ele consegue não morrer nunca? — Stanis esfregou as têmporas.

— Mas Alteza, como está a situação atual do reino? O senhor não me parece ter sido coroado, então algum dos seus irmão será escolhido rei ou não há uma decisão ainda? — Raniely perguntou.

— Atualmente o reino está em sérios problemas, meus irmãos não me reconhecem como herdeiro legítimo e buscam apoio para me destronar, enquanto isso algumas famílias importantes não me declaram apoio com medo de uma possível reviravolta, então nem sequer fui coroado rei ainda…

— Desculpe me intrometer… — Um dos companheiros de viagem das duas heroínas se aproximou — Eu sou o General Nogueira, e posso resolver esse problema, basta que o senhor aceitar colaborar conosco!

— Uma colaboração? — Stanis coçou o queixo — De que tipo? E que garantias eu tenho?

— Eu lhe garanto poder militar para que suba ao trono e seja rei, em troca pedimos apenas que deixe-nos montar a nossa base de operações em seu território, e que possamos transitar pelas suas estradas.

— Não vejo motivo para rejeitar, visto que acompanham duas pessoas ilustres para o meu reino, mas eu preciso de uma garantia do tal poder militar que falou.

— Me arranje três alvos e no mesmo instante esse soldado atrás de mim fará a demonstração do nosso poder de fogo.

Com um sorriso de canto de boca, Stanis gesticulou para que os serviçais arrumassem três alvos para a demonstração. Ao mesmo tempo o general escolheu um soldado e mandou que ele preparasse a metralhadora para o “show”.

Os serviçais se apressaram e trouxeram três manequins de madeira do tipo usado para treino, cada uma estava coberto com uma armadura de metal da melhor qualidade. Os manequins foram postos na parede lateral, à dezenas de metros de onde o atirador estava parado, por mais que soubessem que no Mundo Original do heróis haviam armas diferentes, os membros da corte de Stanis não conseguiam acreditar que aquelas armas sem ponta e de extremidade oca fossem possíveis de atravessar uma armadura.

O General Nogueira levantou a mão em direção ao soldado, que se posicionou, e quando baixou, a resposta veio através de um clique da trava sendo removida e de um gatilho sendo puxado.

Sons estridentes ecoaram pelo castelo atraindo a atenção de toda a corte, que olhavam para as armaduras e manequins de madeira perfurados rapidamente. Ao passo que os tiros eram disparados, as bocas dos habitantes do castelo que assistiam a demonstração se abriam mais, até que o General Nogueira levantou a mão e o soldado cessou os disparos.

— Incrível… — Stanis estava de queixo caído.

— Considere como sendo apenas uma demonstração da fração mínima do poder das armas de fogo! — O general disse com orgulho.

— Que maravilhoso… É possível fabricar essas armas aqui nesse mundo? Nosso reino tem o melhor minério e os melhores artesãos, desde os primórdios da história somos conhecidos com os maiores fabricantes de armas, e adoraria que meus soldados carregassem armas incríveis assim.

— Acredito que iguais a essa é impossível com as suas tecnologias atuais, mas versões um pouco inferiores, porém com capacidades quase iguais, é totalmente possível!

— Isso aumentaria o poder do meu exército… — Disse Stanis tão feliz quanto uma criança que ganhou brinquedo novo.

— E economizaria a minha logística!

— Por mim, temos um acordo, general!

— Então temos um acordo, Rei de Aço!

— Rei? — Os olhos de Stanis brilharam.

— Conosco ao seu lado, ninguém impedirá que você… Digo, vossa majestade, ascenda ao trono e reine!

O general deu alguns passos até ficar próximo de Stanis o suficiente para pegar a coroa no braço do trono metálico e pôr na cabeça do novo Rei de Aço.

— Pelos poderes a mim confiados pela Aliança Internacional, eu o coroo rei! Se alguém for contra essa decisão que venha se ter comigo e com os meus soldados.

Novamente uma série de sons estridentes ecoou pelo castelo, mas dessa vez não eram tiros, e sim aplausos dos membros da corte, que homenageavam o novo rei enquanto ficavam com um joelho apoiado no chão. O último a reverenciar o novo rei foi o general, até mesmo as duas heroínas se ajoelharam perante Stanis, o Rei de Aço.

Esse general está se saindo um aliado melhor do que eu imaginava… — Pensou Jaiane.

Brevemente a notícia de que Stanis tinha aliados perigosos com armas de alto poder de destruição seria vazada, e seus opositores teriam que recuar ou enfrentar armas de fogo. Para garantir que não tentassem a segunda opção, os três manequins foram colocados em praça pública para demonstrar o poder das novas armas que o Reino de Aço estaria produzindo daquele momento em diante.



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