Volume 2

Capítulo 82: O Exército de Cristal Se Move

Esmeralda olhou pela janela e viu mais uma carruagem chegando ao palácio. Por mais que ela tivesse planejado todo aquele evento para reforçar seu poder diante dos nobres do reino, o nervosismo era inevitavel.

Boca seca, tremedeira, uma palidez leve e a constante vontade de ir ao banheiro eram sintomas que a acompanhavm desde a noite anterior. Mas ela sabia que não poderia demonstrar nenhum tipo de fraqueza diante dos seus convidados.

— Uma palavra errada e eles usarão tudo que puderem contra mim… — Ela pensou, enquanto via um dos antigos conselheiros de seu pai descer da carruagem — Esse aí mesmo tentou arranjar um casamento entre eu e seu filho para levar vantagem política, mas quando meu pai morreu e eu fui sequestrada, ficou de braços cruzados.

Olhando para dentro do seu quarto, ela viu suas companheiras fiéis e guardas, as garotas de cabelos coloridos eram especiais no Reino de Cristal, e Esmeralda não era diferente, exceto pelo fato de ter a responsabilidade de guiar todo um reino. Ela tinha cabelos verdes, assim como o mineral o qual seu nome foi inspirado, e assim como as outras garotas, tinha uma habilidade única.

Desde seu nascimento, o corpo da princesa sempre foi frágil, mas sua mente foi se mostrando cada vez mais desenvolvida. Quando reuniu as outras garotas e usou suas habilidades para formar um grupo onde uma protegia a outra, ela finalmente se sentiu forte, mas faltava experiência, faltava conhecer a maldade dentro do coração das pessoas.

Quando Flek a manteve em cativeiro, Esmeralda usou todo seu conhecimento inteligência para se manter viva, e quando Jonas e Victoria resgataram ela, finalmente a princesa havia tomado a decisão ser mais impositiva.

Ao retornar para o palácio Esmeralda acabou descobrindo todo um esquema de traição para usurpar o trono, ou se possível, fazê-la de fantoche. Desde aquele momento ela começou seu próprio plano, se ela era a herdeira do trono, então não deixaria que ninguém mais sentasse nele.

E finalmente havia chegado o dia de se sentar no trono que fora de seu pai.

— Estou um pouco nervosa… — A princesa falou em meio a um suspiro.

— Todas estamos. — Rubi disse enquanto escolhia um enfeite que melhor combinasse com seus cabelos vermelhos.

— Lembrem-se de não fazer nada errado, e não fiquem no meu caminho quando u fizer a minha entrada triunfal. — Safira disse empinando o nariz.

— E você, tente não fazer nada que possa envergonhar a princesa, ou pior, trazer desonra ao Reino de cristal. — Retrucou Ágata.

— Não precisam se forçar demais, apenas sejam naturais… — Esmeralda tentou intervir, em vão.

— Turmalina, não vai esquecer qual é a deixa! — Rubi disse pela trigésima vez.

— Claro irmã, a gente ensaiou isso a noite inteira. — A garota de tranças respondeu com um bocejo.

— Então não percam tempo, terminem logo de se vestir, os convidados já estão chegando e a maioria de vocês não está pronta! — Reclamou Topázio — Isso inclui você, princesa.

O breve discurso enérgico de topázio gerou alguns segundos de silêncio dentro do quarto, mas logo a algazarra já tinha se fomado mais uma vez, com cada uma delas mostrando como estava planejando se arrumar.

Não demorou muito e todas estavam prontas e descendo a escadaria do castelo, cada uma delas usava um vestido que ressaltava as cores de seus cabelos, cheios de boradados de renda e pedras incrustadas. Uma elegância digna das guardas pessoais da princesa rgente do Reino de Cristal.

Mesmo que fosse o menor dos sete reinos tanto em área territorial quanto poderio militar, o Reino de Cristal ainda era uma soberania, e a família real deveria ter sua dignidade respeitada. Vestir bem suas guardas era uma forma de demonstrar que elas eram bastante próximas à princesa, o que gerava um certo grau de superioridade em relação aos outros guardas do castelo.

Assim, ninguém ousava se aproximar da princesa com segundas intenções pelo medo do poder de suas guardas, e ninguém ousava encostar nas guardas devido à influência política da princesa. 

— No final das contas, o que importa não é o quanto de poder você tem, mas sim o quanto acham que você tem. — Esmeralda repetia para si mesma — Quanto mais o ser humano está imerso na sociedade, mais ele vive de aparências.

Parando na porta principal do salão, a princesa esperou que a atenção fosse roubada naturalmete, em menos de dez segundo todas as conversas paralelas cessaram e os olhares estavam voltados para a regente. Sua presença atraia atenção daquelas pessoas assim como a luz atrai insetos.

Uma música soou pelo salão, a orquestra havia sido requisitada para tocar uma sinfonia que passava uma sensação de triunfo. Esmeralda seguiu com passos firmes, sem encarar ninguém, atravessando o salão em direção ao trono esculpido em cristal maciço. Ao seu lado, apenas Turmalina, mantendo o mesmo ritmo ditado pela batida forte da musica instrumental, mas smpre dois passos atrás, como se a princesa fosse alguém a ser seguida mas nunca alcançada.

Chegando ao trono elas não sentaram, apenas permaneceram de pé de frente para os convidados, ao passo que a multidão assistia com confusão estampada no semblante. Mas eles não estavam prontos para o que viria a seguir.

Safira entrou carregando uma almofada vermelha com bordados em ouro e diamantes, e acima da almofada estava o símbolo maior do poder no Reino de Cristal, a Coroa de Cristal, aquela que passara por todos os reis da península até aquele momento. A guarda estava nervosa, mas se segurava para não demonstrar, seus passos mantinham o mesmo ritmo da música seu coração batia em ritmo muito mais acelerado.

Quando Safira chegou à frente da princesa regente, Esmeralda pegou a coroa de cristal e ergueu para que todos vissem, em seguida, sem que a princesa abaixasse o símbolo máximo de poder do reino de Cristal, Turmalina retirou a coroa de princesa regente, ao mesmo tempo em que esmeralda se autoproclamava a Rainha de Cristal.

Toda aquela encenação de autocoroação era um ato que desafiava as famílias conservadoras e os opositores dela, e ao mesmo tempo mostrava a todos o quanto ela estava confiante em si mesma. O normal era que um monarca fosse coroado pelo ancião da corte após ser aceito por todas as famílias.

Rubi e Ágata se aproximaram trazendo a antiga espada do rei, um item passado por gerações entre todos os governantes da península, e o arco do caçador, um item divino que por anos ficou guardado pela falta de alguém hábil o suficiente para empunhá-lo.

Esmeralda recebeu as duas armas, e com ajuda de Turmalina, prendeu a espada em seu cinto, em seguida caminhou até Topázio e lhe entregou o arco, a guarda disfarçou um pouco o sorriso e recebeu o item divino.

O ato gerou murmúrios, o que era de se esperar, já que nenhum dos presentes havia visto ou sequer ouvido falar na última vez que alguém teve habilidade suficiante para empunhar o arco sagrado. Simplesmente entregá-lo para alguém poderia ser um ato de desafio às famílias conservadoras, ou até um blefe, uma vez que era impossível atestar que aquele era o item divino verdadeiro e não um cópia qualquer.

Mas por via de dúvidas, nenhum dos convidados ousou se manifestar ou protestar, os rumores de que a princesa havia executado friamente os ministros que a traíram ainda estavm frescos em meio à corte.

A nova rainha de Cristal caminhou lentamente até seu trono, e quando todas as suas guardas, exceto Ametista e Victoria, já estavam posicionadas ao seu lado direito, sentou-se.

— Hoje começa a nova história do nosso reino! — Ela falou com uma voz calma, mas amplificada com magia, transmitida para toda a cidade — Antes do pôr do sol eu marcharei com o “meu exército” rumo ao leste, então se alguém acha que não sou digna do trono, que se manifeste logo e tenha uma execução pública rápida e honrada.

Novamente se ouviram alguns murmúrios pelo salão do Castelo de Cristal, mas assim como ela esperava, ninguém teve coragem de se opor à nova Rainha de Cristal. Lentamente os convidados se ajoelharam diante da nova governante e juraram em uníssono que a seguiriam até o fim de suas vidas.

Naquele dia o nome de esmeralda entrou para o livro da história dos reis e rainhas daquele continente. Naquele mesmo dia, o exército da península se moveu em direção à guerra, a sua frente iam seis mulheres de cabelos coloridos, a quem nenhum homem naquele reino ousaria desafiar.



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