Volume 3

Capítulo 113: Os Outros Heróis

Após assistirem o funeral dos guerreiros aliados, Esmeralda se reuniu com suas guardas para o jantar, ao redor de uma fogueira. Fazia muito tempo que a Rainha de Cristal não podia ter um momento desses com as pessoas mais próximas a ela.

Jonas foi falar com os outros heróis no acampamento, e apenas Victoria não ia participar do papo deles, ela disse que preferia ficar com suas irmãs de juramento. Rubi e Ametista disputavam para ver quem comia mais carne, enquanto as outras guardas falavam de coisas fúteis, como moda e namorados.

— Qunto tempo que não nos reuníamos ao redor de uma fogueira? — Esmeralda disse olhando para as chamas.

— Uns seis… — Turmalina respondeu — Desde que Victoria voltou para o mundo dela com os outros a gente acabou tendo cada vez menos momentos assim.

— É… — Ágata suspirou — As coisas não foram mais as mesmas desde que ficamos apenas seis…

— Sempre fomos nós sete. — Safira disse — Ou pelo menos desde que a Turmalina se juntou a nós. Mas depois que a Vic foi embora, não foi mais igual. — Então deu um abraço em Victoria, que retribuiu o gesto de carinho — Se tentar ir embora de novo eu te mordo…

— Os outros dois heróis que ficaram no Reino de Cristal nunca se importaram em interagir conosco, ficavam apenas se preocupando com guerra, negociações, estratégias… — Rubi reclamou.

— Pelo menos a Victoria foi uma grande amiga! — Esmeralda disse — Quanto aos outros, eu sequer tive uma oportunidade decente de interagir com eles.

— Lembro que Gledson agia diretamente sob o comando do seu pai… — Victoria comentou — Já o Wesley… Ah… aquele cara era muito estranho.

— Eu sempre tinha uma tinha uma sensação ruim perto dele. — Turmalina adicionou.

— Talvez tenha a ver com o poder dele, manipular sentimentos e sensações. — Ametista falou entre as mordidas na carne — Aquele poder é, digamos, de causar medo…

— Eu poderia dormir sem ouvir um trocadilho tão ridículo. — Victoria bocejou.

— E eu queria ter a oportunidade de conhecê-los melhor… — Esmeralda disse desviando o olhar para o céu iluminado acima de suas cabeças — Talvez eles também resolvam vir, aí sim seria emocionante.

No meio da noite, em plena planicie central do continente, um portal azul brilhante se abriu. Por ele passou uma mulher loira usando uma armadura prateada, trazia seu elmo embaixo do braço direito e a mão esquerda descansava sobre o cabo da longa espada embainhada em sua cintura.

Alice Argent, a discípula de Johan Ritter, uma dos três conselheiros da Aliança internacional, estava pisando pela primeira vez no solo do Outro Mundo, mas se sentia como se já pertencesse àquele lugar desde sempre. Ela sentia que aquele era seu destino.

Atrás dela vinham os heróis restantes, enfileirados, uniformizados em um conjunto com mesclas de cinza e marrom, semelhante a uniformes militares para operações em desertos. Cada um tinha um mochila semelhante, onde traziam os seus respectivos itens básicos de sobrevivência e rádios para comunicação a média distância.

Após os heróis vieram os soldados, marchando de forma sincronizada e carregando muitas armas e bagagens.

— Quero que todos se lembrem que estamos aqui para salvar esse mundo! — Anunciou Alice — Vocês já salvaram esse lugar anos atrás, e dessa terão ajuda qualificada.

Os soldados apenas responderam com uma continência sincronizada. Os heróis se entreolharam, alguns com uma expressão de satisfação, outros de desconfiança.

Hugo era um dos primeiros da fila, atrás apenas Mirian, a sacerdotisa da água. O poder de Hugo era alterar a gravidade, fazendo as coisas ficarem mais leves ou pesadas dentro de uma determinada área.

Mirian tinha o poder de controlar a água, e tentava rivalizar com Zita, mas a sacerdotisa de fogo não levava a sério. Ela não tinha muito amigos entre os que estavam ali, mas simpatizava com Hugo, e achava fofo o relacionamento dele com Lucas a ponto de escrever fics sobre os dois.

Raíra era mais uma entre os heróis que tinha um poder elemental, e junto com Lonardo, Elizabeth, Lucas e Mirian, formava os cinco elementares. Mas ela nunca se dispôs a ser amiga deles, principalmente por ter sido enviada para o templo da terra contra sua vontade enquanto Lucas pode escolher para onde queria ir.

Fabiane, ou simplesmente Fabi, como preferia ser chamada, tinha o título de “Coração de Gelo”, mesmo que isso não fosse condizente com sua personalidade. Apesar de ser uma pessoa alegre e espontânea, ganhou esse título graças à sua capacidade de congelar praticamente tudo ao seu redor.

Com ela vinham Valquíria e Gustavo, esses dois eram namorados, e foram parceiros de guerra de Fabiane. Valquíria tinha o poder de controlar metais, e qualquer um que usasse armadura ou espada a temia. Enquanto Gustavo controlava luz, inicialmente ele somente podia cegar seus inimigos, mas depois de aprender a usar laser, o trio ficou muito famoso por onde passava.

Helder era um dos menos conhecidos, até mesmo entre os heróis as informações que se tinha sobre ele eram escassas. Tudo que se sabia era que seu poder era “papel”, e por isso foi considerado tão inútil quanto Amanda. Quem leva papel para a guerra? Todos perguntavam, e assim ele foi enviado para o Reino do Norte.

Catarina era a menor pessoa entre os heróis, mas sua força física e a resistência de sua pele a tornavam assustadora. Capaz de levantar pesos incalculáveis e jamais encontrando arma capaz de ferí-la, ela sempre estava de bom humor e parecia não se importar com o que estava acontecendo.

Aline tinha um poder invejável, transmutar substâncias poderia parecer algo trivial, mas se bem aplicado fazia uma diferença bem grande, por isso ela não ficou sob a tutela de nenhum reino, e junto com Felipe, Josiley e Anne, foi enviada para a “Torre do Sábios”, um lugar onde poderia fazer o bem por todos naquele mundo.

Mariana era uma das mais famosas no final da guerra de anos atrás mesmo sendo uma não-combatente. Seu poder de regenerar desde pequenos ferimentos até membros amputados fazia com que os soldados a glorificassem, e filas quilométricas se formassem com pessoas suplicando por sua ajuda.

Ao lado de Mariana vinha Alberto, os dois eram parceiros de guerra, e ele era o guarda-costas dela, seu poder consistia em modificar partes do seu corpo para lhe dar vantagens. Em momentos que exigia força, ele podia criar mais músculos, se precisava de velocidade ele melhorava as pernas, e assim por diante. Atualmente ele trabalhava em um meio de aumentar e diminuir a o tamanho do corpo inteiro e não apenas uma parte ou membro.

Ewá, Wesley e Luzia vinham por último, enquanto a primeira do três podia criar ilusões realísticas e enganar os sentidos humanos, Wesley manipulava as sensações e sentimentos diretamente na mente dos inimigos. Juntos eles eram capazes de manipular a mente de um batalhão inteiro e fazê-los se matarem.

Já Luzia tinha seus poderes mais concentrados nos olhos, ela podia ver a longas distâncias, através de objetos, além de ter visão de calor e infrevermelho. Seu poder nunca foi levado ao limite. Mesmo assim, ela e Ewá também eram consideradas inúteis e por isso foram enviadas ao Reino do Norte com Helder.

Hugo passou a vista por seus companheiros heróis, e depois ficou observando as ações dos soldados da aliança, mas tentando ser discreto. Mirian ficou de lado com ele, mas virada para a direção oposta.

— Pelo visto viemos todos. — Ela disse.

— Felipe e André fizeram uma boa articulação, então isso já era esperado. — Hugo respondeu.

— Acha que o que discutimos na noite de natal ainda está de pé? — Ela perguntou — Trazer a Aliança Internacional para esse mundo foi a melhor escolha?

Hugo pôs as mãos nos bolsos e olhou para cima.

— Olha… Eu acho que sim. — Ele fez uma pausa enquanto escolhia bem as palavras — Eu acredito naqueles dois. Já estivemos muito tempo lutando uns contra os outros, e sei que o André não é o cara mais certo da cabeça, mas confio no Felipe.

— Felipe fez muito por nós todos. — Mirian concordou — Quando ficamos uns contra os outros anos atrás, e tudo por culpa do André, foi o Felipe que interveio e graças a ele chegamos ao fim da guerra. E quando voltamos para o nosso mundo, achando que teríamos paz, a Aliança Internacional envenenou as nossas famílias e nos chantageou para trabalharmos para eles…

— Foi o Felipe que isolou o princípio ativo do veneno e, junto com o Eduardo sintetizou um antídoto. — Hugo completou — Mas isso levou tempo, e calhou de ser pouco antes de André retornar.

— Não acha que deveríamos ter mantido André desacordado mais um tempo?

— Quando votamos para decidir se manteríamos ele em coma induzido ou acordaríamos, tínhamos 15 votos para acordar e 16 para deixar em coma, só mais um voto e teríamos um empate…

— Em caso de empate a Elizabeth teria o voto de minerva! Vantagens de ser “a mais poderosa” — Mirian bufou — E obviamente ela escolheria por acordar ele.

— Sim. — Hugo continuou — Mas faltava Anne votar, e eu sabia que ela seria contra acordar o André, então mudei meu voto e deixei tudo empatado.

— Você..! — Mirian olhou assustada para Hugo — Por que?

Hugo apenas deu de ombros, até que ele queria responder, mas Alice estava se aproximando dos dois.

— O que os dois conversam aqui sozinhos? — A conselheira perguntou — Não me digam que estão flertando.

— Estamos apenas questionando se isso que estamos fazendo é mesmo necessário. — Hugo respondeu rispidamente.

— Huuum… — Alice encarou Hugo — E qual o motivo para essa dúvida?

— Digo, todas essas caixas. — Ele olhou em volta — E todos esses soldados armados, obviamente não estamos aqui para uma missão de paz.

— Não se preocupe, são apenas equipamento básico de comunicação e segurança.

— Sei… Já vi muitos destes. E nunca terminou bem…

Mirian, que permanecia de costas, apenas bufou em desagrado.

— E aquilo? — Hugo apontou para uma caixa longa e fina, que era carregada por dois soldados — Parece ser algo grande e pesado. Por um acaso é uma arma especial?

— É algo caro e que deu muito trabalho para conseguir… — Alice respondeu pondo o elmo — Então não me façam usar em um de vocês.



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