Volume 1

Capítulo 1: Meu Primeiro Amigo

Estava escuro. Muito escuro para enxergar. Onde eu estava? Independente do que tenha acontecido, isso importa? Alguém estava me chamando de grande sábio do solteirismo ou algo assim, e então...

Foi o suficiente para ativar a minha mente mais uma vez. 

Sou Satoru Mikami. Apenas mais um cara de 37 anos. Enquanto empurrava o meu colega de trabalho para salvá-lo, algum maníaco aleatório me apunhalou.

Ótimo, me lembrei de tudo aqui. Significa que vou ficar bem. Não há necessidade de entrar em pânico. De qualquer forma, não sou assim. Fui conhecido por ter uma mente calma. A última vez que entrei em pânico foi quando urinei nas minhas calças no primário.

Tentei olhar ao meu redor. Então notei… Não consigo abrir os meus olhos. "Que estranho", tentei esfregá-los, mas meus braços não responderam. Além disso... "Onde está minha cabeça?"

Isso estava ficando confuso. Tipo, calma aí. Preciso de tempo para lidar com isso. 

Sempre que começo a perder a cabeça, acho melhor sentar e começar a contar os números primos até me acalmar. Vamos tentar. "Um, dois, três..."

"Pera, um não é número primo, ou é?"

Ugh… Agora não é hora pra ficar pensando em coisas estúpidas. O que está acontecendo?! Será que preciso fazer algo para sair desse limbo?

Em pânico, chequei se eu estava ferido em algum lugar. Não pareço estar. Fisicamente, me sinto ótimo. Não estando quente nem frio, não poderia estar melhor. Isso, ao menos, era um alívio.

Agora, minhas mãos e pernas... É. Para a minha tristeza, nenhuma resposta. O que há com essa situação? Ser apunhalado nas costas não forçaria os médicos a amputar todos os meus membros, né? Eu gostaria de tê-los de volta.

E tem aquela coisa de “não consigo abrir meus olhos”. Eu estou em um mundo de escuridão, onde nada podia ser visto. Como nunca antes, a ansiedade começou a preencher minha mente.

"Eu estou… em coma ou algo assim?"

Estou consciente, talvez desconectado do meu sistema nervoso central?

Ah cara, tudo menos isso! Digo, pense nisso. Se você jogar alguém em um espaço escuro e fechado, não levaria muito tempo para ele enlouquecer. E é exatamente onde eu estou… Pelo visto, nem morrer em paz posso mais. Se a insanidade era a única coisa que me aguardava aqui, seria o suficiente para acabar com qualquer um.

Em seguida, senti algo encostar em mim. "Hm? O que é isso?" Foquei todos os meus sentidos nessa sensação desconhecida. Senti ao lado do que poderia ser o meu estômago, algo parecido com grama. Concentrando-me nas sensações, lentamente consegui descobrir o que estava ao meu redor. Eu pude sentir as pontas das folhas encostando contra o meu corpo.

Isso me animou, sério. Eu estava na escuridão momentos atrás, mas agora, pelo menos, tenho meu tato novamente. Isso me deixou tão feliz que fui direto para a grama e...

Squerch.

Pude sentir o meu corpo deslizando contra o chão. "Eu... me movi?!"

Isso, no fim, era uma clara evidência de que eu não estava em nenhum tipo de cama de hospital. O que havia abaixo do meu estômago? Dava a sensação de que era uma rocha dura e irregular. Hmm. Isso ainda não fazia muito sentido para mim, mas parecia que eu estava em algum lugar na natureza.

Apesar de não ter certeza onde estava minha cabeça, atravessei o gramado, mantendo meus sentidos aguçados contra o que eu tocava. Não havia cheiro algum; Portanto, não estava certo se eu tinha esse sentido ou não.

Mas sério, não tenho ideia de qual é o meu formato. Me sinto... mole. Como uma geleia. Similar a um certo monstro fictício que eu conhecia bem. Na verdade, essa ideia tem passado pela minha cabeça há um tempo.

...Nah. Qual é. Isso seria idiotice. Decidindo deixar a ansiedade de lado por um tempo, resolvi testar o último dos meus cinco sentidos humanos. Não que eu soubesse onde estava minha boca. Então… e agora?

Então, do nada, uma voz soou na minha mente.

 

[Utilizar a Habilidade Única “Predador”?]

Sim 

Não

 

"Hã? Q-quê? Habilidade Única 'Predador'? "

E o que há com essa voz? Antes, pensei ter escutado algo estranho enquanto conversava com Tamura. Será que não era apenas minha imaginação? Havia mesmo alguém lá? Isso está muito estranho. Não que eu ache que tenha alguém aqui, mas parece mais... como se houvesse palavras flutuando na minha mente. Palavras desprovidas de ego, como uma voz gerada por computador.

Por agora, vamos com o “Não”.

Esperei por um tempo, porém, não veio nenhuma voz. Pelo visto não vai ter uma segunda pergunta. Será que fiz a escolha errada? Talvez esse seja o tipo de jogo que, caso a pessoa não comece respondendo com “sim”, ela ficará presa. Eu estava assumindo que a pergunta se repetiria para sempre, até dizer sim, como em qualquer RPG normal. Acho que estava errado.

Meio rude, o dono dessa voz. Aparecendo, fazendo uma pergunta simples, depois desaparecendo para sempre. Foi bom ouvir alguém para variar, mas tipo... que porra foi essa?

Enfim, vou deixar isso pra lá e continuar o que estava fazendo mais cedo, testando meu paladar. 

Me movi em direção da grama que senti antes. Quando entrou em contato comigo, inclinei-me para frente, sentindo todo o meu peso na área. Era, definitivamente, grama de alguma espécie.

Uma vez que eu tinha certeza disso, percebi que do nada as plantas da área onde estava — as que estavam em contato comigo — começaram a derreter. A princípio pensei que era eu quem estava derretendo, mas pelo visto, era apenas a grama. E com isso, pude deduzir que, os componentes de vida vegetal debaixo de mim, estavam sendo tomados pelo o meu corpo.

Então, era assim que funcionava? Em vez de ter uma boca para comer, eu absorvo matéria com todo o meu corpo? Isso com certeza não teria gosto algum.

A partir disso, houve algumas conclusões que eu poderia fazer de maneira sensata:

Primeiro, já não sou mais humano. Isso foi definido por enquanto. Então, de fato morri com uma facada? Não parece muito uma questão aberta neste ponto. Isso explicaria o porquê de eu estar em uma área rochosa com grama, em vez de um quarto de hospital.

O que aconteceu com o Tamura e a Sawatari? Será que ele fritou o meu HD, como prometido? Eu estava cheio de perguntas… mas havia o receio de que, a essa altura, nenhuma delas importava mais. Tenho que pensar sobre o que vem a seguir.

"Então... é isso? Eu sou mesmo um... Aquilo... Com esse tipo de resposta tátil que estou recebendo no momento... não tem outra resposta..."

Treinei meus sentidos de volta ao meu corpo. Os sentidos respondiam com meu movimento rítmico.

Boing. Sproing.

Lentamente, na completa escuridão, tomei o tempo necessário para confirmar os contornos exatos da minha forma.

... Céus! Eu costumava ser tão bonito e atraente, e agora, estou tão… fluído! Tão aerodinâmico!

… É, tá bom! Você acha mesmo que eu aceitaria isso assim?!

Até onde pude sentir, não tinha mais dúvidas sobre isso. Eu conseguia até me ver mentalmente.

Quero dizer... O que mais eu poderia ser? Não é como se eu tivesse preconceito, afinal, era meio fofo.

Mas, será que só eu acho isso? Se você fizer uma pesquisa, imagino que nove entre dez pessoas teriam a mesma resposta: Não.

Eu só posso aceitar. Aceitar o fato de que minha “alma”, ou o que quiser chamar, renasceu dentro de um monstro de outro mundo. Para mim, as chances disso acontecer pareciam astronomicamente pequenas.

Mas né, eu renasci. Como um Slime.

 

 

Munch, munch.

Munch, munch, munch, munch, munch, munch.

Aqui estou eu, petiscando umas graminhas. 

O porquê disso? Bem, por que não?! 

Não tenho mais nada para fazer!

Fazia alguns dias desde que fui forçado a aceitar o fato de que agora, eu era um slime. Quantos dias? Não tenho certeza. É difícil de saber a passagem do tempo quando tudo o que você vê é escuridão.

Uma descoberta que fiz durante o passar dos dias, é que o corpo de um slime pode ser mais útil do que parece. Eu nunca fico cansado ou com fome. Comer e dormir, pra mim, são desnecessários. Além disso, pude presumir outra coisa. Eu não tinha certeza, mas ninguém parecia viver nos arredores. Em termos de perigo, não tinha certeza se havia algum, afinal, meus dias foram alegremente livres de preocupação.

Até agora, não escutei mais aquela voz. A essa altura, eu não teria me importado com um pouco de companhia. Mas não. Era apenas eu, a grama, e eu me alimentando dela por falta do que fazer, apenas por ser uma forma de matar o tempo. E nesse ponto, eu podia sentir todo o processo… meu corpo absorvendo as folhas, decompondo-as internamente, classificando todos os componentes e armazenando-os.

O que tudo isso significava, não sabia dizer. Isso estava começando a me assustar um pouco. Eu precisava fazer alguma coisa ou perderia a cabeça. Então continuei o ciclo: absorver, decompor, armazenar. Porém, havia algo estranho no processo. Sequer caguei ainda. Nem mesmo uma vez. Talvez Slimes não precisem fazer isso. De qualquer maneira, não é como se eu precisasse saber disso por enquanto. Mas então, para onde todas essas coisas, que eu estava ingerindo, estavam indo? Meus sentidos me diziam que minha forma não mudou de maneira aparente desde que cheguei. 

Então, que porra acontece?

 

Certo. Tudo que foi absorvido, está sendo armazenado no estômago da Habilidade Única “Predador”. O atual espaço físico sendo utilizado é inferior a 1%.

 

Quê?! Uau! Alguém falou!

Por acaso estou usando alguma habilidade? Pensei ter respondido “Não” antes.

 

Certo. A Habilidade Única “Predador” não está sendo utilizada. A matéria que está sendo ingerida em seu corpo é ajustada para ser armazenada automaticamente em seu estômago. Isso pode ser alterado conforme necessário.

 

Oh? Bem, é bom ver que finalmente estamos tendo um diálogo. Mas voltando aos negócios, se eu usar essa habilidade, o que aconteceria?

 

Certo. A Habilidade Única “Predador” abrange os seguintes efeitos:

Predação: Introduz o alvo ao seu corpo. Menor chance de sucesso se o alvo possuir consciência. Pode ser direcionado a objetos orgânicos e inorgânicos, assim como habilidades e magias.

Análise: Analisa e pesquisa alvos introduzidos ao seu corpo. Permite criar itens artesanais. Se os materiais necessários estiverem presentes, permite que você faça uma cópia do item. A análise bem-sucedida do método criação permite que você aprenda as habilidades e as magias do alvo.

Estômago: Armazena o alvo predado. Também pode armazenar materiais criados por meio da “Análise”.

Mimetismo: Reproduz a forma e as habilidades dos alvos absorvidos. Disponível uma vez que o alvo for analisado.

Isolar: Armazena efeitos prejudiciais, que são incapazes de serem analisados, neutralizando-os e decompondo-os em força mágica.

 

"Uhm… Quê?"

E mais uma vez fiquei surpreso. Isso soava como uma capacidade incrível. Não é bem o tipo de coisa pelo qual os Slimes eram conhecidos. Pelo menos, não os que eu conhecia.

E... pera aí. Quem era essa voz respondendo às minhas perguntas? Tem alguém aqui?

 

Certo. Este é o efeito da Habilidade Única “Grande Sábio”. A habilidade entrou em vigor, tornando-a imediatamente disponível.

 

Um sábio, huh...? E eu pensando que a voz estava apenas me zoando. Agora, ela é a melhor parceira que já tive. "Espero que continue sendo."

Merda, qualquer coisa teria sido boa nesse momento. Contanto que ajudasse a suavizar a solidão interminável para a qual eu estava me preparando. Pelo que eu sabia, essa "voz" era algo que minha mente tinha criado para manter meus neurônios intactos. Tudo bem por mim. Pela primeira vez em tempos, pude sentir um fardo saindo do meu coração. 

 

 

Pelas minhas contas, fazem noventa dias que renasci como um slime.

Pra ser mais exato, 90 dias, 7 horas, 34 minutos e 52 segundos. Como tenho certeza disso? Acontece que esse é um dos muitos efeitos secundários da habilidade “Grande Sábio”.

Deus, como isso é conveniente. Defina seu melhor amigo em uma palavra. Qualquer pergunta que surgisse em minha mente, seria respondida na hora.

De acordo com o Sábio, levou noventa dias para a habilidade se fundir totalmente com minha alma. Normalmente, não seria capaz de fornecer respostas na forma de conversa, porém, para responder às minhas perguntas, aparentemente se reformulou, desviando parte de seus poderes da “Fala do Mundo” para me ajudar. Pelo menos, foi assim que me explicou.

Essa eficaz habilidade, transmitindo palavras para minha mente, normalmente não seria possível. Como me explicado, essa “Fala do Mundo” é escutada apenas quando há grandes alterações no mundo ou quando você adquire ou melhora uma habilidade... algo que não acontece com frequência. Essas habilidades só são obtidas quando o mundo reconhece sua evolução.

Entretanto, evolução é algo que a maior parte das pessoas não experienciam em suas vidas. Não entendo nada disso, mas estou disposto a aceitar.

No momento, o Grande Sábio estava respondendo minhas perguntas, porém, por outro lado, era algo totalmente passivo. Nenhuma real senciência ou coisa assim. A menos que eu falasse, nunca iniciaria uma conversa de forma voluntária, essa era sua única desvantagem. Mas, mesmo que fosse só da minha parte, conversar com alguém de novo, foi uma sensação maravilhosa.

Porém, se fosse na Terra, conversar com minha habilidade seria considerado estranho...

Então lá estava eu, ainda preso na escuridão, fazendo uma enxurrada de perguntas. Uma coisa que as respostas confirmaram foi que sim, eu sou um slime agora. Também descobri porque nunca fiquei com fome ou sono. Os slimes deste mundo não necessitam de comida enquanto continuarem absorvendo as partículas mágicas, ou “mágiculas”, do ar. Em regiões menos magicamente abundantes, eu seria obrigado a absorver monstros ou pequenas criaturas para me alimentar.

Exceto os que eram, aparentemente, muito fortes e cruéis, a maioria dos slimes evitava áreas com baixas presenças mágicas. Já que normalmente, era o contrário, locais com abundância de magia possuíam muitos monstros fortes.

Em outras palavras, a área em que resido, era tão carregada de magia, que nem precisei comer.

Sobre dormir:

 

Certo. O corpo de um slime consiste de uma massa de células completamente idênticas. Cada célula individual pode funcionar como uma célula cerebral, nervosa ou muscular. Como as células usadas para pensar, intercalam em tempos regulares, não há necessidade de você dormir.

 

Isso levantou a questão de onde minhas memórias estavam sendo mantidas. Talvez fosse como uma configuração de RAID¹ em um computador?

Isso foi perto o suficiente da resposta. Considerando sua falta de personalidade, o Sábio mostrou algumas respostas espertas.

Falando nisso, a habilidade “Grande Sábio” abrange os seguintes efeitos:

Aceleração de Pensamento: Aumenta a velocidade de percepção em mil vezes.

Análise e Avaliação: Analisa e avalia o alvo.

Operação Paralela: Opera qualquer assunto que você deseja analisar, separando-o do processo de pensamento regular.

Cancelamento de Cântico: Anula o período de criação necessário ao usar a magia, etc.

Tudo sobre a Criação: Fornece entendimento completo de todos os assuntos e fenômenos não suprimidos neste mundo.

“Espera, 'Tudo sobre a Criação'? Então eu sei sobre tudo e todos, sem nenhum esforço da minha parte? Ponto para mim!" Ou era o que eu pensava.

Acontece que eu só podia receber informações relacionadas a coisas que eu já tinha ouvido falar... em outras palavras, eu precisava identificar e entender um conceito antes de poder fazer uma análise completa dele.

E essa coisa de magia... isso significa que posso usar instantaneamente qualquer magia ao aprendê-la? E tipo, havia magia e coisas do tipo nesse mundo?!

O Grande Sábio respondeu com um grande Sim. Bem, uma vez que eu soube disso, tinha que tentar aprender algumas magias. Verifiquei com o Sábio para saber se isso poderia me ajudar a lançar magias, mas foi inútil. Eh, valeu a pena tentar.

Ainda assim, tive outra ótima ideia: Eu poderia vincular a função de Análise da habilidade “Predador” à Operação Paralela do “Grande Sábio”?

 

Certo. É possível vincular a função de Análise da habilidade “Predador” à Operação Paralela do “Grande Sábio”.

Você deseja vinculá-los?

Sim

Não

 

Hm, sim? Não que eu tenha alguma coisa para analisar ainda... Espera. Ou tenho? A grama no meu estômago. A coisa que eu estava comendo para passar o tempo. O que é isso? Não que tivesse mais alguma coisa para fazer. Vamos tentar.

Só vai, Sábio.

 

.........

......

Análise completa.

Ervas Hipokute: Um tipo de ingrediente usado em medicamentos com propriedades curativas². Fértil em áreas com alta densidade mágica. A fusão de seu suco com mágiculas produz remédios de recuperação. Moer as folhas e fundi-las com mágiculas produz uma pomada que cicatriza feridas.

 

Uau! Era isso que eu estava comendo? Um inesperado golpe de sorte. Imediatamente comecei a criar alguns remédios. O processo aconteceu dentro do meu corpo, então não foi tão legal, mas a análise levou menos de um segundo, e dentro de outros três, eu consegui minha primeira poção. Cinco minutos e eu poderia ter cem. Mesmo não tendo mais nada para comparar, ao usar a habilidade Grande Sábio para avaliá-las, resultou em uma classificação de "alta qualidade".

Pelo menos fiquei feliz o suficiente com isso. Isso tudo também ocorreu tão rápido. Perguntei ao Sábio sobre isso, e ele disse que o processo normalmente leva mais tempo do que isso. Suponho que vinculá-lo à Operação Paralela deve ter sido a ideia certa.

Para testar essa teoria, desvinculei-a por tempo suficiente para criar uma única poção. Demorou cinquenta minutos. Demorou demais, essa porra. Parece que tive a perspicácia de encontrar e juntar algumas habilidades mega-compatíveis. Não que eu soubesse o que estava fazendo.

Algumas ervas daninhas também estavam brotando aqui e ali, mas a maioria das gramas locais eram Hipokute. Então, com um pouco de insegurança, decidi usar “Predador” ao máximo em todas as ervas na área e transformar meu estômago em uma pequena fábrica de poção de recuperação. Que tal? Não tenho muito mais para fazer. Ainda estava escuro como breu aqui.

Então, baixei minha guarda. Não havia dúvidas sobre isso. Eu tinha um parceiro que me dava habilidades e a capacidade de me envolver em conversas (passivas), e deixei isso passar pela minha cabeça.

Suponho que isso tenha muito a ver com o fato de, por noventa dias seguidos, não ter encontrado nenhuma outra criatura. Sem qualquer perigo para minha vida. Mas de qualquer forma, eu tinha baixado a guarda.

Por um instante, fiquei tipo “Huh?”. Senti uma sensação súbita de ter ficado mais leve ou mais pesado ou, tipo... instável.

"Eu caí… na água?"

Nos últimos noventa dias, não senti uma gota de água atingir meu corpo. Eu achava que estava em uma caverna sem chuva ou em algum outro tipo de abrigo, então não tinha considerado essa possibilidade antes.

Eu provavelmente tinha escorregado em um rio ou algo assim. Rios não existem em interiores, então talvez fosse algum tipo de riacho subterrâneo nessa caverna...? Até agora, tomei cuidado com cada passo que dei, certificando-me de que tudo permanecesse firme na escuridão. Mas após aprender sobre minhas habilidades, de me envolver, e usar “Predador” para comer as gramas, parei de prestar atenção ao que estava debaixo de mim.

Eu sempre fui assim. Ficando arrogante, estragando tudo no final. Eu digo a um cliente: "Oh, absolutamente! Isso não será problema algum!” e depois era um inferno para cumprir. Aconteceu várias vezes. Ainda me lembro dos olhares rancorosos que o resto da minha equipe me dava por isso.

Pena que não pensei em parar a tempo. Que tipo de idiota corre por partes desconhecidas sem enxergar? Se eu sobreviver a isso, darei-me uma lição. Claro, dada a minha personalidade, duvido que aprenderei alguma coisa.

Foi engraçado como eu estava lidando calmamente com essa situação. Não que tivesse muito o que fazer. Caso tivesse braços ou pernas, eu até poderia me agitar horrorizado em pânico...

Então, acho que é o fim. Uma vida muito curta... talvez, até mesmo pelos padrões de um slime. Eu pensei minhas últimas orações, esperando minha inevitável falta de oxigênio.

.........

......

O sufocamento nunca veio. Por que não? Eu não caí na água? Talvez seja a hora de chamar o Sábio.

 

Certo. O corpo de um slime opera exclusivamente com mágiculas. Portanto, oxigênio é desnecessário e você está respirando. É por isso que você não está sufocando.

 

Ah... certo. Eu não estava prestando atenção, mas acho que não havia respiração, né? Faz sentido. Mesmo depois de noventa dias, ainda estou aprendendo algo novo!

Mas agora não era a hora de comemorar. Eu tinha caído na água, e mesmo que não morresse, isso ainda me colocava em uma espécie de limitação. E agora? Não sabia se estava flutuando ou afundando. Minha falta de membros impedia qualquer tentativa de nadar. Eu acabaria no fundo mais cedo ou mais tarde e seria capaz de me arrastar de volta à superfície? Ou estaria condenado a ficar preso, nunca chegando a lugar algum?

Embora a sensação não fosse como em uma corrente violenta e mais como se eu estivesse sendo embalado em um berço. Cuidadosamente embalado. Me senti muito bem mesmo...

Algo me diz que isso não era água corrente afinal. Talvez fosse um lago, não um rio. Eu não me sentia como se estivesse sendo levado para algum lugar. Estava apenas balançando para cima e para baixo, como uma sacola plástica, e não sentia como se tivesse chegado ao fundo. Se as coisas continuassem assim, estarei com problemas sérios.

E agora? Só então, minhas células cerebrais — ou meu corpo de slime, eu acho — inventaram um plano engenhoso. Talvez eu pudesse usar “Predador” em toda essa água e depois expeli-la como a propulsão de um jato d’água. Isso funcionaria? Só há uma maneira de descobrir. Não que eu pudesse fazer qualquer outra coisa.

Então, comecei a beber, enchendo o estômago do “Predador” até aproximadamente 10% da sua capacidade. Então, expeli como se estivesse apertando meu estômago.

A sensação de liberação foi emocionante. De repente, escutei uma voz em minha mente:

 

[Habilidade “Propulsão de Pressão de Água” adquirida.]

 

Foi a primeira vez que vi isso. Esta deveria ser a Fala do Mundo. Não havia como errar, já que o Sábio só falava quando eu falava, mas as duas vozes soavam exatamente iguais.

Não tive tempo para pensar sobre isso. Quanto mais pressão aplicava na água, maior era a pressão que sentia sobre mim mesmo, fui lançado para frente numa velocidade astronômica, como se fosse decolar para o céu. A aceleração foi intensa. Sério, talvez tenha sido uma coisa boa não conseguir ver. Em vez disso, apenas deliciei-me com a sensação do meu corpo zunindo pela escuridão.

Bem, deixe-me esclarecer. Se eu pudesse ver o que me cercava, tenho certeza de que teria me cagado... mas não ser capaz de enxergar era apenas aterrorizante.

Se você já esteve em uma montanha russa num parque de diversões na escuridão total, talvez você entenda o sentimento. Minha mente voltou à minha vida anterior e ao único dia que passei visitando um certo paraíso sob o domínio de um certo roedor. Pelo menos sua terra mágica dos sonhos oferecia meios de segurança.

A essa altura, queria dar-me um soco pela ideia que tive. E, experimentando logo após pensar nela? Qualé, cara! O que aconteceu com a verificação preliminar de segurança?

O terror estava começando a afetar minha linha de pensamento. Por quanto tempo eu continuaria acelerando? Quanta água cuspi, afinal?

Enquanto pensava nisso, senti meu corpo bater em algo e quicar para longe. Me preparei para uma onda de dor paralisante. Algo que nunca veio.

"Hã? Isso não deveria ter causado dano? Ou isso causou dano, e eu apenas não senti nada?"

 

Certo. Você adquiriu a habilidade “Anulação de Dor”, que interrompe a criação da dor. Sua “Resistência a Ataques Físicos” reduziu a quantidade de dano recebido. A quantidade de dano que seu corpo sofreu é de 10%. A Habilidade Natural de Slime, “Autorregeneração”, entrou em vigor.

[Você gostaria de dar suporte com sua habilidade Única “Predador”?]

Sim

Não

 

Então, só me machuquei um pouco? Faz sentido. Não tinha certeza se isso era bom ou não, mas contanto que eu soubesse que algo estava acontecendo, talvez não precisasse sentir dor. Isso tornaria certas coisas mais fáceis.

No entanto, suporte do “Predador”? Não entendi bem, mas "Sim". Naquele momento, recebi a sensação de que tinha perdido, de repente, um pouco da minha massa corporal. Depois de um tempo, senti-a voltar. Minhas partes danificadas foram predadas, analisadas e reparadas. Fale sobre um corpo útil de ter. Eu deveria testar mais tarde para ver quanto posso me dar ao luxo de apanhar antes de desmaiar. Era muito perigoso testar, mas acho que poderia me dar ao luxo de diminuir um pouco de cada vez, então...

Algo me disse que deveria ser um pouco mais cuidadoso. Tinha um estoque de poções de recuperação, que eu não precisava usar. E eu achava que perder um décimo do meu corpo seria um problema sério, mas agora sabia que poderia regenerá-lo em dez segundos. Da próxima vez que estiver danificado, tentarei usar essas poções.

Então, me pergunto, onde estou? Certificando-me de que meu corpo estava de volta ao normal, verifiquei o que estava ao meu redor. Não sei dizer que tipo de monstros perigosos podem estar por perto. Eu estava fora da água, mas talvez houvesse coisas assustadoras e escamosas esperando por mim do outro lado.

Lentamente, com cuidado, comecei a agir. Parecia que sempre que fazia alguma coisa “com cuidado”, isso significava que eu estava prestes a ser exposto a um monte de perigos. No entanto, tinha certeza que era apenas a minha mente me enganando.

E esse pensamento provavelmente não me favoreceu, porque…

— Você pode me ouvir, pequenino? — Escutei alguma coisa.

 

 

"Pequenino? Provavelmente não há ninguém além de mim, né?"

Não era exatamente uma voz, mas algo que eu poderia identificar mais diretamente e instintivamente em minha mente. Eu não tinha ouvidos para escutar de qualquer maneira.

— Olá! Você pode me ouvir, não pode? Me responda! 

Bem, não brinca! Mas como eu deveria responder sem uma boca? Como um experimento, tentei pensar “Cala a boca, careca!” em minha mente... não é como se esse cara pudesse ouvir ou algo assim. Mas como chegaria a algum lugar se não pudesse nem dar uma...

...Oh-ho! Você se atreve a me chamar de careca...? Tem bastante coragem em um corpo tão pequeno, não? Pretendia dar um pouco de gentileza ao meu primeiro convidado, mas parece que você está com pressa de morrer!

Fodeu? Ele poderia ter me avisado primeiro que funcionaria, além disso, não tinha ideia de com quem eu estava falando. Bem, já foi. Ruim para mim. Hora de um pedido de desculpas.

Sinto muito! Eu não sabia como responder, então tentei dizer a primeira coisa que me veio à mente! Sinto muito sobre isso! Não posso ver nada agora, então não tenho ideia de como você se parece!

Será que isso é o suficiente? Suponho que seja meio rude chamar esse cara de careca mesmo sem conseguir vê-lo. Se ele fosse, talvez tivesse tocado em uma ferida.

— Heh-heh-heh... Eh-ha-ha. Ahh-ha-ha-ha-ha-ha-ha!

A risada resultante veio em três níveis distintos. Uma obra-prima. Então, estamos de bem agora ou...?

— Que fascinante. Eu tinha assumido que você reagiu assim ao me ver, mas você não pode, né? A maioria dos slimes são monstros de baixo nível, incapazes de pensar enquanto passam pelo ciclo de absorção, divisão e regeneração. Na verdade, é raro aqueles que deixam seu habitat.

Do que ele está falando agora? Então ele está mais curioso do que zangado ou...? De qualquer forma, esse foi meu primeiro contato com outro ser inteligente. A primeira conversa na minha nova vida slimenta. Quero mantê-la amigável.

— Slime, você despertou minha curiosidade quando bateu em meu corpo. Os poderes regenerativos que acabou de mostrar me surpreenderam. Talvez você seja um monstro nomeado ou um único?

— Um o que? E o que? Pode repetir? Me desculpe, não entendo o que você quer dizer. Só tenho vivido aqui por noventa dias...

— Hmm. Suponho que, com sua senciência, você nunca esteve destinado a ser apenas um slime. Monstros nomeados são aqueles que receberam um nome exclusivo. Mas apenas noventa dias? Ridículo. Você é um único, então?

Significado de "Único"...? Um monstro único é um indivíduo que de repente adquiriu habilidades incomuns, semelhante à mutação. Eles ocasionalmente nascem em áreas com altas concentrações mágicas... Talvez você tenha nascido da massa de magia que vazou de mim?

Quê? Mas que diabos? Vamos tentar usar meu conhecimento do mundo anterior para entender isso. Esse cara (vou chamá-lo de “cara” por conveniência) estava vazando magia por toda a área local. Na verdade, era tão espesso que deu à luz um monstro. Um slime. Eu. Foi isso?

— Hmm. Nenhum monstro chegou perto de se aproximar do meu território nos últimos trezentos anos. Se você nasceu da minha força mágica, talvez isso tenha lhe dado o poder de me tocar e viver para contar a história!

— Ah... Então você é tipo, meu pai?

— Não, não seu pai por sangue. Eu nem consigo reproduzir. Alguns monstros podem e outros não.

— Sério? Pensei que isso vinha com o pacote por padrão. Mas se aparecem da magia ou algo assim, talvez não precise disso, hein?

— Suas habilidades intelectuais me surpreendem. De fato, são bem poucos os monstros que possuem algo do tipo. Entre todos os monstros, apenas os que nasceram da magia têm consciência da forma que você ou eu temos.

A conversa continuou por um tempo. Mas a coisa mais importante dela foi que aparentemente existiam humanos neste mundo também. Depois, havia não-humanos, espécies muito próximas da humanidade e igualmente dotadas de habilidades reprodutivas. Estes incluíam raças como elfos, hobbits, anões e outros tipos de fadas, e são geralmente aliados dos humanos.

Ao lado disso, existia raças como goblins, orcs, homens-lagarto e assim por diante, que eram hostis à humanidade e tratados como monstros como resultado. Essa animosidade não era inerente à biologia deles, no entanto, o cruzamento era inteiramente possível.

Em seguida, estavam as “pessoas nascidas da magia”... o termo genérico para aqueles que vieram a existir da magia, monstros que experimentaram uma mutação súbita e seres sencientes que evoluíram de animais ou bestas mágicas. Eles tinham inteligência e capacidade reprodutiva, mas apenas dentro de suas próprias subespécies. Em suas superiores castas sociais existiam titãs, vampiros, demônios e outras espécies de vida prolongada... todos igualmente capazes de ter filhos, embora raramente o fizessem, já que sua força mágica esmagadora os tornava quase imortais, evitando a necessidade de deixar descendentes.

Essas diversas espécies inteligentes e reprodutoras eram hostis à humanidade e coletivamente referidas como a “raça mágica”. E, ao ler nas entrelinhas, a impressão que tive foi de que os nascidos da magia não eram tão abertamente hostis em relação aos humanos quanto os seres humanos. Os humanos temiam e cobiçavam seus poderes. Ainda era verdade que ambos os lados estavam lutando por seus próprios territórios.

Esses vários monstros tinham sido classificados por níveis de perigo. Entre os altos escalões dos nascidos da magia haviam alguns poderosos... todos capazes de nivelar o solo de uma cidade humana, se quisessem. Não são os tipos de caras que você gostaria de passear por aí.

Então, meu novo companheiro continuou falando por um tempo... sobre como ele lutou contra um nascido da magia de elite no passado e assim por diante. Finalmente, o assunto voltou para mim.

— Como lhe disse, falta-me a capacidade de produzir descendentes. A razão é simples... Porque eu não preciso. Eu sou da raça dos dragões... um dos únicos quatro no mundo, mas o único e o mais perfeito da minha espécie. Você me conhecerá como Veldora, o Dragão da Tempestade! Meu tempo de vida é infinito, minha carne insondável! Enquanto minha vontade permanecer intacta, eu estarei sempre vivo! Ahhhhh-ha-ha-ha-ha-ha-ha-ha!!

Ele poderia ter pulado a risada. Saquei. Então ele não precisava ter filhos, porque ele iria viver para sempre, certo?

E enquanto esse cara levava um tempo para chegar ao ponto, mencionou algo que eu não queria ignorar.

Veldora era o Dragão… da Tempestade? Mesmo que ele gostasse de dar uma de “um gentil nascido da magia de elite” de vez em quando, ele seria... muito implacável, não?

Usando meu conhecimento da Terra, tentei imaginar Veldora, o Dragão da Tempestade, sentado à minha frente agora. Não gostei do que imaginei. Ele parecia estar sendo educado comigo, e isso tornava tudo mais assustador.

 E agora...?

— W-wow, realmente? Bem, obrigado por toda essa orientação útil, senhor! Acho melhor voltar ao meu caminho, então!

Eu tentei o meu melhor para fugir.

— Pare. Contei tudo sobre mim. Agora é a sua vez, não concorda?

Talvez eu não deveria ter esperado nenhum outro tratamento. Hmmmm. Ele queria saber de mim? Se eu lhe contasse sobre minha jornada milagrosa de um planeta alienígena, ele acreditaria? Ele parecia se maravilhar com o quão inteligente eu era para um slime... se eu tentasse inventar algo, duvido que ele cairia na mentira. Essa tentativa parecia uma boa maneira de cavar minha própria sepultura.

Invocando a minha determinação, contei a Veldora tudo o que havia acontecido comigo até agora.

.........

......

— Então... é isso. Aqui estou eu! Tem sido muito difícil, sabe? — Enquanto prudentemente mantinha o tópico de minhas habilidades inexploradas, contei ao dragão minha história de ser esfaqueado, acordando como um slime, e tudo mais que aconteceu no caminho para o seu domínio.

Foi um pouco estranho como... soou não-estranho quando eu coloquei tudo em palavras. Mas foi duro para mim, mesmo assim. E a pior parte foi como eu estava, literalmente, operando cegamente todo o caminho. Se alguma moça bonita passar por mim na estrada mais tarde, eu nunca a veria? O pensamento me entristeceu um pouco.

— Hmm. Um transmigrante, então? Suas origens são bem raras, de fato.

— Hã? Quem são eles? E esse papo de... "transmigrante"? Isso não é uma grande surpresa para você? O que há com essa reação? Então esses “transmigrantes” são tão comuns que ele existe um nome para eles? O que era tão raro sobre isso, então?

— Hmph. É possível ver transmigrantes, de vez em quando. Suas memórias do passado são queimadas em suas almas, devido a uma vontade poderosa. Há alguns, de fato, que retêm todas as lembranças de suas vidas passadas. Mas um transmigrante de outro mundo... Isso é bastante incomum. Uma alma regular, por si só, não teria esperança de sobreviver a uma jornada através dos reinos. Ela iria se dissolver no meio do caminho, levando as memórias junto. Alguém retendo sua mente plena e renascendo como um monstro de pura magia... Não consigo me lembrar de nenhum exemplo passado disso. Muito... peculiar, de fato.

Os transmigrantes de outros mundos, ao que parece, mantinham apenas parte de suas memórias, na melhor das hipóteses. Alguém como eu, que ainda tinha todas elas, era bastante inédito... não que eu me importasse muito.

Ele tinha acabado de me dizer algo que eu não podia ignorar. Uma alma "por si só"...? Então você poderia viajar para este mundo sem reencarnar ou algo assim?

— Huh. Eu sou tão incomum? Porque com certeza não me sinto assim... Há pessoas, então, que vêm aqui de outros mundos sem serem trans-alguma coisa?

— Tem. Ninguém conseguiu viajar para outro mundo a partir daqui, mas há mais do que alguns, que completaram suas jornadas aqui, de outros lugares. Eles são conhecidos como “visitantes” ou “forasteiros” e possuem conhecimento de coisas que não existem neste mundo. Eles adquirem, como eu escutei, algum tipo de poder especial ao chegarem aqui. Além disso, há registros de transmigrantes que, como eu disse, possuem conhecimento de outros mundos. Nem todos eles optam por se identificar abertamente como tal, imagino.

Interessante. Eu não sabia se eles vieram do mesmo planeta, mas pode ser bom conversar um pouco com eles. Pode até haver alguns do Japão, pelo que entendi. Além disso, deve ser melhor para minha sanidade ter um objetivo enquanto eu estou aqui.

— Agora entendi, agora saquei! Nesse caso, acho que vou tentar buscar alguns desses "forasteiros", como você os chamou. Talvez eu encontre alguém da minha própria terra!

— Bem, um momento. Você disse que não pode ver, né?

— Ah sim. É uma pedra no meu sapato, mas se eu me distrair e evitar me matar, tenho certeza que irei encontrar alguns visitantes. Talvez.

— Deixe-me ajudá-lo a ver, então.

— Uhm, quê?

Droga. Esse cara... Quero dizer, Veldora, o Dragão da Tempestade... Ele estava me ajudando muito, não é? Eu poderia realmente confiar nele?

— Uhm, sério?

— Lógico. No entanto, com uma condição. O que me diz?

Eu não gostei de como soou, mas... caguei.

— Que tipo de condição?

— Uma simples. Quando te conceder a capacidade de enxergar, peço-te que não me tema. Isso e peço que venha me visitar, para que possamos conversar novamente. Isso é tudo. Acredito que meus termos são agradáveis, não?

Isso é tudo? Ele tem certeza? Que dragão solitário. Acho que não havia mais ninguém por perto no topo. Não é de admirar que ele não pudesse parar de falar comigo... devo ter sido seu primeiro parceiro de conversa em eras.

Se eu pudesse escolher, teria dito que este dragão era bem ingênuo. Ele pode estar me enganando o tempo todo, até mesmo, dizendo que ele era um dragão. Talvez os dragões neste mundo não fossem tão poderosos assim em primeiro lugar.

— Heh. É um bom negócio. Isso é realmente tudo que você quer?

— Sim. Para ser honesto com você, fui trancado aqui trezentos anos atrás. Desde então, tive tanto tempo livre em minhas mãos, que eu estava quase enlouquecendo com o tédio. O que você acha?

— Bem, se isso é tudo que você precisa, você conseguiu um acordo!

— Boa. É uma promessa, então... e eu confio que você vai cumprir a sua parte no trato.

— Claro! Talvez eu não pareça, mas você pode contar comigo! Basta perguntar a qualquer um na Terra! Eles vão atestar por mim!

Espero que ele não tente. Isso seria ruim.

— Muito bem. Existe uma habilidade conhecida como Percepção de Magia. Você pode usá-la?

Oh, aqui vamos nós de novo. Mais dificuldades. Tão injusto.

— Não, não posso. Que tipo de habilidade é essa?

— Ela permite que você perceba as partículas de magia flutuando ao seu redor. Não é uma habilidade muito poderosa, tudo o que ela oferece é uma referência visual, por isso não é difícil de adquirir.

— Oh... parece bem fácil.

— De fato. Posso manejar isso tão facilmente quanto posso respirar. Mal me incomodo em pensar sobre isso.

— Mesmo? Então, quando eu conseguir ela, poderei ver de novo?

— Precisamente. Este mundo é coberto de pura magia, embora não seja espalhada uniformemente por toda a sua superfície. Você sabia, também, que luz e som têm as propriedades de uma onda?

— Sim, eu ouvi sobre isso. Ondas de luz e ondas sonoras.

— Ah. Quão inteligente você é. Você aprendeu sobre isso em seu mundo anterior? Deve ter sido, eu aposto. Mas, de fato, você será capaz de observar como essas ondas perturbam as partículas de magia próximas, então use essa informação para calcular como a área ao seu redor parece e soa. Simples, não?

— Hum? Na verdade, não? Que tipo de Ciência Britânica é essa? Não tenho certeza se isso parece simples ou não na verdade...

— Não? Mas é isso que permite continuar lutando mesmo após perder tanto a visão quanto a audição! Protege você de ataques surpresa, isso é tudo, mas é uma exigência para sobrevivência aqui, não é?

— S-sim, mas... podemos pular toda aquela conversa de luta e apenas me fazer enxergar de novo?

Mmm... Muito bem. Permita-me ajudá-lo a adquirir essa habilidade. Este é o único método que conheço.

— E-espera, você pode fazer isso? Eu sou um recém-nascido…

— Não se preocupe. Você tem as memórias da sua vida passada, né? E lá você ganhou conhecimento sobre a natureza da luz e do som. Sem isso, aposto que nem mesmo eu poderia ajudá-lo... A sorte está mesmo do seu lado.

Verdade. Suponho que seria difícil explicar a visão para alguém que não pode ver nada. Eu certamente não conseguiria. Li em algum lugar que Helen Keller aprendeu a falar apenas seguindo pistas que aprendeu antes de ficar surda aos dois anos de idade. Talvez eu pudesse usar meu conhecimento da Terra para aproveitar essa coisa de "Percepção de Magia", para descobrir como é o mundo ao meu redor...

Vale a tentativa, imaginei. Essa cegueira estava se tornando um incômodo enorme. Além disso, eu tinha o Sábio ao meu lado. Isso poderia ajudar.

— Estou pronto para aprender, senhor! 

— Tá, tá, não há necessidade de tanto entusiasmo. É bem simples. Primeiro, tente mover a magia ao seu redor com a força do seu corpo.

Eu tinha uma noção do que ele queria dizer. Talvez fosse a habilidade que adaptei para me tirar da água há pouco.

Tipo isso? Fiquei tenso, tentando imaginar a força circulando pelo meu corpo. Eu podia sentir algo se movendo por dentro... as mágiculas que meu companheiro estava falando. Eu não tinha consciência disso na água, mas parecia que poderia ajustar a força que eu estava expelindo. Antes, não controlava a água, assim como controlava a magia dançando nela. Estava exercitando meus músculos mágicos e as partículas ao meu redor estavam reagindo. Isso chegou a mim surpreendentemente rápido.

— Mmm. Você é mais talentoso nisso do que pensava. Agora, você vê a diferença entre a magia se movendo dentro de você e a fora do seu corpo?

Uau. Talvez isso fosse bem fácil. Talvez estivesse mais sensível à magia agora que absorvi e fiquei consciente da maneira como eu vivia.

— Bem, claro! Tipo, essa é a coisa que tenho comido o tempo todo, certo?

— Heh-heh-heh! Se você entende esse tanto, o resto é brincadeira de criança. Só é preciso sentir os movimentos das partículas fora de você.

Sim, isso não consegui. Mas tentei, fazendo o que me foi dito e sentindo as partículas que me cercavam. E achei que podia.

Eu podia senti-los pairando no ar, cavalgando as correntes de ar, movendo-se ao redor... todos os tipos de sensações. Vamos perguntar ao Sábio sobre isso.

 

Confirmado. Habilidade Extra “Percepção de Magia” ... adquirida com sucesso.

Usar a habilidade Extra “Percepção de Magia”?

Sim

Não

 

Hã? Foi assim tão fácil? Bem, claro... “Sim”, então... Cara, fale sobre um auxílio no qual eu posso confiar! No momento em que usei “Percepção de Magia”, meu cérebro foi preenchido com novas informações. Uma quantidade enorme, algo que meu cérebro humano nunca conseguiria processar... as ondas de luz e som empurrando cada pequena partícula ao meu redor... e eu processei tudo, convertendo-a em dados perceptíveis.

A coisa sobre a visão humana é que ela não oferece nem uma visão de 180 graus do que está à sua frente. Agora, de repente, eu consegui “ver” 360 graus ao meu redor. As sombras das rochas ao meu redor, vistas a centenas de metros de distância... no momento em que eu voltava minha atenção para isso, conseguia descobrir o que era. Se eu ainda fosse humano, todos esses dados de percepção provavelmente teriam fritado meus circuitos cerebrais. Mas como um slime. Minhas células poderiam fornecer músculos tão facilmente quanto o poder do cérebro.

Então, de alguma forma, resisti à torrente de informações. Então…

 

Sincronizando habilidade Extra “Percepção de Magia” com a Habilidade Única “Grande Sábio” ... Sucesso. Agora, todas as informações serão gerenciadas pelo “Grande Sábio”.

 

De repente, minha visão se abriu. A sensação de queimar o cérebro de antes, se foi, me permitindo enxergar perfeitamente, algo que não era capaz de fazer antes. Algo me dizia que ter o Sábio ao meu lado era quase uma trapaça. Não estaria indo longe demais ao colocar dessa maneira. Se alguém além de mim o tivesse, talvez eu diria que era contra as regras. Desde que fui eu quem recebeu isto... Sem problemas.

— Oh, eu acho que consegui. Muito obrigado! — Eu disse, voltando minha atenção para a criatura na minha frente.

Puta merda. Ele realmente era um dragão. Ele estava coberto de escamas que brilhavam em um tom escuro de preto, mais resistente do que o próprio aço, mas maleável e flexível. Um grande e maligno...

— Gahh! Você é um dragão!!

Ele parecia positivamente demoníaco, muito mais alto do que eu esperava. Meu grito interno brotou de mim, e não acho que poderia realmente ser culpado por isso.

 

 

Que surpresa. Eu me sinto mal por pensar que esse cara era do tamanho de um animal de estimação. Isso era... de verdade. Absolutamente sem dúvida.

O corpo, surpreendentemente semelhante a um dragão de estilo ocidental, brilhava como uma obsidiana. Havia seis dedos em cada “mão”, equipados com garras que pareciam prestes a rasgar o que quer que encontrassem. Os dois pares de asas nas costas... um maior que o outro... chegaram a um ponto em suas respectivas extremidades, como espadas, afiadas até a perfeição e prontas para cortar em pedaços.

Após uma observação mais atenta, as escamas sinistras que cobriam todo o seu corpo, irradiavam uma luz púrpura escura... uma mistura, talvez, de sua cor natural e da força sobrenatural que atravessava a superfície. Havia algo estranhamente belo em sua vasta forma, imagem de uma dignidade majestosa. Comecei a me arrepender de ser tão rude quando não consegui entender tudo, mas era tudo água debaixo da ponte.

A propósito, eu de fato era oval. Como um pão de queijo. Um tom de... turquesa claro, talvez? Mais claro que o céu azul, mas não muito. Uma cor bastante elegante, pensei. Que vergonha de toda a coisa de ser um slime.

Você se lembra da sua promessa, né? E considerando suas queixas anteriores, você aprendeu bem rápido, não?

Ah, claro! Só estava zoando um pouco. Posso ver muito bem, e mais, posso ouvir também. Realmente agradeço por isso!

Hmph. Não precisa ter se apressado…

Então ele estava bem depois de tudo. Um pouco assustador, mas ele foi muito gentil comigo, sem um bom motivo. Ele realmente estava solitário, imaginei. É lamentável que ele pareça desse jeito. Mais ou menos como aquela pequena história sobre o pobre demônio vermelho que queria fazer amizade com os humanos³.

Então, o que você pretende fazer a seguir?

Bem, para começar, acho que eu poderia muito bem procurar por alguns outros habitantes do meu país de origem. Não que eu me importe muito se eu não conseguir, mas... você sabe.

Encontrar alguns seria melhor, mas não é como se tivéssemos certeza de que nos tornaríamos amigos. Além disso, com a minha nova visão, explorar o mundo poderia fazer maravilhas para mim. Colher a luz e o som ao meu redor tinha expandido meu mundo mil vezes. Agora, finalmente, eu poderia dizer adeus aos meus dias de ruminação na minha pequena caverna ou qualquer outra coisa.

Aquele dragão, no entanto, quanto mais eu olhava, mais sinistro e assustador ele parecia. E ainda assim, ele não se moveu nem uma polegada. Ele mencionou um selo de trezentos anos, certo?

A propósito, Veldora, você disse algo sobre ser... selado?

Mm? Ah. Sim, talvez eu tenha subestimado um pouco o meu oponente. No fim comecei a lutar com, digamos, mais urgência, mas... bem, já era um pouco tarde demais!

O dragão parecia quase orgulhoso de sua performance perdida. Magia era uma coisa, mas eu duvidava que houvesse uma espada ou lança nesse ou em qualquer outro mundo que pudesse arranhá-lo. Não era como se eu soubesse muito desse mundo ainda... talvez ele estivesse se rastejando com monstros horripilantes ainda mais poderosos que ele, ou algo assim?

Seu oponente era tão resistente assim?

Ela era... muito forte. Ela era o que os humanos chamam de "herói", um abençoado com a chamada proteção divina.

Um herói? Meus dias na frente de videogames me tornaram bem familiarizado com esse termo. No entanto, simplesmente fazer coisas de heróis não fazia com que você tivesse um corpo que matasse um dragão. Além disso, muitos jogos recentes transformaram seus chamados "heróis" em paródias deles mesmos. Talvez as coisas ainda fossem um pouco mais tradicionais por aqui.

Agora que me lembro, Veldora continuou o herói também disse que ela foi "convocada". Talvez ela venha da mesma área que você.

Oh? Eu não sei... De onde eu venho, ninguém é tão forte assim, sabe?

Talvez, mas muitos “forasteiros” vêm aqui com poderes especiais. Poderes que são esculpidos em suas almas no meio de sua jornada. O convocado sempre terá uma dessas habilidades... uma habilidade única, uma exclusiva para eles e só para eles. Ao contrário dos “forasteiros” que vêm aqui por puro acidente, essas pessoas têm uma alma forte o suficiente para suportar o estresse do processo de invocação. O fato de que o dito processo de invocação raramente é bem-sucedido neste mundo, de certa maneira, prova isso.

Quando você diz "processo de convocação", você quer dizer... magia ou coisas assim? 

Precisamente. Um processo que exige pelo menos trinta magos realizando uma cerimônia que ocorre durante três dias. Ela raramente é bem-sucedida, mas é vista como uma arma poderosa para se ter em um arsenal, caso surja a necessidade.

Uma arma?

Mm. Aqueles convocados dessa maneira estão vinculados por uma maldição mágica sobre sua alma, incapazes de resistir às ordens de seus senhores.

Whoa, realmente? Nenhum direito humano ou qualquer coisa?

Direitos humanos? Que direitos alguém possivelmente esperaria aqui, de todos os mundos? Não entretenha tais fantasias neste reino, pequenino. A única lei que reina aqui é a sobrevivência do mais apto. Poder, como dizem, faz a razão.

Bem, huh. Se você foi convocado para este mundo, não adianta esperar que seus antigos valores sejam aplicados aqui, imagino. É um pouco difícil aceitar isso.

Então você está dizendo que os “forasteiros” são tratados como escravos aqui?

Não. Isso depende. Não há um “Selo de Dominação” aplicado a eles. Se a sociedade os aceita, eles são livres para viver suas vidas como bem entenderem. Eles podem se tornar aventureiros ou afins. Muitos aventureiros “forasteiros” procuraram a minha cabeça... Eles aprendem o erro rapidamente! Hyaaa-ha-ha-ha-ha!!

Então você só é forçado a servidão se você foi convocado, huh...?

Não "servidão", exatamente, mas suponho que sim. Gosto de acreditar que sei muito sobre os humanos, mas “muita coisa” não é tudo.

Não... Você é um dragão, além disso. De qualquer maneira, ele sabia quase demais, sendo um dragão. Pelo menos conversar me colocou do lado bom dele... o suficiente para que ele respondesse todas as minhas perguntas. Então continuamos conversando... Veldora e eu, dragão e slime, sobre todo tipo de coisa.

— Como foi a luta com esse herói? Quão forte ela era? — perguntei. — Sua pele era de cor pálida; — o dragão me disse. — Seus lábios eram vermelhos e pequenos. Seu cabelo comprido era um tom escuro de prata, preso em um único rabo de cavalo. Ela era magra, não tão alta, pequena para um humano.

Seu rosto estava aparentemente coberto por uma máscara, mas não havia como duvidar de sua beleza. Perguntei-lhe se essa beleza era suficiente para distraí-lo, se ele estava muito convencido para se defender adequadamente. — Chega de sua bobagem! — Ele gritou de volta para mim.

Aparentemente, ela carregava uma longa espada curva. Era chamada de "katana”. Ela não se incomodou com um escudo. Aproveitando-se de duas habilidades únicas... “Separação Absoluta” e “Aprisionamento Ilimitado”... e uma riqueza de outras magias, ela, como Veldora disse, o “dominou". Havia mais do que um traço de contentamento nostálgico em sua voz, ou assim pareceu-me.

Algo que notei enquanto conversava com esse dragão foi que... Acho que ele realmente gostava de humanos. Ele continuou chamando-os de "fracos" e "lixo" e tal, mas do jeito que ele colocou, ele nunca deliberadamente matou alguém que o atacou. Não a menos que eles saíssem do seu caminho para irritá-lo. Uma vez, há três séculos... apenas uma vez, ele enfatizou... uma certa cadeia de eventos fez com que ele reduzisse uma cidade inteira a brasas. Foi isso que fez com que as pessoas enviassem um herói à sua maneira e agora... graças ao "Aprisionamento Ilimitado” do herói... ele estava nessa situação atual.

Eu tinha problemas o suficiente para descobrir meus próprios sentimentos sobre muitas coisas. De outras pessoas, eu só podia imaginar. Mas estava começando a ter a impressão de que, bem, talvez ele não fosse um dragão tão ruim assim. Quero dizer, gostei dele. E ele não era nem de perto tão assustador quanto antes.

— Tudo bem! Bem, um... O que você acha? Amigos então? Era meio que... não, é bem embaraçoso colocar isso assim. Eu estaria corando, se pudesse.

— O que? Um mero slime, ousando buscar a amizade da poderosa besta temida em todo o mundo como Veldora, o Dragão da Tempestade?!

— Oh, você não precisa, se não quiser, mas…

— Seu tolo! Seu tolo idiota!! Quem disse alguma coisa sobre não querer?!

— Oh, não? Ok, então, hum... e agora?

— Mmm, de fato... Se você insiste... acho que eu poderia considerar…

Podia sentir ele dando olhares furtivos para mim. Teria sido uma coisa se tivesse sido uma linda garota sentada ao meu lado no cinema, mas era outra completamente diferente quando se tratava de uma fera mítica mortal. Sem graça. Mas cômico.

— Sim. Eu insisto.

— Está decidido! E se você mudar de ideia, cuidado, pois eu não irei mudar de ideia! Não!... Ah, que assim seja. Eu me tornarei seu... amigo. Espero que você aprecie o gesto!

Heh. Me pergunto se eu poderia manipular os outros três dragões, que ele mencionou, assim. Fui feito para explorar as pessoas e ele foi feito para ser explorado. Um par perfeito.

— Bem, para tempos futuros, então!

— Sim, para tempos futuros! Também, permita-me que eu lhe dê um nome. Em troca, você dará um para ambos.

— Hã? Por quê? De onde veio isso?

— Ele esculpirá em nossas almas o fato de que somos do mesmo nível. Algo semelhante aos nomes de família que os humanos usam... exceto que meu nome, para você, também fornecerá uma espécie de bênção divina. Você atualmente ainda está sem nome, mas com isso, você se tornará um monstro de nome completo.

Hmmm.

Então ele queria que eu inventasse um nome comum para compartilharmos? E em troca, teria meu próprio nome e todos os benefícios do status de monstro nomeado? Melhor pensar em algo bom. Mas sou péssimo nessas coisas...

— Bem, você disse que era um dragão da tempestade, então... Eu não sei, "Tempest" ou algo assim? Ugh. Bem na mosca, eu sei, mas soou legal para mim, então...

— Perfeito! Que assim seja! Um timbre maravilhoso para esse título, sim.

Ele gostou?!

— Deste dia em diante, eles vão me chamar de Veldora Tempest! E você... Você será chamado Rimuru. Proclame ao mundo que seu nome é Rimuru Tempest!

Assim o nome foi esculpido em minha alma. Não que isso tenha feito muito para mim. Ou minhas habilidades. Mas em algum lugar, no fundo da minha alma, algo mudou um pouco. Suponho que o mesmo poderia ser dito de Veldora. E foi assim que nos tornamos amigos.

Bem, era hora de ir, supus. Mas antes disso: — Ei, tinha algo que queria perguntar antes de sair, mas... você não pode fazer nada sobre esse selo em você?

— Não com meus poderes. Alguém com uma Habilidade Única no mesmo nível do herói seria necessário para que houvesse uma chance.

— Você não tem nenhuma, Veldora?

— Ter até tenho, mas agora que estou selado, não consigo acessar nenhuma delas. Telepatia é tudo o que posso usar no momento.

O “Aprisionamento Ilimitado” do herói pode manter seu alvo preso em um número infinito de espaços imaginários para sempre. Não era uma barreira fraca que permitiria uma interferência casual no mundo real. Olhando para trás, deveria ter me parecido estranho que a Telepatia fosse possível. Não era o tipo de coisa que iria quebrar ao longo do tempo..., mas dado que ele poderia ter qualquer contato com o mundo real, e até mesmo trocar mensagens, talvez isso diria mais sobre Veldora. No entanto, ambos não notaram isso na época.

Bem, aqui, deixa eu tentar algo... Rolei para Veldora e bati meu corpo contra ele.

 

Invocando Habilidade Única “Predador” para consumir a Habilidade Única “Aprisionamento Ilimitado”... Falhou.

 

Imaginei isso, mas não, eu certamente não era do calibre do herói. Com uma luz estonteante, minha habilidade única tentou fazer seu trabalho, mas fracamente ricocheteou sem mais comentários. Pensei que poderia ter feito um pequeno rasgo, mas isso foi tudo. A barreira se repararia em breve, sem dúvida. Eu estava esperando que uma habilidade única contra uma habilidade única resultasse em algo, mas não.

Havia algo que eu pudesse fazer? Alguma coisa...

 

Certo. Análise parcial de Habilidade Única “Aprisionamento Ilimitado” completa. Relatando uma possível rota de fuga.

Qualquer fuga envolvendo um corpo físico não é possível. A chance de destruir a prisão danificando-a fisicamente é zero. Não é possível analisar uma rota de fuga envolvendo a anulação do espaço imaginário. Alguém precisaria ser pego dentro da mesma situação de “Aprisionamento Ilimitado” para analisá-la de dentro. Isto é atualmente impossível.

A chance de escapar em forma espiritual é de um por cento.

Se um receptáculo espiritual estiver preparado para o alvo do lado de fora para ajudar na transição, a taxa de sucesso é de três por cento. Este processo é equivalente a transmigração. Se o alvo for pouco compatível com o receptáculo, ele perderá todas as memórias e habilidades.

Isto conclui o relatório sobre possíveis rotas de fuga.

 

Hmm. São números baixos. O “Aprisionamento Ilimitado” parecia nada mais do que uma membrana transparente da minha perspectiva..., mas os danos físicos não faziam nada contra isso? Talvez tivesse algum tipo de defesa intransponível ligada a isso, pelo que eu sabia.

— Ei, você deu algum dano neste herói? Ou vice-versa?

— Ah, estou feliz que você tenha perguntado! A maioria dos meus ataques foi evitado, mas eu acertei vários golpes diretos... o que, lamento, não teve efeito sobre ela. “Vento Emissário da Morte”, “Relâmpago Sombrio”, até a “Tempestade da Destruição” não teve efeito, mesmo sendo impossível de desviar. Uma perda total... Tudo que eu pude fazer foi rir!

Veldora, então, acentuou o ponto com uma gargalhada. Parecia que você também poderia usar essa habilidade de “Aprisionamento Ilimitado” para cobrir seu próprio corpo, fazendo um escudo para se proteger de um ataque externo. Coisa muito útil para ter por perto. Este herói estava começando a parecer, francamente, onipotente. Com isso e “Separação Absoluta”, ela era praticamente invencível, não é? Eu realmente não gostaria de encontrar com ela..., mas então, eu não precisaria. Eu teria gostado de supor que ela tivesse morrido nos trezentos anos seguintes, pelo menos. De qualquer forma, ela era uma personagem difícil.

Então, se eu fosse tirá-lo daqui, seria através da transferência da sua consciência para um novo corpo, hein?

— Acho que preciso de algum tipo de receptáculo para tirar você daqui. Mesmo que seja apenas em forma de espírito, parece ser possível...

Não adiantava dizer as chances que ele tinha. Eu só estaria machucando Veldora ainda mais se eu enfraquecesse seu espírito.

— Mm? Existe uma saída daqui?! De fato... sinto que minha força mágica se esgotará em não mais que cem anos a partir de agora. Minha magia continua a vazar de mim, mesmo agora.

— Sério? Então é por isso que há uma concentração disso por aqui...

— De fato. Mesmo monstros de alta classe não ousariam se aproximar. Você viu como não havia ervas daninhas no chão? O tipo de plantas que podem prosperar nesta área é muito raro!

Certo. Me lembrei de todas as ervas hipokute que absorvi durante a minha curta vida. Isso era valioso, né?

— Sim, então... você quer tentar escapar? Se tivesse o receptáculo certo, acho que isso ajudaria nossas chances de uma forma justa... Você sabe o que preciso?

— ...De fato, mesmo que escape na forma espiritual, seria muito difícil recuperar a magia e formar meu núcleo de novo. Você ter criado uma pequena rachadura na prisão ajudou imensamente as minhas chances, sem dúvida. Quanto a esse receptáculo... o novo núcleo, se você desejar... se você puder trazer um para mim, tudo o que tenho a fazer é me mover até ele. Suponho que seja com a transmigração...

Uau! E eu aqui pensando que ele era um pouco lento. Ele sabia exatamente onde eu queria chegar, né?

A mesma conclusão exata que o Sábio fez.

— Basicamente, sim. Se isso é algo que posso conseguir deste lado, eu poderia procurar por você.

— Hmm... Para dizer a verdade, não preciso de nenhum núcleo... Você pode manter um segredo, acredito? Como disse, sou o único e o mais perfeito da minha espécie. Uma criação totalmente única, que toma forma puramente espiritual. Eu não tenho nenhum apego particular a este corpo. É meramente a fé daqueles que vivem ao meu redor que formam a forma que você vê.

Lá vai ele de novo. Desabafando o absurdo completo.

O tanto que consegui entender na conversa que se seguiu, a ideia básica foi assim: Usando apenas sua consciência, ele poderia reunir “mágiculas” em direção a ele para formar um corpo físico. O dito corpo estava atualmente sendo mantido nesta prisão, mas a prisão também impedia que ele coletasse a magia que precisava. Ele poderia escapar em forma de consciência sozinho? Não, porque ele precisava de algum tipo de receptáculo.

Se ele simplesmente explodisse em forma de espírito, sua essência se espalharia aos ventos como a própria magia, apagando sua própria existência. Isso resultaria no nascimento de um novo dragão da tempestade, de alguma forma, em algum lugar... eu não me importava com os detalhes até agora. Mas para resumir, talvez ele pudesse escapar, mas se o fizesse, acabaria sendo outra coisa. Não importaria para ele.

Mas e se eu usasse o “Predador” para absorver o próprio Veldora? Poderia analisá-lo dentro do meu estômago ou isolá-lo e anular o efeito do “Aprisionamento Ilimitado”, e ele estaria fora. Isso funcionaria?

 

Certo: É possível armazenar o alvo Veldora no seu estômago através da Habilidade Única “Predador”.

 

Mesmo...? Nesse caso, se eu conseguisse convencê-lo disso, poderíamos conseguir. Se não conseguisse, ele teria outro século de isolamento antes de ser reduzido à inexistência. Então, passei algum tempo explicando a habilidade “Predator” para Veldora e o que eu queria fazer com ela. Seria impossível desde o início sem a ajuda do Sábio, mas...

Mwah-hah-hah-hah-hah! Fascinante! Por favor, vá em frente. Me deixo à sua mercê!

— Você tem certeza que quer acreditar em mim?

— Mas é claro! Seria muito mais divertido sair desta prisão com você do que ficar sentado e aguardar seu retorno! Com nós dois juntos, esse “Aprisionamento Ilimitado” pode cair mais rápido do que pensávamos!

Agora entendi. Ele era um, mas agora somos dois. Gostei da sua perspectiva. Então o plano era usar “Grande Sábio” e “Predador” para analisá-lo, e Veldora tentará destruí-la por dentro. Sem preocupação do Veldora se dissipar no meu estômago. Eu estava começando a pensar que isso realmente funcionaria.

— Tudo bem. Então eu vou te consumir, tudo bem?

— Apresse-se e saia daqui. Heh-heh-heh! Imediatamente! Você não me fará esperar mais! Vamos finalmente nos juntar!

— Certo! 

Invoquei minhas reservas de determinação, tocando-o por um momento... depois ativei a habilidade “Predador”. Em um instante, a forma maciça de Veldora desapareceu de vista.

Aconteceu quase rápido demais. Nós estávamos conversando há pouco. Vê-lo desaparecer de repente me fez sentir muito pequeno e solitário. Usar a habilidade no meu primeiro alvo criou muita resistência para funcionar, mas com a ajuda de um Veldora totalmente cooperativo em toda a sua imensidão, não poderia ter sido mais suave. Ele e o “Aprisionamento Ilimitado” foram sugados de uma só vez.

No entanto, estou meio que surpreso que ele coube em mim. Verificando o uso do meu estômago... Nossa, 25%? Quão grande era essa coisa, afinal?

Então:

 

Conduzir Análise de habilidade Única “Aprisionamento Ilimitado”?

Sim

Não

 

“É melhor funcionar”, rezei enquanto pensava que sim.

 

 

Um cataclismo abalou o mundo naquele dia.

Foi a única maneira de descrever a reação quando o desaparecimento do dragão da tempestade Veldora foi confirmado. Não era todos os dias que um monstro, de classificação Especial S, simplesmente desaparecia sem deixar vestígios.

Monstros, bem como aventureiros, são classificados em um sistema de seis graus, de A a F. Prós e contras poderiam ser anexados a esses graus para precisão extra. Este sistema foi posto em prática pela primeira vez por um homem chamado Yuuki Kagurazaka, rumores de que ele era um “forasteiro” e um dos poucos a assumir o posto mais alto de "grande mestre" na Guilda Independente. O sistema foi rapidamente adotado, por ser muito mais fácil de entender do que o anterior, um arbitrário sistema de quatro níveis de "novato" → "iniciante" → "intermediário" → "avançado".

A classificação Especial S combinada com a classificação S, que possuía inimigos classe “Lorde Demônio” que mereciam mais do que simplesmente um A, com a etiqueta “Especial” reservada para aqueles acima, até mesmo daquela classe... monstros capazes de manejar calamidades ou desastres naturais. Uma classificação que quebra a escala, existindo totalmente fora dos seis tradicionais. Normalmente, um monstro de classificação A sozinho seria terrível o suficiente para ameaçar a existência de uma nação... alguém como Veldora era perigoso o suficiente para mergulhar o mundo em desespero.

Trezentos anos selado não haviam feito nada para afetar a classificação do dragão como uma ameaça ao nível de desastres naturais. Só porque ele havia desaparecido não significava que ele não poderia renascer em algum lugar, criando uma nova ameaça em pouco tempo.

Mas vinte dias após o relato inicial de seu desaparecimento, a Igreja Santa do Oeste divulgou um relatório que, suas investigações puderam dizer que Veldora, o Dragão da Tempestade, não existia mais e não mostrava sinais de volta tão cedo.

A notícia se espalhou primeiro pela área ao redor da Floresta de Jura, uma planície ampla pontilhada por um grande número de países menores. Uma vez que o destino de Veldora foi amplamente divulgado, cada um deles ficou de pé, o proverbial ninho de vespas estimulou a ação. Cada rei e cada ministro de cada nação realizava reuniões de emergência dia após dia, reunindo informações e debatendo o que fazer em seguida.

Era uma época difícil para o Barão de Veryard, ministro do pequeno reino de Blumund, mas não tão difícil quanto era para o homem que Veryard havia chamado em sua câmara particular naquele dia. Este é Fuze, um homem tão famoso por seus olhos afiados e implacáveis quanto por sua pequena estatura. Ele era o mestre da guilda deste reino, uma posição que lhe dava uma grande quantidade de autoridade, mesmo em uma nação tão pequena.

— Acredito que você sabe por que convoquei você aqui!? — o barão começou no momento em que Fuze atravessou a arcada — Você já ouviu falar sobre o dragão da tempestade, não é mesmo?

Fuze assentiu. — Claro, meu barão — disse ele em sua voz baixa e rouca.

Hmph — Veryard cuspiu em resposta. — Suponho que não espero nada menos de você, meu bom mestre de guilda. Agora, posso perguntar, como a guilda pretende responder?

— Nós não temos planos específicos neste momento, senhor.

— ... Me desculpe, ouvi você corretamente? Você não tem intenção de agir?

— Sim, senhor, — Fuze respondeu com uma voz desprovida de emoção, perguntando silenciosamente ao barão do que ele estava tão perturbado. — Não sinto que uma ação seja necessária.

O barão, não um grande fã dessa resposta, preferiu manter esses sentimentos ocultos.

— É uma coisa estranha de se dizer, não é? Não é necessário? O desaparecimento de Veldora, o Dragão da Tempestade, pode prenunciar mais atividades de monstros no espaço de dias, até mesmo horas! E você não está tomando nenhuma medida contra isso?

— Me pareceria um tanto estranho fazê-lo, senhor, tomar essas medidas é o trabalho do estado. Sou responsável pela Guilda Independente, não por fornecer trabalho voluntário quando solicitado.

Essa era a verdade, no que dizia respeito a Fuze. A Guilda Independente era uma agência independente e não governamental. Seus membros não dispunham de garantias especiais de segurança ou conforto... ao contrário dos diversos trabalhadores e artesãos do registro governamental..., mas dos direitos básicos a que todos os cidadãos tinham direito. Sua única dívida oficial ao reino vinha na forma de impostos.

Esse era o sistema em Blumund, como era em quase todas as nações que a rodeavam. Em outras palavras, a Guilda Independente era um grupo que operava fora da estrutura de qualquer nação... e muito mais unificada do que um governo. Era fato que, algumas de suas operações ocorriam sem o conhecimento ou consentimento dessas nações, quer a guilda quisesse ser vista dessa maneira ou não.

— Não é responsabilidade do Estado, — continuou o mestre da guilda — proteger os bens de seu povo?! Da mesma forma, é responsabilidade da guilda proteger a vida de seus membros. Nós dois temos muito em nossos pratos, suponho.

Fuze não tinha certeza se havia imaginado a veia que acabara de aparecer na testa de Veryard ou não.

Ele não tinha. O barão sabia que sua posição estava sendo investigada.

— Chega de fingimento, Mestre da Guilda! Quantos mercenários você pode nos fornecer? Quantos aventureiros com experiência de combate? Qual é o tamanho da força de defesa que você pode fornecer em serviço? Eu preciso de números!

O mestre da guilda deu uma revirada de olhos e suspirou.

— Espero que estejamos na mesma página quando digo isso, senhor, mas vou lembrar a vocês que não somos um exército de voluntários. Se estamos falando de uma mobilização baseada nos termos do nosso acordo, posso lhe fornecer o equivalente a um décimo de nossos membros. Se você deseja acesso a qualquer coisa além disso, tudo depende da nossa compensação.

A população de Blumund era quase exatamente um milhão. O registro de membros da Guilda Independente local, totaliza cerca de sete mil, membros da família não incluídos. Assim, se o reino decidisse invocar seu acordo com a guilda e reunir 10% de seus membros... setecentos ao todo... esses combatentes se juntariam oficialmente ao comando do exército nacional.

Tal ordem, é claro, se aplicaria apenas aos membros da guilda que pertenciam a Blumund e a nenhuma outra nação. Todos os membros da Guilda Independente caíram sob o mesmo estandarte, mas seus países de origem também foram claramente declarados nos registros por este motivo. Além disso, enquanto uma nação tivesse o direito de definir seu próprio período de mobilização sob este acordo, também era obrigada a dar à guilda ⅕ de desconto sobre os impostos coletados durante todo o período. Isso permitia que os governos convocassem rapidamente uma força poderosa, e a guilda garantir que seus homens não ficassem obrigados ao Estado por muito tempo. Para um grupo como a guilda, que era obrigada a pagar adiantado os salários de todos os membros destacados, essa era a abordagem óbvia a ser adotada.

Além disso, mesmo que um governo pedisse todos que a Guilda Independente local tivesse, não haveria como lidar com eles. Afinal de contas, apenas metade da participação de qualquer guilda tinha alguma habilidade de luta.

Os nobres de Blumund estavam plenamente conscientes disso. Normalmente, eles não teriam seu principal ministro tentando intimidar o mestre da guilda em termos melhores..., mas os tempos exigiam o contrário. Os monstros estavam se mexendo, por um lado..., mas além disso, eles tinham motivações mais urgentes.

— Muito bem. Basta disso. Você está tentando arrancar a verdade de mim, Fuze?

As sobrancelhas de Fuze se levantaram um pouco com a menção do nome dele. Veryard raramente, ou nunca, o chamava por ele. Ele virou os olhos para o barão pela primeira vez.

— A área perto da prisão de Veldora era para ser absolutamente impenetrável. Agora, esse caminho pode estar potencialmente aberto à navegação direta, e isso significa que devemos considerar a possibilidade do Império do Oriente agir".

— Ah, certamente! — O barão respondeu — Quer estivessem deixando Veldora ou simplesmente temendo que o selo fosse quebrado, detectamos novos movimentos repentinos do Império depois de um longo período de silêncio. Você entende o que significa? Se eles puderem navegar naquela floresta, esse reino será engolido instantaneamente. E podemos esquecer a Igreja Sagrada do Oeste fornecendo-nos qualquer apoio significativo! Os países ao redor da Floresta do Jura não têm nenhuma aliança significativa entre si. Nós todos nos tornaremos vassalos do Império em um piscar de olhos!

— Nenhum apoio da igreja...? Receio que não. Eles nunca estiveram interessados em guerras entre meros mortais em primeiro lugar. Aniquilar os monstros é o que a doutrina deles exige.

— Se pudéssemos pegar até mesmo um de seus paladinos, o Império não seria tão rápido em se mover... Não precisar se preparar para ataques dos monstros nos daria algum tempo, ao menos.

— Duvido que qualquer coisa possa levar a Igreja à ação. — disse Fuze. — A destruição de uma ou duas nações não afeta em nada suas próprias finanças. Eles não podem ajudar a todos, nem mesmo a seu próprio rebanho.

Ele levou um momento para avaliar o rosto do barão. Veryard parecia exausto, como se tivesse envelhecido rapidamente apenas nos últimos dias. Foi compreensível.

Os dois eram amigos de infância. E mesmo que Veryard fosse apenas um barão, se o público soubesse do contato próximo de Fuze com um membro da nobreza, isso criaria várias dificuldades para os dois. Ambos tinham que fingir que usavam um ao outro para seu próprio ganho pessoal, razão pela qual eles geralmente retratavam seu relacionamento como grosseiro e ressentido.

Seria preciso mais do que o poder de um pequeno reino para superar esse obstáculo espinhoso que eles agora enfrentavam. Mas talvez, pensou Fuze, seu amigo estivesse ansioso demais. O Império estava em movimento, era verdade, mas isso não significa que eles devam esperar um ataque antes do pôr do sol.

— Mas como saberemos que o Império agirá contra nós? — Ele ofereceu. — Farei com prazer minhas próprias investigações pessoais sobre o assunto. Aconselho que você não espere muito, mas posso pelo menos avaliar a situação na Floresta de Jura e ao redor do Império.

— ... Eu apreciaria isso.

Não havia garantia de que o Império iria agir contra eles. Se fosse, seria indubitavelmente com uma grande força. Nunca foi uma nação a perder tempo com pequenos conflitos. Não… ela iria casualmente enviar mais de um milhão de pessoas e atropelar todas as nações da região, uma por uma. Montar um exército assim levaria tempo, pelo menos três anos ou mais. O que não era uma quantia generosa, mas dava algum espaço de manobra para trabalhar.

—  Então, é melhor começar a coletar informações. Como há pouco tempo, estou saindo!

—  Obrigado…

Os dois assentiram e seguiram caminhos separados. Havia muito a fazer.


 

Trinta dias se passaram desde que engoli Veldora. O que eu estava fazendo? Bem, pense nisso. Se você estivesse sendo atacado por um monstro, o que você faria?

Quero dizer, eu era um slime agora. Seria difícil para mim afastar-me de um atacante babaca, muito menos me defender. Então estava gastando meu tempo pensando em como revidar.

Ao longo do caminho, também estava consumindo ervas estranhas ou pedras brilhantes que encontrava. Houve uma quantia justa. Ainda estava na região que Veldora descreveu como cheia de magia local, e quase tudo que encontrei ali eram ervas hipokute. Coisa que eu havia imaginado. Mais poções de cura para mim, suponho.

Também descobri que a maioria das pedras incandescentes e tal por aqui eram o que era chamado de “minério mágico”, que supostamente poderia ser refinado em um metal mais duro que ferro ou aço e altamente compatível com magia. Estava meio que esperando por algo um pouco menos comum, mas eu nem sabia se oricalco ou o minério carmesim existiam aqui, mesmo que eles fossem famosos na Terra. Eu não deveria ser muito ganancioso.

Então, enquanto estava comendo todas essas ervas saborosas e pedras, uma ideia veio à mente!

Se eu conseguisse cuspir água rápido o suficiente para me fazer voar, talvez pudesse cortar os inimigos, como um jato d’agua cortante de alta pressão?

Não, não, sei o que você está pensando. Você está pensando que eu estava prestes a estragar tudo de novo, não é? Você realmente não deveria desprezar pessoas assim. Sou um pouco bom, sabe. Eles sempre escreviam isso em meus boletins escolares e outras coisas... “excelente trabalho quando ele se esforça”.

Então sim, acho que funcionaria. Voltei ao lago subterrâneo de antes. Assim como imaginei, a piscina era bem grande.

O ar parecia extremamente tranquilo para mim. Não havia criaturas por perto... nem mesmo na água, presumi, com toda a magia absorvida por dentro... o que tornava tudo mais silencioso. Natureza pura e não adulterada! Verdadeiramente uma visão para ver.

Mas voltando aos negócios. Da última vez, me movi direto para a fase de “ação”, sem testar nada, o que foi bastante imprudente. Isso e eu ejetei muita água ao mesmo tempo, me impulsionando muito mais rápido do que o pretendido. Sem plano algum. Desta vez, manteria no nível de uma pistola d’agua, expelindo apenas um pouco de cada vez. Apenas tomando um gole de água e... thpbbt... cuspindo.

Aqui vou eu. Hmm. Não há muita água saindo. O buraco de saída está pequeno demais? Eu expandi um pouco. A água saiu com um pouco mais de energia dessa vez, encharcando uma pedra próxima que eu estava mirando. Um sinal promissor.

Depois de mais alguns minutos gastos ajustando os níveis de água, decidi aumentar a pressão um pouco mais antes de abrir a boca. Lançar. Então de novo. Então, mais uma vez, aumentando gradualmente a saída enquanto eu mantinha minha prática de arma d’agua.

Estava começando a tomar forma, sim. Mas, tudo bem, enquanto um tiro de água pode doer um pouco, eu não acho que ele iria ser um ataque particularmente decisivo.

Então, e agora? Pensei enquanto dava um mergulho no lago para reunir meus pensamentos. Sempre que estava cansado, minha sugestão era tomar um banho. Não estava apenas brincando por diversão, tudo bem? Além disso, também me deu a chance de usar a “Percepção de Magia” e me observar flutuando e afundando na água. Me senti, tipo, uma água-viva.

Talvez pudesse vibrar a superfície do meu corpo para criar correntes ou algo assim? Eu tentei, transportando força mágica através da minha "pele" para controlar as partículas ao meu redor. A vibração percorreu todo o meu corpo, então tentei apontá-la em uma única direção... e isso foi o suficiente para me mover.

Boa! Passei um tempo zunindo ao redor da água assim, curtindo a experiência. Uma boa mudança de ritmo, com certeza, mas não estava apenas brincando, tudo bem? Vamos manter isso sério.

[Habilidade “Movimento Fluido” adquirida.]

Pensei que era o Sábio por um momento, mas acabou sendo a Fala do Mundo. Brincar um pouco acabou de me render uma nova habilidade. Ah, eu não estava brincando por aí, ok? Eu estava apenas relaxando um pouco.

No entanto, graças a isso, eu poderia voar dentro ou sobre a água rapidamente. Se necessário, poderia usar a “Propulsão de Pressão de Água” para acelerar as coisas também. Considerando que não precisava respirar, lutar na água poderia realmente me dar uma vantagem, pelo que eu sabia. Bom para fugir, pelo menos.

Esse e outros assuntos pareciam estar em minha mente quando saí do lago. O intervalo acabou e, de fato, deu frutos para mim. Enquanto relaxava, eu pensei em alguns conceitos novos.

Se eu continuasse perseguindo a abordagem da pistola d’agua, teria que aplicar pressão constante no jato por um longo período de tempo. Em vez disso, decidi imaginar o cilindro de um motor de carro, aplicando pressão no meu interior enquanto liberava uma quantidade comparativamente pequena de água por lance. Ajustar a pressão e o diâmetro da saída me permitiu ajustar a força de expulsão, como antes.

E felizmente, assim como eu esperava, funcionou. Um pequeno jato, ejetado bruscamente do meu corpo, bateu contra o pedregulho... e ele realmente quebrou a rocha levemente onde ela bateu.

Sucesso… eu acho. Melhor continuar praticando antes que eu esqueça o jeito. Ajuste o diâmetro de saída, ajuste a pressão... e tente dar um pequeno giro na água ao ejetá-la também. Havia muito o que pensar enquanto eu continuava ensaiando.

Mas era isso! Essa era a imagem mental que tinha que ter em mente. Cortando com água. Eu tive que fazer os jatos tão finos e planos quanto possível, aplicando apenas a rotação certa para eles.

Então, dei um giro a isso. E funcionou! O tiro cilíndrico da água lutou através da resistência do ar com rapidez suficiente para deixar pós-imagens, exatamente como uma lâmina... e então cortou seu caminho através da rocha. Com força suficiente para me surpreender.

Foi o auge dos meus esforços, os melhores resultados da minha semana de prática.

[Habilidade “Lâmina de Água” adquirida.]

[Habilidade “Propulsão de Pressão de Água”, “Movimento Fluido” e “Lâmina de Água” adquiridas. Combinando e atualizando para habilidade Extra “Controle de Água”.]

Uau! Realmente funcionou. Habilidades Extras deveriam oferecer um nível de força completamente diferente do normal. Agora eu tinha um jeito de me defender. Já era hora de sair.

Bem. Finalmente. Cento e vinte dias se passaram desde que reencarnei nas margens desse lago cavernoso. Eu estava nervoso? Sim. Ainda não conseguia falar. Eu não tinha cordas vocais, então procurei no meu corpo algo que poderia usar como substituto, mas sem sorte ainda. Ficar aqui até ter mais sucesso era uma opção, mas ao contrário das lâminas de água, eu não possuía nenhuma base. Por enquanto, teria que ser via Telepatia ou nada... e se o meu possível parceiro de conversação não pudesse usar isso, então que assim seja. Não é a melhor das situações, mas lá vamos nós.

De qualquer forma, eu não poderia ficar aqui para sempre. Queria ver o mundo lá fora e, se pudesse, adoraria encontrar alguns japoneses “forasteiros”. Aprender alguma magia também pode ser divertido!

Era hora de começar. Não há tempo como o presente e aquilo tudo lá.

Veldora não estava me dando quaisquer respostas ou sinais particulares dentro de mim. Quase senti como se o tivesse perdido, mas sabia que não era o caso. Nós tínhamos uma promessa, além disso. Da próxima vez que nos encontrarmos, é melhor ter algumas histórias engraçadas que possa compartilhar com ele.

Com um suspiro interno, viajei pelo caminho solitário para cima da ampla caverna subterrânea a que eu havia me acostumado, minha mente no vasto mundo que estava por vir. Quem sabia o que estaria me esperando? Eu mal sabia o que esperar, mas sabia o que queria.


Notas:

1 – RAID, sigla de redundant array of independent disks (Conjunto Redundante de Discos Independentes), é um mecanismo criado com o objetivo de melhorar o desempenho e segurança dos discos rígidos (HD) existentes em um PC qualquer, através do uso de HDs extras. 

2 – Medicamentos possuem quatro fins: Curativo, Paliativo, Profilático e Diagnóstico. E justamente os medicamentos curativos são utilizados na ação de cura de determinadas doenças, por exemplo antialérgicos e analgésicos.



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