Volume 1 – Arco 2

Capítulo 58: Sinal (3)

— Não foi nada. — Jaciara respondeu com um sorriso ao ver a preocupação no rosto do jovem.

— A senhora tomou seus remédios hoje? — O jovem perguntou ainda preocupado.

Jaciara riu com a pergunta do jovem: — Eu não estou senil para esquecer de tomá-los. Foi só uma tosse, não foi nada de mais.

O jovem ainda parecia preocupado, mas decidiu não dizer mais nada sobre isso decidindo mudar de assunto, com os olhos em direção a árvore ao longe: — Esse foi o mesmo fenômeno que aconteceu há setenta e cinco anos?

A senhora mudou seu olhar de volta para a árvore: — Sim.

— Como devemos proceder?

— Eu já mandei o alerta para os outros e eles decidirão o que deve ser feito. Estou velha, minha geração não deve mais decidir o rumo do nosso clã e sim os jovens. — Jaciara tinha um olhar distante quando comentou.

O jovem estava cuidando dela há muito tempo e já sabia o que ela estava pensando quando estava com esse olhar. Essa era a única preocupação que Jaciara tinha além de proteger o clã.

— Jandir, eu preciso que você faça algo para mim. — Jaciara falou depois de um tempo de silêncio. — Deixei a Kauane solta por muito tempo pelo mundo, já está na hora dela voltar para casa e assumir seus deveres. Vá procurá-la e a traga para casa.

— Sim senhora. — O jovem chamado Jandir respondeu imediatamente se levantando para sair do local.

Depois da saída do jovem, Jaciara continuou olhando para a árvore. Essa árvore tinha cerca de quinze metros de altura e em partes dela havia cascas que haviam caído a pouco tempo, embaixo da casca era possível ver um tronco vermelho como a cor de sangue. Seus ramos estavam cheios de folhas que balançavam a mínima movimentação do vento.

No entanto, o que mais chamava a atenção no momento era o fogo que a cercava, mas não a feria nem um pouco.

 

*****

 

O sino do alarme ainda tocava na Escola da Luz Escarlate, os alunos guiados pelos professores eram encaminhados por um caminho seguro para fora. Por causa do incêndio ser no pátio da escola, não fez nenhum dano, então a saída dos alunos era somente por precaução.

Dentro da escola, um homem com cerca de oitenta anos estava olhando pela janela a Árvore da Luz Escarlate pegando fogo. Seu rosto estava sério enquanto via essa cena, ele era uma das últimas pessoas a ficar na escola não se importando com o barulho do alarme.

— Os últimos alunos foram levados para fora. — Uma mulher que parecia ter quarenta anos entrou pela porta enquanto relatava para o homem, andando até a janela e ficando ao lado dele ao observar a árvore. Ela comentou: — Dessa vez será pior que a última.

O homem nem se importou em olhar para a mulher ao dizer: — A calamidade chegou mais cedo do que esperávamos e dessa vez não temos nosso ancestral. — Pela sua voz ele parecia estar suprimindo sua irritação. — Você percebe agora o erro que cometeu? Sem nosso ancestral nossa família não conseguirá sobreviver a calamidade.

A mulher ignorou o tom do homem, pois, já tinha ouvido ele falar essas mesmas coisas no passado. Apesar disso, ela nunca se arrependeu do que fez. Proteger sua família sempre foi sua prioridade e o que o homem quis fazer ia contra o que acreditava.

— Essa foi uma decisão feita pela nossa família. — A mulher comentou. — Não importa se a calamidade está vindo, decidimos nos esconder ao invés de nos sacrificarmos por mais poder. Nossa família só sobreviveu por sermos pequenos, não traga um problema que destruirá ela.

— Se nosso ancestral estivesse aqui, ela iria repreender essa conduta de se esconder que nossa família adotou. Parecemos tartarugas se escondendo no casco. — O homem retorquiu ao comentário.

*Suspiro*

A mulher suspirou ao se sentar numa cadeira em frente a uma mesa, era a de convidado da sala. Seu olhar caiu na placa onde estava escrito o nome do homem, e seu título como diretor da escola.

Ela ficou sentada um tempo antes de falar novamente: — Eu fiquei feliz que nosso ancestral não apareceu dessa vez.

Quando a mulher falou, o homem se virou a olhando intensamente. O que a mulher falou era algo considerado uma blasfêmia. Ele queria criticar, mas se lembrou que a posição dela na família era maior que a sua, mesmo sendo mais velho, não podia criticá-la.

— Na última vez que nosso ancestral apareceu, nossa família foi quase destruída por suas ações. — O olhar da mulher se concentrou no homem a sua frente e falou calmamente — Eu não sei se ter esse sangue em minhas veias são uma benção ou uma maldição, mas agradeço que ela não apareceu. Foi por isso que convenci nossa família a ir contra seu plano, sem nosso ancestral, temos mais chance de sobreviver a calamidade.

— Nossa família será destruída por causa da sua decisão. — Essa foi a única resposta que o homem deu a mulher.

— Nossa família seria destruída se seguíssemos seu plano. — A mulher deu um sorriso depois da afirmação.

 

*****

 

Kishito foi o último do grupo a entrar na sala. Depois da evacuação da escola, Xia e seu grupo não esperou muito para irem embora. Eles deram um aviso de sua saída depois seguindo direto para a Makuredan.

O motivo para essa pressa era simples, antes do evento da árvore pegar fogo, Xia recebeu uma ligação do Sr. Hayama dizendo para trazer o grupo de volta.

Além do grupo, o único que estava dentro da sala era o Sr. Hayama, nenhuma expressão apareceu em seu rosto e os esperou se sentar para começar.

— Já se passou um mês desde o início do treinamento do Kishito, durante esse tempo ele evoluiu mais que qualquer um de nós pudéssemos imaginar. — Sr. Hayama começou a falar e olhou para Kishito.

— Hehe! — Kishito sorriu envergonhado pelo comentário.

O olhar do Sr. Hayama passou pelo grupo e parou em Xia não se importando com a reação do Kishito: — O nosso planejamento foi adiantado e hoje será dado a vocês a primeira missão.

A notícia foi recebida de modo diferente para cada um dos integrantes do grupo. Nem todos pareciam tão felizes com a notícia.

Quem estava feliz com a notícia era Xia, o que era esperado, pois, nos últimos dias teve se focando bastante no treinamento e era comum vê-la perguntado sobre quando iriam poder iniciar as missões a cada vez que via Sr. Hayama. Conhecia bem a situação atual da Makuredan e queria fazer algo para ajudar, no entanto, era sempre negado por pensarem que ainda não era hora dela sair para missões.

A principal desculpa para negar seu envolvimento era por não ter ainda um grupo. Uma das regras principais da Makuredan, e bem comum para muitas organizações no ramo, era ter sempre um grupo trabalhando ao invés de confiar num lobo solitário.

Kishito, por outro lado, não parecia se importar muito com a missão, com um sorriso no rosto. Ninguém poderia dizer o estava pensando.

O que foi normal foi a reação do Donavan. Ele não teve reação! Apenas continuou sentado como se fosse não tivesse ouvido nada, parecendo distante.

Já Alicia ainda tinha um sorriso no rosto, mas não parecia o mesmo de sempre. Quando recebeu a notícia parecia preocupada com alguma coisa.

Todas essas expressões não passaram despercebidos pelo Sr. Hayama, a não ser por Kishito ele entendia o grupo, pois, ele acompanhou o crescimento deles. Ao dar a notícia da missão era essa a recepção que esperava deles.

— Essa será a primeira missão de vocês, por isso escolhemos uma que não será complicada. O que precisarão fazer é proteger nosso cliente durante uma transação que irá realizar. — Sr. Hayam continuou após observar a recepção do grupo.

— Isso não parece complicado. — Alicia comentou com um rosto mais relaxado.

— Exatamente. Não iremos enviar vocês para missões complicadas nesse momento. — Sr. Hayama disse ao olhar para Alicia. — Experiência é um fator essencial para concluir missões e vocês não têm nenhuma. Começar com algo simples é o ideal.

O olhar do Sr. Hayama voltou para Xia e continuou: — Xia é a líder do grupo e as decisões serão todas suas. Espero que além de treinar suas habilidades em luta que você esteja preparada para tomar decisões sábias.

— Sim senhor, eu não vou decepcioná-lo. — Xia falou com convicção.

— Não se engane com a missão, ela aparenta ser fácil, mas se você tomar uma decisão errada pode levar vocês a uma situação perigosa. Então pense cuidadosamente antes de tomar qualquer ação. — O aviso do Sr. Hayama foi ouvido atentamente pelo grupo.

— Sim senhor.

— Voltem para seus quartos e preparem-se, a missão vai iniciar as vinte e duas horas. — Sr. Hayama disse dispersando o grupo.

O grupo liderado pela Xia estava saindo da sala quando se depararam com Owen que estava indo ao encontro deles.

— Acabo de voltar e vejo minhas princesas aqui, que homem de sorte que sou. — Owen se aproximou com os braços abertos em direção ao grupo.



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