A Lenda do Destruidor Brasileira

Autor(a): Pedro Tibulo Carvalho


Volume 1 – Arco 2

Capítulo 36: Embate de bestas, parte 3, a história do herói

Essa história que vou te contar é um conto sobre minha infância. Uma que, sinceramente, mudou a história de um reino inteiro. Ela é, para mim, mais um ideal do que qualquer coisa.

Um ideal do que é ser um herói.

Esse conto começa numa cidadezinha sem importância alguma, numa taverna onde eu e irmão Rino trabalhávamos.

Minha rotina começava cedo. Acordava todo dia às 6 da manhã para brincar com os filhos dos clientes e funcionários, dando um pouco de entretenimento e esperança para os Bestiais.

Depois de uma hora, abríamos a taverna do senhor Grott. Ele era um Bestial crocodilo que nos encontrou quando ainda eramos bebês. Grott era um sujeito ranzinza e burro, que não tinha criatividade alguma para escolher nomes… Talvez por isso que as crianças eram nomeadas de acordo com suas espécies.

Quando tinha duas ou mais, ele só colocava um número junto.

Era sufocante. Um lugar onde não havia individualidade… Eu estava farto daquilo. Queria que algo mudasse.

Rino sempre me importunava para ler histórias de heróis para ele antes de dormir. Enquanto eu sempre fingia ser um incomodo, não posso deixar de olhar para aquela época e ver o quão bem aqueles contos me faziam.

Conforme os anos foram passando, eu queria que um mentor viesse e mudasse meu mundo para sempre.

Antes de continuar, acho que devo lhe contextualizar sobre como o reino onde vivíamos, o Reino de Vesta, era. Nós eramos governados por um imperador cruel. Um Bestial que tomou o poder dos verdadeiros reis, cuja força esmagadora fazia todos obedecerem sem questionar.

Um Mármore de terceiro grau.

Como deve saber, os Mármores são divididos em 5 graus, sendo o quinto o mais fraco e o primeiro aquele com maior influência. Alguns avançam nos ranques usando de inteligência, outros meramente usam uma força esmagadora para conseguir o que queriam.

O rei Glasyas era um tirano que tinha um grau elevado de influência na associação. Os Mármores são os mais livres do mundo, podendo cometer diversos crimes e sair impunes.

Normalmente, apenas um Mármore de segundo grau receberia um reino. De fato, Vesta foi prometida a um príncipe de uma família poderosa. Não lembro o nome direito, mas sei que não ficaram nada felizes com o que aquele homem fez com o filho mais novo.

Por isso, estavam dispostos a mandar um exército só para executar aquele homem. Contudo, Glasyas era esperto o suficiente para tomar precauções. Teve a certeza de ter o apoio da associação, de tal forma que, se tentassem retomar Vesta, estariam indo contra o Mundo Livre.

É aí que Ittai entra.

Foi quando estávamos servindo uns soldados de Glasyas que o conheci. Um dos mais novos, Girafa segundo, serviu um oficial com um prato do especial do dia coberto de terra e insetos.

Era uma brincadeira. Uma que qualquer criança acharia graça. Aquele idiota era um brincalhão que via graça em tudo e achava que o mundo também era assim.

Aqueles homens, no entanto, não riram.

Contrário disso, o oficial puxou a espada e decapitou Girafa segundo bem na nossa frente. Depois de um tempo fui entender a hierarquia do exército, que um líder de esquadrão tem que manter o respeito de seus subordinados…

Contudo, naquela hora, só vi o vermelho pintar o chão. Nisso, peguei uma faca de cortar carne e corri na direção do grupo. Mesmo que tivesse só 10 anos na época, mesmo sendo um pirralho que não sabia nem manejar uma arma, fui inspirado pelas histórias de herói que contava.

Achei que conseguiria fazer alguma coisa

Invés disso, tive todos os meus ataques bloqueados com facilidade. Coloquei tanta força neles que a pequena faca quebrou.

Lembro que, quando estava para ser morto, que ele surgiu.

Não acha que está indo um pouco longe, amigo? — disse, segurando a mão do tenente. Era um homem que vestia trapos, com um capuz ocultando seu rosto. Suas roupas eram de um verde sujo, com um quimono branco e suado, portando duas Katanas.

Quem é você? Acaso sabe quem eu sou? Está indo contra o rei!

Sim… — Num movimento rápido demais para que conseguisse acompanhar, puxou a espada e cortou a armadura e cota de malha do soldado, espirrando um jato de sangue. — Eu vim justamente pra isso.

O que se seguiu foi um massacre unilateral de vinte homens armados. Cada um deles tentou fazer algo contra o misterioso espadachim e cada um deles foi cortado com facilidade, quase como uma faca quente na manteiga.

Aquela espada era feita exclusivamente para cortar tudo. Não importava se fosse papel ou aço, nada podia pará-la. Além disso, a forma como ele a usava era estranha também. Era como se visse o treino de diversos guerreiros, cada um com uma arma diferente.

Quando enfim terminou, suspirou e tirou o capuz manchado de sangue, olhando para mim com um olhar gentil, bondoso até.

O cabelo e barba eram negros como a noite e aqueles olhos continham um castanho escuro e perigoso, um que denotava todo o talento e poder que tinha, assim como a experiência que possuía.

Senti-me puxado para aqueles olhos, de tal forma que apenas quando piscou que vi que tinha a mão estendida. Senti-me envergonhado quando peguei-a e fiquei de pé.

Sorrindo, virou-se e partiu para longe, ignorando os gritos de Grott quando viu a sujeira que estava.

Aquele foi o momento que eu decidi o que queria fazer com a minha vida. Foi também o momento que tudo mudou para todos naquela cidadezinha.

 

Ethan escutava o conto com calma, sentindo-se cada vez mais intrigado com aquela história. Queria ver onde isso daria, mas também não tinha a mínima intenção de morrer ali.

Conforme o Touro abria seu coração, sentia sua força sendo recuperada, lentamente.

Espera um pouco… — Interrompeu, sentindo um pouco de confusão com aquela linha do tempo. Ittai disse que passou vários anos na floresta de Oldale, e, para Ethan, a forma como falou parecia que tinha vivido lá o tempo inteiro. — Há quanto tempo foi isso?

Trinta anos. Ittai não ficou o tempo inteiro desaparecido. Houve histórias dele indo aqui e ali, pegando um ou mais trabalhos grandes — retrucou, bufando. — A história ainda não acabou, sabe?

 

Cinco dias depois, a notícia de que um criminoso perigoso estava a solta no reino se espalhou. Junto disso, um cartaz de procurado com o rosto de Ittai. Quando o pessoal da vila descobriu, ficaram claramente descontentados.

O exército não ligou e, invés disso, foi direto para a taverna onde Ittai estava alojado.

Quando todos os oficiais chegaram lá, abriram as portas e procuraram Ittai por todo o lado, mas não o encontraram.

Na noite anterior, quando ouviu esse rumor, Ittai havia saído dali. Quando descobri aquilo, tentei descobrir por onde tinha ido, tentei achar uma forma de o encontrar. Pensei que devia saber que os guardas estavam o procurando e, por isso, fugiria para a vila mais próxima, um menor ainda, que não tinha quase nenhum policiamento.

Lembro de pegar todos os meus pertences e economias e sair correndo no horário de almoço, sem saber que o meu irmãozinho idiota havia me seguido também.

 

Não é minha culpa! — disse Rino, cruzando os braços. — Você fez o mesmo! Além do mais, eu também queria segui-lo, nem que fosse para agradecer por ter te salvado.

Ethan sorriu com a interação, lembrando da relação que tinha com seus irmãos quando criança. Tudo isso lembrava bastante como era, sempre querendo ir atrás deles e fazer as mesmas brincadeiras, mesmo sendo o mais novo na época.

 

O importante é que nós fugimos do nosso único lar e fomos para a cidade mais próxima, que ficava há três dias de viagem. Tivemos sorte de encontrar uma carroça que ia para lá e ainda lembro da bronca que levamos do velho que a guiava.

Como vocês saem de casa sem nenhum pão? Sabem caçar, por acaso? — Expliquei para ele que não tínhamos para onde ir e o velho parou a carruagem, nos puxando para a floresta e nos mostrando como se caça de forma eficiente.

Aquela foi a primeira vez que tiramos uma vida, e, mesmo que fosse só um coelho, lembro do quão traumático aquilo foi.

Após enfim chegarmos na cidade, ficamos um dia inteiro procurando, mas não encontramos nada do Ittai. Foi apenas quando ouvimos que a recompensa dele aumentou após destruir a força policial de uma cidade mais para frente que percebi ter subestimado a velocidade de viagem dele.

Mais para frente, descobri que tinha tomado um caminho alternativo, cheio de guardas e soldados, além da destruição que causou enquanto percorria.

Nisso, tomei uma decisão. Vesta não era um reino grande. Tinha uma importância política alta, mas o território era quase minúsculo. A única coisa de interessante era o comércio de temperos.

Vesta tinha uma pimenta muito forte, tanto que deixava um gosto doce na boca. Perfeita para pratos de luxo, por isso que dinheiro nunca foi problema para a classe agrícola.

Foi pensando nisso que eu e Rino entramos escondidos numa caravana que ia direto para a capital, onde Ittai se dirigia.

Ele era a conversa de todas as cidades que passamos. Todos o comparavam com um demônio que causava destruição onde quer que passava.

Foi no quinto dia de viagem que chegamos enfim a capital e, apenas no sétimo dia que o primeiro confronto de Ittai com as forças do rei Glasyas aconteceu.



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