A Lenda do Destruidor Brasileira

Autor(a): Pedro Tibulo Carvalho


Volume 1 – Arco 2

Capítulo 38: Embate de bestas, parte 5: O lobisomem e o espadachim

Não sei quanto tempo se passou. Céus, não consegui nem distinguir a velocidade que corriam. Só posso afirmar com certeza que os dois eram fortes.

Os ataques, quando cruzados, causavam vendavais que varreram parte das construções num terrível espetáculo que me mandou voando mais vezes do que posso contar.

Tentei desesperadamente ver o que acontecia, mas era muito lento na época. Contudo, mesmo eu podia dizer que havia uma espécie de demora em relação ao resultado dos impactos.

O som, as ondas de choque, tudo era mais lento que os flashes de branco e vermelho que brilhavam na praça abandonada.

Estava claro para mim, contudo, que Ittai ainda conseguia ter o controle sobre a luta. O fato que eu e meu irmão estamos aqui hoje é prova disso. Quer dizer, nenhuma onda de choque chegou a nos afetar, além, é claro, do vento ir na direção oposta.

Ao menos, era assim que devia ser.

Não deve ter sido muito tempo. Não mais do que alguns segundos desde o começo da luta. Só sei que, para meu desespero, houve uma mudança na situação atual.

Num instante, o corpo de Ittai saiu voando após um encontro, bem no epicentro da arena.

Ali, vi o corpo cheio de cortes de Aroc, sua respiração descompassada aumentou e então caiu de joelhos, cuspindo sangue.

— Merda… não esperava que me obrigasse a usar o primeiro Céu — disse, tossindo enquanto tentava se levantar. Notei que pelagem negra começara a surgir no corpo dele e crescia conforme a lua cheia se tornava mais e mais presente.

Ittai levantou-se de onde estava, tossindo um pouco. Parecia bem menos ferido, ainda que não estivesse totalmente bem.

— Céus… quase que fui dessa para uma melhor — reclamou, limpando o corpo. Senti um pouco de agonia quando vi o sangue escapando de onde a ferida foi aberta.

Apesar da velocidade que lutavam, a espada continuava reluzindo num branco gentil e bondoso, sem mostrar um único arranhão ou falha no fio.

— Hora da segunda rodada. — Correu contra o humano, esticando suas garras e com um sorriso psicótico no rosto. Sem quaisquer preocupação, passou por mim e, em instantes, estavam frente a frente.

Ittai bloqueou um soco que o mandou contra a parede, fazendo-o atravessar os prédios. Imediatamente, seguimos a luta, correndo o máximo que nossas pernas nos permitiam.

Foi quando estávamos na segunda quadra que vi Ittai, cuspindo um pouco de sangue, atrás do corpo fatiado do lobisomem.

— Foi esperto em me matar agora… — disse, ignorando o fato de estar cortado em dois. — Se esperasse mais um segundo para entrar no segundo Céu, teria morrido… De qualquer forma, é aqui que minha história acaba… estou satisfeito que minha morte tenha sido em suas mãos, “Arsenal Vivo”.

Nisso, perdeu as forças e parou de respirar. Suspirando, cansado, foi até o inimigo e fez algo que nunca esperava.

Fechou as pálpebras dele, desculpando-se por não poder dar-lhe um enterro digno.

— Ainda estão aqui?

— Sim! — gritei, tentando em vão conter o nervosismo. Acabara de ver pessoas serem mortas. Enquanto não era a primeira vez, hoje foi diferente… Foi mais brutal. Antes, a morte que Ittai deu para aqueles guardas foi rápida e indolor…

Aqui, no entanto… Ele fez o que pôde para ganhar, independente do que acontecesse com quem enfrentasse.

— Eu… por favor! Deixe-me seguir você! Quero me tornar um mercenário também! — O homem suspirou, exausto, e permitiu que o corpo dele pendesse de um lado para o outro.

— Quer saber, só me arranja uma cama e uma enfermeira bonita… Se conseguir fazer isso, eu vou concordar. — Nisso, caiu no chão, desacordado. Engoli em seco e sorri.

Pegando-o pela cabeça, instrui Rino a fazer o mesmo pelos pés, e voltamos para a taverna onde estávamos hospedados, entrando enfim lá, coloquei-o na nossa cama e suspirei com o esforço.

— Agora preciso arranjar uma enfermeira bonita… mas onde? — O meu irmão, vendo-me pensar, tocou no meu ombro.

— A filha do chefe gosta de brincar de médico com a gente, não é? E ela é uma graça!

— Boa ideia, Rino! Vigie ele! — disse, saindo do quarto e indo direto para a casa do taverneiro, no fundo do estabelecimento.

Bati várias vezes, até que ouvi o chefe Brett reclamar de Deus e o mundo até chegar e abrir a porta.

Tratava-se de um Bestial Bode, velho e com uma barbicha que alcançava o estômago.

— O que quer?

— Precisamos de ajuda, senhor! Temos um amigo que está machucado e pede uma enfermeira.

Lembro do rosto incrédulo dele com aquilo. O homem era um cara bom, mas tinha razão em ficar desconfiado.

Vendo meu rosto, contudo, suspirou e pediu que o levasse até Ittai. Fiz como pedido e, após chegarmos lá, abriu a porta do meu quarto, travando na hora.

— Touro… Por que estão abrigando um criminoso procurado? Na minha taverna, em específico?

— Não tínhamos nenhum outro lugar para levá-lo… Pode nos ajudar?

O bode olhou aquilo tudo com calma até puxar uma cadeira e olhar para mim. — Só… só garanta que ele se comporte… Pode ficar aqui, só garanta que não faça merda… E que nenhum cliente o veja.

— Sim, senhor! E obrigado, chefe.

Após esse acontecimento, passamos a primeira noite cuidando de Ittai. Para a nossa preocupação, estava com febre e suava feito um porco.

Conforme o dia passou, tivemos de trocar a roupa dele e colocar um pano na cabeça. Isso permitiu que desse uma olhada no corpo dele.

Lembro do choque no rosto do chefe quando o viu, incrédulo com a quantidade de ferimentos abertos e cicatrizes no torso.

— Ele lutou muito para chegar até aqui… — disse, passando uma pomada nos ferimentos. — Estão infectados… se não tratarmos isso, vai morrer. Vocês dois! Vão buscar o doutor Harr. Digam que é uma emergência.

Fizemos como pediu, com o médico voltando conosco. Era um Bestial Ovelha que se portava com constante nervosismo e vigilância.

Quando chegamos ali, o mesmo quase teve um ataque de pânico, conseguindo conter a surpresa e ajudar a tratá-lo.

— O que ele tem, doutor? — perguntei, tentando descobrir um pouco do homem que veio salvar o nosso país.

O médico parou de limpar um dos ferimentos com uma feição preocupada conforme observava o sangue seco com pus.

— Acredito que seja resultado de excesso de esforço. Ele se feriu na viagem para cá, provavelmente mais do que aguentava. Junte isso aos trapos que veste e com as condições que deve ter suportado e acabou ficando doente… Além disso…

Pressionou fortemente o algodão, para forçar mais sangue fora. Mesmo jovem, conhecia aquela técnica. Estava drenando um pouco de sangue para tirar a doença do corpo de Ittai…

Contudo, entender isso não deixava os grunhidos de dor mais agradáveis.

— Ele usou o segundo Céu… Normalmente não tem problemas abrir o primeiro. Requer um pouco de esforço, mas o aumento nos atributos físicos cobre essa energia… Já quando se abre o segundo para cima… Bem, a energia gastada é quase dez vezes maior. Fazer isso enquanto estava nesse estado é quase suicídio, mesmo para um humano.

Engoli em seco quando ouvi isso. O doutor logo viu minha expressão chorosa e suspirou, garantindo que sobreviveria, mas ainda tinha medo.

Foi no quinto dia que começou a mostrar sinais de melhora. Começou com a respiração e, quando era hora de fechar, enfim recobrou a consciência.

— Onde estou? — perguntou, forçando seu corpo a entrar numa posição mais confortável. Levantando o cobertor, grunhiu, irritado. — E onde estão minhas roupas?

— Ittai! Você finalmente acordou!

Olhou para mim, parecendo estranhamente desapontado.

— É você, pirralho… Achei que fosse a enfermeira bonita que pedi.

— A Nora acabou de sair — disse, com um sorriso no rosto. — Ela é a filha do chefe. Aguarda um momentinho que ela já volta.

— Por mais que Nora seja um nome adorável, infelizmente tenho um trabalho a fazer… — Tentou se levantar, mas logo começou a tossir, caindo na cama de novo. Vendo aquilo, rapidamente peguei o chá que Nora preparou e dei para ele.

— Aqui. Receita do médico. — Bebericou do chá, ignorando o gosto ruim e focando em descer a bebida intragável pela garganta.

— Quantas pessoas sabem que estou aqui?

— Contando comigo, cinco.

— Certo… — Nisso, olhou para mim e soltou um suspiro. — Eu tenho que admitir, você e o seu irmão são durões, sabia disso. Não esperava que me seguissem lá daquela cidade até aqui.

— Impressionado? Vai nos treinar, certo? Certo?

Riu quando viu toda aquela empolgação. — Claro, pode ser. Um homem nunca volta atrás com sua palavra. — Sorri como a criança que era e gritei, feliz da vida.

— Quando começamos?

— Assim que eu derrubar o seu rei. — Nisso, notei que sua expressão fechou e engoli em seco, pronto para fugir. — Espero que não tenha problemas em abrigar um inimigo do estado, Mestre Taverneiro.

Olhei para trás e vi o chefe me olhando com clara preocupação.

— Então os rumores são verdade… — disse, entrando e se sentando na cadeira. — Vou te pedir que não envolva essas crianças nisso.

— Mas…

— Sem “mas”! — gritou, fulminando-me com o olhar e soltou um suspiro. — Eu cuido dos meus empregados como cuido da minha filha. A partir do momento que entraram aqui, fazem parte da minha família. Além disso… as crianças são o futuro desse reino.

— Não precisa ter medo… — disse, com o mesmo suspiro e então olhou fundo nos olhos de nós dois, mostrando nada mais do que sinceridade. — Essa luta é minha… Eu que aceitei esse trabalho… Além do mais, eu vi os efeitos da administração de Glasyas aqui… É muito perigoso deixá-lo no controle como bem entende. Para que elas tenham um reino que possam se orgulhar de chamar de seu, primeiro preciso derrubar esse governo corrupto.

O chefe soltou o ar dos pulmões e relaxou o corpo inteiro dele.

— Que bom que é sensato… Não sei se conseguiria lhe parar caso decidisse usar eles como soldados.

O espadachim só sorriu e aceitou as palavras, deitando-se na cama e voltando a dormir.

Segundo o médico, demoraria três dias para se recuperar por completo… Infelizmente, no dia seguinte o Rei montou um grupo que investigou cada canto da cidade… E, no segundo dia, a capital do reino de Vesta arderia em chamas.

 


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