A Mansão de Alamut Brasileira

Autor(a): Safe_Project


Volume 1

Capítulo 3: Investigação (1)

13/06/1867 - 2:50 PM

As pernas trêmulas, o suor frio escorrendo pelo rosto, e os olhares confusos direcionados para uma única coisa, a estátua. Mesmo que o instinto de sobrevivência lhes mandasse fugir imediatamente, as esperanças dos dois diminuíram sem parar enquanto enfrentavam a porta trancada com todos os golpes possíveis.

Cada chute, soco, cotovelada, os efeitos dos golpes acertavam mais a dupla do que a porta em si, arremessando para longe suas determinações, até que finalmente sucumbissem ao cansaço e desmoronassem ao chão.

James mais do que ninguém, agora entendia o quão horrível era sentir dor. Ele levantou sua camisa sem que sua parceira se desse conta, deparando-se com um grande hematoma no local que recebeu o soco da imagem de pedra. A ânsia de vômito não dava sinais de melhora, e aquele mar de saliva que se formava a cada segundo em sua boca resultava em cuspes constantes, não demorando muito para alertar Jessie.

— Está se sentindo bem? Você tá com cara de diarréia.

— Só estou com um pouco de tontura por causa dessa confusão. — Ele fingiu uma tosse. — Vou melhorar daqui a pouco.

A entrada principal, mesmo depois das sequências intermináveis de golpes, permaneceu intacta, assim como as janelas, que apesar de não serem feitas de grades de ferro, portavam painéis de vidro tão resistentes quanto. 

A estátua, os mandamentos, e uma estrutura indestrutível. Jessie e James por fim perceberam que aquilo não era mais uma simples mansão, e sim um disfarce escondendo um tenebroso e inescapável corredor da morte.

— Eu… Tudo isso… É realmente verdade? Isso está mesmo acontecendo? — James sentou-se no tapete vermelho e se inclinou na direção da estátua, atordoado.

— Ei, ei! Não fica pra baixo assim, você é quem sabe o quê acontece aqui! Você leu aquele diário não foi? Havia algo importante nele? — Jessie se ajoelhou junto do parceiro.

O homem levantou a cabeça, e com esforço segurou suas lágrimas.

— Eu também não sei direito… Ainda não fui capaz de dizer se tudo isso é realmente real — murmurou, atônito. — Sinceramente, eu ainda quero acordar e perceber que apenas caí no sono dentro da barraca, mas é impossível algo tão conveniente acontecer… Haha.

Jessie suspirou, e ao se colocar na frente do homem encolhido, disse calmamente: — Eu sei que é assustador, que está com medo de tudo isso. Mas eu preciso de você e das informações que descobriu! Eu sou capaz de muitas coisas, mas também preciso de ajuda algumas vezes. — Ela estendeu a mão, sendo correspondida rapidamente.

— Certo, não é hora de um marmanjo como eu ficar parado. — Ele fechou as mãos em punhos, tomado por uma determinação e sorriso emergente.

— Hehe! É sempre tão fácil te fazer mudar de atitude, parece até que estou lidando com uma criança de dez aninhos.

Enquanto os dois se organizavam, a escultura de pedra continuou parada, observando ambos procurarem por respostas, quando na verdade apenas buscavam uma maneira de não sucumbir ao desespero. 

Apesar da ausência de um rosto, era quase visível um olhar indiferente do ídolo ser levado até a dupla ao passo em que o sol da manhã atravessava o céu velozmente, decorado antes pelo vitral atrás de si.

Momentos depois, James ganhou mais uma vez sua expressão única de cansaço, como se fosse a pessoa mais ocupada do mundo.

— Aquele diário, tinha muita coisa estranha nele — falou ele, ponderando. — dizendo coisas como “abençoados” e “buraco infernal”. Os relatos em si não eram de fato importantes, muito menos compreensíveis.

— Bem, isso já era de se esperar, afinal, esse caderno deve ter mais de séculos de vida. O que realmente quero saber é, descobriu algo importante?

— Sim, eu acho — sussurrou, fechando os olhos. — Vê os altares brilhando em dourado? Esse brilho indica que o mandamento talhado neles foi concluído. Precisamos cumprir todos eles para conseguir escapar. Não existe segunda alternativa. Foram as únicas coisas que descobri, nenhum nome, imagem ou assinatura além da de D. Rossi.

— E qual o motivo para tudo isso? Quem de fato é essa estátua? E por qual motivo ele ou ela está em uma situação tão… anormal?

— Eu sei lá, porra! Tá achando que eu sou onisciente? — Ele se levantou em uma raiva inexplicável.

— Já sei! — Jessie bateu o punho. — Deve ser aquelas coisas de espíritos malignos e essas coisas. Lembra de quando estudamos isso no curso de formação?

— Sim, eu ficava me perguntando o motivo de ensinarem a gente a caçar fantasmas — disse ao olhar para a estátua. — Quem diria que seria útil um dia.

— Mas e então? Você acha que é um espírito maligno?

— Tenho certeza que não. Os espíritos malígnos são almas que ficaram por conta própria, buscando vingança e coisas do tipo. — Seu olhar voltou para a garota. — Mas nesse caso, eu li uma frase no diário dizendo “você me derrotou”, ou seja, essa pessoa, no caso a estátua, foi derrotada por alguém e mantida aqui contra sua vontade… Eu acho.

— “Eu acho”? Você estava falando com tanta certeza… Pare de criar esperanças e depois destruí-las dessa maneira — reclamou ela.

— Então tente perceber essas coisas por si mesma, oras. 

— Mas enfim — suspirou James, afagando o novo galo em sua cabeça. — Vamos explorar um pouco e ver se achamos algo diferente dessa vez. Esses altares são com certeza o maior mistério aqui. Como será que funcionam? Tem energia? São seres vivos?

Jessie, encarando as estruturas que brilhavam em dourado, falou:

— Os altares que já foram concluídos, por assim dizer, são: Não matarás, Não roubarás, Não pecar contra a castidade, Honrar seus familiares, e por último, Não cobiçar as coisas alheias… Eh! Não esperava que esse último estivesse concluído.

— Ei, maldita! Isso foi uma indireta, por acaso? — James a encarou de canto.

— Ué! não é óbvio? Você era uma das crianças mais invejosas que eu já conheci, sempre ficava competindo comigo e as outras crianças pra mostrar que era melhor. Eu por outro lado, ganhava tudo que pedia dos meus pais, então acho que mereço alguns agradecimentos, não é mesmo?

— Mas era de você mesmo que eu tinha inveja! — exclamou em fúria. — Sua burguesa safada!

— E a culpa é minha?

Eles deram as costas, aguardando um pedido de desculpas que nunca aconteceria.

Contudo, a birra das crianças foi logo jogada para segundo plano, assim que o olhar de James caiu no céu pouco visível daquela floresta. Mesmo que o vidro estivesse empoeirado e sua mente confusa, seus olhos ainda não haviam chegado ao ponto de enganá-lo, e uma dúvida cruel lhe atingiu.

— Jessie, em qual horário nós entramos aqui dentro?

A garota ponderou por um instante, quando encarou seu relógio, disse: — Talvez por volta das duas da tarde. Só se passou no máximo, uma hora.

— Então... por quê está escurecendo?

Sua questão repentina deixou a garota confusa, e acreditando ser uma brincadeira ela se virou para uma janela. A imagem com a qual se deparou lhe fez arregalar os olhos, tanto quanto seu parceiro.

Através da janela empoeirada, um vislumbre do céu alaranjado que desaparecia anormalmente rápido foi cravado na mente da dupla. Seus cérebros ficaram tão confusos que todas as funções do corpo pararam por um instante, buscando entender o quê se passava, mas falhando miseravelmente.

Eles encararam o fenômeno totalmente pasmos por segundos que mais pareceram horas. Mas em uma mansão vigiada por uma estátua única, não havia momento em que a distração não gerasse consequências.

Quando o pôr do sol se tornou noite por completo, e a lua iluminou o salão levemente, deu assim o sinal que a escultura parecia ansiosamente aguardar em segredo, para então acender o seu lampião e começar a se mover.

— M-Mas por quê? Nós não movemos um dedo sequer, então por quê ela está se movendo? — James agarrou o braço de sua parceira, mas não se colocou à frente. Jessie não reclamou, estando ocupada demais observando o ídolo se aproximar.

Seus passos eram leves demais se comparados ao seu tamanho. Aquela chama também havia se tornado um mistério tão grande quanto o próprio portador, e essa oscilou em sincronia com os passos da escultura, até que o tapete vermelho fosse tocado por seus pés.

Sem qualquer obstáculo, a imagem seguiu seu caminho em linha reta, aproximando-se da dupla enquanto a escuridão predominante lhe tornava invisível.



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