A Mansão de Alamut Brasileira

Autor(a): Safe_Project


Volume 2 – Arco 3: Dia do Tarche

Capítulo 28: O Demônio das Ruas

A roupa, os olhos, o sorriso e… aquela cartola!! Sem dúvida! Sem dúvida alguma era ele!!

“Hector Wanderlust!! Então ele finalmente apareceu! Merda, e no pior momento possível!!”

O cano da arma apontava para sua cabeça. Ainda que com dificuldade, conseguia ver a bala dentro da pistola, pronta para disparar em alta velocidade e atravessar seu crânio. Um simples aperto naquele gatilho e pá, tudo acabaria num piscar de olhos.

Romanov revistou o próprio corpo, atuando da melhor maneira possível. Porém, o caminho de sua mão até um dos bolsos da roupinha trouxe a arma de fogo para mais perto!

— Não ouse se mover! Nem o direito de ficar calado eu te dou! Revele seu nome e o que quer aqui nesta cidade!!

“Gurh! Não sei como ele me descobriu, mas para os outros eu ainda sou uma criança, porra!!”

— Hector!! — bravejou Lívia, ainda presa por Igor. — O que tá fazendo!? Não é hora pra ficar com as suas maluquices! Me ajuda aqui!!!

— Tô fazendo isso nesse exato momento!

A arma do detetive não tremia, muito menos seu olhar. De onde surgiu tamanha certeza!? Sair do disfarce naquele momento seria o mesmo que arruinar o plano completamente! Mas…

“Alpina, Xeps, onde eles estão?? Não é possível que se distanciaram tanto! Eu não posso lutar sozinho!!”

Ignorando a intriga que se desenvolvia entre o investigador e a médica, passeou seu olhar por entre a multidão. Mesmo naquele ponto alto, não havia qualquer sinal dos dois companheiros de missão.

Os helicópteros se dispersaram fazia um tempo. O General provavelmente usou aquele poder das portas, mas a Comandante não tinha a habilidade de transitar para locais como aquele. Ela tinha que estar por perto!

“Não importa como, eu tenho que enrolar esse maluco até aquela mulher aparecer!! É a melhor opção!”

Seu foco caiu sobre o cartola novamente, cujo imitou a ação. De canto de olho, fora possível ver os civis discando um número no celular.

Isso! Provavelmente era a polícia! A situação se resolveria em breve, mas notou que não era o único com tal ciência.

A mão livre de Hector caiu sobre a gola de sua camisa, puxando com facilidade o corpo infantil para mais perto. Agora colocado contra o peito do rapaz e sentindo o cano da arma na cabeça, gelou ao ponto de pensar ter morrido.

Lívia ficou ainda mais louca: — He-Hector!! Grrr!! Me solta, IGOR!!

Por incrível que parecesse, o bombado finalmente obedeceu. Quando o fez, levou ambas as mãos ao rosto e um semblante confuso em direção à colega.

— Er… Lívia? Quando foi que você chegou aqui? Espera… — Olhou ao redor, apressado. — EEEEH!!? COMO EU VIM PARAR AQUI??

Um tapa mais que veloz desceu sobre seu rosto. Livre, a médica se afastou o máximo que pôde daquele que duvidava ser de fato seu colega. O semblante no rosto deste, no entanto, nada revelava além da mais pura confusão.

Continuou repetindo aquelas mesmas perguntas. Onde estou? Como parou ali? Só faltava perguntar quem ele era.

— Hector! Por onde você tava? Eu jurei que você tinha morrido, seu filho da—

— CALA A BOCA! Não é hora pra isso!

“Detetive de merda!!” Romanov se debateu da maneira que pôde, enfrentando de frente o perigo. — SOCORROOO!!

Ante os pedidos do garotinho indefeso, algumas pessoas deram um passo à frente.

BANG!

E com um único tiro para cima, Hector não apenas travou aquele movimento, como os fez recuar ainda mais. A pele morena de Albert agora tornou-o num humano albino.

— Lívia! Me diga exatamente o que está acontecendo aqui! Agora!!

O “grande garotinho” sentiu o braço do detetive apertar. Se não fosse por sua força, já teria morrido asfixiado ali mesmo.

Fitando a médica com dificuldade, viu o desespero desaparecer parcialmente. Confiança! Era tudo que ela queria no momento de maior necessidade, e o cartola era a perfeita personificação disso.

— Um réptil! A Rose virou um réptil e… o Isaac e um outro garoto, eles estão…!!

— Réptil? Espera, a Sra. Rose está aqui!? Ela não tava desaparecida??!

“Isso é ruim! Isso é muito, muito ruim!!” Incapaz de se livrar do aperto do investigador, Romanov voltou a clamar por socorro.

Nenhuma das pessoas ousou dar um passo sequer. Lívia continuou falando tudo que vira e não parecia ter hora muito menos travas na língua que a fariam parar.

“Já basta o Victor! Se o Wanderlust saber da operação, vai ser impossível acobertar as coisas com um tagarela como ele vivo!!”

— SOCOOORROOO!! — Em pensamento, adicionou: “ALPINA, XEPS!!”

E finalmente atendendo seu chamado, um indivíduo invadiu o círculo. Porém, a felicidade estava longe de cair sobre o pequeno rosto do garoto. Aquele que teve a honra de esbanjar um sorriso fora outro!

Hector fitou a figura exausta. — VICTOR!!

O detetive de terno marrom mais expirava do que inalava ar. Seu tórax comprimia ao ponto de expor perfeitamente cada uma de suas costelas. Moribundo. Facilmente confundível com alguém que fora despejado do trabalho.

Fala aí, Hector! Arfa! Arfa! Quanto tempo, né? Haha!

Por pouco não soltou o suspeito de seu aperto, e provavelmente teria se fosse capaz de ler a mente deste.

“O-O QUEEEEE? O estado em que ele está, ele com certeza lutou com alguém! Mas se ele está aqui, então quer dizer que um daqueles dois já!!”

Para completar a desgraça, outras pessoas adentraram a roda de conhecidos. Uma figura cuja farda deu esperança momentaneamente à Romanov, mas cuja aparência se distanciava um pouco daquela que gostaria de ver.

Logo ao lado do militar, um rosto cansado — talvez traumatizado — de alguém que, agora sim, conhecia bem.

— Vocês dois! — disse Lívia, instintivamente. — Hã? Ei… Lu-Lucas, não é? Cadê o Isaac? Vocês estavam juntos antes de caírem naquela porta estranha, né?

— Porta estranha? — questionou Hector. — Me conta mais sobre isso aí.

— Eu também quero saber, mas… — Receoso, Victor apontou para o cartola. — Porque você tá dando um gancho numa criança?

Criança? Retrucou mais que indignado, iniciando uma explicação levemente psicótica. E enquanto isso, na mente da dita “criança”, o pior dos cenários era processado.

“O Intangível, o Paranoico, Victor, Hector… TODOS! ESTÃO TODOS VIVOS!!”

Seu coração alcançou o ritmo dos tambores, que mesmo com aquele evento inesperado não pararam de tocar nem por um instante.

Se estavam todos ali, significava apenas uma coisa; mais do que óbvia para aquele que agora era o único restante na operação.

Uma faca atravessou seu coração, e o sangue escorreu para todos os órgãos. Afogando. Então… era ali que acabava?

Victor e Hector, aqueles que mais estavam envolvidos na investigação até agora estavam ali, cara a cara, trocando informações preciosas bem na sua frente.

“Eu não vou…!” Cerrou seus pequenos punhos. “Eu não vou deixar terminar assim!!”

Com o rápido movimento de sua mão, buscou um item no bolso direito. Ao erguer de sua mão, um brilho dourado chamou a atenção daqueles dentro do círculo.

Pela primeira vez, Hector presenciou aquele poder com os próprios olhos. Superava qualquer lógica e loucura, muito mais do que a [Dark Wave].

Um alfinete de cabeça laranja era a “arma” que o suspeito empunhava. Levando esta acima de sua cabeça, o brilho dourado percorreu seu curto braço e alcançou o objeto pontiagudo, transformando-o em algo semelhante, mas muito mais preocupante.

UMA FACA!!? Ele exclamou de susto, e paralisado por tal, fora incapaz de se esquivar do golpe descendente que penetrou completamente sua perna esquerda.

FILHO DA PUTA!! Um ataque que fez a multidão se dispersar. Hector soltou o suspeito. Seu corpo desabou ao chão, a arma fora perdida e as mãos foram direto na arma do crime, buscando retirá-la. Lívia impediu que isso acontecesse.

— Você vai sangrar muito se tirar. Vamos pro hospital! IGOR!!

Ainda que completamente perdido, o bombado assentiu com a cabeça, pegando o colega nos braços e saindo da cena o mais rápido que conseguiu. Hector, por sua vez, não perdeu a chance de gritar pela última vez na direção de Victor.

— O AMULETO! TIRE O AMULETO DELE!!

“Amuleto!!? Ele sabe do Amuleto? Entendi!! Foi assim que ele me identificou tão fácil!”

Em meio ao caos que se instaurou entre as pessoas, a oportunidade perfeita foi vista entre os gritos que ecoavam. O corpo até então infantil começou a crescer em ritmo extremamente acelerado. As vestimentas acompanharam. Em poucos segundos, a criança se tornou num adulto vestido como a maioria daqueles no festival.

Victor não desviou o olhar nem por um segundo. Amuleto! A palavra ressoou nos cantos mais profundos de sua mente.

Mesmo focado no alvo transmutado, não perdê-lo de vista seria uma difícil tarefa apenas para os seus olhos.

— PARADO AÍ! FUGIR VAI APENAS PIORAR A SUA SITUAÇÃO!!

Como se eu fosse ouvir!! Gritaram as costas do fugitivo. Romanov atropelou toda e qualquer pessoa que entrasse em seu caminho. Criança ou adulto, todos foram jogados no chão ao colidir com o veloz agente.

Sul! Seguindo aquela direção de Romantusk, sabia que uma luz brilhante estaria lhe aguardando a menos de um quilômetro. Porém, alcançar esse objetivo não se mostrou fácil como gostaria.

“Ele! Ele está me seguindo? Não! Ele está literalmente me alcançando!!”

Em alta velocidade, o detetive notoriamente exausto corria como um verdadeiro predador faminto. O olho esquerdo brilhava no mesmo dourado que o pingente de Romanov, enquanto no rosto se instalava um sorriso de outro mundo.

“Isso é… a energia de um Fator B? Eu não sei!! Tenho que fugir antes que ele…!!”

Seu pensamento soou tardio. Um toque. Em suas costas, uma mão pressionou-o para frente, gerando a perda de equilíbrio e inevitável queda.

Os dois rolaram pelo asfalto, deixando um rastro vermelho por menos de um metro até pararem completamente.

Antes que pudesse reagir, Victor imobilizou os braços de Romanov. — Você está preso!

“Direito de permanecer calado.”, previu, acertando em cheio. Ora! Se era assim, sua boca se tornaria um túmulo!

A imobilização foi realmente boa, incomparável com da última vez no centro da cidade. Por mais que tentasse, nem as pernas era capaz de mover.

Conseguiu encarar de canto o detetive, vislumbrando a permanência daquele olho dourado e sorriso demoníaco.

“Isso é realmente um Fator B? Parece até que ele tá possuído…”

Uma confirmação disso quase veio nas palavras seguintes, impedida apenas pelo rápido movimentar de algumas sombras ao redor que atraíram a atenção de ambos.

O interceptado sorriu. Bem na hora! Comemorou. — EI! ME AJUDE DE UMA VEZ!!

!? Victor vasculhou rapidamente, sem afrouxar o aperto. Pequenas silhuetas começaram a emergir da escuridão, esguias e traiçoeiras, fitando a alma da detetive com as pupilas finas.

Das sarjetas, dos becos, até mesmo dos esgotos! Como uma ninhada de ratos que foram expulsos de suas casas, eles cercaram todos os ângulos, restando à Victor apenas gaguejar.

— Ga-gatos?

Não apenas gatos — disse Yellow —, veja só aquilo. —

Uma pessoa se aproximava por detrás dos felinos mudos. Tão moribundo quanto Victor, vestindo o que mais pareciam trapos.

Exceto pelos pés sujos, portador de unhas compridas e esverdeadas, todo o resto da pele era coberto pelos panos. O rosto, por sua vez, era escondido por uma máscara branca com apenas dois buracos para os olhos.

“Você demorou, mas chegou bem na hora…”

Romanov sorriu. A chegada do colega mudou completamente o rumo das coisas. Uma batalha se instaurava agora, uma luta entre aqueles tão iguais quanto podiam sequer pensar!

— MATE ESSE HOMEM, ROMANTUSK!!



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