WebNovel – Primeira Parte
Prólogo
Aiko não queria deixar o conforto de sua cama. O peso do cansaço a mantinha presa aos lençóis, mas a necessidade de ir ao banheiro se tornava insuportável, insistente como um gotejar que não para.
Com um suspiro, ela se levantou, sentindo o frio do chão invadir seus pés descalços, tão frios quanto os azulejos que tocavam. Seus longos cabelos brancos estavam emaranhados, soltos como sempre os deixava ao dormir, caindo desordenadamente sobre seus ombros. O pijama folgado, decorado com estrelas que brilhavam fracamente no escuro, parecia ainda maior em seu corpo pequeno, escorregando levemente pelos ombros nus.
Ela hesitou por um momento diante da porta, o som de sua própria respiração preenchendo o silêncio quase palpável. Colocou a mão na maçaneta; o leve rangido da porta ao girar parecia amplificado pela noite. Tudo era mais alto e mais lento quando a casa dormia. Aiko parou, quase segurando o fôlego, o medo irracional de ter acordado algo crescendo em sua mente. Mas, decidida, abriu a porta de uma vez, o suficiente para se esgueirar para fora.
No banheiro, sentou-se no vaso, com as pernas balançando no ar, as pontas dos pés mal tocando o chão. Fechou os olhos e se concentrou no som da água de uma cachoeira imaginária, tentando evocar o alívio que veio logo depois. Lavou as mãos na pia, esticando-se para alcançar a torneira, o toque da água fria acordando-a um pouco mais. Secou as mãos no pano do pijama, que logo absorveu a umidade, mas ela não se importou, apressada para voltar ao calor de sua cama, ansiosa para se enrolar de novo nos cobertores que a aguardavam.
No caminho de volta pelo corredor, um som súbito e inesperado a fez parar. Algo vindo do andar de baixo. Ela encostou a mão na parede, tentando acalmar o coração que batia rápido demais no peito, o susto ainda fresco em sua pele. Teria sido só sua mente pregando peças? Hesitou por um instante antes de continuar em direção ao quarto, mas a dúvida persistia. Será que realmente havia escutado algo?
Mais uma vez, outro som. Agora claro, inconfundível, reverberando pela casa silenciosa. Seu primeiro impulso foi correr de volta para a segurança do quarto, mas a curiosidade — aquela inquietante, perigosa curiosidade — a empurrou para investigar. Com passos cautelosos, desceu as escadas, sentindo o corrimão frio e áspero sob os dedos pequenos.
Outro som vindo da cozinha enviou um arrepio pelo seu corpo, confirmando que o ruído não era fruto de sua imaginação. Agora, ela sabia de onde vinha o som. O coração martelava com força no peito enquanto ela descia os últimos degraus, os olhos mal se ajustando à escuridão densa que tomava o ambiente.
No fim da escada, Aiko parou, congelada por um momento de hesitação. Tudo em seu corpo lhe dizia para voltar, para se esconder debaixo das cobertas, mas ela já havia chegado tão longe. Estapeou levemente o rosto duas vezes e prendeu a respiração, as bochechas logo inchando e ficando vermelhas. Soltou o ar em um longo suspiro, colocando a mão no peito ao perceber que não aguentaria mais segurar o fôlego. Respirou fundo, com os punhos cerrados e os músculos tensos. Forçou-se a avançar, seguindo o caminho que a levava diretamente à cozinha.
— Vamos lá, Aiko... você consegue — murmurou para si mesma.
Quando chegou à soleira da porta da cozinha, ficou parada, imóvel, os olhos tentando ajustar-se ao breu. O silêncio ali dentro parecia maior, mais denso, quase opressor. Talvez tivesse imaginado tudo, talvez... Mas então, o som repentino de uma colher caindo no chão quebrou a quietude, fazendo-a saltar. Seu corpo todo tremeu com o susto, o ar travando em sua garganta. Suas mãos, agora próximas ao interruptor, tremiam. E então, uma figura envolta em sombras emergiu por trás do balcão. A forma escura começou a resmungar, arrastando-se lentamente para perto dela.
— A-ai...
Aiko reconheceu a voz imediatamente. Num movimento rápido, quase desesperado, acendeu a luz. A cozinha foi inundada por uma luz amarelada e branda, revelando a silhueta do intruso.
— Maninho!
Lá estava ele, Shirou, seu irmão mais velho, os olhos escarlates caídos brilhando à luz como dois faróis na noite. Ele segurava um pote de sorvete de baunilha pela metade e uma colher — esta que ele a pouco tateava em sua busca. A maneira como ele estava curvado no chão, como se fosse um travesseiro que se amolece ao ser largado na quietude da noite, parecia solitário e, ao mesmo tempo, irritante para Aiko.
— Pelo menos ligue a luz quando for comer no meio da noite! — exclamou Aiko, pequena e fofa, mas com uma irritação visível quando se deparava com o modo descuidado de seu irmão.
Shirou levantou-se com a colher ainda na boca e se aproximou dela, colocando a mão em sua cabeça de maneira afetuosa.
— Tudo bem, Aiko — murmurou, sem pressa, bagunçando ainda mais o cabelo dela.
Aiko tentou afastar o inesperado gesto de carinho do irmão. Shirou observava a contrariedade da irmã e se perguntava como era possível tanta irritação em um corpo tão pequeno. Ela estava irritada não apenas pela forma desleixada de Shirou no presente, mas também por estar acordada no meio da noite, um momento em que sua paciência era mais curta. Era nesses momentos, quando seu sono era interrompido ou quando Shirou baixava a guarda e revelava seu lado desleixado, que Aiko mais se irritava. Shirou, por outro lado, não se importava em ter seu sono interrompido e raramente se deixava irritar por qualquer coisa, mesmo quando seus sagrados lanches noturnos eram interrompidos.
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