Volume 1 – Arco 4
Capítulo 31 - Das mil homens e a nação!
O cemitério Eclesiástico de St. James recebeu um dos seus maiores e mais icônicos projetos artísticos, no ano de 786 depois da grande queda, em homenagem a Batalha de Griffitas.
O projeto, encarregado pelo artesão Louis Andrew Argos, descendente do engenheiro de Terraformação, Anthony Andrew Argos, consistia num trabalho esculpido em rocha marmórea, cujas dimensão de 15 por 7 parecia pequeno demais, para a inscrição do nome dos 45 mil soldados mortos na batalha, além de dividir, em mesmo espaço, a escultura de St. George apontando sua lança aos céus.
O monumento fora inaugurado ainda no mesmo ano, e contou com a figura do ilustre líder Oliver-Pine, junto do Papa Marcos Petrus e o ministro Apolônio de Nouveaux, além dos líderes das nações Eclesiásticas, tal o profeta Lautaro Menéndez, de Levítica; o de Coríntia, o presidente Vladmir Vasilyeviche; e o de Petrólita, o autoproclamado Jesuíta de Marte, Francisco Garpe. 250 mil pessoas estavam nas ruas da cidade-estado de Iberia, lotando a praça e as ruas circundantes, onde Oliver-Pine, líder desde a fundação da nação de Eden, discursava.
— Hoje, meus filhos, hoje é um dia triste.
Carlos Andrade acompanhava de perto, em local reservado aos militares de grande contribuição, junto aos coronéis e o Marechal. A tropa técnica auxiliar dividia a mesma fileira que outros ilustres, vestidos pelo uniforme branco, e com o peito lotado de insígnias.
— Hoje é um dia que nossos companheiros se dirigem ao Altíssimo, e ao lado d’Ele, descansam. Suas cinzas, a terra em que derramaram seu sangue, repousa aqui, e esse monumento guardará a memória de suas forças, honrando os filhos destas terras e de nossa causa.
O nome de Lykaios fora inscrito e ornado com ouro, mas seus pedaços incinerados se dirigiram para Atenas e Alexandria, sendo derramado ao redor do bairro de Alexandrina, lugar onde nasceu e cresceu.
Um pensamento.
Oliver-Pine recita os Salmos:
— Pois a vida do homem é semelhante à relva;
ele floresce como a flor do campo,
que se vai quando sopra o vento;
e tampouco se sabe mais o lugar que ocupava.
Mas saberemos, e para sempre saberemos.
Hans Reiter tinha em seu rosto, feições altivas, pensando em como estaria Valles Marineris e se, até a hora de sua morte, teriam pelo menos ali 10 metros de água para repousar suas cinzas.
A voz que reverbera e o tira de seus pensamentos, Oliver-Pine recita João:
— Pois Jesus nos disse "Eu asseguro: Quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna e não será condenado, mas já passou da morte para a vida.”!
Amanda Magalhães havia conversado com o pai de seus filhos mal tinham dois dias, descobrindo que as crianças estavam bem, e que tudo estaria melhor, assim que ela voltasse. Ela ficou sem falar com ninguém desde então, pedindo a Hans Reiter que a aposentasse. Hans não podia apenas aposentá-la, mas como favor, poderia a recomendar para alguma base de Coríntia, para trabalhar administrativamente.
— Seria o melhor, não é? — Ela respondeu, como se a doesse.
Hans, por outro lado, parecia o homem mais leve do mundo.
— Você é corajosa, devia se orgulhar disso. — respondeu.
Por outro lado, Magalhães ainda sentia-se afundar, e, como o recipiente raso que era, transbordar com lágrimas salgadas ardendo as bordas da bochecha.
— Me orgulhar do quê? — ela disse — Eu abandonei meus filhos... abandonei, heh... abandonei para trocar tiro e ganhar dinheiro. Agora que eles tão crescidos, eu só quero voltar... é foda... voltar como se nada tivesse acontecido..., Hans. O pai deles devia me odiar, mas diz que sente minha falta. Que porra de homem frouxo é esse? Eu fugi de casa, praticamente, e ele só respeitou, e ele só me disse para eu voltar com cuidado.
Hans a entregou lenços, como um bom cavaleiro. Se sentando à mesa, juntou as mãos.
— Quer um cigarro? — ela recusa — As coisas acontecem por um motivo ou por outro. Não tem lição de moral nesse mundo em que vivemos e talvez só devamos aceitar as consequências de viver uma vida. Se você quer voltar, que volte. Eles não podem te impedir de amá-los, tal como você não conseguiu os impedir.
Amanda parou por um momento, depois riu.
— Você fala bonito, Tenente Reiter.
— Escutei do Sub. Ele é filho de um escritor, sabia? Talvez seja por isso que fique falando essas coisas bonitas pelos cantos.
O sol da tarde é amarelo, e as pessoas parecem mais vivas, de repente.
Oliver-Pine, cuja voz reverbera naqueles pisos de concreto, orou:
— Jesus Cristo, nos proteja e nos defenda com o poder de sua santa e divina graça. Virgem de Nazaré, nos cubra com o seu manto sagrado e divino, protegendo-me em todas as nossas dores e aflições. Deus, com sua divina misericórdia e grande poder, seja nosso defensor contra as maldades e perseguições dos nossos inimigos.
Natalie Biancucci, ao lado de Amanda, segura firmemente a mão da amiga, enquanto os demônios que também a consomem, parecem atravessar a festa organizada ao seu redor. Pois Natalie conversara com sua mãe, pois Natalie segurou o computador de mão como se pudesse quebra-lo. A guerra continua e sua mãe lhe disse que agora vive numa casinha humilde em Hellen Point, nos Distritos, e que Natalie não seria capaz de acreditar em como lá era feio, e de como lá era diferente.
— Ai filha, estou trabalhando com um político da região, com um apelido bobo. Jupiter Apple, acredita. Ele trabalha com algumas pessoas importantes, interessadas na causa de Roma. Nosso grupo de exilados políticos vem tendo apoio e tudo parece ir bem. E, apesar de saber que é errado compartilhar com a senhorita, sei que meu segredo não se espalhará assim.
Sua mãe também disse para ela tomar cuidado, pois apesar de não acreditar na Guerra que a própria filha luta, não queria o mal. Ela também falou:
— Não pude te impedir..., e me entristeço. Seu pai morreu, você sabe, lutando por um país melhor. Eu luto por um país melhor. Você também. Mas me sinto mal que cada um de nós escolheu batalhas diferentes para lutar e tenhamos tomado lados diferentes. A política destruiu essa família, e olha que o exército e Roma nem mais existem. Espero que você não me odeie também..., pois quero te ver de novo, minha filha...
A crescente no peito de Natalie, parecia com arrependimento. Ela pensou, enquanto os tiros atravessam e rasgam o céu da tarde, que seu valor talvez fosse definido por um nome inscrito numa parede negra que um dia todos fossem ignorar. Carlos ao seu lado, seus olhos mortos e cansados. Ele disse que lutar por vingança é lutar pelos outros, e ele disse que ser feliz seria lutar por si mesmo. Após Griffitas, ela sentiu que lutar por si mesma seria lutar por algo que acredita. E no quê ela acredita?
E Oliver-Pine, no que você acredita?
Pois ele ora, no cadafalso. Sua voz carregada pelo vento, toca alma por alma:
Pois O Senhor é o meu pastor e nada me faltará.
Oliver diz:
Ele nos faz deitar em pastagens verdes;
Ele nos guia junto às águas paradas;
Ele restaura nossa alma;
Ele nos guia pelas veredas da justiça por amor do seu nome.
O profeta que clama:
Pois mesmo que andemos pelo vale da sombra da morte,
não temeremos mal algum!
Porque Deus estás conosco.
Pérez era mulçumano, e ao lado de Antunes, sentiu que nada valia a pena. Ele sabe qual o destino de todo soldado, e o orgulho de ser um herói, é fantástico. A felicidade é efêmera, entretanto, pois um homem sem lugar é como um aprendizado não orientado, sem categorias definidas e por onde qualquer coisa pode acontecer. Pérez também nunca pensou no significado de um campo de batalha e nem mesmo na grandiosidade das armas. Porém, agora entre os civis, e na calmaria de uma tarde bela, Pérez pensa se não é melhor descansar para sempre, dali, e sabe, só tomar uma cervejinha e se casar com uma mulher que o amasse — ter nalguma parte do mundo, lugar para chamar de casa.
— Esse era o sonho de Lykaios. — as palavras que disse em Griffitas ecoam, memória sagrada de um amigo — Ele só queria dinheiro. Um cara simples, que não conhecia nada melhor. A guerra, sabe, também sempre foi o lugar que ele sempre se sentiu bem. Nunca vi um cara para gostar tanto de trocar tiro e explodir os outros. É engraçado, não é? Uma pessoa pode ter muitas faces e no fim continuar sendo o mesmo.
Pérez conversou com Carlos após a batalha, quis agradecer pelo apoio, quis elogiar o companheiro, quis chorar para alguém que ele reconhecia e que ele sabia também gostar de Lykaios. Mattia, Bacci e Antunes ao redor, lembraram dos dias ao redor da fogueira, quando ainda eram os Tártaros, e das histórias de mercenários, de guerreiros sem causa.
— O desejo de todo homem é ter algo pelo quê lutar. Se não as guerras, outra coisa. Lutar pelos outros é o inferno! E porra, importante é sempre saber que ser feliz, é lutar para si mesmo. Ele morreu como herói, o mais honrado entre todos nós. Saúde!
Carlos viu sua mãe na multidão e como um bom soldado, a abordou, sorriu, disse que não esperava vê-la, e que a viagem deve ter sido longa. A imagem era confusa, pois a mulher que um dia soube ser orgulhosa, que soube se deleitar com os prazeres de uma classe média terceiro-mundista, vestia agora trapos de refugiada, estando suja e com cabelos mal cuidados — sua mãe, uma mulher que seu pai cuidou, apesar de não a amar, e que a preservou, apesar de ela saber que ele a humilhava. Essa mesma mulher que, numa briga, saiu de casa sem olhar para trás, e que por seis meses foi silêncio, agora ali, na frente de um estranho que era o seu filho.
E que encontro! As lágrimas caem pelas bochechas coradas, as mãos tremem como se os dois ali existissem apenas nos limites da realidade — e ela o abraça com medo de que ele a expulsasse, e ele ri sabendo que era bom, que ele deveria se sentir bem, que ele deveria chorar, e que, sem saber o que sentir, não sentia nada, mas que, por saber do dever dos sentidos, fingiu, pelo menos, tudo que gostaria de sentir.
— Você está lindo... você está do jeito que eu me lembrava de você — sua mãe lhe disse.
— A senhora também.
Abraçados, o sol de meio dia do norte de Marte, as pessoas, o champagne. O mundo, que nunca sequer havia parado, parou, e todos paralisados foram o quadro, e todos vitoriosos sorriram — era o fim da maldade no mundo, o fim dos conflitos, pelo tempo que o mundo deu, onde tudo estava parado.
— Eu preciso ir, vamos nos encontrar amanhã. A senhora tem dinheiro, tem lugar para dormir? Eu vou te passar minha carteira, fique bem, tudo bem!
E assim ele vai... alguém totalmente diferente do meu filho...
Natalie tomou os braços de Carlos, o discurso se havia encerrado, as orações cessaram, e como se Deus os escutasse, um encanto, um milagre — todos parecem felizes e ao mesmo tempo, enquanto a bebida e o cigarro, enquanto a festa e Eden.
Uma nação de Deus, que comemora a vitória com Deus.
Carlos perguntou a Natalie se ela não queria se casar com ele e ela riu da cara dele, falando que de dona de casa, ela não tinha nada.
— Você vai se arrepender pra um caralho!
Que se foda! Ele responde, dizendo que preferia se arrepender de ter acontecido, do que nunca acontecer. Pois num beijo num beco, ela parecia distinta, com olhos de mulher cristalina fluindo por ele tal água, ou por ser ela justamente ele, e os dois tão juntos, que não poderiam ser diferentes um do outro.
O toque que afunda nos seios, os tiros que dão para o alto — um ser dotado de tudo, e talvez de nada — Naves distante que atravessam o céu, a beleza de Febos que é um segundo no céu marciano.
Oliver-pine!
A noite existe apenas para pessoas menores. Aos grandes, todo mínimo momento, é um momento para agir. O registro das teclas, Beatles tocando ao fundo, a pequena câmera que voa e registra fala e face. Oliver-Pine:
— Nós invadimos a Fábrica de Gases número 1, e estamos posicionando tropas ao redor do Vale de Baco, travando batalha contra forças combinadas de Afrikanyer e o UHD. Eles tem um certo receio de usar as mesmas armas que eles se habituaram a usar no deserto, então a batalha virou para o nosso lado. Só precisamos manter o pacto de conservação ambiental até a cidade de Esperanta.
Oliver-Pine se reunia com o mais novo coronel da união Eclesiástica, Hans Reiter, ao lado do recém-promovido General de brigada, Enrico Mazzale, e do marechal, Flyora Klimov. Outros coronéis, capitães, majores, participavam via chamada de vídeo, enquanto o General de exército, Rybak Shepitko estava impossibilitado de qualquer comunicação.
— Eu ainda estou impressionado com os nossos recentes resultados. As estratégias que adotamos tem tido efeitos consideráveis na moral do exército inimigo. Pensar na guerra como um efeito midiático realmente tem fundamentos que até então, não imaginava. O inimigo sabe que somos uma onda, o inimigo sabe que não importa o quanto nos matem, que sempre teremos mais. E do nosso lado, as pessoas vibram, as pessoas festejam, mesmo que tenhamos cada vez mais refugiados. Negar a crise, faz parecer que ela não existe. Deus realmente tem olhado para nós, e parece que estamos mais perto do que nunca. Não sei como mais agradecer a vocês.
Oliver-Pine tinha palavras ao vento enquanto mensagens criptografadas eram enviadas para dispositivos específicos, com instruções isoladas para as unidades de combate. Para Hans, por exemplo, a mensagem era [Espere].
— Vamos dar uma volta, meus filhos. Temos muito o que conversar ainda.
O objetivo era ir até a cortina de ferro, a sala impenetrável, onde Oliver-Pine fazia todos os seus movimentos importantes. Com a reunião junto aos seus agentes em campo realizado, sobrava apenas Hans e Mazzale.
Sinto que ele me matará, Hans tinha pensamentos agudos que andavam em círculos junto aos de Mazzale.
— Entremos.
A sala era protegida por 4 guardas armados com metralhados iônicas rotatórias, além de vestir trajes pessoais de guerra. Ao lado da porta, um escâner biométrico tirava inúmeras medidas de Oliver-Pine. Era a câmara de Pandora, a cortina de ferro de Eden — uma sala escura, com luzes ao fundo sendo de um servidor, onde a inteligência artificial, Valkíria, controlava e distribuía dados de mídia para as principais emissoras, subindo aos servidores, dados falseados com registros internos semelhantes ao do UHD, com protocolos de rede ainda a ser desvendados, pois a própria máquina era um mistério, e cujo o modelo de processamento era baseado em princípios lógicos registrados apenas nas sinapses de Oliver-Pine, criador de tal máquina de enigmas.
— Comandantes, estamos num ponto sensível desse conflito. Marius Orfán deve estar planejando alguma coisa. Se não ele, talvez alguma outra figura interna, com tanto poder quanto. Fiquei sabendo de movimentações da diretoria do ministério final de terraformação, e o desejo de Helena em finalmente acabar comigo. Não sei o que fiz com ela, heh! Mas tenho certeza que ela sabe.
Corria pelos corredores de Eden, que Oliver-Pine era o responsável pela morte dos geólogos que culminou no início da guerra. Entretanto, esses relatos só não diziam que um desses geólogos estavam desaparecidos desde o início da guerra. Haviam certos registros, mas apenas a Valkíria poderia responder.
— Eu tenho uma equipe investigando dentro do UHD, mas parece que não tá adiantando de nada. Então, para conter os riscos, eu quero um segurança particular. Claro, parece idiotice, já que Oliver tem clones prontos, para quando o pior acontecer, é o que é. E realmente. Meu backup de consciência está com pontos de restauração com menos de um nanosegundo e não faria diferença. Mas tem um porém. Se alguém interferisse nos pontos de ancoragem, ou se sabotassem meu núcleo de inconsciência, não teria jeito, eu morreria como qualquer um de vocês.
Hans Reiter tinha olhos arrancando parte da carne de Oliver-Pine. Um fundador, não é? Todos filhos da puta.
— Preciso de alguém instruído para ser meu acompanhante, alguém que entenda a responsabilidade e que esteja alinhado a minha causa. Minha equipe de segurança é competente? É? Mas preciso de alguém que pense fora da caixa.
Hans e Mazzale se entreolharam. Onde ele queria chegar?
— Aliás, mudando um pouco de assunto. Nós encontramos o desertor da Tropa Técnica Auxiliar. Ele pediu asilo em Pangeia e está migrando para o UHD. Parece que nosso amigo tem um bom faro.
Hans quis socar a mesa.
— O subtenente Carlos de Andrade é uma incógnita ainda, senhor. Os registros da base adriática não deixam claro sua identidade. — Enrico Mazzale comentou — Aliás, há aquela questão sobre seu pai.
— O quê? Que ele se deitava com homens? Romanos também se deitavam com homens, assim como Gregos e o resto. Aliás, eu li um conto do pai dele. Era um homem talentoso, apesar de achar o estilo dele exagerado. Nós também temos a outra, dessa tropa, a cabo Natalie Biancucchi. A mãe dela está no UHD, ela poderia ser uma traidora! Assim como Giancarlo Mattia!
Oliver-Pine tamborilava a mesa, como se nada o preocupasse. Hans, por outro lado, sentiu algo se esfregar em sua espinha.
— Mazzale, você me disse que essa tropa tinha potencial de mudar os rumos de Marte. Você escolheu as peças, você os organizou, você os encaminhou para centros de treinamento especializados. Eu lembro de ter até questionado sobre quão caro seria apenas uma tropa, que além do mais, está lotada de figuras questionáveis. Mercenários e traficantes, apenas a escória do nosso tempo. Mas deu certo, e você sabia que ia dar. Uma pessoa apenas seria capaz de fazer tudo dar certo, e essa pessoa foi você, coronel Reiter. Mas também, sem o apoio do meu Sub, teria morrido na praia, foi o que você me disse. E aí, agora, você quer me falar que não confia nele?
Hans Reiter abaixou a cabeça, se sentindo envergonhado. Mazzale, entretanto, mantinha seus olhos nos de Oliver.
— O subtenente é fiel a Roma, não a Eden. A questão toda é essa.
Oliver riu.
— Não existe mais Roma, caro Mazzale. Ela deixou de existir assim que Genoa caíra.
As paredes clásticas de Griffitas brilham com o sol de uma manhã — a muralha de Eden nunca cairia.
— Eu tenho um vídeo, em que, por questões de segurança, poderei apresentar apenas através de um aparelho analógico. O filme é confidencial, e apenas apresentei para duas pessoas até então.
Oliver-Pine fez questão de tirar um projetor e posicionar em cima da mesa onde conversavam, apontando para a porta, do outro lado da sala. Hans sentiu-se inquieto, enquanto Mazzale percebia-se apenas como curioso.
— O vídeo é a recuperação de uma imagem gravada da própria GW-0. Vê se vocês conseguem reconhecer. São disparos no quadrante 86º E, 283º W, do quadrângulo de Hellas. Disparos com um canhão de antipartículas, se vocês repararem na incidência de luz, velocidade e cor. Disparos as 05:30 da manhã, quando foi relatado no canal de comunicação interna do traje da tropa, que a bateria da arma havia acabado.
Hans se levantou da cadeira. Ele não pôde acreditar e não fazia ideia do que sentir. Mazzale, por outro lado, tocou a porta, foi a sombra da projeção.
— Não é possível! — eles disseram em uníssono.
— Bem, parece que é bem possível. Não faço ideia de como ele sabia as coordenadas exatas, não sei se foi sorte. Os ases de profana são maiores que o enxerto, talvez seja por isso. Talvez seja por conta da arma. Talvez ele mesmo nem saiba que seu tiro tenha acertado. Foi um disparo que correu mais de 150 quilômetros. Não há no mundo inteligência artificial capaz de feito semelhante. E bem, nem eu acreditei. Mas tenho fé.
Hans se virou para Oliver-Pine, e se aproximando da mesa, finalmente fez como queria desde o princípio, socando-a.
— Nós temos que interroga-lo. Um disparo desses deveria ser registrado em algum lugar! E se ele estiver guardando informação? Isso é perigoso.
Mazzale conteve Hans, tomando seu ombro, pedindo que ele sentasse.
— Hans está certo. Ele já mostrou saber demais, principalmente em relação a profana. — Mazzale disse — Deveríamos pelo menos tirar uma dúvida, ou outra. Não sei se consigo confiar no soldado.
Oliver-Pine se ajeitou na cadeira. De um pequeno frigobar abaixo da sua cadeira, ele tirou um copo de uísque embranquecido pelo fulgor, e um caixa de leite. Derramando e completando com vodca, tomou num gole, respondendo a Hans e a Mazzale:
— Vocês mais perdem, quando em dúvida, do que eu, tendo fé. Se ele fosse um traidor, não pensaria em destruir o bem mais valioso dos Distritos. Todo esse circo montado em Griffitas não teria metade do valor, se não fosse a queda de um dos ases. É o que vocês não entendem, são novos. Essas naves não foram projetadas para guerra. Elas guardam uma informação que vocês não conseguem sequer conceber. A Magnus Opus de Franker Médzsci! Destruí-la, seria o mesmo que cuspir na cara de todo coletivo consciente, que tanto se orgulha dessa máquina! Como se eles tivessem a construído, em vez do homem que eles mesmos expulsaram de sua terra, clamando por louco.
Oliver tomou seu drink em apenas uma golada, como se tudo que um dia ele disse, sobre abstinência e Deus e o corpo como um templo, ser uma grande mentira.
— Eu o quero, pois será filho de Saul, e eu sendo Davi, derrotarei meus inimigos, e Eden, minha casa, será próspera, assim como todas as nações de Marte!
Oliver-Pine os dispensou, sem uma palavra a mais.
Apoie a Novel Mania
Chega de anúncios irritantes, agora a Novel Mania será mantida exclusivamente pelos leitores, ou seja, sem anúncios ou assinaturas pagas. Para continuarmos online e sem interrupções, precisamos do seu apoio! Sua contribuição nos ajuda a manter a qualidade e incentivar a equipe a continuar trazendos mais conteúdos.
Novas traduções
Novels originais
Experiência sem anúncios