Volume 1

Capítulo 01: Revisão

Ele continua correndo em passos largos e fala confiante:

— Não tenho medo de magia!

A resposta é imediata e com um tom sádico:

— Mas desta deveria ter.

O inimigo agora sussurra, rindo. Então fala alto, apontando seu cajado para o seu alvo:

— Medo!

A onda de energia — novamente — sai do cajado e o atinge, fazendo-o parar de correr. O inimigo, ainda sorridente, afirma:

— Sofra, guerreiro…

Rapidamente, o olho do alvo fica vermelho-sangue, as veias de seu corpo saltam, ele urra tão alto que todos os soldados têm a impressão de ser um trovão ecoando no céu. Logo o sorriso do inimigo some, dando lugar a um e talvez ultimo questionamento.

— O que é “isso”?

Aquele que havia parado, agora volta a correr ainda mais rápido e enfurecido, parecendo matar ao se aproximar.

Seus passos parecem uma manada, seu corpo parece que vai explodir, seus olhos diziam “matar”. Ele segura o machado tão forte que faz a madeira ranger.

O inimigo se assusta e arremessa um grande projétil mágico de cor escura, que bate no robusto herói, não causando nenhum efeito, aparentando até que deu mais força para ele continuar correndo.

O inimigo estremece e com olhar de medo recua poucos passos para trás. Ele se aproxima e eleva seu machado com um único golpe forte e fatal. O inimigo fica paralisado frente a isso.

—  Impossível...

Antes da finalização o general intervém, ele avança à frente e, em um sacar rápido, passa pelo herói como se tivesse atravessado o seu corpo.

O Herói para, seu corpo volta ao normal e, bufando, cai, fazendo o inimigo recuar para que não caísse em cima dele. O general guarda sua espada em sua cintura e, com tom sério, fala o mágico:

— Guerreiro desse porte não tem medo, seja mais atento...

 

Manhã, 15 de setembro de 1590. Pronuntio, acampamento de guerra da Ilha da Água.

— Ray, Ray! Vamos, acorde…

Hummm

— Seu treinamento foi adiado, você deverá estar no campo daqui a dez minutos.

— Nossa! Mas o que houve? Justo hoje que é meu último dia de treinamento.

— Não sei, sou apenas uma camareira, não sou informada dos detalhes, mas fiquei sabendo que a Senhora da Água tem uma missão para você.

— Uma missão! Que legal, só espero que não seja comprar mantimentos na cidade vizinha de novo.

— A Senhora da Água não o chamaria para tal bobeira… Anda logo, menino! Tenho mais o que fazer, desça e vá comer, pois Maxmilliam o espera.

Ray levanta de sua cama usando calção, roupa de baixo e uma camisa rasgada no lado direito, vai em direção a uma pia no próprio quarto, lava o rosto, faz bochecho usando um líquido azul, vai até um pequeno guarda-roupa e troca suas vestes por uma mais adequada, calça, roupa de baixo e uma camisa mais nova.

Ray sai do quarto em direção ao jardim, onde passa por corredores com várias portas para outros quartos, cozinhas, salas e escadas, até sair em um campo de treinamento. Seguindo mais adiante, um grande castelo com grandes torres parecendo pilares, que visto de longe faz um formato de uma pirâmide e visto de cima, um círculo. Ao lado do castelo, um belo jardim com uma grande variedade de flores e plantas, e no meio dele, uma mesa e bancos de pedra.

Já no jardim banhado com fortes raios de sol, em um lindo céu azul, um senhor de cabelos brancos com um traje com manto branco com detalhes azuis e um cajado branco cravejado com pedras azuis e uma escrita cinza na lateral o espera em pé ao lado da mesa de pedra, com um traje de tons de azul dobrado em um dos bancos parecendo um uniforme.

— Me desculpe, rapaz, mas nosso tempo é curto.

— Justo o último dia de treinamento tem que ser corrido assim?

— Na verdade, não é seu último dia de treinamento, as únicas batalhas e exercícios que fez até hoje tinham supervisão e foram com pessoas que não queriam te machucar, com exceção da cozinheira no dia em que invadiu a cozinha antes do horário, mas é um detalhe.

Ray ri e continua a conversa.

— Poxa! Então o que faremos hoje?

Com um jeito cínico, o senhor responde:

— “O que faremos”! Eu, Maxmilliam de Galfik, após esta conversa não serei mais seu mestre, hoje estarei livre de você.

— Desejou muito este dia, não?

Maxmilliam responde, sorrindo:

— Não veja dessa forma… Você é adulto agora, está na hora de escolher e ir atrás de suas próprias conquistas, desejos e perfeições… Meu trabalho até agora acabou.

— O senhor sabe o que a Úrsula quer comigo?

— É claro, uma missão…

— Mas…

— Calma, vamos aos poucos, o dia será longo. Antes que você vá a essa missão pelo Grande Continente, eu terei que ver se você está preparado teoricamente.

— Mas você disse que o tempo é curto.

— Tempo curto, dia longo!

— Certo. Mas e a prática?

— Isso você vai aprender lá.

— Muito reconfortante.

— Vamos parar de conversa, vamos à prova.

— Prova?

— Sim. No Grande Continente, você encontrará várias raças e classes que não está acostumado a ver aqui na ilha. A propósito, quantas ilhas cercam o Grande Continente? As povoadas.

— É Ar, Terra, Trovão, Planta, Luz, Tempo, Fogo, Gelo, Trevas e Água. São dez ilhas representando um elemento de cada Electi “rei” de cada ilha, são como governantes de Arbidabliu, como a nossa Úrsula “Senhora da Água”.

— Bom… Não esqueça que é a terceira geração de Electi…

— Sei, sei, contando com os três primeiros que estiveram em Arbidabliu…

— Certo. Vamos às raças, me diga a expectativa de vida, que Electi a criou e o que você sabe da raça.

— Bem… a raça Electi são seres parecidos como nós humanos, mas abençoados com dons, muito conhecimento e poder. Eles foram criados pelo Primogênito para que reinem no mundo com honra, como se fossem deuses, numa expectativa de vida de quinhentos anos.

— Ótimo. Os “Grandes Animais”?

— “Peixe” da segunda geração abençoou alguns animais com grandes poderes, deixando-os inteligentes e maiores do que o normal numa expectativa de vida de duzentos anos a mais da expectativa normal do animal, mas acho que não existem mais na nossa geração.

— São raros, mas existem, sim. Vamos aos “aurem”.

Hmmm… “Cavalo” fez humanos com pele, cabelos e olhos claros, com boa inteligência e agilidade, mas fracos na força bruta, eles têm expectativa de vida de cento e cinquenta anos.

— Alguns raros e exilados são portadores de uma grande força…

— “Cavalo” também fundou a cidade Sodam of Smart, abençoando um grupo de humanos para que pudessem se transformar num determinado animal. Essa transformação mantém a estatura humana e adquire as vantagens e aspectos de um único animal para toda a vida… Não me recordo da expectativa de vida deles.

— Cento e oitenta anos. Agora os “Dionamuh-P”.

— Mais conhecido como Parva, o Electi “Leão” era menor do que os outros Electi, deve ser por isso que ele criou humanos baixinhos com dons em mineração e resistentes a calor e frio, deve ter sido um deus ganancioso…

— Pare de julgar seres que nem conheceu. Zodíaco, a segunda geração de Electi, criou raças para diversificar e para ter mais semelhantes em Arbidabliu. Como o “Criador” fez Seus semelhantes, nós, os humanos, essa segunda geração fez os deles. Não que eu concorde, mas foi o que aconteceu. Fale dos Taurus.

— Essa raça nem existe mais!

— Como sabe? O máximo que viu foi a cidade vizinha!

— Está certo. “Touro” criou touros com aspectos humanos, bípedes, inteligentes, mais fortes, ágeis, pesados e mais altos do que um touro comum, podendo viver, mas não foi o caso, novecentos anos.

— Podem chegar a cinco metros de altura e até três toneladas, e acredito que não existam mais, mas por via das dúvidas é bom saber, quem sabe você dê sorte em ver um na sua aventura.

— Sorte? Tenho problemas em montar cavalos, imagina enfrentar um Tauru!

Maxmilliam ri e comenta:

— Calma, o máximo que você deverá ver são ladrões.

Ray, com uma cara cínica, pergunta:

— E o senhor? “Grande Mestre de Magia” enfrentaria um Tauru?

Maxmilliam responde, com sorriso humilde:

— Enfrentaria! É claro! Seria uma honra, mas não sei se sairia vivo.

Os dois riem alto, e Ray pergunta:

— Nunca viu um Tauru nas suas aventuras? Um Mestre de Magia do seu nível já deve ter visto até Demônios.

— Já vi os dois, mas há muito tempo… Vamos ao foco, já que mencionou os Demônios, me fale o que você sabe deles.

— Um ser bem complicado, criado pelos Electi “Caranguejo”, “Escorpião” e “Peixe” com características de animais de sangue frio com uma grande variedade de dons e aparências. Infelizmente não sei muito, porque nunca vi ou ouvi falar de nenhum, só o que li na nossa biblioteca.

— Felizmente você nunca os viu e nem os verá!

— O senhor mesmo falou, se eu tiver “sorte”?

— Acredito que não, “Libra” exilou os Demônios depois da grande guerra.

— É verdade o boato de que o Primogênito e Libra são a mesma pessoa ou a mesma divindade Electi?

— Existem vários boatos sobre o Primogênito. Como ele foi um dos salvadores, muitos querem saber da existência e da localização dele, existem boatos de que os outros dois estão vivos, de que os três estão mortos. Lembro-me do meu mestre me contando as histórias e teorias dele.

— O Iluminado?

— Sim, ele é muito poderoso, e me ensinou tudo que sei, e até na última vez que nos enfrentamos no “Orbis Absolute”, ele ainda ganha de mim, ainda não superei meu mestre nesse campo.

— Se enfrentaram?

— Foi um duelo amistoso.

— Hummm… Orbis Absolute… Uma luta mental como uma dimensão própria da mente onde mestres e mágicos duelam?

— Sim, grandes mestres, para não afetar ou machucar pessoas ao seu redor, duelam dessa forma, um duelo onde só a mente é afetada, sem se preocupar com desgaste físico, os poderes mágicos são mais fortes lá.

Com risos, Ray questiona:

— Então quanto mais se perde, mais burro fica?

Maxmilliam diz, indignado:

— Tolo!

Ray ri mais vendo a forma como Maxmilliam ficou brabo e se cala ao ver um guarda se aproximando, interrompendo os dois.

— Desculpem-me atrapalhar, mas Úrsula os aguarda.

Maxmilliam estranha.

— “Os”? Não é só o rapaz?

— Pediram-me para que chamasse Ray e seu mestre Maxmilliam.

Maxmilliam estranha o fato de ele também ser chamado e, olhando para o horizonte com um ar suspeito, diz:

— Obrigado, estamos a caminho.

O guarda se reverencia e sai do jardim. Ray pressente o ar suspeito de seu mestre.

— Tudo bem? Conheço esse olhar…

— Não, não é nada.

— A última vez que o vi assim foi quando meu pai morreu. O senhor meio que sabia que aconteceria. Hoje entendo mais do que quando criança. Me falaria se fosse algo grave?

— É claro, como eu digo, você é adulto e tem que saber das coisas… Antes de irmos, tem esta roupa aqui para você usar.

— Um uniforme?

— Não exatamente, a população daqui usa roupas com tons azuis, é um traje bom para a luta e para a audiência formal que você terá agora com a Senhora da Água.

Após colocar o uniforme, Ray e Maxmilliam começam a andar em direção à sala de Úrsula, que fica em um grande salão seguindo por corredores, salas de armas e sala de artes dentro do castelo.

Maxmilliam aconselha:

— Será boa essa aventura para você entender melhor o mundo e o porquê de certas atitudes de pessoas más e boas.

— Na verdade, eu já deveria estar numa missão…

— Esqueça isso por enquanto, Ray.

— Será que eles…

— Ray! Atenção! Depois da audiência falamos sobre isso.



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