Arena Coreana

Tradução: Filipe

Revisão: Luz


Volume 2

Capítulo 71: Armeiro (2)

O design do cartão que recebi diferia de um cartão normal, este parecia ser mais pesado e feito de metal, ao invés de plástico como nos demais.  

O acabamento era em tom de preto fosco. Na frente havia as letras “ARENA” gravadas nele e na parte de trás o número do cartão.

Fora isso, não havia mais nada, o que deixava o cartão ainda mais descolado. Isso me fez pensar nos cartões das pessoas VIP.

“Isso é muito ‘maneiro’.”

Quando peguei o cartão e olhando para ele, imaginei que ele causaria um certo respeito. Estava admirando-o quando a Lee Soo-hyun me explicou.

— É o seu cartão personalizado. 

“Interessante.”

No caminho de volta, eu fiquei pegando o cartão o tempo todo. Tendo algo como aquilo, me fez sentir como se fosse uma pessoa incrível. Devia ser por isso que pessoas ricas enlouqueciam por cartões personalizados.

Conforme anoiteceu, nós aproveitamos a vista noturna para passear por Geneva. Caminhamos, rimos e conversamos, tivemos um tempo divertido juntos.

No dia seguinte. Na parte da manhã, visitamos alguns locais desejados e por volta do meio-dia pegamos um voo para a Dinamarca.

 

***

 

— Cuide delas, por favor.

— Certo.

Para a minha solicitação, Lee Soo-hyun assentiu.

— Tenha uma boa reunião.

— Nós vamos nos divertir um pouco primeiro!

Min-jeong e Hyun-ji acenaram e sumiram com Lee Soo-hyun enquanto eu fui me encontrar com Odin. Elas estavam indo passear por Copenhague.

Eu fui para o mesmo restaurante da última vez. Falei o meu nome para o funcionário no balcão, que verificou alguma coisa e então me guiou.

Paramos em frente a um quarto, batemos na porta e pude ouvir a voz de Odin.

— Entre.

Abri a porta e entrei, no quarto estavam duas pessoas.

Uma delas era um bonito homem loiro, Odin.

O outro era um homem por volta dos 50 com uma barba incrível.

— É esse o amigo?

Perguntou o homem de meia-idade com a barba incrível, Odin confirmou.

— É ele sim, Sr. Kim Hyun-ho seja bem-vindo.

— Obrigado, já faz um tempo.

Apertamos as mãos e depois também apertei as mãos com o homem de meia-idade.

— Eu sou o Neils Oslon.

— Sou Kim Hyun-ho.

“Esse velhote chamado Neils deve ser o armeiro.”

Odin o apresentou para mim.

— Oslon é um participante de 13º rodada, as missões que ele completou foram simples, mas ele passou um tempo considerável na Arena.

— Acredito que passei uns 30 anos na Arena.

Por alguns instantes duvidei dos meus ouvidos.

— 30 anos?

— Sim, eu fiquei velho e morri de uma doença crônica, e assim me tornei um participante. Exames e todo o resto, penso que eu deveria ter simplesmente morrido, mas por alguma razão eu aceitei e disse querer viver e tudo mais, agora estou nesse barco.

— Espera aí, então, quantos anos você tem?

Ele respondeu a minha pergunta.

— Você é mesmo um novato.

— Sim… 

— Eu tenho 57 anos. Se eu somasse os anos que passei na Arena, estaria próximo aos 90, contudo, não importa quanto tempo você passe na Arena, você não envelhece lá.

Eu havia aprendido isso na primeira vez. O tempo gasto na Arena não envelhecia o corpo, o que significava… 

— Isso quer dizer, que você pode receber um teste em que você tenha que gastar um bom tempo.

— Exato, é por isso que eu sou um participante de 13º rodada que passou 30 anos lá. É realmente fatigante.

— Exatamente que tipo de missões você recebeu?

Eu perguntei, Neils estremeceu enquanto falava.

— Tive que me tornar um aprendiz do ferreiro da cidade. Esse foi meu primeiro exame.

— … 

— A vida de um ferreiro é como a de um escravo sem nenhum tostão. Tive que implorar para me mandarem como um escravo livre para o ferreiro. 

Havia exames como esse, aprendi isso no meu quarto exame, que nem todos os exames eram questão de vida ou morte.

— Meu exame mais demorado foi onde eu tive que fazer um rifle.

Neils continuou suas lamúrias.

— Como uma arma de fogo com cano longo, eu fiz o formato geral dela e entreguei para um mago colocar um feitiço. Usando um método mágico para atirar e assim criar uma arma mágica, dessa forma eu pude completar o exame.

Hm? Isso era um rifle mágico?

— Isso, eu criei o primeiro do gênero.

Fiquei pálido.

Odin providenciou uma explicação simples.

— Todos os itens que você consegue adquirir por karma, são coisas encontradas na Arena.

O rifle mágico que o Neils havia inventado, por um curto período, foi popular nas províncias do norte, mas a produção era cara e o desempenho era fraco, com isso acabaram desaparecendo.

— Graças a esse rifle mágico, eu fui capaz de concluir em segurança meu segundo exame.

— Você completou uma missão usando aquele pedaço de merda?

Neils tinha um olhar de surpresa. Mesmo o criador da arma admitia seu baixo desempenho.

Por outro lado, se não fosse por Sylph, eu não teria sido capaz de usá-la.

— Para usar um negócio como aquele, e ainda conseguir fazer bom uso, você é tão bom assim atirando? Você é digno de receber uma arma.

— Foi tudo graças à "invocação de espíritos”.

Expliquei de forma simples sobre a Sylph, nisso ele bateu nos joelhos e gritou.

— É isso! Com isso, mesmo uma bosta de arma, poderia atirar bem!

— Sim, desde que ela não quebre enquanto dispara.

— Eu não faço armas tão vagabundas que quebram durante o disparo.

Neils disso isso como se estivesse gostando de mim.

— Tudo bem, você merece receber uma arma que eu fiz. Bem, eu já tinha alguns débitos a pagar para o Sr. Odin, de modo que eu te daria uma arma de qualquer jeito.

Olhei para ele com um olhar ansioso, pensando que  arma ele iria me entregar. Se pudesse ser uma arma automática, não, mesmo uma semiautomática seria ótima.

A cada disparo que eu fazia, ter que puxar o ferrolho de novo, essa ação gerava um esforço grande. Foi por causa disso, que mesmo com o Leon Silver na minha frente eu não pude atirar nele.

Ele via a direção do cano da arma e meus dedos puxando o gatilho para desviar dos disparos. Com esse tipo de arma, eu poderia disparar em sequência, e mesmo na melhor das hipóteses ele não conseguiria desviar de todas as balas.

— Me fale sobre a arma que você quer. Das armas que já fiz, vou te entregar a mais próxima a isso.

Para as palavras dele, eu respondi na hora.

— Um sistema de disparo automático seria o ideal. Caso não seja possível, uma semiautomática também seria boa.

— As duas armas que você usou até aqui, a merda do rifle mágico e o Mosin-Nagant, essas duas eram umas porcarias, por isso você pensa assim. Um Mosin-Nagant… é com isso que os maníacos costumam “brincar” porque ele é barato.

Ele soltou um suspiro de remorso e balançou a cabeça.

— Eu ainda não criei uma arma com sistema automático. Das armas que fiz, considerando semiautomáticas, eu tenho um rifle e um par de revólveres.

— Nesse caso eu vou querer o rifle.

— Pense nisso com cuidado.

— Desculpe?

— Por que você quer uma arma semiautomática? Se você superar um pouco do desconforto no uso, com o Mosin-Nagant você tem uma boa demonstração de força e poder. Sendo que, mirar, disparar, recarregar e atirar novamente, não é a Sylph quem faz?

— … 

— Se você não está favorável devido ao ferrolho, isso só seria problema em situações de combate próximo.

Com essas palavras, não teve como não relembrar o dia que Hye-su morreu.

… era verdade. O desgraçado estava bem próximo a mim.

— Se for para atacar um inimigo que esteja perto, o que acha do revólver? Se for um revólver, eu posso dar dois para você.

— Dois revólveres?

— Você não está tendo que mirar, não é mesmo? A Sylph faz isso. Então se você pegar uma arma em cada mão e sair atirando em volta sem mirar, elas vão acertar o alvo de qualquer forma, não vão?

Com a ideia dele, não pude esconder minha surpresa. Após escutar isso, vi que era mesmo verdade!

Se fosse um combate próximo, essa forma seria muito mais poderosa e se fosse a uma longa distância, eu teria a Sylph para atirar com o Mosin-Nagant como havia sido até ali.

— Você é incrível! Ter uma ideia como essa!

— Em um lugar sem ninguém por perto, os exames curtos eram de dois anos e o mais longo foi de seis anos, enquanto eu completava os exames, como você acha que eu sobrevivia ao tédio?

— … 

— Eu passei o tempo brincando e fazendo todo o tipo de coisa, devido a estar entediado.

Viver sozinho por anos era a receita perfeita para se perder a cabeça. Era fácil imaginar um homem de meia-idade brincando com uma arma em cada mão.

Neils invocou dois revólveres e me entregou eles.

— Pegue eles.

— Obrigado.

Peguei os dois revólveres e verifiquei minha placa de dados.

Neils H2: O primeiro e único fazedor de armas da Arena, criador dos revólveres semiautomáticos Oslon, cartuchos 375 magnum

  • Capacidade: 9 + 1
  • Alcance: 200 m.
  • Você não pode transferir para outros ou trocar por karma.

— São mais imponentes do que pensei.

— É porque eu praticamente copiei de uma Desert Eagle.

Ah.

Não era por menos, que o design das armas me dava a impressão de já tê-lo visto em algum lugar.

—  Uma bala magnum é bem forte, porém, isso também vem com um forte “coice”, devido a isso é um pouco difícil de usar. Contudo, isso não se aplica aos participantes, né?

— Sim, isso não será um problema.

Meu “fortalecimento corporal” estava no nível intermediário 1, o que fazia os meus pulsos serem como aço.

Ter dois revólveres que eu poderia usar em curtas distâncias fez o meu coração errar as batidas de tanta alegria.

Somando-se as armas, o “fortalecimento corporal”, a “capacidade física”, “divinas proteções do fogo e do vento”, com tudo isso, nem mesmo o líder do Clã Prata, Leon Silver, seria um problema.

Eu me perguntei se seria possível conseguir uma habilidade relacionada com tiro de alguma forma.

“Talvez se eu combinar a habilidade ‘guia’ com uma arma, eu poderia criar uma habilidade nesse sentido.”

Soava possível, quando eu havia sintetizado o “fortalecimento corporal” e “guia”, eu consegui a “capacidade física”. Essa sintetização me deu uma habilidade para guiar o meu corpo.

Sendo assim, se eu combinasse a arma com o “guia”, parecia lógico que eu receberia uma habilidade relacionada com disparos.

Pensando nisso, pedi para o Neils.

— Você por acaso, teria alguma arma que está pensando em jogar fora?

— Por que pergunta isso?

— Eu tenho um negócio.

— As armas que eu faço não podem ser dadas a outros nem trocadas por karma, você sabe disso?

— Sim, eu vi a explicação.

Uma arma que fosse feita pelo Neils Oslon, só podia ter um dono, que era escolhido pelo seu criador, Neils Oslon.

— Você lembra o rifle mágico? Devido ao exame, eu tenho uns dez dele.

— Isso serviria. É descarado da minha parte, mas seria possível me dar um deles?

— Não tem valor, eles não têm nenhum uso. Se você me desse eles, eu não aceitaria.

Em seguida ele invocou um rifle mágico e me entregou.

“Legal!”

Com tudo isso, ter ido para a Dinamarca com certeza foi valioso. Com o acordo finalizado, nós dividimos uma refeição e compartilhamos algumas histórias.

Quando a bebida desceu, Neils soltou toda a sua vida na Arena, e ele era mesmo uma pessoa que passou por todo tipo de adversidade.

A mais ridícula foi na sétima rodada.

“Ir para uma terra remota onde ninguém nunca tinha ido e se estabelecer lá, isso foi um pouco duro.”

Ali, eu pude escutar um pedaço valioso de informação.

— Você sabe o porquê daquele anjo desgraçado ter me enviado para uma terra de ninguém no exame?

— Não tenho certeza. Isso foi para que a sua habilidade de produzir armas não influenciasse a sociedade da Arena?

— Isso também! Mas havia um motivo mais importante.

Neils matou sua cerveja em um único gole e falou.

— Isso foi para eliminar os erros na linha do tempo.

A explicação dele era essa. Ele começou os exames na mesma época que o Odin, mas enquanto o Odin passou 40 dias para o exame, Neils passou três anos. Em virtude de eliminar o problema com os saltos no tempo, o anjo enviou Neils para um lugar sem ninguém por perto.

Essa linha de pensamento fazia sentido. Eu cheguei a pensar em algo assim antes também. Se você observasse por esse ponto de vista, o motivo dos participantes de primeira rodada começarem em locais remotos, sem ninguém por perto, poderia ser devido a esse conflito nas linhas do tempo.



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