Volume 2

Capítulo 38: O fracasso de Hajime

Regin Banton era um homem forte. Os rumores diziam que ele seria o próximo Chefe da tribo Banton: uma das tribos dos Homens-Urso. Ele idolatrava um dos atuais Anciões: Jin Banton, e se tornou seu braço direito.

Não apenas com Regin, podia-se dizer que Jin era popular na tribo Banton como um todo, especialmente entre os mais jovens. Os motivos para isso eram a personalidade de Jin, que era liberal, contendo um profundo patriotismo e, acima de tudo, sua força, que o permitiu ser considerado como alguém do mais alto nível entre todas as raças de Demi-Humanos.

Foi por isso que, quando a tribo dos Homens-Urso escutou as notícias, eles pensaram que era apenas uma piada sem graça. Eles não podiam acreditar que seu amado Ancião foi incapacitado por um humano. Contudo, a impiedosa realidade se provou real. Jin, que estava impotente na instalação médica, os mostrou a verdade.

Regin estava aturdido ao ver a aparência atual de Jin. Em seguida, sua ira e ódio cresceram. Enquanto carregava esses sentimentos dentro de seu coração, ele pressionou os Anciões para determinar as circunstâncias. Como resultado, Regin, que descobriu tudo, ignorou os Anciões e disse tudo a tribo dos Homens-Urso. Assim, eles embarcaram em sua busca por vingança.

Graças a persuasão dos Anciões e das outras tribos, nem todas as tribos dos Homens-Urso seguiram Regin, apenas os mais jovens da tribo Banton, que admiravam Jin, partiram para derrotar o odioso humano. O número deles era aproximadamente 50. Regin e os outros, que sabiam do objetivo de seu inimigo, pensaram que seria melhor atacar quando seus inimigos estivessem na frente da |Grande Árvore| como vingança. Eles pensaram: “Perecer diante do seu objetivo será a melhor vingança”.

Afinal, os inimigos deles consistiam de humanos e da tribo dos Homens-Coelho. Mesmo que Jin tenha sido derrotado, eles pensaram que foi por alguma técnica covarde, como um ataque surpresa. Eles pensaram que não havia nada a temer nos humanos, que enlouqueceriam sem um senso de direção na profundeza da névoa do |Mar de Árvores|, e muito menos da fraca tribo dos Homens-Coelho. Regin era uma pessoa excepcional. Normalmente, ele não iria interpretar a situação dessa forma. No entanto, seus olhos estavam cegos pela fúria.

Contudo, não importava o quanto ele pensasse, mesmo se seus olhos estivessem nublados...

(Regin): “Isto está errado!?”

Regin gritou incrédulo. O motivo: diante de seus próprios olhos, um espetáculo impossível estava acontecendo. A tribo dos Homens-Coelho, que era colocada abaixo de todos os outros Demi-Humanos, estava encurralando a tribo dos Homens-Urso, que era conhecida como a mais forte de todas em combate.

(Haulia A): “Venham, venham, venham! Mostrem seu espírito de luta! Senão, eu vou cortar vocês!”

(Haulia B): “AHAHAHAHAHA, gritem como os porcos que vocês são!”

(Haulia C): “Está na hora de limpar esta sujeira! HYAHAHAHAHAHA!”

Enquanto a tribo Haulia desferia incontáveis ataques fatais e sanguinários, suas altas risadas ressoavam. Não havia a aparência da tribo de Homens-Coelho que era gentil, pacífica e, acima de tudo, fraca em combate. Gritos vieram da tribo dos Homens-Urso que desesperadamente tentava se defender.

(Banton A): “Merda! Que diabos é isto! Quem diabos são vocês!?!?”

(Banton B): “Eles não podem ser da tribo dos Homens-Coelho!”

(Banton C): “Uwaaaa! Fique longe! Fique longeeee!”

Eles foram emboscados pelos inimigos que eles queriam emboscar. A tribo dos Homens-Coelho, que preparou uma armadilha, mostrou um poder inacreditável, mesmo entre as outras raças de Demi-Humanos. Flechas e pedras voavam com precisão de lugar nenhum, além do excelente trabalho de equipe deles. A alegria com que eles usavam suas facas, vestindo expressões lunáticas e as altas risadas durante todo o combate... tudo isso deu início a uma comoção violenta. Nessa situação, os atributos deles excediam os da tribo dos Homens-Urso.

Na verdade, a tribo dos Homens-Coelho não seria capaz de competir em uma luta um contra um com a tribo dos Homens-Urso. Entretanto, nesses últimos dez dias, a tribo Haulia foi capaz de compensar essa diferença, graças ao treinamento infernal de Hajime.

Originalmente, os atributos da tribo dos Homens-Coelho era menor do que todas as outras raças de Demi-Humanos. Contudo, para sobreviver e evitar batalhas, eles poliram sua habilidade de furtividade e percepção de perigo. Afinal, eles só poderiam sobreviver dessa forma.

Como resultado, eles eram capazes de imediatamente perceber a presença de seus inimigos ao ponto em que eles poderiam embosca-los. Podia-se dizer que eles eram de uma raça com habilidades adequadas para assassinatos. No entanto, sua natureza gentil tinha destruído essas vantagens.

Poderíamos dizer que o treinamento de Hajime despertou os instintos de combate deles. Ele sozinho abusou e cercou eles ao deixar eles usarem suas armas, atacando seus inimigos e deixando eles ganharem experiência com esquiva, sem descanso. Ao se lembrar do discurso do sargento veterano Hart**n[1], como resultado de um treinamento severo de dez dias, a mente deles se tornou completamente orientada para o combate. Porém, Hajime sentiu que isso pode ter sido um pouco demais...

Eles, que adquiriram agressividade para atacar sem nenhuma hesitação, demonstraram proeza de combate promissora. Como eles pensavam em toda a tribo como membros de uma família, o nível de trabalho em equipe deles era alto desde o início. Com seu habilidoso ajuste de presença, isso demonstrava efeito tremendo ao lado do excelente trabalho de equipe.

Além disso, uma das razões para a alta destreza de combate da tribo Haulia era as armas feitas por Hajime, que aumentavam o poder dos ataques incompetentes deles.

Cada um deles carregava duas Kodachis, produzidas com um processo preciso e hábil, essas lâminas ultrafinas eram capazes de cortar grama apenas com um leve toque. Elas eram feitas de [Metal Tauru], então elas eram resistentes. A tribo Haulia também carregava facas descartáveis para arremessos.

Eles também tinham poderosos estilingues e bestas que foram feitas com fios de grande elasticidade feitos de uma Fera Mágica parecida com uma aranha no abismo. Elas foram feitas para as crianças da tribo Haulia, já que combate a curta distância ainda era muito perigoso para eles. Até as crianças eram capazes de atirar nos inimigos do outro lado do nevoeiro, usando suas habilidades de busca enquanto eles instintivamente procuravam por seus alvos.

Até Pal... Baltoferd da Morte Certa estava completamente encantado enquanto atirava com sua besta, demonstrando a natureza de um verdadeiro franco-atirador.

(Baltoferd): “Um tiro da morte certa! Sua cabeça foi explodida. Em nome da ‘Morte Certa’!”

Pal... Baltoferd da Morte Certa recentemente ganhou o hábito de dizer esse tipo de coisa. A propósito, ele se chamava de “Morte Certa”. Sua primeira frase habitual era “Mirar e atirar!”, mas Hajime fez ele parar com isso. Ele parecia muito descontente.

De volta ao tópico principal, a tribo dos Homens-Urso, que entrou em pânico, foi facilmente derrotada sem grande resistência pela tribo Haulia atual e seus números diminuíram rapidamente. No momento, metade deles já estavam mortos na vizinhança.

(Banton A): “Regin-dono! Se isto continuar...”

(Regin): “Recuar!”

(Banton A): “Deixe-me cuidar da reti... KUPE!?”

(Regin): “Tontoooo!?”

Ouvindo o aviso de seu subordinado para recuar, Regin hesitou devido a fúria do incapacitado Jin e seus subordinados mortos. Esse momento de hesitação não foi desperdiçado por um franco-atirador Haulia. Para o subordinado chamado Tonto que tentou avisar seu lorde para recuar de uma vez, uma flecha penetrou sua têmpora com precisão.

Com isto, Regin e seus subordinados estremeceram e caíram em desordem. Kam e os outros que enxergaram essa oportunidade, atacaram em conjunto.

Flechas voaram de dentro do nevoeiro e foram apontadas com precisão para os tornozelos de seus alvos. Enquanto distraídos por isso, um ataque feroz aparecia para ceifar as cabeças deles. Com uma precisão excelente, a pessoa que tentava matar aquele que estava atirando flechas de suas costas caía morto no chão.

Contudo, talvez por esse ser o movimento favorito deles, uma presença subitamente aparecia atrás dos Homens-Ursos e trazia um golpe fatal. A tribo Haulia utilizava sua presença e trabalho em equipe para brincar com Regin e seus subordinados, que estremeceram com isto. Eles pensaram: “Eles são mesmo aqueles inúteis e fracos da tribo dos Homens-Coelho!?”.

A batalha se arrastou por um tempo, Regin e seus companheiros finalmente conseguiram se recuperar de sua confusão enquanto cuidavam de suas feridas. Eles foram capazes de se manterem de pé usando suas armas como suporte. Quando as ondas de ataques usando o fogo de supressão[2] e trabalho de equipe diminuíram, todos eles estavam ofegantes. Regin e seus subordinados estavam cercados por Kam e os outros depois de serem encurralados com uma árvore gigantesca em suas costas.

(Haulia A): “O que aconteceu, seus ******!? Isso é tudo!? Fracotes!”

(Haulia B): “Eu escutei que vocês eram a tribo mais forte de todas! Seus ******! Mesmo assim vocês são ******!”

(Haulia C): “Preparem suas armas depressa! Vocês ****** já perderam a esperança!?”

Eles pensaram que essa não era a tribo dos Homens-Coelho devido a forma com que eles bombardeavam a outra tribo com insultos. A tribo dos Homens-Urso que tremia de medo só poderia pensar: “O que aconteceu com esses caras!?”. Com seus espíritos quebrados, alguns deles tremiam enquanto seguravam suas cabeças. Um grande homem cabeludo disse “Vocês não podem nos deixar ir?” com os olhos cheios de lágrimas... era realmente um espetáculo surreal.

(Kam): “KU KU KU, vocês têm mais alguma coisa para dizer? Ó tribo mais forte de todas?”

Kam usou um pouco de sarcasmo com uma expressão realmente maligna. Eles, que despertaram seus espíritos de luta, pareciam ter pensado sobre suas próprias circunstâncias quando foram menosprezados. Esse era um discurso que não poderia ser feito pelo antigo Kam.

(Regin): “Nuguu...”

Ouvindo a objeção de Kam, a expressão de Regin se distorceu em arrependimento. De alguma forma, ele se recuperou da confusão e a razão voltou para seus olhos. Apesar de eles ter tomado um banho de água fria com o poderoso assalto da tribo Haulia, pensando no incapacitado Jin, a chama da ira ainda queimava dentro dele. Mas como ele também tinha a responsabilidade de levar seus subordinados de volta com vida, ele recobrou sua mente. Ele sabia que era sua culpa que eles entraram em tal crise porque ele foi quem incitou esse ataque.

(Regin): “... vocês podem fazer qualquer coisa comigo. Me fervam ou me queimem, apenas façam o que quiserem. Contudo, eu fui aquele quem obrigou meus companheiros a me acompanharem. Eu quero que vocês os deixem partir”

(Banton A): “Quê!? Regin-dono!?”

(Banton B): “Regin-dono! Isso é...”

Escutando as palavras de Regin, seus subordinados começaram uma comoção. Era porque ele tentou os salvar em troca de sua própria vida. Para esses subordinados, Regin os repreendeu...

(Regin): “Silêncio! É minha responsabilidade porque o sangue que subiu a minha cabeça cegou meus olhos. Homem-Coelho... não, Chefe da tribo Haulia. Eu sei que é egoísmo meu. Entretanto, eu quero salvar a vida deles! Isso é tudo”

Regin soltou sua arma e então começou a se ajoelhar enquanto curvava sua cabeça. Seus subordinados conheciam o grande orgulho de Regin como um guerreiro, então eles entenderam o quão determinado ele estava ao curvar sua cabeça para o inimigo. Era por isso que eles não poderiam obedecer essa ordem e ficarem em silêncio.

A resposta de Kam para Regin, que ainda estava se curvando, foi...

(Kam): “Eu recuso”

... enquanto jogava sua faca.

(Regin): “Uo!?”

Regin foi capaz de desviar por pouco. No entanto, começando com o ataque de Kam, Regin e seus companheiros foram atacados por flechas e pedras atiradas em alta velocidade ao mesmo tempo. Usando seus enormes machados como escudos, Regin e seus subordinados desesperadamente tentaram se defender e então, da tribo Haulia, risadas do fundo de seus corações apareceram ao completarem seus ataques.

(Regin): “Por quê!?”

Regin comprimiu sua voz enquanto ele gemia ao perguntar a eles o motivo para esse ataque.

(Kam): “Por quê? Vocês não são nossos inimigos? Há outras razões para matarmos vocês?”

A resposta de Kam era um fato simples.

(Regin): “Guh, mas...”

(Kam): “Acima disso... é divertido esmagar e zombar da sua arrogância! HA HA HA!”

(Regin): “Q-quê!? Malditos! Esses caras...”

Exatamente como Kam disse, a tribo Haulia parecia estar realmente gostando disso. Usando estilingues e bestas, eles se divertiam atirando de uma área segura. Suas aparências eram a mesma de pessoas embriagadas pelo poder. Parecia que seus corações não se importavam em matar pessoas pela primeira vez, mesmo que fossem irmãos Demi-Humanos. Resumindo, eles estavam completamente fora de controle.

Com o aumento na intensidade de seus ataques, Regin e seus companheiros, que estavam reunidos próximos uns dos outros, desesperadamente tentaram se defender... e finalmente chegaram a seus limites. Apesar de terem evitado golpes fatais, eles estavam cobertos de ferimentos. Eles não seriam capazes de aguentar o próximo assalto.

Kam, com um sorriso perverso, levantou sua mão. Os Haulia estavam com os olhos alucinados e começaram a preparar suas flechas e pedras. Regin, que pensou que este não era um local apropriado para morrer, reuniu sua força e dentro de sua mente, ele se desculpou com seus subordinados.

A mão de Kam, como se fosse a gadanha[3] do Deus da Morte que caçava as vidas de Regin e seus companheiros, foi abaixada. Flechas e pedras imediatamente foram disparadas. Em câmera lenta, Regin continuou a assistir isto sem desviar o olhar, até que...

(???): “Parem já com isso!!!”

] Zudooooon!! [

Um espetáculo onde uma marreta branca explodiu tudo o que podia ser visto.

(Regin): “Ha?”

Regin ficou confuso e inconscientemente deixou sua voz escapar. Contudo, ele não podia agir de outra forma. Logo após aceitarem as próprias mortes, uma garota com orelhas de coelho e cabelo cinza junto de uma Marreta gigante caiu do céu. Então, a Marreta atingiu o solo. Isso resultou em uma onda de choque que lançou para longe as flechas e pedras disparadas. Quando eles viram isso, a tribo dos Homens-Urso só podia ficar com uma expressão vazia.

Uma fúria poderosa! Esse era o sentimento que podia ser sentido e é claro que ele vinha de Shia. A Marreta feita com o método de compressão[4] tinha uma massa extraordinária. Como se ela não sentisse esse peso, ela foi brandida com um ] Buonn [ e então gerou uma rajada de vento. A arma foi apontada para Kam.

(Shia): “Aghh! Sério, arghh! Pai e todo mundo, por favor, voltem ao normal agora!”

Olhando para Shia, Kam e os outros, que ficaram inicialmente confusos com a surpresa, se recuperaram enquanto olhavam para ela os acusando.

(Kam): “Shia, apesar de não saber o porquê você fazer isto, por favor, saia daí. Senão não podemos matar esses que estão atrás de você, não é verdade?”

(Shia): “Não, eu não vou me mover. Eu não vou permitir mais do que isso, entendeu?”

Ouvindo as palavras de Shia, Kam e os outros apertaram seus olhos.

(Kam): “Não vai permitir? Shia, não me diga que você quer se juntar aos nossos inimigos? De acordo com a sua resposta...”

(Shia): “Não, eu não ligo se esses caras morrerem”

(Tribo Banton): “Isso está certo!?”

A tribo dos Homens-Urso, que pensou que ela veio deter sua tribo, falou essa frase sem perceber.

(Shia): “É claro que sim. Se eu pegasse leve contra inimigos que vieram me atacar com intenção assassina, eu não teria conseguido resistir ao treinamento de Yue-san. Até mesmo eu não sou mais tão inocente assim”

(Kam): “Fumu, então por que você nos parou?”

Kam perguntou a ela. A tribo Haulia também estava com uma expressão indagadora.

(Shia): “Isso não é óbvio! O pai e os outros vão se quebrar neste ritmo! E vão ficar mais degenerados!”

(Kam): “Se quebrar? Degenerar?”

Ouvindo as palavras de Shia, Kam e os outros só puderam ficar com expressões que pareciam dizer “Eu não entendi”.

(Shia): “Isso mesmo! Por favor, se lembrem disso. Hajime-san era impiedoso com seus inimigos, nenhuma conversa era necessária. Ainda mais impiedoso, ele gostou de matar as Feras Mágicas e as pessoas... coisas assim! Mesmo durante o treinamento, se vocês recebessem ordens para matar os inimigos, vocês não deveriam gostar disso!”

(Kam): “Be-bem, não é como se nós estivéssemos gostando...”

(Shia): “Agora mesmo, o pai e os outros sabem que tipo de caras vocês fizeram?”

(Kam): “Caras? Bom, mesmo que você diga isso...”

Ouvindo as palavras de Shia, os Haulia começaram a olhar um para o outro. Shia respirou calmamente, contudo, sua voz informou eles com clareza.

(Shia): “... era a mesma dos soldados do |Império| que nos atacaram”

(Tribo Haulia): “Kh!?”

Isso chocou eles, o suficiente para acabar com a loucura deles. O humor deles era o mesmo de uma pessoa que acabou de receber um balde água fria. Ter as mesmas expressões daqueles que desprezaram sua família com prazer e a capturou... tendo testemunhado isso, eles entenderam o peso de suas ações. Para ser o mesmo daqueles que roubaram sua família... era um fato insuportável.

(Kam): “Sh-Shia... eu estava...”

(Shia): “Fuu, parece que você se acalmou agora. Graças a Deus. Caso contrário, eu pensei que teria que derrotar todos vocês”

Com um ] furifuri [, Shia balançou sua Marreta ao redor. Ouvindo Shia apontando isso, a tribo Haulia imediatamente começou a tremer na frente da Marreta enquanto Shia relaxava seu rosto.

(Shia): “Bem, essa foi a primeira batalha de vocês, se vocês entenderam isso agora, então está tudo bem! Afinal, isso foi culpa de Hajime-san! Apesar de eu entender a importância do espírito de luta, isso foi exagero demais! Ao invés de espírito de luta, foi mais como se vocês tivessem se transformado em Berserkers[5]!”

Desta vez, Shia estava irritada com Hajime. Em voz baixa, Shia murmurava: “Por que eu me apaixonei por esse tipo de pessoa?”.

E nesse momento, um tiro foi ouvido.

Atrás de Shia, um gemido soou junto do som de algo caindo. Agora que eles pensavam sobre isso, enquanto estavam em pânico, Shia e os outros se lembraram da existência daqueles que eles tinham se esquecido. Assim que eles olharam para trás, lá estava Regin caído se retorcendo de dor enquanto segurava sua testa.

(???): “Por que diabos vocês estão tentando fugir enquanto eles estão distraídos? Até que a conversa deles acabe, sentem em seiza[6] já!”

Hajime, acompanhado de Yue, apareceu de dentro do nevoeiro. Parecia que enquanto Shia e os outros estavam imersos em sua conversa, Regin e seus companheiros tentaram fugir, apenas para serem baleados. Contudo, não se sabia o motivo para Hajime usar balas não-letais de borracha.

Apesar de eles escutarem as palavras de Hajime, a tribo dos Homens-Urso tentou atentamente examinar seus arredores para tentar fugir, mas Hajime silenciou eles com a ‖Pressão‖. Enquanto eram encarados, Hajime e Yue olharam para Shia e os outros.

Quando Hajime viu Kam e os outros, alguns deles se sentiram constrangidos e olharam para o outro lado. No entanto, logo após os pedidos de desculpa vindo de Kam e dos outros...

(Hajime): “A, bem, o que posso dizer, desculpe. Com eu estava bem com isso, eu esqueci completamente o choque de assassinar alguém. Foi um erro meu. Un, eu sinto muito”

Shia e os outros só podiam encarar ele sem expressões e com as bocas abertas porque eles escutaram um inesperado, mas sincero pedido de desculpas.

(Haulia A): “Che-chefe!? Você está bem!? Você bateu sua cabeça!?”

(Haulia B): “Médico! Médico! Há uma pessoa com um ferimento sério aqui!”

(Haulia C): “Chefe! Por favor, aguente firme!”

Foi assim que essas reações exageradas começaram. Com veias pulsando em sua cabeça, a boca de Hajime se contorceu.

Desta vez, o próprio Hajime realmente acreditou que ele estava errado. Como ele não sentia nada ao matar, ele não considerou o choque que deveria acontecer ao fazer isso. Não importava o quão forte ele se tornasse, ele não tinha nenhuma experiência em ensinar, como resultado, ele quase destruiu as mentes dos Haulia. De fato, ele pensou que isso era perigoso, foi por isso que ele pediu desculpas... mas as reações deles foram duvidar da sanidade de Hajime. Ele pensou: “Eu deveria ficar irritado?”. Ele estava hesitando enquanto voltava a seu comportamento normal.

Hajime deixou esse assunto de lado, se aproximou de Regin e então colocou [Donner] na testa dele.

(Hajime): “Muito bem, vai ser uma morte corajosa ou sobreviver e viver com a humilhação, qual você escolhe?”

Escutando as palavras de Hajime, a tribo dos Homens-Urso e os Haulia olharam para ele com surpresa. Pelo discurso de agora, eles entenderam que ele iria fazer vista grossa aos Homens-Urso dependendo da situação. Era uma proposta séria de Hajime que não tinha misericórdia e moderação contra seus inimigos. Kam e os outros olharam para Hajime com tristeza enquanto pensavam: “Como imaginei, a cabeça dele está...”. Mesmo com mais veias aparecendo na cabeça de Hajime, como não haveria nenhum progresso de outra forma, ele deixou isso temporariamente de lado.

Regin olhou para Hajime com uma expressão de surpresa. Esse era o homem responsável pela completa mudança da tribo Haulia, ele pensou que este homem não mostraria nenhuma piedade.

(Regin): “... o que isso significa? Você vai nos deixar ir?”

(Hajime): “Aa, vocês podem voltar se quiserem, sabia?”

(Regin): “Condições?”

Para facilmente dizer que eles poderiam ir embora, excluindo Regin, os outros estavam no meio de uma comoção. Atrás deles, “Se eu acertar a cabeça dele agora, talvez isso possa ajudar...” era o que Shia estava falando com uma expressão séria enquanto ela alternava seu olhar entre sua Marreta e a cabeça de Hajime. Vozes concordando podiam ser escutadas de Kam e dos outros.

Hajime pensou seriamente que já estava na hora de punir eles enquanto mais veias apareciam. Entretanto, ele deu o seu melhor para ignorar isso.

(Hajime): “Aa, condições, huh? Quando você chegar a |Faea Belgaen| eu quero que você diga algo para os Anciões”

(Regin): “... uma mensagem?”

Enquanto Regin nervosamente pensava sobre que tipos de condições poderiam ser demandadas, a exigência era apenas ser um mensageiro e isso o deixou desconfiado. Contudo, ele congelou quando o conteúdo foi falado.

(Hajime): “‘Vocês me devem uma’”

(Regin): “... kh!? Isso é...”

(Hajime): “Bom? O que você vai fazer? Você vai aceitar isso?”

Como ele sabia o que isso significava, Regin involuntariamente gritou. Hajime estava esperando pela decisão de Regin. “Vocês me devem uma” significava que, ao deixar os agressores voltarem com vida, haveria um momento em que eles teriam que pagar o débito deles.

Com a perda de um dos Anciões, assim como eles agonizaram sobre ignorar a decisão tomada pela Conferência dos Anciões para não interferir com eles, se esta mensagem fosse transmitida, então eles teriam que responder ao pedido de Hajime incondicionalmente.

Se tudo fosse visto imparcialmente, na situação de Jin e na situação de Regin, onde eles tentaram se vingar de forma unilateral, além do fato de eles terem sido poupados, o prestígio da Conferência dos Anciões certamente cairia. Eles eram criminosos porque eles ignoraram os Anciões. E eles não poderiam dizer que um dia Hajime não mostraria suas presas para os Anciões.

Em outras palavras, para Regin e seus subordinados, sobreviver significava que eles levariam uma fraqueza para sua pátria. Mesmo depois de desrespeitarem a decisão da Conferência dos Anciões, eles carregariam um débito em seus ombros. Além disso, voltar com metade de seu grupo morto depois de se gabarem por serem a tribo mais forte de todas... como Hajime disse, eles viveriam com a humilhação.

Hajime escolheu adicionar outro golpe a Regin, que estava com uma expressão distorcida.

(Hajime): “Além disso, você deve se lembrar que as mortes dos seus subordinados foram sua própria responsabilidade, junto com sua derrota esmagadora contra os Haulia

(Regin): “Guu”

Havia um motivo para Hajime exigir tal condição. É claro que não era por benevolência. Era porque havia detalhes sobre os Sete Grandes Calabouços que ele ainda não conhecia, então mesmo que |Faea Belgaen| fosse um país isolado, poderia ter algo que ele precisaria fazer neste país. Também havia a tradição herdada por seus fundadores afinal. Hajime pensou que pequenas falhas poderiam aparecer pelo caminho, para corrigir isso, ele pensou que seria necessário criar medidas de segurança.

Para o alarmado Regin, Hajime pressionou ainda mais o cano de [Donner].

(Hajime): “Decida em cinco segundos. Assim que o tempo acabar, eu vou matar um por um. ‘Julgamento rápido’. Isso não é o básico para um líder?”

Depois disso, Hajime começou a contar “uuuum, doiiiis” e Regin entrou em pânico. Entretanto, nada veio a sua mente.

(Regin): “Eu-eu entendo. Eu quero voltar!”

(Hajime): “Entendi. Então, vão logo. Não se esqueçam da mensagem. Se a hora chegar e eu precisar cobrar isso e descobrir que vocês me enganaram...”

Uma poderosa intenção assassina fluiu do corpo inteiro de Hajime, acompanhada da pressão física. Sons de pessoas engolindo a própria saliva ressoaram claramente.

(Hajime): “Esse dia marcará o fim de |Faea Belgaen|

Não importava quem olhasse para ele, ele tinha o toque de um coletor de débitos do mal, não, era mais como um terrorista nesse caso. Atrás dele, ele podia ouvir “Graças a Deusa. É o Hajime-san de sempre” e “O chefe finalmente recobrou sua sanidade!”, esse tipo de conversa estranha misturada com tons de alívio, bem, por enquanto, ele ignoraria isso. Ele não queria estragar a atmosfera que ele construiu com tanto esforço. Contudo, punições severas aconteceriam mais tarde.

Com o orgulho deles quebrados pela tribo Haulia e escutando a forma desesperada com que Regin implorou pelas vidas de seus companheiros, eles não tinham força para protestar e começaram a voltar para casa abatidos. Talvez tenha sido por eles estarem seguindo um jovem, mas eles obedientemente aceitaram a derrota. Mas para Regin, sua influência em |Faea Belgaen| provavelmente desapareceria. Havia até a possibilidade de ele ser tratado como um fugitivo. Contudo, esta seria uma punição leve, afinal, ele tentou tirar a vida de alguém injustamente.

A tribo dos Homens-Urso desapareceu dentro da neblina. Depois de confirmar isso, Hajime se virou para Shia e os outros. No início, eles foram incapazes ver a expressão dele porque Hajime estava olhando para baixo, então, de alguma forma, a atmosfera ficou estranha. Kam e os outros, que se sentiram envergonhados por entrarem em tamanho frenesi e loucura, começaram a se animar para falar com Hajime sobre várias coisas sem notar a atmosfera. Apenas Shia disse “Huh? Isto não é ruim?” enquanto suava frio.

Hajime começou a levantar sua cabeça enquanto balançava um pouco seu corpo. Havia um enorme sorriso em seu rosto. Entretanto, seus olhos semicerrados não estavam sorrindo. Finalmente, por ele pensar que a aparência de Hajime estava esquisita, Kam timidamente perguntou.

(Kam): “Che-chefe?”

(Hajime): “Sim, isso não é algo sério? Eu acho que desta vez foi minha culpa. E pensar que vocês chegariam até esse ponto, eu deveria ter pensado em uma forma de impedir isso”

(Kam): “N-não, mesmo que você diga isso... foi por causa da minha própria imaturidade...”

(Hajime): “Não, não, está tudo bem, entendeu? Eu já admiti minha culpa afinal. É por isso... é por isso que eu pensei em me desculpar honestamente... mas vocês tiveram uma bela reação, não foi? Bem, eu entendo. Afinal, minha atitude usual era daquele jeito... contudo... contudo... este sentimento que eu tenho, eu preciso extravasa-lo... vocês entendem o que isso significa, não é?”

(Kam): “Nã-não. Nós fomos um pouco...”

Kam também pensou, “Ah, isto é ruim. Ele está furioso agora”, com suor frio rapidamente escorrendo por seu corpo. Passo a passo, ele tentou recuar. Talvez por se lembrarem do treinamento, os Haulia ficaram de pé enquanto choravam e lamentavam.

E nesse momento, “Agora é minha chance!”, foi o que Shia pensou antes de começar a correr para fugir. Ela não se esqueceu de usar um homem perto dela como um escudo.

Entretanto...

] DOPANn!! [

Uma bala passou entre as pernas desse homem, atingiu o chão e ricocheteou quando acertou a raiz de uma árvore antes de finalmente atingir Shia no traseiro.

(Shia): “Hakyun!”

Essa era uma das habilidades com armas de fogo de Hajime: ‖Tiro Poligonal‖. Foi assim que ele mirou seu tiro na bunda de Shia. Era uma habilidade inútil que não poderia ser usada em combate tão facilmente, mas ele a utilizava como forma de treinamento. Devido ao impacto da bala, Shia gritou e pulou, apenas para cair no chão com a bunda virada para o alto. Fumaça saía de seu traseiro. Shia estava se contorcendo de dor.

Vendo Shia convulsionando e a habilidade de Hajime, Kam e os outros estavam tremendo de medo. O homem que viu uma bala passando entre suas pernas cobriu sua virilha com as duas mãos e olhos cheios de lágrimas. Ele esfregou sua virilha porque quando a bala passou, ele foi pego pela onda de choque causada pelo disparo.

Sem fazer mais nada, Hajime guardou [Donner] em seu coldre. Então, seu sorriso de hanya[7] retornou. Finalmente, ele gritou com um tom furioso.

(Hajime): “Agora, todos serão atingidos uma vez!”

(Tribo Haulia):Waaaaaaaaaa!!”

Todos os membros da tribo Haulia imediatamente se espalharam tentando escapar como se fossem aranhas recém-nascidas. Por um tempo, gritos em um rugido feroz puderam ser ouvidos ressoando dentro do |Mar de Árvores|.

A única que permaneceu em seu lugar foi Shia com fumaça saindo de seu traseiro, e...

(Yue): “... quando nós iremos para a |Grande Árvore|?”

Esses foram os murmúrios de Yue, que não estava envolvida com toda essa comoção.


Notas

[1] Referência ao Sargento Hartman do filme Full Metal Jacket (“Nascido para matar” em português) de Stanley Kubrick.

[2] Na terminologia militar, o fogo de supressão é o fogo desencadeado contra posições inimigas com intuito principal não de causar baixas diretas, mas de forçar o oponente a permanecer em posições cobertas, dificultando a defesa. Seu objetivo mais frequente é "dar cobertura" ao movimento de forças amigas, que de outra forma ficariam vulneráveis aos disparos das tropas hostis.

[3] A gadanha (muitas vezes chamada apenas de foice) é uma ferramenta utilizada na agricultura para ceifar cereais ou para o corte de erva. Consiste de uma lâmina na extremidade de um cabo de madeira ou metálico de aproximadamente 170 centímetros, com uma pega perpendicular no extremo oposto e outra pega no meio para fornecer controle sobre a posição da lâmina. Por existirem muitas metáforas comparando a vida humana com o ciclo de plantio, a colheita do grão representaria a morte, sendo a gadanha seu instrumento, simbolicamente empunhado por uma figura paramentada com túnica e capuz negros, representa a morte na Terra, vindo ceifar vidas humanas.

[4] Compressão física é o resultado da aplicação de uma força de compressão a um material, resultando em uma redução em seu volume, ou, como tratado em resistência dos materiais e engenharia, uma redução de uma de suas dimensões. A compressão tem muitas implicações na resistência dos materiais, na física e na engenharia estrutural, pelo fato da compressão produzir quantidades consideráveis de stress e tensão.

[5] Berserkir (plural para Berserkr) foram guerreiros nórdicos ferozes, que estão relacionados a um culto específico ao deus Odin. Eles despertavam em uma fúria incontrolável antes de qualquer batalha.

[6] Seiza é um termo para se referir a uma forma tradicional de se sentar no Japão em que ambos os joelhos tocam o chão.

[7] Hannya é uma máscara dotada de dentes ameaçadores, boca grande e chifres. Existe um conceito de um inferno, no budismo japonês, em que Hannyas são a representação dos confusos sentimentos humanos como a paixão, ciúme, e ódio, todos capazes de transformar homens e mulheres nesse terrível monstro. O que justifica o porquê de atores do tradicional teatro japonês se utilizarem de tal máscara em suas performances nas representações das histórias (desde o século 19) para transmitir uma identidade, uma personalidade nebulosa aos seus personagens.



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