Volume 9

Capítulo 193: O protetor do anjo

Parte 1

Um famoso carro fabricado no exterior (Mercedes Benz), considerado o mais resistente do mundo, seguia galantemente na estrada ao longo da costa. O exterior do carro, que brilhava em prata, mostrava o quão bem polido era o veículo, fazendo qualquer um que o visse entender o quanto o proprietário o apreciava.

Dentro daquele carro, a brisa do mar entrava pela janela aberta e a música clássica, que era a favorita do proprietário do veículo, tocava, fazendo com que o tempo das pessoas naquele carro passasse de forma relaxada.

— Essa rota marítima ainda parece agradável toda vez que passamos por aqui.

Sim, a voz refrescante que expressava a sensação desse carro era o motorista do veículo e também seu proprietário: Tomoichi Shirasaki. Ele tinha cabelos que escorriam pelas costas, olhos longos e gentis, e um tipo de corpo equilibrado, enquanto sua idade estava apenas na metade dos quarenta; apenas por sua aparência, ele era um homem bonito que podia passar por alguém que ainda estava no final dos seus vinte anos.

Sentada ao lado de Tomoichi estava uma mulher que assentiu com as palavras do homem enquanto dizia: — Você está certo, não importa quantas vezes viemos aqui, este é realmente um bom lugar. —, era Kaoruko Shirasaki. Olhando para os cabelos lisos e negros, sem qualquer cabelo branco, os olhos caídos e o ambiente sereno com que ela estava envolta, ela era uma mulher que parecia uma dama. Ela era igual a Tomoichi e tinha a idade de quarenta e poucos anos, mas ainda parecia uma jovem com pouco mais de vinte.

Assim como o nome da família exibiu, eles eram um casal. Apenas pela atmosfera deles, podia-se ver como eles estavam construindo um relacionamento conjugal satisfatório.

Mas mesmo enquanto a consciência de Tomoichi estava concentrada na direção, não parecia que ele estava prestando atenção na esposa. Desde antes, ele continuou olhando para o espelho retrovisor e prestou atenção a todo momento no banco traseiro. Até mesmo a impressão dele sobre a paisagem parecia um pouco forçada se alguém escutasse com atenção, em vez de essa ser sua verdadeira impressão, isso era mais uma tentativa de iniciar uma conversa. E então, ficou claro que a causa disso era a passageira no banco traseiro.

Não ouvindo outra resposta às suas palavras além da de sua esposa, Tomoichi tossiu: — A, ahem. —, essa tosse também parecia ter sido forçada e, em seguida, ele mais uma vez formou suas palavras para tentar atrair a atenção da pessoa no banco de trás. Isso aconteceu enquanto a esposa ao lado dele ria disso.

— As idades do vô e da vó já estão bastante avançadas, então que tal nos mudarmos para cá? Uma casa perto do mar é agradável, você não acha? Ei, o que acha? Kaori?

— … absolutamente, não.

A voz fria e as palavras de resposta fizeram Tomoichi soltar um pequeno gemido. Ele mais uma vez começou a olhar para o espelho retrovisor para ver a expressão de sua amada filha... a expressão de Kaori, que estava sentada atrás.

Kaori estava emitindo uma afirmação: — Não estou contente! — com todo o seu corpo enquanto olhava fixamente do lado de fora como se dissesse que ela não encontraria os olhos de seu pai. Mas mesmo com um modo tão descontente sendo ativado, sua postura, sem colocar o cotovelo na janela ou cruzar os braços, mas colocando as duas mãos no colo e as costas retas, era a cara de Kaori.

Tomoichi tentou falar mais com sua filha enquanto mostrava uma expressão que parecia um pouco desesperada.

— É-é mesmo? No passado, cada vez que viemos aqui para brincar, você não dizia sempre: "Eu não quero ir para casa!". Lembra-se de Riko-chan que morava ao lado, ou sua prima Sakura-chan, você sempre brincava junto com elas, não é? Eu acho que mudar para cá não é uma...

— Então, não está tudo bem se o pai se mudar para cá sozinho?

— !? Sem chances!? Isso é demais, entendeu, Kaoriii!

Com um estalo, Tomoichi se virou para o banco de trás. A Mercedes da família Shirasaki estava em zigue-zague! Um tapa atingiu o rosto de Tomoichi! O rosto do homem foi forçado para a frente!

Um chamado de — Querido? —, vindo de Kaoruko, fez Tomoichi sentir um breve, mas intenso, arrepio dentro do carro. — Perdoe-me! — Tomoichi se desculpou com sinceridade. O homem sabia muito bem que a verdadeira raiva de sua esposa era como uma máquina de produção de traumas. Em sua mente, o Shiroyasha-san1 estava aparecendo!

— Nossa, querido, você realmente... não há como Kaori aceitar essa sugestão, há? Tem Shizuku-chan, e também suas amigas na escola.

— Tal-talvez seja verdade, mas...

Os olhos de Tomoichi estavam perdidos enquanto ele ainda estava sentindo a dor na bochecha. Parecendo muito relutante, ele sussurrou: — Mesmo assim, acho que essa ideia não é tão ruim...

Atualmente, a família Shirasaki estava indo para a casa dos pais de Tomoichi, onde moravam também seu irmão mais velho e sua cunhada. O irmão mais velho de Tomoichi e sua esposa tinham uma filha quatro anos mais velha que Kaori. Aquela filha era uma garota muito prestativa, embora pudesse ser um pouco franca demais; ela era uma existência parecida com uma irmã mais velha para Kaori. A casa ficava perto do mar, então as duas costumavam brincar no mar junto com Riko, da família Ayasaki, que morava ao lado.

Kaori era filha única e, por isso, idolatrava Sakura. Quando a Curandeira era pequena, ela costumava se agarrar a Sakura enquanto fazia birras e gritava: — Eu ainda não quero ir para casa. — Por causa disso, Tomoichi estava pensando, Kaori poderia considerar se mudar para lá agora... ela poderia se distanciar daquele pirralho horrível... e assim por diante, mas...

Kaoruko, que parecia entender aqueles pensamentos que estavam dentro do coração de Tomoichi, estava rindo enquanto falava sobre o que o marido não queria ouvir de forma alguma. Sobre a verdadeira razão pela qual a filha estava descontente. Sobre o jovem, que era a razão pela qual Kaori não aceitaria se mudar de casa.

— Além disso, você sabe, não sabe? Não há como Kaori deixar a cidade onde Hajime-kun está, você não concorda?

— Pare com isso Kaoruko! Este é a nossa tão esperada volta a casa de nossa família sem nenhum estranho, você entendeu!? Não diga nada sobre aquele pirralho de merda que ousa se aproximar do fofo anjo da nossa família...

— Pai?

Tomoichi sentiu um calafrio nas costas e estremeceu. Ele entendeu mesmo sem olhar. Era uma presença que lembrava a de sua esposa! Estaria lá se o homem olhasse para trás! A encarnação de fúria que sua filha herdou de sua mãe antes que ele se desse conta: a Hannya-san2!

Mas, apenas com isso, o pai não perderia. Pelo bem de sua amada filha, a menina dos seus olhos!

— Ka-Kaori, acalme-se. Minhas palavras de agora foram um pouco rudes. Mas, como esperado, sobre aquele verme... ahem. Sobre aquele lixo... ehem. Aquele merdinha...

— ... eu estou indo para casa agora mesmo. Não vou mais ouvir o que o pai tem a dizer.

— Nããão! Kaori, ouça o que estou dizendo! O papai está pensando no que é melhor para o bem de Kaori…

— O pai está falando mal de Hajime-kun porque o pai está pensando no que é melhor para mim? Eu nunca pensei que o pai fosse esse tipo de pessoa.

— Você está errada, Kaori! Até o papai não quer dizer coisas ruins sobre Ha-Haji-Haji-... sobre aquele cara. Ma-mas, ainda assim...? Enquanto aquele desgraçado já tem Kaori, ele ainda faz muitas outras garotas servi-lo e abrirem as pernas para ele; além disso, em vez de se sentir culpado, ele está agindo de forma desafiadora, sabia? Você acha que existe um pai que pode confiar sua filha a esse tipo de filho da puta? Não, tal pai não existe! Estou dizendo isso para seu próprio bem. Kaori, corte sua relação com aquela escória arrogante e nojenta...

— Eu odeio demais alguém como o pai!

— Gahah!?

Tomoichi, que foi atingido pelo discurso que esvaziaria o HP de qualquer pai em todo o país se isso fosse dito por sua própria filha, fez o carro ziguezaguear mais uma vez. Com lágrimas se acumulando no canto dos olhos, Tomoichi estava gritando: — Nãããão, Kaorii, Meu Anjooooo! — parecendo realmente patético.

Alguns meses depois que Kaori voltou para casa do outro mundo, Tortus. Tomoichi e Kaoruko foram apresentados a Hajime. Desde o início, antes da invocação, os dois já sabiam que Kaori tinha um menino em sua mente, mas deixando de lado Kaoruko, desde o início, Tomoichi já era incapaz de suportar aquele garoto, Hajime.

Não era como se o pai tivesse um motivo claro. Era o sentimento de um pai cuja preciosa filha poderia ser tirada dele, esse sentimento poderia até ser chamado de reflexo condicionado. Às vezes, Tomoichi mostrava sua hostilidade em relação a Kouki e Ryutaro. Se ele agia assim até com os amigos de infância de sua filha, Hajime, que havia começado a viver dentro do coração da garota antes de ele perceber, já era seu maior inimigo, algo que não podia ser evitado.

De modo natural, porque esse era Tomoichi, cujo nível como pai coruja havia atingido o valor máximo quando Kaori desapareceu, isso já era um desastre para ele. Naquela época, a condição física de Kaoruko também piorou, mas a família Shirasaki de alguma forma aguentou ao emprestar a ajuda da família do irmão mais velho e de seus pais, e também de todos os seus parentes.

E então, sua amada filha voltou para casa como um milagre. Eles foram informados sobre a verdade do desaparecimento, o que os assustou em vários sentidos, e então viram muitos eventos místicos para provar a história da filha, naturalmente, tudo isso foi uma sucessão de espanto para eles, mas... havia uma questão difícil de perdoar, ao ponto em que todos esses absurdos pareciam uma questão trivial.

Sim, era o problema de como sua amada filha (meu anjo) tinha um amado.

Além disso, esse amado tinha várias outras mulheres além de Kaori, ele não tinha nenhuma intenção de se separar de nenhuma dessas amantes e, no final, começou a falar em considerar a todas como esposas. — Você está me fazendo de idiota, seu desgraçado!? — Tomoichi rugiu com raiva assim muitas vezes...

Além disso, a filha em questão estava aceitando uma situação de harém e fazendo uma expressão realmente feliz que mesmo Tomoichi nunca tinha visto antes. Ela também estava dizendo coisas como: — Junta com as outras garotas! —, e ao ouvir isso várias vezes Tomoichi gritou com raiva: — Seu desgraçadoooo, você está usando uma mágica estranha em minha filha, não está!? Não, só pode ser isso, sua praga maldita!

Além disso, o discurso que todos os pais em todo o país temiam que um dia lhes fosse dito, não, o discurso que os pais haviam resolvido não deixar ninguém fazer! — Sogro, por favor, me dê sua filha! —, tornou-se: — Sogro, eu recebi sua filha. Por favor, cuide de mim daqui em diante. — Quando essa bola curva foi lançada para Tomoichi, ele pensou: "Tá legal, vamos matar esse cara."

Tudo era por causa de sua amada filha, para protegê-la de um homem mau. No entanto, apesar disso, quando ele estava prestes a dar um soco no maldito, quem o prendeu pelas costas foi a própria filha. Enquanto Hajime, que estava prestes a receber um soco, continuava sentado calmo e serenamente.

Essa atitude segura de si (o próprio Hajime estava ciente de que ele tinha algo que era considerado o pior, então ele estava apenas esperando para receber um soco) também era algo que o homem não podia suportar! Tomoichi estava furioso: — Esse filho da putaaaa, eu vou te espancar até a morteeeee! —, mas no final foi parado por Kaori: — Pai, se acalmeeeeee! — com um suplex3. Como Tomoichi perdeu a consciência, a reunião naquele momento foi dissolvida, porém...

Depois disso, Tomoichi soube que, na verdade, Kaori já havia subido as escadas da vida adulta, o que fez a intenção assassina do homem disparar sem um limite para detê-la.

Dessa vez havia um evento parecido, na verdade, Kaori queria participar do pequeno encontro da família Nagumo. Mas Tomoichi, que pensou: "De jeito nenhum vou deixar minha filha ir para a casa do diabo!", agendou às pressas uma visita a seus pais e levou Kaori à força.

Quando Kaori estava conversando com Hajime sobre o acordo, Tomoichi pegou o telefone dela e disse: — Kaori já tem planos! Ela vai passar o feriado comigo! Daqui em diante ela também não terá vagas nos seus planos! Não ligue mais, sua escória maldita! —, e então ele encerrou a ligação a seu bel prazer.

De forma natural, Kaori estava ficando brava com as ações de seu pai, mas Tomoichi apenas olhou para o lado com um bufo e se fez de surdo para sua filha. Enquanto isso acontecia, Hajime usou telepatia com Kaori para lhe dizer: — Você deve passar um tempo com sua família neste momento. Na verdade, eu entendo como seu pai está se sentindo. — com um sorriso sem graça, e Kaori concordou com relutância em visitar seus avós.

Embora o humor da Curandeira, que teve seu telefone tomado, além do fato de que seu amado tivesse que sofrer com uma linguagem abusiva, estivesse em seu nível mais baixo, desde que saíram de casa, Tomoichi estava desesperado em pedir desculpas a sua filha.

— Vamos lá vocês dois. Deixem disto, vamos chegar em breve, entenderam?

Enquanto sorria sem graça para a guerra fria (unilateral) entre pai e filha, Kaoruko intermediou. Assim como ela disse, antes que os dois percebessem, eles haviam entrado em uma área residencial e, na frente do carro, uma esplêndida casa com dois edifícios com os quais eles estavam muito familiarizados começou a se tornar visível.

Enquanto estava preocupado com o estado da filha, Tomoichi parou o carro no acostamento da estrada, em frente à casa. No meio disso, garigari!, um som ameaçador de raspagem que não deveria vir de um carro de classe alta podia ser ouvido, mas isso era apenas um assunto trivial para o pai, que estava incomodado com o estado de sua filha. Ele deixou de lado a expressão de sua esposa que parecia estar com dor de cabeça.

Kaori saiu do carro sem dizer nada. Tomoichi também saiu depressa do carro e tirou a bagagem do porta-malas do carro.

— Kaori. O pai levará a bagagem para você!

Eles planejavam ficar por três ou quatro dias, então a bagagem de Kaori estava em uma bolsa de tamanho intermediário. Tomoichi carregou a bagagem enquanto falava sorrindo, mas Kaori caminhou com rapidez na direção dele e arrancou sua bagagem enquanto bufava.

— É só até a entrada, o pai é muito exagerado. Se fosse Hajime-kun, ele naturalmente traria a bagagem sem dizer nada.

— !? É-é mesmo!? Ha-Haji-... aquele maldito, ganhando ponto de uma maneira tão mesquinha como essa. (Hajime-kun, que garoto atencioso, não é?)

— … haah. Querido, seus verdadeiros sentimentos e atitude são contraditórios demais, sabia?

Kaori desviou o rosto de seu pai, que estava deixando escapar de forma clara seus verdadeiros sentimentos, e então ela ignorou Tomoichi e se afastou com rapidez. O homem caiu de joelhos na entrada da casa. Sua figura, que estava de quatro com a cabeça abaixada, era um verdadeiro convite a piedade...

— ... justo quando pensei que estava na hora de vocês chegarem. Tio, o que você está fazendo nesse tipo de lugar? Os vizinhos estão olhando, então eu quero que você pare de fazer isso.

Quando Kaori estava prestes a tocar a campainha da porta, uma moradora, que parecia vir do quintal enquanto dava a volta na casa, chamou com uma voz que parecia exasperada e atônita.

— Sakura-oneechan!

— Bem-vinda Kaori. Como sempre, parece difícil para você em relação a várias coisas, mas fico feliz que você pareça enérgica. Apenas relaxe agora.

Kaori sorriu para a dona daquela voz, sua prima, Sakura Shirasaki, e a abraçou.

Sakura, uma estudante universitária com cabelos castanhos lisos. Ela era uma mulher bonita, com um corpo parecido com o de uma modelo. As feições de seu rosto se pareciam um pouco com os de Kaori, mas a atmosfera em torno dela era basicamente calma. Ela transmitia a aura de uma garota franca. Sua mão estava segurando uma mangueira que estava escorrendo água, então com certeza ela estava regando o jardim antes de aparecer.

O olhar frio de Sakura suavizou ao ver sua prima, que era como uma irmãzinha, que pulou em seu peito, e então ela usou a mão vazia para acariciar a cabeça de Kaori de forma gentil.

Quando soube que Kaori estava envolvida em um desaparecimento em grupo, a garota ficou muito preocupada a ponto de se sentir perdida. De modo natural, quando ela foi notificada de que sua prima havia chegado em casa, ela foi imediatamente encontrá-la. E assim, diferente dos outros parentes distantes, ela já havia se encontrado com Kaori várias vezes desde o retorno dos estudantes.

Mesmo assim, a sociedade ainda estava em comoção em relação ao tema dos repatriados. O assunto podia ser visto o suficiente na televisão, portanto, como esperado, era algo alegre poder ver o rosto energético de Kaori dessa forma direta.

Tendo as palavras afiadas de sua sobrinha dirigidas a ele, Tomoichi abaixou a cabeça ainda mais. Kaoruko estava arrastando o marido enquanto entrava junto com Kaori e Sakura na casa onde os avós e o tio estavam morando.


Parte 2

O sol já havia se posto nesse ponto. Na rua costeira onde o véu da noite começava a cair, Kaori e Sakura caminhavam juntas como verdadeiras irmãs.

— O show ao vivo foi incrivelmente animado, não foi? Eu não costumo frequentar esse tipo de evento, então fiquei muito empolgada.

— É mesmo? Isso é bom. Havia apenas bandas locais, então eu me perguntei se seria estranho para você.

Kaori, que recebeu uma recepção apaixonada na casa de Sakura, passou um tempo relaxante lá, conversando com a prima sobre o estado recente de suas famílias por um tempo. E então, quando era noite, ela soube que havia um evento ao vivo de bandas locais em um palco de frente para a costa a partir daquele horário, então ela foi levada por Sakura para comparecer ao show para passar o tempo.

Sakura respondeu a sua irmã mais nova sorrindo de forma alegre dizendo que ficaria feliz se Kaori pudesse apreciar o show, no entanto, a expressão dela estava se contorcendo um pouco. A causa disso era uma pessoa. Sakura olhou por cima do ombro atrás delas.

— Uu, Kaoriii. Meu anjoooo. Você não pode fazer contato visual com o papai? Papai vai morrer aqui pela solidão.

Sim, era Tomoichi. Para duas mulheres irem a um show ao vivo sozinhas, não havia como saber o que poderia acontecer com elas. Dando esse argumento, Tomoichi acompanhou Kaori e Sakura, mas a atitude de sua filha, que o tratava como se ele não existisse, fez com que o homem ficasse com uma careta contorcida que parecia indicar que ele estava prestes a chorar. Além disso, Kaori não mudou sua atitude, mesmo depois de ver o pai agindo assim; em vez disso, ela ainda estava sorrindo, e olhando para a garota assim, para ser sincero, era um pouco assustador.

A guerra fria entre pai e filha estava causando danos ao estômago de Sakura.

A propósito, a razão pela qual a Curandeira estava adotando essa atitude não foi apenas por causa da briga no carro ou do acompanhamento de Tomoichi ao show ao vivo. Na verdade, quando as famílias estavam conversando na casa de Sakura, um tópico sobre Hajime surgiu e incitada por Sakura, Kaori fez uma ligação, mas... de qualquer forma, o que se poderia dizer era que Tomoichi impediu essa ligação mais uma vez.

— … ei, Kaori. Que tal você perdoar o tio logo? O tio, parece que ele vai chorar de verdade. Para ser sincera, ter um tio com um rosto que está prestes a chorar seguindo atrás de você na rua de noite é assustador.

— Fufu, céus, Sakura-oneechan. O que você está dizendo? Não importa para onde você olhe, não há ninguém assim aqui, não é?

— Kaoriii! O papai está bem aqui! Agora, olhe aqui, por favor!

— Viu? Não há ninguém, certo?

— Ah…

O estômago de Sakura recebeu mais danos. Para Sakura, se sua irmãzinha fofa tivesse um namorado, ela também não aceitaria o rapaz com tanta facilidade. Portanto, não era como se ela não pudesse entender o sentimento de Tomoichi. Mas, por outro lado, ter um pai dizendo esse tipo de coisa sobre a pessoa que ela gostava era... como uma menina na mesma posição de ser filha, ela também foi capaz de entender os sentimentos da prima. Ela estava presa entre o martelo e a bigorna.

"Nossa, de qualquer forma, está tudo bem, não acontecerá algo que acabe com essa briga de pai e filha que se tornou bastante problemática!?", quando Sakura estava fugindo da realidade pensando nisso...

— Eehh? Garotas, vocês duas estavam no show de agora, não estavam? Que coincidência! Querem conversar um pouco?

Aconteceu. Dentro de seu coração, Sakura segurou a cabeça pensando: "Que tipo de sincronia é esta!?". À frente do olhar de Sakura, havia um grupo de jovens com uma atmosfera muito chamativa, como se eles fossem pessoas que gostassem de folear. Ao julgar por suas aparências semelhantes, havia cerca de dez pessoas. Sakura retorquiu na mesma hora, como por que eles estavam chamando duas meninas quando havia cerca de dez pessoas no grupo, ou se eles viram o homem que parecia ser o pai atrás delas. Claro, isso foi feito dentro do coração dela.

— Sinto muito, mas temos planos depois disso.

— Planos? São planos para se divertir, certo? Então, vamos juntos, é. Quanto mais, melhor.

Sakura recusou de forma educada, mas o grupo de sedutores estava sorrindo enquanto cercava as duas garotas. Não importava como elas olhassem para isso, não parecia que eles estavam planejando deixar as duas irem para casa. Como Sakura e Kaori eram uma mulher e uma menina bonitas que realmente não podiam ser encontradas com frequência nessa área, esses homens não desistiriam com tanta facilidade.

Mas, de modo natural, vendo sua amada filha e sobrinha fofa recebendo cantadas, não havia como Tomoichi ficar quieto.

— Todos vocês. Minha filha acabou de dizer que não quer ir com vocês. Agora, abram o caminho. Todos nós acabamos de apreciar um belo show ao vivo. Ambos os grupos devem evitar qualquer assunto problemático.

— Aa, o que é isso, velhote? Ou melhor, sua filha? Eeh? Por acaso, você veio junto com sua filha? Uaa, isso é muito nojento.

— Ei, velhote, ser superprotetor não é bom. É isso que se chama pai-coruja? Tenha um pouco de autoconsciência. Sério, que ridículo.

— Quer saber, quem está assediando essas duas aqui é você, velhote. É sério, perceba isso. Vamos lá, vocês duas, deixem esse pai perseguidor e venham se divertir conosco, que tal?

Os homens que estavam tentando pegar as garotas riram alto das palavras de Tomoichi, que foi para a frente, enquanto abusavam verbalmente do pai. Ouvindo essas palavras, Tomoichi não pareceu zangado, longe disso, ele nem demonstrou medo de estar cercado por mais de dez pessoas. Ele disse com firmeza algo mais para impedir os homens de flertarem com as meninas, porém...

Talvez sentindo que o homem, que estava bloqueando o caminho, fosse irritante, um dos homens passou ao lado dele e estendeu a mão em direção a Kaori.

— Você pode não tocar minha filha?

— ... você é mesmo barulhento, hein.

Tomoichi de repente agarrou a mão do homem, seus olhos amendoados se estreitaram silenciosamente e ele recitou palavras de contenção. O pai não era muito forte em uma briga. Em sua ocupação, ele era um arquiteto de primeira, e não havia chances de sua força física ser questionada para tal trabalho. Mesmo assim, como um homem adulto que acumulou experiência, além disso, como um pai que estava testemunhando alguém tentando colocar a mão em sua filha, a luz de seus olhos continha uma quantidade considerável de pressão.

Dessa forma, o rapaz foi superado mentalmente. Contudo, parecia que o homem mais jovem sentiu um pouco de vergonha por esse fato, e seu rosto ficou vermelho no mesmo instante, indignado. O homem afastou a mão de Tomoichi, que estava segurando a sua, e, ao mesmo tempo, bateu no pai de Kaori.

Tomoichi soltou uma voz abafada, e algo vermelho escorreu do canto de seus lábios.

O homem, motivado por sua indignação, balançou o braço mais uma vez, enquanto os outros homens também se adiantaram para machucar ainda mais Tomoichi, que era um obstáculo para eles. Sakura estava levantando a voz para detê-los enquanto seus dedos deslizavam por seu smartphone para entrar em contato com a polícia, mas, naquele momento...

— Eu gostaria de saber o que você está fazendo? É o que eu me pergunto.

O medo correu por todas as pessoas naquele lugar.

E então eles perceberam. Antes que notassem, Kaori, que já estava ao lado do pai, havia parado o punho do homem que estava balançando a mão para baixo.

Um calafrio que era impossível de entender percorreu sua pele, causando choques e a estranha situação de uma garota sorrindo enquanto parava o soco sério de um homem mais velho com apenas uma mão, fazendo com que todos se enrijecessem. No meio disso, Kaori soltou palavras com um tom calmo, que era o oposto de seu rosto sorridente.

— Estou perguntando o que você está fazendo com o meu pai, é isso que quero saber.

— Que-que diabos, é você!? Aa!? O seu pai que estava fazendo merda, então eu só estava dando uma lição a ele!

O ar intimidador que Kaori emitiu fez a homem cujo punho foi parado entrar em um frenesi enquanto reclamava. E então, a outra mão do homem tentou atacar para "dar uma lição" a Kaori.

— Meu pai estava fazendo merda? Acho que sim. Na verdade, ele é um pai preocupante que está sempre fazendo besteiras. Ele é superprotetor, me tratando como se eu ainda fosse uma criança pequena. Ele fica de mau humor se não recebe atenção e continua falando mal de Hajime-kun.

— ... hrk, que, que diabos!? Esta força ridícula...

Kaori estava falando com uma voz baixa em um murmúrio, deixando o ambiente estupefato.

O tempo todo segurando os dois pulsos de um homem com uma constituição muito maior que a dela.

À primeira vista, ficou claro que o homem estava tentando puxar as mãos com toda a força, mas as mãos que o seguravam nem sequer tremiam, como se ele estivesse algemado por ferro a uma parede. As palavras de Kaori alcançaram o homem que estava em pânico.

— Mas sabe, o pai é gentil, entende? Ele sempre pensa em mim, não importa o quão ocupado ele esteja com seu trabalho, ele sempre tenta ter tempo para falar comigo, ele sempre me protege, mesmo que não seja forte em uma briga. Quando trabalhei duro, ele me elogiou muito e, quando cometi erros, ele me repreendeu muito.

Kaori ergueu seu rosto. No entanto, esse olhar não estava direcionado para o homem diante de seus olhos. O que ela estava olhando era Tomoichi ao lado.

— … pai, eu sinto muito. Eu deveria ter parado isso antes que você fosse atingido. Lembrei-me de muitas coisas, então me atrasei para agir. Obrigada, por tentar me proteger.

— Kaori…

Tomoichi só disse o nome de Kaori enquanto olhava seu sorriso sem graça. Ele não podia fazer mais nada além disso. A razão era que a figura de sua filha parecia muito adulta. Era como se ela estivesse soltando a mão dele, como se ela já tivesse saído do ninho há muito tempo. Mesmo que eles estivessem no meio de uma situação como essa, a solidão que inundou seu peito apagou todas as suas palavras.

Kaori desviou o olhar do pai para os homens que os cercavam, e então ela soltou suas palavras com um olhar frio:

— Meu pai é o melhor pai do mundo. Não ousem, humanos de tão baixo nível como vocês, zombarem dele!

— Sua vadia, me solte agor-... bugeh!?

Um chute que apontava para o céu foi lançado logo após esse grito de raiva. Aquele chute atingiu a mandíbula do homem cujas duas mãos estavam sendo seguradas e, dessa forma, o homem foi lançado para longe como se não fosse nada demais em uma parábola.

O local voltou ao silêncio mortal.

— Se todos vocês desaparecerem agora, vou ignorar isso.

As palavras de Kaori ressoaram de forma solene. Uma garota delicada estava fazendo um rapaz de bom porte físico voar com um chute... normalmente, o grupo de homens com certeza sentiria a anormalidade da situação, no entanto, a diferença de número entre os dois lados e o senso comum de que não havia como dez homens perderem contra uma menina do ensino médio fizeram com que eles confundissem sua escolha por causa de seu pequeno orgulho.

Os homens estavam respirando com dificuldade, suas bocas proferiram linguagem abusiva e irrestrita, e eles ajustaram sua postura em preparação para o ataque.

— Hã-hã, acho que só poderia ser assim. De forma surpreendente, pessoas como vocês seguem o mesmo padrão.

Kaori acenou com as duas mãos. No mesmo instante, kyakin!, um som satisfatório ressoou, e dois bastões metálicos apareceram nas mãos da garota. Aqueles eram bastões extensíveis.

Kaori usava roupas de manga curta, o que faria alguém querer perguntar onde diabos ela escondeu aqueles cassetetes, mas aqueles que sabiam concordavam que fazia sentido que o que saísse fossem apenas cassetetes extensíveis, não é verdade? Dentro do anel que estava preso com uma joia carmesim pendurada no pescoço da Curandeira, havia até espadas grandes e brutais que podiam dividir uma grande pedra em duas, essas espadas eram a principal arma da garota.

No final, o estilo de duas espadas usando os bastões extensíveis (feitos de Adamantino e encantados com Capa do Relâmpago), brilhou na rua à noite; a situação tornou-se um estudo feroz da sociedade para os jovens. Junto com um trauma que não desapareceria.

— Tio. Isso é ótimo, não é? Kaori ficou com raiva assim por seu amor ao tio. Veja, ela parece a tia. Por favor, olhe para esses arrepios. Também é assim quando a tia está com raiva.

— ... vo-você está certa. Além disso, é apenas sensação minha? Parece que eu posso ver "algo" nas costas de Kaori, exatamente como acontece com Kaoruko.

O último homem recebeu um forte golpe na bunda que faria até o chute de um lutador profissional de Muay thai parecer uma mera brincadeira de criança, aquele homem gritou: — Aaaaaaaaa!! — enquanto voava pelo ar. Sakura e Tomoichi estavam olhando para a cena com olhares distantes e deram uma risada seca.

Depois disso, Kaori mexeu com a memória dos jovens com sua própria magia da alma antes de voltar para Tomoichi e Sakura com um enorme sorriso. Não foi preciso dizer como os dois estremeceram.

Depois disso, vendo Kaori ficando toda inquieta, como se quisesse conversar com o pai, Sakura leu o clima e voltou para casa primeiro. No momento, pai e filha estavam caminhando em silêncio apenas os dois no caminho de casa.

— Pai, não dói mais?

— Sim, já está tudo bem, Kaori. Magia é mesmo incrível, hum. Você me mostrou isso muitas vezes, então parece um pouco tarde para dizer, mas mesmo agora, ainda sinto admiração por testemunhar isso.

A ferida em seus lábios havia sido curada pela magia de Kaori. Tomoichi agradeceu a filha com admiração, como ele disse. Sentindo-se aliviada ao ouvir isso, a expressão da Curandeira se suavizou. E então, seu olhar começou a vagar como se ela estivesse procurando por palavras.

Vendo o estado de sua filha, Tomoichi adivinhou o que ela queria falar e suspirou dentro de seu coração, então ele pediu a Kaori para falar.

— Kaori, se houver algo que você queira dizer, basta dizer o que está dentro de sua mente. Afinal, eu sou o melhor pai do mundo. Não importa o que seja, eu vou ouvir o que você tem a dizer.

Kaori riu da maneira como o pai falava e ela abriu a boca:

— Sabe, eu notei isso agora, mas... Hajime-kun, ele se parece com o pai, é o que eu acho.

— ... você pode fazer uma pausa aí, Kaori? Até o pai tem essa coisa chamada limite sobre que eu posso e não posso aceitar, sabia? Eu sou parecido com aquele dono de harém que é como uma arrogância altiva que anda e fala? Eu me pergunto, o papai pode sair em uma jornada por um tempo? Está tudo bem, acho que depois de me encontrar em cerca de um ano, o papai será capaz de se levantar de novo.

— Ahaha, não foi isso que eu quis dizer. Não estou me referindo ao atual de Hajime-kun, mas o de antes.

— O de antes?

Kaori acenou com a cabeça em direção a seu pai, que mostrou um rosto interrogativo. E então, ela estreitou os olhos em nostalgia e começou a falar.

— Sim, o do passado. Ele não conseguia lutar, mas quando pensava que era necessário, avançava sem hesitar, esse tipo de pessoa fraca, mas forte. É, sem dúvidas, foi por isso que fiquei curiosa sobre Hajime-kun. Porque, se eu pudesse estar com uma pessoa parecida com o pai, ficaria feliz, sei disso ao olhar para a mãe.

— Kaori. No momento, os sentimentos do pai estão complicados. Estou feliz, mas talvez não esteja tanto. No entanto, é difícil de acreditar, hum. Ele, e a versão dele do passado sobre o qual Kaori falavam, eu não consigo conectar os dois…

— Não é? Eu também, quando me reuni com Hajime-kun, fiquei muito abalada. Ele mudou demais. Foi realmente terrível para ele, na medida em que era necessário que ele mudasse. Mas, mesmo assim, no fundo, ele não mudou. É por isso que existem pessoas que amam tanto o Hajime-kun de agora. Uma pessoa que é apenas insincera e gosta de mulheres, seria estranho se esse tipo de pessoa estivesse cercado por tantas pessoas?

— … talvez seja como você diz. Ainda assim, como esperado, como um pai, é difícil para eu consentir. Não importa quem, se for um pai que tem uma filha, ele com certeza desejará confiar sua filha a uma pessoa que a valorizará e somente ela.

Tomoichi coçou a cabeça parecendo perturbado. Kaori pegou o braço do pai e o abraçou com alegria.

— Obrigada, pai. Mas, eu tenho confiança. Na verdade, não sou apenas eu quem está com ele, e eu posso não ser a número um, mesmo assim, estou confiante de que posso ser muito feliz. Mesmo que haja muitas pessoas andando juntas com ele, ainda assim, eu posso estufar meu peito e dizer que sou querida. Porque, a pessoa que rastejou do fundo do abismo apenas com o pensamento de que queria ir para casa para sua importante família, e derrotou até deus só porque ele queria roubar uma de suas pessoas importantes, tal homem foi quem me fez uma promessa, sabia?

Kaori mostrou a Tomoichi o anel que estava pendurado no pescoço dela. Diferente da Caixa do Tesouro, era apenas um anel, mas era o anel eterno que estava preenchido com o juramento de seu amado.

Depois de ver aquele anel, a expressão de Tomoichi ficou extremamente amarga.

— Pai. Hajime-kun, ele é uma pessoa que vai valorizar todos os aspectos de suas pessoas importantes, até mesmo as pessoas preciosas de quem ele considera estimadas. É por isso que ele disse que não desistiria, não importa o quanto o pai o odeie. Ele me disse que iria valorizar o pai e a mãe também.

— ...

— É por isso que, eu entendo que não é uma situação normal, que isso é algo estranho, mas está tudo bem mesmo que leve tempo. Quero que o pai valorize Hajime-kun também. Quero que o pai aprecie minha pessoa preciosa também.

As palavras de Kaori cavalgaram o vento noturno que transportava o aroma de sal. A expressão de Tomoichi ainda era amarga e não houve qualquer resposta. Se alguém olhasse para os olhos dele, seria capaz de ver uma discórdia horrível girando lá dentro.

O longo silêncio continuava. Apenas os sons de passos e ondas do mar eram retumbantes nos ouvidos dos dois.

Não se sabia quanto tempo passou, mas em pouco tempo Tomoichi suspirou profundamente. Em direção a Kaori, que estava olhando para o pai com apreensão, seus ombros caíram enquanto uma de suas mãos segurava a filha.

— Kaori. Você pode entrar em contato com aquele cara... Hajime-kun para mim?

— Pai... sim, espere um pouco.

Kaori pegou seu smartphone e ligou para Hajime. Hajime, que atendeu o telefone, foi informado por Kaori que Tomoichi queria conversar. O Sinergista consentiu sem soar particularmente perturbado. A atitude do rapaz, que soou composta, fez com que o rosto de Tomoichi ficasse amargo mais uma vez. Kaori entregou o smartphone enquanto sorria com essa expressão de seu pai.

— … sou eu.

— Já faz muito tempo, senhor.

— Hum! Nos vimos há apenas dois meses. Dizer que faz muito tempo... parece que dentro de você, a questão sobre mim é a mesma que uma mera pedra na beira da estrada, hein.

— Não, isso é impensável. A família de Kaori é tão importante quanto uma joia para mim.

— Hum! Como sempre, é só a sua boca que fica falando palavras bonitas, não é? Foi assim que você enganou minha filha?

— Nunca. Se fosse obrigado a dizer, então acho que fui eu que fui pego.

— Hum!! Será que é aquilo? "Na verdade não, não estou sentindo nada aqui, mas Kaori disse que queria isso de qualquer forma, entãããão, só pensei em fazer um teste", é o que você está pensando, hein!? Mas que diabos você está...

— Pai?

— Eu sinto muito.

Quando Tomoichi ouviu a voz de Hajime, sua hostilidade inundou como um reflexo condicionado. Ao mesmo tempo, quando ouviu de sua filha, ele também soltou palavras de desculpas por outro reflexo condicionado. Ele não era um mero pai. Ele era um pai treinado.

Enquanto sentia o olhar da Hannya-san ao seu lado, Tomoichi pigarreou enquanto suor frio escorria e o homem abriu a boca mais uma vez.

— Ahem. É que, sabe, hoje, liguei porque... bem, eu também tenho várias coisas em mente. Um pai que tem uma filha, não importa o que aconteça, ele não pode ser gentil com o homem que é o parceiro dessa filha.

— Eu entendo. Afinal, eu também tenho uma filha que me fez decidir ser pai. Se eu estivesse na sua posição, e minha filha trouxesse um homem como eu, não há dúvidas de que iria quebrar todos os ossos do corpo dele e enterrá-lo no concreto, e no final, iria jogá-lo no meio do Oceano Pacífico.

— Eh? Ah, sim, é-é isso mesmo. Eu-eu também estou pensando em fazer pelo menos isso, hã-hã, para um homem desses, sabia?

— Sim. É por isso que eu entendo como seu sangue deve estar fervendo. Tanto que você deve estar pensando que quer jogar uma bomba nuclear em mim agora, mesmo que ela envolva os arredores; você quer pintar tudo de vermelho escuro, não é verdade?

— … … … vo-você realmente entendeu, hein!?

Dessa vez, Tomoichi estava suando frio por um motivo diferente. A hostilidade de Hajime era tão extrema que ultrapassava a dele. Além disso, apenas imaginando o ente querido imaginário daquela filha que poderia aparecer no futuro, o Japão poderia entrar em apuros. Tomoichi estava pensando: "Ee? A escala de hostilidade dele não é um pouco diferente da minha?", o que o levou a sucumbir a uma sensação complicada de derrota.

— Ahem. Parece que de alguma forma eu entendi muito bem como você está pensando, então vamos deixar esse assunto de lado um pouco. Mais importante que isso, quero confirmar algo com você.

— Sim.

— Você não tem nenhuma intenção de se separar de Kaori. Por outro lado, você também não tem nenhuma intenção de se separar das outras garotas. Você está planejando permanecer casado com todos elas por toda a vida e não tem a intenção de repensar essa vontade. Não é verdade?

— É como você disse. Entendo como isso é estranho, como vai contra a ética e como existem pessoas como você que pensam que isso é desagradável. Mas mesmo sabendo disso, deixe-me dizer mais uma vez. Todas, todas elas são minhas esposas. Essa minha vontade não vai mudar. Não importa o que possa acontecer daqui em diante, não vou ceder nisso. Minhas desculpas mais profundas, mas vou manter essa vontade por toda a minha vida até que você possa aceitá-la.

Tsk, você está agindo de forma desafiadora, hum.

— Farei tudo ao meu alcance para que um dia o senhor possa aceitar isso como sinceridade e determinação do meu próprio jeito de ser.

A mão de Tomoichi que segurava o smartphone se apertou. Sua fúria estava crescendo ao ouvir aquela coisa sem sentido sendo dita de forma tão descarada. Contudo, ele viu os olhos de sua filha que estavam olhando fixamente para ele do lado, e então Tomoichi suspirou mais uma vez para deixar escapar a coisa pesada dentro de seu peito.

— Eu quero muito te dar um soco agora, sabia? O futuro ideal para mim é um em que não veria mais seu rosto com minha filha, te esquecendo de uma vez por todas.

— Imagino que sim. O mais preocupante é que eu entendo muito bem seus sentimentos. Eu também entendo como deve ser irritante para você estar agindo dessa maneira. Este é um problema muito difícil, ainda mais do que aventurar-se em outro mundo cheio de morte e absurdo.

— Não sei sobre o absurdo de outro mundo, mas não há sequer uma dúvida em mim de que este seja o maior julgamento que já enfrentei em toda a minha vida. Aah, sério, por que minha filha conheceu você?

— Sem dúvidas, é porque não há ninguém que possa ser superior a este mundo cruel.

— Não há dúvidas quanto a isso. Minha nossa, este mundo me faz passar por algo desnecessário. Contudo, o que é realmente, realmente lamentável, é… … … minha filha, está feliz com isso, com uma expressão tão adorável que eu nunca vi antes.

— …

Tomoichi ficou parado lá. A casa de seus pais apareceu. Mas ele não conseguiu reunir nenhuma vontade de entrar na casa assim. Antes, havia algo que ele precisava perguntar, pelo bem das palavras e do desejo de sua filha que ele ouvira naquela noite, e, acima disso, pelo bem de produzir uma conclusão dentro de si mesmo.

— Deixe-me perguntar isso a você, desgraçado de merda que está tentando ter seu próprio caminho para um futuro maluco. Você pode jurar que poderá fazer, minha filha, minha Kaori, continuar tendo esse tipo de expressão para sempre? Você pode jurar que ela será capaz de estufar o peito e declarar sem hesitar que está feliz, você pode fazê-la continuar sendo esse tipo de garota para sempre?

Do outro lado do telefone, Tomoichi sentiu que a atmosfera mudou de repente. Isso foi algo que o homem sentir os sentimentos sérios de Hajime antes mesmo de ouvir suas próximas palavras...

— Se for um juramento, eu já o fiz há muito tempo. Esta vida é por esse motivo. Isso nunca vai mudar, não importa o que aconteça.

— ...

Ainda parado no lugar, Tomoichi olhou para o céu. Enquanto sentia o olhar de sua filha que estava o observando, ele reprimiu o desejo excessivo de gritar: — DESGRAÇADOOOOOOOOO!! — dentro dele. E então, quebrando o silêncio, ele formou suas palavras enquanto sentia uma estranha sensação de derrota; ele reuniu todas as suas forças até o limite, a fim de conceder o desejo sincero de sua filha.

— … da próxima vez, venha à minha casa. Você pode jantar lá.

— … muitíssimo obrigado. Eu com certeza visitarei para abusar de sua hospitalidade.

Um impacto correu pelo braço de Tomoichi. Quando ele olhou para lá, Kaori estava abraçando o braço do pai com um enorme sorriso. Com uma voz baixa: — Papai, obrigada. Eu te amo! — ela enviou a ele as melhores palavras que um pai poderia ouvir. Seu sentimento que quase o fez vomitar sangue por ter elaborado a frase de pouco antes, e também seu sentimento sombrio, todos esses sentimentos seriam esclarecidos se ele pudesse receber essas palavras.

Ao mesmo tempo, quando ele pensou que recebeu essas palavras devido à existência de Hajime, como esperado, ele não pôde deixar de sentir uma sensação de derrota.

— Não-não entenda mal! Não é como se eu te reconhecesse ou algo assim! Até o fim, estou pensando em ficar de olho em você, é tudo o que há para saber, não se atreva a deixar Kaori triste nem um pouco! Se você ousar fazer isso, então será aquilo-aquilo! Será o concreto e o Oceano Pacífico e a bomba nuclear, estou te dizendo!

— Haha, isso é mesmo aterrorizante. Gravarei essas palavras no fundo do meu coração.

O discurso de Tomoichi, que era como um tsundere, fez Hajime e também Kaori soltarem risadas.

Foi nesse momento que a conversa quase terminou com uma boa atmosfera...

— Mestreeee. Tua serva amada voltaste. Para a recompensa, por favor, castigues muito a bunda desta esta noiteeee!

Do outro lado do telefone, um tipo de voz cheio de excitamento e charme ressoava. No momento em que a voz se tornou audível, a atmosfera do Hajime transformando-se em espanto pôde ser sentida pelo receptor do telefone.

— Tio, você, como você voltou!? Mesmo com o castigo por encher a cara na frente do meu avô e das outras, eu a enrolei em uma esteira de bambu e te amarrei em um míssil antes de dispará-lo…

— De forma óbvia, és claro que esta rastejou de volta sem desamarrar o amor (corda) do Mestre! A gentileza de não explodires o míssil... se esta não respondesse a essa gentileza, como poderias ser a serva do Mestre!

— Isso é mentira, certo… fiz você voar até o outro lado da montanha; você não deveria poder voltar sem atravessar o centro da cidade...

— Sim! Quando as pessoas viram essa figura rastejante, que parecias uma lagarta, aplausos (gritos) surgiram por toda parte. Como esperado, esta até se sentiu tímida. Além disso, as autoridades apareceram, então esta viajou com uma velocidade maior; todos já estavam aplaudindo alto (um pandemônio começou).

— Você está criando uma nova lenda urbana na cidade onde meu avô está morando…

— Agora, concedas o prêmio a esta que trabalhou duro para voltar. Para seres mais específica, uma recompensa usando aquela coisa preta, dura e grande, para castigares a bunda desta! Nos últimos tempos, o Mestre não fez muito disso, por isso és solitário!

— Sua idiota estúpida! Que tipo de coisa você está falando com essa voz alta!?

De forma óbvia, as trocas pervertidas que foram feitas em voz alta foram transmitidas pelo telefone, para o pai e a filha do outro lado.

— … ei, pervertido maldito.

— !!! Isto é um mal-entendido. Me dê uma chance de explicar...

— Você acha que eu vou te dar uma chance? Você acha que eu vou deixar? Fufu, isso não é estranho? Aa, você é mesmo, um homem estranho. Fufufufu.

Tomoichi deu uma risada sinistra. Ao lado dele, Kaori estava segurando a cabeça dela enquanto murmurava: — Tio, sua idiotaaaa. — E então, ela tentou cobrir Hajime e falou com seu pai, mas antes que ela pudesse fazer isso, Tomoichi explodiu.

— Eu retiro o que disse. Seu desgraçado de meeeerdaaaaaaa! Eu jamais entregarei minha filha a um maldito pervertido como você! Proíbo você de se aproximar dela até o fim do mundo! Alguém como você, apena exploda com uma bomba nuclear no Oceano Pacíficoooooooooooooo!!!

— Espere, por...

Hajime tentou inventar uma desculpa, mas antes que ele pudesse fazer isso, Tomoichi levantou a mão segurando o smartphone e depois jogou o aparelho no chão. Um grito grave: — Meu smartphone!! — pôde ser ouvido ao seu lado, mas essa voz não alcançou Tomoichi, que havia se transformado em um guerreiro que era um pai que protegeria sua filha.

Longe disso, como se o smartphone fosse um inimigo que não podia viver sob o mesmo céu, ou possivelmente para que a escória odiosa não pudesse mais ligar do outro lado do telefone, ele pisou no aparelho e triturou-o várias vezes.

De modo natural, o smartphone de Kaori foi convidado para o céu.

— Pai-pai! O que você está fazendo!?

— Estou cortando laços com esse verme, com toda a minha força! Kaori, não se encontre com esse pervertido maldito até que o mundo se acabe! Esta é uma promessa com o Papai!

De fato, se houvesse um pai que ainda confiaria a filha depois de ouvir esse tipo de diálogo do outro lado do telefone, seria melhor não perder tempo e levar esse pai a um hospital. Para um hospital especializado em cérebros.

No entanto, do ponto de vista de Kaori, que havia testemunhado o relacionamento único de Hajime com Tio no outro mundo, ela já havia aceitado isso como algo comum. Embora ela pudesse entender muito bem os sentimentos de seu pai, testemunhar seu smartphone sendo esmagado e ouvir a pessoa que ela amava ser chamada de verme a fez querer contestar contra seu melhor julgamento...

Tomoichi sentiu a atmosfera de sua filha, que sem dúvidas não parecia que iria obedecê-lo, mesmo depois de ouvir esse tipo de conversa no telefone, e ainda por cima, lhe dizer que ela não devia mais se encontrar com aquele homem. Tomoichi tremia o tempo todo, declarando com toda sua força na área residencial à noite:

— O papai! É totaaaaaaaaaalmente! Contraaaaaaaaaaaaa!!!

— Ah, espere, pai! Para onde você está indo!?

Tomoichi de repente começou a correr. … na direção oposta da casa. E então, num piscar de olhos, ele desapareceu em direção à área residencial.

Se ele voltasse para casa, sua filha falaria sobre aquele idiota de merda de novo. Por isso ele não voltaria mais para casa. "Até que Kaori entenda, o pai vai fugir de casa!" Era algo parecido com isso.

Os ombros de Kaori, que de alguma forma adivinhou a intenção de seu pai, encolheram.

— Em geral, quem foge de casa porque não está sendo compreendida é a filha, não é?

Depois de sussurrar isso, Kaori perseguiu Tomoichi.

O pai, que não queria de forma alguma aprovar a pessoa que sua filha amava, e a filha, que queria a aprovação desse pai, não importava o que fosse preciso; os dois começaram a correr à noite.

Depois disso, se Hajime poderia ser aceito ou não por Tomoichi…

Enfim, digamos que o Sinergista trabalhou ainda mais do que quando teve que matar um deus.


Nota do Autor (Ryo Shirakome)

Muito obrigado por ler essa história.

Muito obrigado pelos pensamentos, opiniões e relatos sobre erros de ortografia e palavras omitidas.


Notas

[1] Shiroyasha é o nome de um tipo de demônio branco presente no Budismo e Hinduísmo.

[2] Hannya é uma máscara dotada de dentes ameaçadores, boca grande e chifres. Existe um conceito de um inferno no budismo japonês em que Hannyas são a representação dos confusos sentimentos humanos como a paixão, ciúme, e ódio, todos capazes de transformar homens e mulheres nesse terrível monstro. O que justifica o porquê de atores do tradicional teatro japonês se utilizarem de tal máscara em suas performances nas representações das histórias (desde o século 19) para transmitir uma identidade, uma personalidade nebulosa aos seus personagens. A Hannya é a máscara mais divulgada no Ocidente.

[3] Um suplex é um golpe usado no combate amador e no combate profissional. É um arremesso que envolve levantar o oponente e fazer uma ponte ou rolar para bater com o oponente nas costas.



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