Ataque as Torres! Brasileira

Autor(a): K. Luz


Volume 1

Capítulo 3: Resgate

Gregório abriu a garganta de um soldado com sua espada. Atordoado com a proximidade da morte e infinidade de sangue saindo, o monstro ficou indefeso. Quando tentava fechar o corte com as mãos, foi chutado na barriga e mandado para o chão, onde pereceu.

— Hahaha! Moleza! — disse o ruivo, Gregório.

— Me ajuda aqui, garoto! — Próximo estava o homem gorducho, em problemas. Seu machado era empurrado contra o do soldado robusto, que ficava cada vez mais perto de ganhar pela vantagem de estatura e força. A expressão do senhor estava desconcertada pela certeza de derrota.

— Huh?... Ei! Velhote! Esse peixe é grande demais para você! — falou com um sorriso esnobe.

— Notei! Que tal vir aqui dar uma mão?!

— Sim, sim. — Balançou a espada para tirar o sangue da última vitima e correu na direção do companheiro. — Ao resgate do velho!

O homem gorducho encheu seus pulmões de ar, acumulando forças para subitamente empurrar a arma inimiga para baixo e deixar o monstro numa postura desfavorável.

Iiiaaaah!! Como se recebesse um prato servido, Gregório investiu e apunhalou o peitoral inimigo.

Tendo aplicado uma ferida fatal, a dupla se afastou antes que o soldado revidasse. Depois, poucos segundos da perda de sangue foram o suficiente para fazê-lo desabar. Triunfantes, respiraram.

— Hahaha! Fez bem ali, velhote!

— Pensei que já era minha hora… — suspirou. — Bem, que tal me chamar pelo nome? Olha! — Apesar do combate recente, logo ambos se deram conta de outro oponente se aproximando, então voltaram a manter o alerta.

—  “Silva” é podre, velhote é muito melhor! Fora que você acabou de me chamar de garoto, acredito que eu também tenho nome.

— Ora seu… Agora só te chamo de garoto ou moleque!

— Por mim tudo bem! — Os dois tomaram posturas de batalha.

Pela sala, o grupo dos homens havia se dividido para exterminar os monstros restantes. Por estarem amedrontados com a morte do nobre, as criaturas lutavam desordenadas, algumas só se defendiam quando pressionadas perto dos muros, negadas da clemência de uma fuga.

— Estão desmoralizados! — gritou Dante. — Mas não abaixem a guarda! Mesmo que sejam fracos, vocês morrem se eles acertarem um bom golpe!

— Certo! — responderam.

— Não deixem mais nenhum escapar! Sem remorso!

Dante e Otávio corriam direto para o fundo do lugar, direto ao espadachim. Com os escudos à frente, se preparavam para confrontar um soldado robusto no caminho. Esse apontava sua lança, preparado para atravessar ao menos um dos invasores.

— Dante! — Otávio faz um sinal com a cabeça. 

— Certo!

Otávio põe-se totalmente atrás do escudo e acelera, tomando a dianteira do avanço. O monstro corre em sua direção e, quando próximo, atacou; Dante esbravejou: — Agora! — E então a vanguarda soltou o escudo antes que fosse perfurado junto.

Surpreso, o soldado via sua arma presa entre o escudo abandonado. Com o plano concluído, o homem empurrou seu escudo abandonado contra o chão, o que travou de vez a lança — encurvada ao ponto de quase quebrar.

Então Dante chegou, lançando-se do chão num salto para alcançar a garganta inimiga com sua lâmina, partindo-a no estouro de vermelho e suas chamas amarelas. Após cortá-la, caiu de lado e rodou para dispersar o impacto.

— Boa! — elogiou Otávio, erguendo um punho cerrado em comemoração. Morto, o corpo do soldado de dois metros desabou e, no baque, levantou uma nuvem de poeira.

Durante o dissipar da nuvem, conflitos prosseguiam. 

Armstrong, o homem de cabelo loiro com uma lança, estava tenso nas tentativas de ferir o soldado, que defendia seus ataques com a espada. Suas ofensivas incessantes não tardaram em repelir o equipamento do monstro para longe, por fim, com ele exposto, perfurou o estômago dele com o soar do seu brado.

Alexandro avançava com o escudo redondo, repelindo estocadas no metal. Quando notou, havia três inimigos o cercando e prestes a atacarem. Distante dos aliados e ficando a par da situação desesperadora, subitamente o homem enfureceu-se ao ponto dos olhos queimarem em determinação; bateu com o bloco de metal na cara de monstro, deformando sua face. Naquele estado descontrolado, começou a lutar igual uma besta que se jogava sem medo aos rivais.

Só Deus sabe como sobrevivia assim no cerco.

Silva e Gregório terminavam com os últimos corajosos que tentavam chegar aos corredores; o centro havia sido conquistado pelos escudeiros; e pelos lados ainda levaria tempo.

O escudo amassado caiu ao chão, abandonado. Dante e Otávio se abaixaram ao alcançar o espadachim estirado — Karlos. Eles primeiro observaram a condição externa, surpresos com as torções do manto por onde estavam as feridas, havendo uma espiral medonha desfalcada de volume pelo ombro. Nenhum buraco pelo tecido negro, na verdade, se comparado ao estado de farrapos a poucos minutos, estava recuperado.

— É assombroso… — Otávio verificava com toques suaves as partes torcidas do manto, em seguida, deslizou o dedo pelo sangue próximo ao corpo. — O manto estancou o sangramento, ainda assim…!

— Se acalme.

Dante virou Karlos. Estava pálido, apagado em um sono profundo. Seus olhos fechados e expressão relaxada transmitiam a conformidade com o destino. O homem aproximou-se do peitoral e esperou para checar se o coração batia.

— Oh! — soltou Dante ao ouvir algo.

Apressado, rapidamente se levantou e pôs o rapaz nas costas.

— Droga! Mas com esses ferimentos…! — comentou Otávio, devastado.

— Não importa. Se está vivo, temos que tentar salvá-lo até o fim.

Começando a correr, Dante enrijecia o semblante focado à frente. — gritou.

— Sei que estão mortos de cansaço! — Nesse ponto a sala já havia sido conquistada, o grupo apenas aguardava as notícias sobre o companheiro. — Porém nosso amigo precisa de nós! Enquanto estávamos reunidos atrás, ele sempre, sempre tomou para si os riscos e avançou como uma verdadeira vanguarda! Um garoto que não conseguia parar de salvar a humanidade mesmo sempre de cara com a morte! Talvez nunca poderemos agradecer por tudo o que fez… 

Os braços caídos do rapaz balançavam. Sujos de sangue e terra — inocentes.

— Quero salvá-lo! Me ajudem! — concluiu Dante.

Levou menos de um instante para que cada homem pegasse seu equipamento e começasse a correr para acompanhá-lo.

— Bem, tirar um cochilo agora parece um desfecho muito entediante — disse Armstrong com um sorriso.

— Isso é uma ordem? — perguntou Gregório, que corria com a vista das costas do líder. Seu tom sério demonstrava hostilidade.

— Claro — disse Dante, inabalável. — Esse garoto é a esperança da humanidade, sua esperança, a nossa. Deve ser motivo suficiente para que se envolva.

— Tch! Entendi. Apesar de que pra mim a verdadeira esperança da humanidade é claramente você, Sr. policial.

Ao saírem do corredor, o grupo se dividiu pelo edifício.

Próximo a entrada, que fora tapada pelo desabamento, repousavam as dezenas de homens que participaram da guerra. Mesmo com o cansaço pesado, ao verem a situação do Karlos e receberem um pedido direto do seu líder, todos se mobilizaram.

Em poucos instantes cada um desapareceu pelos corredores, tão apressados quanto naqueles combates.

Os carregadores das mochilas foram os únicos que não partiram dali, responsáveis por cuidar do espadachim. André estava genuinamente abalado com a situação do amigo, mas com ajuda da Kaira, seguia limpando as feridas que o manto negro falhou em alcançar na cabeça. 

— Precisamos de pedras de cura. Muitas. — Era o que Dante falou antes de todos se dispensarem. — As nossas acabaram, então só nos resta usar as dessa torre que conquistamos.

Portas eram abertas aos montes, atacadas pela pressa, soltavam barulhos estridentes nas invasões. Os pregos de tampas de madeira eram estourados, soltando seus cracks! de material velho partindo-se.

— Tragam o máximo de caixas que puderem — continuou o policial. — Soldados podem ter se escondido nas proximidades, mas se significar lutar pelo o que queremos, lutem!

No descer de uma espada, sangue jorrou. Pelas escadarias, os guerreiros subiam e desciam em corrida.

Pedras de cura caiam ao serem derrubadas das caixas, pegas pela luz dourada das janelas. Brilho que começava a vacilar, pois o fim do dia se aproximava. 

Vez por vez os guerreiros cediam ao cansaço e desabavam ao chão, enfim no limite das suas forças, frustrados.

Como em um enterro de flores, Karlos estava rodeado pelas joias.

— Por que nada acontece, Sr. Dante?! — perguntou André, que estava com os olhos secos pelo tanto que chorou. Na tentativa de o confortar, Kaira continuava abraçada a ele, apesar de na expressão demonstrar-se indiferente quanto à situação. — Esse tanto não é o bastante para salvá-lo? Se for, ainda podemos buscar…! 

 — Não podemos. — Dante estava sentado, jogando palavras que cortavam o rapaz como navalhas: — Todos estão no absoluto limite. Fizemos o suficiente. A questão agora não é a quantidade de pedras de cura, mas se o garoto vai acordar para usá-las.

— Não podemos quebrá-las pra ele?

— Não podemos. A “revitalização” depende das chamas consumirem a energia que sai das pedras. Serem quebradas sem chamas é apenas o mesmo que desperdiçar suas energias, e, não temos esse luxo.

— Mas…!

— Não podemos — finalizou. — Sabe como ele é, ia desgostar de ver remorso em sua morte. Assim como ele ocultava nas que sentia pelas dos outros, aguente, André.

— C-ce… — Passou o braço no rosto, enxugando as lágrimas. — Certo!

Os membros principais do grupo também esperavam com respeito, Gregório talvez fosse a única exceção, sentado em uma pose relaxada, porém compartilhava o mesmo desejo de observar enquanto aguardava.

O tempo passava e então a noite caiu. Acenderam as tochas do lugar, que clareavam até o piso deformado.

“A maioria quando desacorda em batalha dá pra ajudar, porém, quando os ferimentos são demais simplesmente não tem mais jeito, hein?”, pensou Dante, que pôs as mãos no chão e relaxou a coluna, tirando um momento para olhar com desânimo o alto. “Lutou tanto… Viu tanto sofrimento. Seria errado idealizar que esse finalmente possa ser seu descanso? Sei que odiaria se eu dissesse que foi tudo culpa da minha estratégia meia-boca, então irei me conter por hoje.”

O silêncio tomou seus pensamentos enquanto o rosto ficou encoberto por um avental de escuridão; Dante cerrou os dentes com tanta força que rangiam. Naturalmente, o grupo ficou surpreso e estranhou a situação, com alguns perguntando se estava tudo bem — bobagem. Irado, o polícia levantou e olhou novamente para Karlos, que seguia com a expressão serena em meio à morte. 

— Vai deixar que acabe assim?! — reclamou, deixando todos no lugar surpresos com sua ação. — A vanguarda da humanidade deveria ser a definição de uma linha inabalável com força absoluta! E a “minha espada” deveria ser o ponto crucial das estratégias, uma peça indestrutível em que eu poderia confiar cegamente e sustentar minhas inseguranças e culpa! Mas veja, o desgraçado que me prometeu, que passava tanta certeza, está caído!!

Alexandro e Silva se levantaram para conter Dante, alguém a um passo de avançar contra o defunto por mais louco que isso soasse. André o via de baixo, atordoado.

— Dante…? — murmurou.

À frente, a dupla tentava acalmá-lo, mas era inútil.

— Todo aquele povo…! Vai os abandonar?! — continuou Dante. — Crianças, velhos, mulheres, nossos amigos feridos e… sua garota! Vai os deixar desprotegidos?! Como se eu fosse deixá-lo fugir! Já disse, não temos esse luxo!

Apontou adiante e finalizou:

— Karlos, é uma ordem: volte!

Indignado, Armstrong falou:

— Dante! Já chega dessa boba- — Foi interrompido por um crack! alto atrás. — O quê?... Não… Não pode ser!

Cada um sentado virava-se abrindo os olhos e boca ao limite. Os homens caídos levantavam-se do chão, pasmos com a visão. Em contraste ao frenesi a pouco, Dante era o único com o controle das suas reações.

“Espero que algum dia possa me perdoar por tanto egoísmo”, pensou o policial, desapontado consigo mesmo.

Karlos havia levantado a mão e quebrado uma das pedras de cura. Rodeado pela poeira brilhante da rocha, logo suas chamas verdes consumiram a energia amarela transbordante. O punho estava firme, imperante.

“Mas mudei de ideia. Não posso deixá-lo morrer. Eu preciso da ‘minha espada’ para conquistar as torres. Vamos lutar; todos juntos… até conquistarmos nosso maldito fim.”



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