Cavaleiros do Fim Brasileira

Autor(a): zXAtreusXz


Volume 1

Capítulo 13: O Medo Tem Nome

A multidão da feira estava paralisada. O caos explodia diante de seus olhos — um confronto violento, e agora, uma demônia frente a frente com um rapaz.

— O que é aquilo...? — murmuravam alguns.

— Parece um demônio... — outros sussurravam, nervosos.

— Um demônio? Alguém precisa chamar os paladinos da cidade!

— Eles já devem estar a caminho... aquelas explosões deram pra ouvir do outro lado do distrito.

Bella ouvia tudo em silêncio, ainda fixa em Zane.

— Fala pro seu amiguinho baixar a bola!

— Vai se ferrar. — ele rosnou. — Não tenho medo de uma demônia qualquer.

— Deveria. Ou vai acabar respirando por um buraco novo. — A cauda de Bella se agitava atrás dela, e a unha já pressionava a garganta dele.

— Pode vir. Não vou deixar que encostem um dedo nela. — Ele apontou para Marie. — Nem você, nem ninguém.

— Que papo é esse? — Ela estreitou o olhar, encarando-o, depois desviando brevemente para Tyler, ainda em combate com Kant.

— Não tenta me enrolar, criatura.

— Espera aí. — Marie se aproximou. — O que quer dizer? Então vocês não vieram me levar?

— Se for pra te manter em segurança, então viemos sim.

— Segurança? Essas duas são minhas amigas…

— Amigas? — ele analisou Bella da cabeças aos pés. — Tá tirando uma comigo?

Bella recuou a unha do pescoço dele, surpresa.

O rapaz levou a mão ao pescoço, checando a pele, enquanto lançava uma expressão desconfiada para Trudy e Grimmuff antes de voltar a encarar Bella.

— Não estão com os demônios?

— Gênio você, hein? — Trudy respondeu.

— Que merda tá acontecendo… Cavaleiro! — Bella gritou. — Eles não estão com os demônios!

— O quê?! — ele perguntou, ainda se esquivando dos golpes.

— Eles não são inimigos! — gritou novamente, levando as mãos à boca para amplificar a voz.

— Já tinha sacado... — respondeu, sumindo e surgindo de novo entre flashes. — Mas esse idiota não me deu tempo de explicar!

— Cala a boca e luta, caralho! — berrou Tyler.

— Calma, moreno! — riu em provocação.

— Tyler! — gritou Zane. — Chega, vamos ouvir o que eles têm a dizer!

— Só pode estar zoando, vai me dizer que caiu nessa ladainha? Quer saber? Que se foda! — rosnou em resposta.

Explodiu para longe de Kant e aterrissou em um movimento preciso, se agachando com os dedos cravados no chão, como se puxasse impulso direto da terra.

— Como você engoliu esse papo, Zane? Mas beleza… deixa comigo. Vou acabar com esse idiota agora.

— Do que você tá falando?! Não faz merda! Esfria a cabeça!

Mas já era tarde. Tyler explodiu do chão como um míssil, lançando-se para o alto. No ar, girou o corpo e apontou os punhos em direção ao solo.

— Mas que merda… Isso vai varrer esse lado da cidade! Tem civis aqui seu idiota.

— Só pode estar de sacanagem! — esbravejou Bella, voltando o olhar para ele.

— Tô falando sério! Mas relaxa, eu paro ele. — respondeu unindo os mindinhos.

Uma corrente de vento percorreu seus braços instantaneamente, os punhos tremularam como se o ar ao redor vibrasse. O casaco e os cabelos dançavam ao redor do corpo que começava a flutuar.

Seus olhos mudaram — cederam lugar a um tom translúcido, como lâminas de ar em constante movimento, refletindo a luz como miragens. Era como encarar o céu em dia de tempestade, onde o vento parecia ganhar consciência por trás daquele brilho etéreo.

— Saiam todos daqui! Agora! — berrou Bella.

Trudy já se movia, empurrando os mais lentos, a multidão disparava em debandada, fosse pelo aviso, ou pelo medo das duas.

— Esse aí não tem jeito mesmo. — resmungou Kant, erguendo o rosto e usando a mão como sombra para enxergar o adversário contra o sol.

Zane disparou no ar, tentando interceptar o amigo que despencava como um meteoro.

— Ele não vai conseguir… — murmurou Marie, atônita diante da cena, o corpo tremendo enquanto recuava de costas.

— Merda… — rosnou Bella. Voltou sua atenção a Kant, que continuava imóvel, apenas assistindo. — Cavaleiro! Faz alguma coisa ou sai da frente!

Ele apenas estendeu uma mão na direção dela, sem tirar os olhos de Tyler.

— Calma, minha flor. — sussurrou, a voz baixa como brisa.

A palma então se virou para cima, os dedos abrindo devagar.

Bella franziu a testa, observando de longe.

— Pode vir, garotão... só mais um pouco. — Kant acompanhava a queda quase entediado.

“Droga, não vou chegar a tempo!” pensou Zane, sentindo o vento rasgar seu rosto.

Tyler se aproximava do impacto. Pessoas se jogaram no chão, sabiam que não haveria tempo para fugir.

— Agora. — Kant virou a mão, palma para o chão.

Puff.

Silêncio absoluto.

Nenhuma explosão.

As pessoas começaram a se erguer devagar, confusas.

— O que…? — murmurou Zane, ainda suspenso no ar, começando a descer. — Ei, demônia! Para onde eles foram?

Bella vasculhava os arredores com o olhar atento, como se algo no cenário estivesse fora do lugar.

— Tenho um palpite… — respondeu, hesitante.

— Pra onde!? — pousou no chão, os pés firmes enquanto a energia se esvaía aos poucos.

O casaco e os cabelos repousaram, a leveza nos membros desaparecendo conforme o corpo voltava ao normal. Ele marchou até ela com passos decididos.

Sem responder, Bella apenas se virou em direção a Marie e seu grupo, avaliando se estavam todos bem.

— Ei! Tô falando com você! — rosnou, agarrando-a pelo ombro.

A cauda de Bella ergueu-se na hora, tensionada, apontada direto pro rosto dele.

— Seu amigo quase arrasou metade da cidade! Quer ajudar? Vai ver se tem alguém ferido!

Ele recuou sem responder. Seguiu até um grupo de pessoas caídas ao chão, buscando quem precisava de socorro.

— Bella… cadê eles…? — sussurrou Trudy, ainda atônita, enrolada em Grimmuff.

Antes que Bella abrisse a boca, Tyler reapareceu alguns metros dali — cambaleando, totalmente perdido, como se tivesse voltado de um pesadelo.

 Kant, no entanto, surgiu ao lado delas, lançando um olhar breve a Zane: 

— Vê se segura esse teu amigo cabeça quente.

— O que fez com ele? — Zane perguntou enquanto ajudava um senhor a se levantar, os olhos fixos no companheiro, que mal conseguia manter o equilíbrio.

— Nada. Só dei uma volta com ele antes que fizesse uma besteira do tamanho do ego. — se aproximou de Trudy enquanto Grimmuff se desfazia de uma forma curva que a protegia no centro, como um escudo vivo. — Tudo certo aí?

— Tô de boa. — ela abriu um sorriso ao ver o rapaz.

— Sei… — voltou sua atenção ao mascote, que agora voltava à postura bípede. — Não fazia ideia de que ele podia fazer isso.

— Ele se dobra todo. Fica tipo uma armadura.

— Da hora. — riu, passando a mão na cabeça dela antes de seguir até Bella e Marie.

— Tá todo mundo bem?

— Aquilo foi assustador — comentou Marie, ainda tensa. — Mas acho que eles não são inimigos…

Ela observava Zane, que caminhava até Tyler.

— E aí, parceiro. Tá bem? Que ideia de merda foi essa? Isso iria matar todo mundo! Incluindo a garota!

— Vai se ferrar, Zane. — rosnou, passando por ele com um empurrão no ombro, indo direto na direção de Kant.

— Ai, o da cicatriz! O que fez comigo!?

— Já falei. Impedi você de fazer besteira.

Tyler cerrava os punhos enquanto prosseguia em direção ao rapaz que vinha tranquilamente de encontro.

Antes do impacto, Zane puxou o amigo pelo braço.

— Relaxa! Eles não são inimigos. Olha em volta… já não teve confusão o suficiente? 

Tyler girou ao redor. Viu os rostos apavorados, pessoas tremendo, pais abraçando filhos. 

Ele se desvencilhou do puxão, calado.

Zane voltou-se a Kant, direto:

— Quem são vocês? E por que uma demônia tá protegendo um artefato?

— Então vocês sabem dos artefatos? Por que os demônios querem tanto eles?

— Sabemos o básico. Só que eles estão feito loucos atrás.

— Estamos na mesma, então. — apontou com o queixo para Bella. — Ela protegeu a garota quando a atacaram tentando levar a arma que ela carrega.

— Que arma? — interrompeu. — Tô falando da loira ali.

Kant olhou para Marie, depois para Zane. Repetiu o gesto algumas vezes, franzindo a testa.

— Marie? O que tem ela?

— Não brinca… Você realmente não sabe? Por que estava defendendo ela, então?

— Ontem, algumas criaturas tentaram levá-la. Só impedi. Mas não sei o motivo.

Zane passou os dedos pela ferida no rosto, desviou brevemente a atenção para Tyler, que bufava em silêncio, depois encarou Kant novamente:

— Ela é um artefato.

Kant soltou um barulho seco com a boca.

— Tá brincando comigo. — fixou a atenção em Marie. — Como assim… ela é um?

Os três se viraram ao mesmo tempo e caminharam em direção a jovem.

— Sabe que vai pagar por essa cicatriz, né?

— Achei que combinou com você. — Kant esboçou um sorriso torto. — Calma aí… — franziu a testa. — Vocês dois são os caras do hotel não são?

— Tá zoando que só percebeu agora né?

Ao se aproximarem de Marie, Kant enfiou as mãos nos bolsos do sobretudo pronto para perguntar antes de ser interrompido.

— O que é você?... — murmurou o padre, apertando um crucifixo contra o peito ao encarar Bella. — Uma criatura como você não deveria pisar aqui...

Bella desviou o olhar com desdém e o ignorou.

— Padre, ela nos ajudou! Do que está falando? — Marie retrucou, surpresa e indignada.

— Isso não apaga nada. Uma boa ação não purifica uma alma manchada.

As freiras mantiveram o silêncio. O padre avançou um passo, mas parou ao sentir a mão de Kant em seu peito.

— Ela está comigo. E devia ser mais grato. Ela arriscou a vida por vocês.

— Eu me viro sozinha, Cavaleiro — murmurou Bella, a voz baixa e firme. — Ele não é o primeiro a me julgar pela aparência. Nem vai ser o último. Não vim por elogio nem gratidão.

O velho engoliu seco ao perceber Trudy o encarando ao lado da criatura.

Kant então se virou para Marie.

— Preciso que seja sincera agora. Por que estão atrás de você?

— O quê? Eu... eu não sei!

— Não sabe mesmo?

— Juro que não. Não faço ideia.

Ele se virou para Zane, que já o encarava.

— Ontem interrogamos um demônio. Ele falou que hoje, nesta cidade, apareceria outro como ele, com uma cicatriz no pescoço atrás de uma jovem loira. Disse que ela era o artefato.

— Ele podia ter mentido. — afirmou Bella, sem hesitar.

— Podia... Mas quanto à cicatriz, ele acertou. — completou, cruzando os braços e apontou com o queixo em direção ao rapaz.

Kant olhou brevemente para Bella, como se fosse dizer algo, mas se calou, voltando a atenção a Zane.

— Como eles sabiam que eu estaria aqui… — murmurou — Esse demônio, qual era o nome?

— Não perguntei. Era só um lixo qualquer.

— E vocês mataram ele, certo? Senão eles também sabem que vocês estão por aqui.

— Relaxa. — descruzou os braços, pousando a mão no ombro de Tyler. — Meu parceiro cuidou disso.

Tyler não respondeu. Ficou parado, o olhar fixo em nada.

Bella o observava com mais cautela agora, olhos semicerrados, como se tentasse se lembrar de algo.

— Certo. Não podemos ficar aqui. Se sabem que estou na área, coisa boa não vem. — concluiu Kant.

— Espera aí. — cortou Tyler. — Nem conhecemos vocês direito. Você anda com um deles! Pode até ter salvo a garota noite passada, mas isso não significa que confio em vocês pra cuidar de um artefato. Além disso... virem para cá só por causa de você? Quem é você, afinal?

— “Salvo a garota”? — murmurou Louis.

— Não vou arriscar um artefato só porque você não gosta da minha parceira! — completou Kant.

Tyler se aproximou devagar em direção ao rapaz.

— Fica tranquilo, não é só dela que eu não gosto.

— Quanta testosterona junta. — resmungou Bella, separando os dois. — Isso não leva a lugar nenhum. Se estão atrás da garota, precisamos tirá-la da cidade. Agora.

— Um momento! — interviu o padre. — Primeiramente, como assim “ter salvo a garota noite passada”? Segundo: ninguém vai levar ela para lugar nenhum!

Todos se viraram ao mesmo tempo em direção a Louis.

— Padre… — sussurrou Marie. — Ontem, quando Kant me trouxe, eu não havia me perdido na floresta. Ele me salvou. A cidade onde eu estava… aquelas coisas apareceram, atacaram pessoas… os gritos... — os olhos dela se encheram de lágrimas. — Eu não conseguiria ver isso acontecer de novo…

O padre gentilmente a segurou pelos ombros:

— Marie! Eu não vou te deixar ir novamente! Sei que você saiu para procurar por Anna, mas eu não posso deixá-la sair assim, desprotegida.

Kant se inclinou levemente com a voz contida:

— Padre, com todo o respeito—

— Escuta, garoto. Você sabe o que é perder uma filha? Ver ela indo embora e não poder fazer nada? — interrompeu o padre.

O rapaz sorriu. Não de alegria. Um sorriso vazio, quase melancólico, que Bella percebeu de relance.

Carregado demais para ser apenas resposta.

Um silêncio permaneceu por um instante.

— Então vocês vieram... — ecoou uma voz por um beco escuro.

Rangia entre risos secos e tosses rasgadas. 

Das sombras, mancando, emergiu uma criatura deformada — de aparência torta, rosto dilacerado como cera derretida.

Zane franziu os olhos, depois esfregou o rosto, exausto.

— Ah, não… Tyler, você disse que tinha dado cabo desse desgraçado.

— E eu dei!

Kant se aproximou, parando ao lado dos dois. Todos voltados para a aberração.

— Esse é o tal que vocês interrogaram?

— “Dei um fim nele.” Claro. Assim como jurou que não viu a maldita cicatriz no pescoço do parceiro aqui quando estava no hotel.

— Eu não vi a porcaria da cicatriz! — rosnou, cerrando os dentes.

Kant lançou um olhar de canto para ele. Avaliava a resposta. Não falou nada, apenas voltou a atenção para o ser deformado.

— Pelo menos o estrago na cara tá igual eu deixei. — comentou Zane, puxando um sorriso enviesado.

— Sim... — grunhiu o demônio, cuspindo sangue entre os dentes podres. — Mas desta vez... eu trouxe companhia.

Atrás dele, o chão se rompeu.

Fendas abertas em brasa jorraram fogo e lava como veias do próprio inferno. Um portal monstruoso rugiu, e deles brotaram horrores — figuras retorcidas, bestas famintas, guinchando em fúria enquanto se acumulavam.

Mas um deles avançou.

Alto, grotesco, sua presença empesteava o ar. 

As pernas cobertas por placas negras e espinhos, os membros costurados como um quebra-cabeça de cadáveres. Dos ombros e costas, saíam lâminas e braços extras que se retorciam, alguns ainda se mexendo, como se buscassem algo. 

A pele era pálida e rachada, revelando carne viva sob fendas escuras. 

O cabelo, grisalho e desgrenhado, caía sobre uma capa azul pútrida, manchada de sangue antigo. Os olhos queimavam no fundo do rosto deformado, e o sorriso costurado anunciava a morte. 

Ele parou firme — um general infernal diante de todos.

— Olá, Kant. Já faz um tempo, não é? — A voz vi

nha como gritos sobrepostos, como uma multidão condenada tentando falar ao mesmo tempo.

Kant parou.

Congelou.

Sua respiração começou a falhar.

— Draevoth…

Apoie a Novel Mania

Chega de anúncios irritantes, agora a Novel Mania será mantida exclusivamente pelos leitores, ou seja, sem anúncios ou assinaturas pagas. Para continuarmos online e sem interrupções, precisamos do seu apoio! Sua contribuição nos ajuda a manter a qualidade e incentivar a equipe a continuar trazendos mais conteúdos.

Novas traduções

Novels originais

Experiência sem anúncios

Doar agora