Chamado da Evolução Brasileira

Autor(a): TheMultiverseOne

Revisão: TheMultiverseOne


Uma Cidade Pacata – Nova cidade, Nova vida

Capítulo 23: Esperança?

— Mais um caso dessa loucura… E dessa vez dentro de uma escola…! Até onde vai o nível de loucura desse meliante?!

A viatura cortava as pequenas e quase vazias ruas de Elderlog em altas velocidades, propagando o barulho das sirenes para cada canto. 

Em poucos segundos, chegariam ao lugar determinado, de onde uma chamada desesperadora demais foi realizada.

— Não sou eu quem vou saber… Só sei dizer que se aquele cara estiver mesmo naquela escola, não vai ter como fugir tão fácil.

O par de homens dentro do carro não eram os únicos metidos nessa missão. Os outros haveriam de estar chegando, prontos para cercar o perímetro da grande construção.

O sujeito seria pêgo e cada mísero pedaço de esforço era colocado nessa expectativa.

— Estamos chegando. Assim que entrarmos, averiguamos a situação inicial e procuramos pelo suspeito. Ele não deve estar longe, considerando que acabou de sair de mais um crime.

O homem a falar via o topo do edifício no quarteirão a seguir. Seus olhos castanhos afiados miravam na simples e insegura vidraça da janela.

— Não sei que tipo de sortudo é esse maluco, mas é hoje que esse marasmo de continuar escapando acaba.

“Jefferson Briggs” era o nome estampado em seu uniforme. Era um homem vivido na profissão, com 13 anos de corporação, embora nem um pouco de confiança a mais…

… Especialmente se tratando de alguém com uma série de crimes tão recente e relativamente pequena, mas, ainda assim, com requintes tão selvagens.

— É como se o bastardo fosse abençoado por todos os demônios do inferno… — disse,  conduzindo para a esquerda. — Sempre faz tanta cena, mas nunca deixa um identificador…

Seu colega se atentou ao fato de estarem na rua da escola, a Mahogany Street. O lugar era uma rua imediatamente paralela à estrada principal, muito felizmente. 

Era quase uma maldita conveniência que estivessem tão próximos assim do local do primeiro crime do dia.

— Acho que hoje ele se deixou puxar pela sorte. Todos esses crimes bem-sucedidos devem ter subido à cabeça dele… Esse vai ser o momento perfeito para derrubá-lo.

Seu colega de trabalho bem mais inexperiente se deixou falar, e mesmo que os anos os separassem, viam-se quase os mesmos traços em seu cenho.

— Vamos rezar para que essa seja a verdade mesmo, Philip… Temos que fazer justiça por aquelas famílias desfiguradas…

Ouvir aquilo colocou Carl Philip para refletir sobre as cenas grotescas que o departamento tem recebido nas últimas semanas, e mesmo por fotos, jamais esqueceria o que viu.

— É como se aquele desgraçado zombasse da gente… — concluiu, sentindo o gosto amargo em sua língua. — É quase como se… Ele soubesse com plena certeza de que nunca o acharíamos.

— É, eu tenho esse sentimento também. Você descreveu exatamente a mesma coisa que eu sinto quando vejo aquelas fotos de novo — respondeu Briggs.

O veterano arrumou os cabelos em um sinal de estresse, bufando ar quente que, por um segundo, borrou o vidro adiante.

— Não temos mais tempo para ficar falando… Infelizmente — soou cansado. — Vamos entrar lá e fazer o que temos que fazer… Vamos pegar esse criminoso que já deu trabalho demais para Elderlog.

Os dois deixaram a viatura recebidos com uma cena um pouco mais nova em comparação às demais que já viram em torno do mesmo caso, e que não trazia qualquer tipo de alívio.

Se qualquer coisa, ver todos esses estudantes e membros do corpo docente logo nos portões trancados por fora não fazia as coisas sequer um pouco mais confortáveis.

— Recebemos um chamado de ocorrência para essa escola.

O chamado firme de Briggs funcionou como um milagre anunciado para todos, já que o homem não teve como dar três passos antes de ser cercado por tantas pessoas.

— Policial…! Policial…! — Uma mulher em vestes formais o chamou, desesperada. — Sete corpos… Dentro da escola…!

Essas palavras disseram tudo o que os oficiais precisavam ouvir.

— Evacuamos todos os que pudemos encontrar, mas ainda temos muitos dentro…! Por favor… Aja rápido…! Peguem ele…!

Firme, o homem de feições endurecidas pelo ofício assentiu, captando o desejo como sendo também seu.

— Vamos fazer isso; pode mandar todos esses estudantes para casa. Não vai ter mais aulas por hoje.

O portão abriu diante de sua encarada resoluta, e por um tempo, pensou um pouco em seu passado ali dentro.

“Elderlog High… Faz um tempo considerável que eu não piso nesse seu chão, velha amiga. Eu sei que eu nunca fui um dos seus melhores alunos.”

A mente escapou para os vários adolescentes assombrados, e logo veio o amargor.

“Nenhum jovem deveria se sentir assim no lugar que os deveria proteger e ensinar.”

Sem mais esperar, iniciou a corrida para dentro do edifício, acompanhado de perto por Philip, que seguia a cada passo.

— Não contei mais de 80 estudantes, Oficial Briggs… Podemos ter certeza de que existem vários a mais — falou ele, equalizando seu passos com o de seu veterano.

— Pode ter certeza disso — respondeu um tanto secamente. — Eu aposto a minha alma em como ainda restam ao menos umas duzentas pessoas ali no meio, totalmente inconscientes disso ou… Pior.

O frio de se saber o que isso significava quase causou uma parada desconfortável no ritmo acelerado… Felizmente, não foi esse o caso.

Ele já se preparava para dar as ordens de se separarem em dois caminhos opostos, mas a cena logo na entrada provou que não apenas isso não seria necessário, como também muito pior.

— Mas que merda…! — Philip cuspiu, esquecendo de todo o seu profissionalismo no processo.

— É… Mas que merda — Briggs confirmou, sem se importar com o “erro”.

A cena foi visível logo do pátio de recepção, há cerca de dez metros da entrada. Ali, entre paredes sem vida, repousavam três corpos profanados de modos violentos.

A primeira caiu com vários fragmentos de lápis a perfurarem seu estômago e abdômen. No centro de sua garganta, viram uma brilhante faca para corte de carnes a perfurar sua traquéia, fincada com perfeição cirúrgica no centro da garganta. Seu semblante era de intensa agonia.

Já a segunda não tinha um rosto visível, mas a grande poça de sangue abaixo de si indicava que caiu da pior forma sobre o que quer que a tenha perfurado. Possivelmente, se encontrava tão horrorizada quanto sua amiga.

— Bem… Ao menos uma ainda parece inteira…

Philip sentiu-se terrível por ter pensado a partir de uma vertente tão fria, mas não queria retratar sua tentativa falha de ser otimista.

— Eu não teria tanta certeza, Philip… Olhe para o chão — apontou. — E agora, para o rosto dessa menina.

Havia uma terceira garota jogada contra a parede oposta do corredor, deitada sobre seu lado esquerdo. De certo modo, ela parecia pacífica.

— Esse sangue…

— É o sangue dela — afirmou, apontando para a grande poça semi-coagulada. — Como eu sei? As roupas dela…

O moletom rosado em tom pastel da estudante tinha uma imensa marca vermelha líquida em seu centro. Não foram necessárias quaisquer outras palavras depois disso.

Os laudos de mortes, por vezes, indicavam a presença de ferimentos internos de estranhas procedências nas mortes causadas pelo Perfurador de Elderlog. 

Eram pedaços de vidro, lascas de madeira ou até mesmo quantidades de areia, sempre rodeadas do mistério sobre como chegaram ali em primeiro lugar.

— Não vai ser boa estratégia nos dividirmos — Briggs anunciou. — Hora de começar a busca.

O plano de encontrar sobreviventes que ainda estivessem presos era o que deveriam fazer, contudo não seriam essas circunstâncias que guiariam os próximos passos das ações dos dois.

E isso aconteceu quando, logo no instante em que se aprontavam para correr com armas em punho, escutaram um alarmante barulho particular vindo do andar justo acima.

— Ouviu isso?! — perguntou Philip, levantando a pistola à altura da orelha. — Veio lá de cima!

— Foi alguma coisa quebrando… Vamos olhar…!

Briggs ditou o ritmo do par, que subiu as escadarias como se não houvesse amanhã. Não foi um barulho muito alto, certamente perdido no meio de várias conversas e risos…

… E foi justo a falta disso, seguida do enorme e pesado silêncio, que os deixaram ouvir. Foi algo a ser lascado, dividido em vários pedaços ao colidir com uma superfície mais dura.

A alma de Briggs se incendiou em seu ritmo ao mesmo tempo que prendia seu foco nos movimentos certeiros de seus pés…

Estar tão perto do maldito Perfurador de Elderlog fazia seu sangue ferver.

“Finalmente vamos colocar as mãos em você, maldito filho da puta…!”

Não saberia explicar mesmo que tivesse todas as palavras em cada língua do mundo, porém sabia, e apenas sabia.

“Ele tá aqui…!”

Uma conversão de seu corpo inteiro para o corredor à esquerda, para se deparar com a cena que marcaria sua vida, tais quais o buracos que marcavam as paredes das casas.

“Isso é…”

Em 13 anos de profissão e de confronto direto com assassinos e outros criminosos perigosos, nunca se viu tão assombrado em sua vida.

— … Coisa do demônio… — Seus lábios trataram de completar a frase.

Eram dois adolescentes em frente a uma sala qualquer. De dentro do cômodo, escapava o odor enjoativo de diversos tipos de produtos de limpeza misturados.

Isso não era de longe o fator principal, já que, apenas de olhar, tudo ficava tão claro, mas ao mesmo tempo, tão incrivelmente distante e incompreensível.

Aquele ali — o rapaz ileso, de pele mais clara e fios castanhos desgrenhados, totalmente sujo com óleos e substâncias cremosas —, era ele o assassino.

Não tinha como duvidar — não com todos aqueles lápis, canetas, cacos de vidro e facas dos mais diversos tipos — e isso era o mais confuso de tudo.

— Oficial Briggs…! — Philip o alcançou enfim, ainda inconsciente do futuro que seus olhos aguardavam para mostrá-lo.

Milissegundos que correram como horas foram quebrados na mente do policial mais velho.. De novo, sentiu o tempo correr… E no pior instante possível.

— Hmm…? — O rapaz rodeado de objetos flutuantes ergueu a sobrancelha. — Então vocês finalmente chegaram?

O enorme desdém somado ao menosprezo de sua fala foi notado, e Briggs sentiu seu espírito congelar ao ser confrontado com o olhar de tamanha falta de humanidade.

Ele nem mesmo se importava com qualquer chance de que as coisas piorassem para o seu lado da história.

— MEU DEUS…! — Philip reagiu e sacou sua arma. — MORRA…!

O desespero de seu colega ao presenciar a cena vinda diretamente de um filme ruim de super-heróis impediu qualquer chance de racionalização e pensamento mais adequado.

Foi então que focou no segundo adolescente, machucado e desesperado.

Briggs não precisava saber ler lábios para entender, pois o brilho do roxo em seu semblante já dizia tudo.

“Não atire.”

Tarde demais.

Os estampidos da arma de Philip soaram em par, mirados no centro da testa daquilo que demorou tempo nenhum para julgar como um “monstro da pior espécie”.

Uma básica tolice que custaria sua vida.



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