Chamado da Evolução Brasileira

Autor(a): TheMultiverseOne

Revisão: TheMultiverseOne


Uma Cidade Pacata – Nova cidade, Nova vida

Capítulo 25: Troca de Farpas

Ryan não tinha as palavras que descrevessem a súbita mudança de curso que tudo tomou. Antes, sabia estar prestes a morrer, mas agora, vinha um alívio estranhamente amargo.

“Os policiais... No fim, foi tudo uma ilusão?!”

Seu coração queimava em um tipo único de indignação, distante de qualquer base lógica.

Sabia ter chances quase nulas contra o assassino e, sendo real, diria estar condenado, mas, ao mesmo tempo, não queria ter que jogar nas mãos de Mark a responsabilidade por sua vida.

Era o seu orgulho próprio. Ryan lembrava bem de como, minutos atrás, refletiu sobre não mais contar com a ajuda do casal de loucos da escola.

E ali estava um deles, pronto para se intrometer em seu possível progresso.

— Ryan.

Os olhos rubros de Mark se dirigiram a ele, com foco no fundo da alma. Por um segundo, sentiu-se congelar por dentro diante da pressão exercida por seus brilhos.

— Auditório número dois, três portas à esquerda do banheiro feminino, na direção de um extintor de incêndio — disse calmamente. — Vai para lá agora e faz a tua parte.

Não falou mais do que o necessário, e logo retornou o olhar para esse que seria o seu oponente de agora em diante.

O cessar das batidas da bola de basquete preenchia o nada com ainda mais de si mesmo.

— Vai logo, caramba...! — exclamou. — Os policiais estão lá, amarrados no canto! A gente não pode deixar ninguém sair daqui sabendo disso!

O Perfurador de Elderlog o encarou com dúvida, mas suas expressões já indicavam um entendimento ao menos profundo o suficiente do que se passava.

— Opa, opa! Então espera aí... — Ele riu secamente. — Então o seu poder é mesmo mexer com as mentes das pessoas?! Cara, isso até que parece forte!

Travou seu foco em seu primeiro inimigo, que ainda não havia se levantado do chão sobre o qual caiu.

— É... Acontece que o poder dele é de mexer com memórias... É um negócio meio bizarro de se pensar e que seria até meio útil nas mãos da pessoa certa... Só é uma porcaria que ele não preste para lutar com isso!

“Ele só revelou o que eu faço tão facilmente assim...!”

Quis responder algo, mas se impediu no último segundo, já que por mais que detestasse a pessoa de Mark, não se encontrava em posição de recusar ajuda, algo que até seu próprio orgulho afiado tinha de admitir.

— Hmm...! Que poderzinho legal! — O assassino ergueu sua mão direita. — Posso saber o motivo de ter revelado assim tão fácil?

— Ah, posso sim...

Mark fitou Ryan uma última vez e sinalizou, por meio de uma ilusão visível apenas a ele, que já deveria estar longe dali há muito tempo.

— Acontece que você não vai sair daqui com essa informação...! — anunciou, reagindo depressa.

[...]

— Antes de você... Vou concluir o que eu já tinha começado, Menotte...!

A lerdeza de Ryan em reagir ao comando de Mark foi a primeira coisa notada pelo assassino. Em um movimento veloz, tornou seu sentido pleno na direção do Savoia, que corria estupidamente em alguma direção com a qual ele não se importava.

Usou as lascas de porta, associadas às canetas e lápis que pegou e propagou-as com seu fluxo telecinético sobrenatural. Um golpe certeiro.

— Heh, e eu aqui pensando que tu fosse inteligente...! — Mark, que sequer tentara impedir, riu de sua escolha.

O rapaz pálido continuou ali e até brincou um pouco com a bola de basquete, sem o menor incômodo com a possibilidade de seu aliado acabar morto.

Não demorou muito mais para a verdade se revelar.

“Huh?! Mas hein?!” 

O Perfurador de Elderlog sentiu sua espinha gelar ao notar o que ocorreu.

— Perdeu o foco do que é importante, cara... — E foi quando a voz de Mark soou, assombrosa, em seu ouvido.

Seus objetos acertaram como deveriam, mas ao invés de sangue e escutar os gritos de Ryan, veio um punhado de estática de televisão, desfeito no ar.

E por ter se distraído com isso, deixou a abertura perfeita para a chegada do verdadeiro inimigo.

— Pega essa...!

Sentiu em sua bochecha direita o intenso impacto do objeto redondo e borrachudo, tão cheio de ar que se fazia maciço contra sua carne. 

A força tremenda o tirou de si por alguns milésimos, e trouxe ondas de dor para cada canto de sua cabeça.

— E mais essa aqui...!

Um chute firme com a ponta do calcanhar, que o fez rodopiar como um pião. Seu centro de gravidade e noção de equilíbrio enlouqueceram, jogados para o alto tais quais um buquê de flores.

— E só para ficar esperto, lá vem mais uma!

Um soco, mas não seria ali que cairia. O gosto de sangue em sua boca o lembrou, de última hora, de um detalhe importante.

“... Minha arma secreta…!”

— Huh... Você agarrou esse... E além disso...

Mark focou na forma do assassino, diante de uma mudança um pouco intensa demais para se fazer tão depressa.

Seu punho era firmemente preso no lugar, criando um agarro impossível de se livrar.

— Ei, Mark... Eu vou te contar uma coisinha...

Seu rosto se ergueu em um sorriso maníaco. Nele, não havia uma única marca de sangue ou arranhão.

— Ela te mandou uns beijinhos agora. Falou até que está com saudades da história entre vocês dois… Você nem imagina o quanto ela quer te ver de novo, depois de tanto tempo…!

“Ela...?”

Toda a alma do pálido congelou com a novidade e, de repente, viu-se incapaz de reagir, criando a abertura perfeita para a execução do contra-ataque.

— Gah...!

— Hehehe! Quem parece ter perdido o foco agora?

O rapaz de qualidades atléticas foi tirado de seu transe pelo pulso doloroso, constante e violento, na região de seu abdômen. As pequenas marcas de sangue a escorrer livremente revelaram um de seus maiores medos.

Sua carne estava cheia de cacos de vidro, e ele nunca agradeceu tanto por gostar de usar roupas pesadas.

— Parece que a menção dela fez sua cabeça voar, não foi? — ergueu seu punho e desferiu um soco contra o rosto de Mark. — Vamos dar um giro agora, não? Soou tão interessante para você quando foi a minha vez!

O golpe o derrubou. Gotas de seu sangue se espalharam pelo chão, advindos de sua boca que passou a lembrar-lhe a sensação de se mastigar uma barra de ferro.

— Eu não ficaria aí por muito tempo se fosse você!

Uma enorme leva de outras pequenas coisas, desde tachinhas até fragmentos de madeira se juntaram sobre sua cabeça, prontos para cair como chuva sobre seus rosto e olhos.

“Sem chance... De eu acabar deixando isso acontecer...!”

No último momento, suas lentes rubras cintilaram ainda mais sangrentas. A luta sequer havia começado e já se obrigava a usar seu melhor ataque.

“... E eu me detesto por isso… Ter que penar tanto contra um merdinha desses... Faz tanto tempo que ninguém me arranha que nem esse meliante...!”

— Pare de se esconder atrás das suas fabricações, Mark...! Venha me confrontar como o homem que a escola toda diz que você é!

O psicopata adolescente não sabia para onde olhar ou de que direção viria o próximo ataque, já que sequer via alguma coisa, além de um corredor vazio.

— O homem que toda a escola diz que eu sou...? — A voz de Mark foi ouvida de todas as direções, sem origem definida. — Eu nunca fiz uma luta limpa na minha vida inteira...

Um breu. Nada. Não existia outra coisa além de infinita escuridão para todos os lados. Ele sequer via as palmas de suas mãos.

— ... E não é agora que eu vou começar...!

A audição — seu único sentido restante no mar de trevas — se aflorou. Direita. A voz dele veio da direita.

— Errado...! — De repente mudou para revelar estar à esquerda. — Completamente errado!

O contato do calço do sapato contra o estômago o arrancou de si mesmo. Suas vísceras gritaram, mas não tinha ar para vocalizar seu sofrimento.

— E aí? — pisou sobre a bola, em um gesto extravagante. — Vai me contar qual o envolvimento daquela mocoronga nesse esqueminha de vocês ou prefere levar mais? Porque deixa eu te contar uma coisa...

Fez a bola quicar com uma aplicação de força bruta de sua perna, que levou a mesma até suas mãos.

— Um copo d’água e uma bem boa no meio da cara...

Mirou na face do rapaz caído, jogado contra a parede pelo ataque de proporções super-humanas.

— ... São duas coisas que eu não nego a ninguém...!

A bola fez seu trajeto, pronta para acertar em cheio.

— Heh… Palavras grandes essas suas...

Mas foi interrompida em seu curso, por uma mão de imensa firmeza e que em nada lembrava a forma quase nocauteada em que seu possessor foi deixado.

— Boa jogada...! Pena que não entrou na rede!

“Como esse cara continua se curando desse jeito, como se os meus ataques não fossem nada?!”

O castanho se levantou em um pulo, novamente em plenas condições. Era como se um milagre houvesse ocorrido, onde, mais uma vez, nem um arranhão existia.

— Mas essa daqui vai! — mirou para acertar o vidro da janela à sua direita.

Os estilhaços soaram livres, assim como as dezenas de pedaços que se soltaram da placa,  agora verem cativos novamente, por uma força diferente.

— ENGOLE ESSA!

Sua exclamação coordenou-se com a viagem dos projéteis por todas as direções do corredor. Não havia escapatória que não fosse saltar para qualquer um dos lados.

“AH, MAS QUE MERDA...!”

E foi isso o que fez ao escolher o lado direito, bem mais próximo. Logo ao pular de qualquer maneira, percebeu o quanto teria se dado mal caso houvesse o menor atraso.

Os fragmentos da vidraça rasparam a tinta da parede onde acertaram e alguns se alojaram no informativo para papéis.

— Tenta não morrer até vocês dois se toparem de novo! Ela disse que ainda iria querer te dar uma bicuda na cara pessoalmente!

“Eu não posso deixar esse filho da puta fugir...!”

Em um movimento executado com puro ódio e ranger de dentes, usou o braço direito para rodopiar a orientação de seu corpo, remanescente de uma dança de break.

Suas capacidades atléticas o impulsionaram de volta para seus dois pés que, logo ao se conectarem com o chão, o puseram a correr em perseguição.

“Esse desgraçado já deu problema demais em um único dia!”

— As suas ilusões não vão me parar... Não enquanto as características do meu campo visual continuarem mudando...! Além de que, no fim, é só isso que elas são... Meras ilusões!

Ele, alguns metros à frente, chutou um balde nas proximidades de um bebedouro, o que espalhou água por toda uma faixa do chão do corredor.

“Merda...!”

Passar não foi uma tarefa difícil, mas a força que teve de aplicar na última hora o demandou ao menos uns 2 segundos a mais, tornados em vantagem para o castanho.

— Tente me pegar se puder...! Mas só dizendo... Se eu escapar daqui, todo mundo vai saber dessa nossa pequena historinha aqui, incluindo os seus poderes, Mark!

Sorriu casualmente demais, em zombaria, antes de abrir a porta de uma sala de aula qualquer e ali entrar.

Uma armadilha, e sabia disso muito bem.

Um temporizador metafórico foi colocado na perseguição. Se ele entrasse, encontraria o oponente em seu lugar de maior capacidade — um canto repleto de tudo o que ele mais gosta —, cheio de lápis e canetas.

Mas, se não entrasse, quebraria uma das janelas e escaparia como tem feito em todas as outras vezes.

— Eu não tenho como me importar com isso agora...! — deixou-se vocalizar os pensamentos.

Aquele cara sabia demais e sobre coisas que ele precisava descobrir mais sobre. Mesmo ciente de todos os perigos, só existia um caminho.

Mark chutou a madeira, gesto esse que quebrou as dobradiças e enviou um estampido firme para todos os lados.

E logo ao entrar...



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