Chamado da Evolução Brasileira

Autor(a): TheMultiverseOne

Revisão: TheMultiverseOne


Uma Cidade Pacata – Nova cidade, Nova vida

Capítulo 28: Perseguição, Ato 1

“Eu não posso me deixar ter um fim tão patético assim... Morrer para um monte de canetas!”

Hehehe! A qualquer segundo, Mark...! A qualquer momento essa mesa vai cair e você vai junto!

A risada já o enchia de nada além da mais inalterada raiva. 

A sala de aula mais lembrava um cenário de guerra, com exceção dos corpos que, felizmente, não existiam ainda

Poeira e fragmentos voavam por todos os lados, alguns carregados pelo ar, outros pela potência descomunal do poder que desafiava toda e qualquer lógica.

“Eu não vou poder ficar aqui por muito tempo...! Essa madeira já lascou demais...!”

As extremidades da grande mesa que usava como escudo já não existiam mais, e aquela que um dia foi uma superfície retangular passava a lembrar muito mais uma barra de chocolate mordida em diversos pontos aleatórios por uma criança sem noção de coesão.

Logo a madeira não aguentaria mais e seu oponente não aparentava estar em qualquer ponto próximo do cansaço. Aquilo continuaria por quanto tempo fosse necessário para enfim matá-lo.

“Eu tenho que fazer alguma coisa a respeito, mas como, se todas as vezes ele vai acabar se curando do dano como se não fosse nada...?!”

— Maaark...! — zombou. — Pelo o que eu posso ver daqui, pelo menos metade da madeira já foi para o saco! Isso aí não vai lá durar muito...!

“Esse merdinha...! Como ele pode ser tão forte desse jeito?! E como todo o dano que eu causo nele desaparece de repente?!”

Estava cansado das provocações sem sentido e do que ele significava, em geral. Como se a destruição que causava não fosse suficiente, a atitude lhe dava nos nervos de um jeito que não havia igual.

“É como se ele não fosse um só... Em todos os sentidos...!”

Mark mostrou os dentes, com dificuldades para se manter. Não teria como permanecer escondido ali atrás e sabia disso, contudo, nenhum plano lhe vinha à mente em qualquer momento.

“Espera... Esse maluco disse mais cedo que aquela desgraçada tava com ele, não foi?!”

— Mark, Mark, Mark... O seu tempo está acabando e até agora ela está bem decepcionada com você, sabia? Morrer assim, nas minhas mãos? Isso para ela soa que nem o pior dos insultos...!

“Espera... E se for isso mesmo?!”

Uma ideia maluca foi maquinada em sua cabeça. Não tinha como determinar com qualquer certeza, mas era sem dúvida a melhor linha que teve durante o combate inteiro.

“E se ele estiver usando de outras pessoas para tomarem o dano dos meus ataques por ele, e acima de tudo, para aumentar a força dos ataques?!”

A teoria o trazia um novo horizonte sobre como olhar para o combate tão injusto, e de repente ficou óbvio o motivo de não ter acabado com aquele sujeito muito antes.

“Mas é óbvio...! Eu consigo descer a mão na cara de qualquer um nessa porcaria de escola, mas claro que vencer vários de uma vez vai ser muito mais difícil...! Como eu pude não ter pensado nisso antes?!”

Seus pensamentos profundos tornavam o som de vidro a quebrar contra a mesa em nada mais do que um plano de fundo que o lembrava de sua raiva pelo contexto. Mark, em parte, não conseguia acreditar no que sua mente acabara de teorizar.

“Mas isso significa que…”

Seus instintos de sobrevivência se afloraram ao perceber a mudança no foco do assassino da pequena cidade, que, em saltos rápidos, se moveu até ser capaz de vê-lo novamente e mudar a orientação de seus ataques.

A mesa não o iria proteger.

— ... ENTÃO É ASSIM QUE FUNCIONA?! — Foi o que Mark se perguntou, antes de ver mais cacos apontados para si.

— Olha, eu vou te dizer uma coisa... — preparou uma leva de centenas de fragmentos. — Até aquele cara que você julgou de incompetente conseguiu descobrir como funciona mais rápido!

Mark tentou mudar a orientação da mesa, mas infelizmente foi incapaz de fazer isso a tempo. Os ataques de seu oponente eram rápidos demais e, por isso, não conseguiu impedir que vários pontos de sua perna e braço esquerdos fossem atingidos pelos fragmentos.

— GHK...! GAH! — Reclamou de dor, ao mesmo tempo que barrou os demais ataques com sucesso.

De costas para a mesa, suas energias imediatas foram postas em tentar tirar os vários pedaços de vidro, lápis e canetas presas em seu corpo...

— Não vou deixar você continuar se escondendo, Mark! Parte da minha missão foi vir aqui para eliminar você e aquela sua namoradinha!

Seu foco mudou outra vez e desta vez escolheu aparecer à esquerda do rapaz pálido, que outra vez fez seu máximo para mover o que restava da mesa para se proteger.

— Isso é idiota! Idiota demais, Mark! Eu sei que não é do seu feitio só se defender!

Outra vez, dançavam como partes de um relógio. O Perfurador de Elderlog corria em qualquer sentido que desejasse, em expectativas de acertar em seus pontos mais fracos, tudo enquanto mantinha uma sólida distância do mesmo, em um padrão circular.

— Não consegue fazer nada porque não tem ela do seu lado, não é? Eu sei! Ela manipula emoções ou alguma coisa assim, não é? Sei que se fosse ela, provavelmente me faria parar no canto enquanto você ataca sem nenhuma dificuldade!

O corpo inteiro de Mark Menotte gelou ao escutar aquilo, e só podia haver uma coisa que justificasse o que foi dito por ele.

— Ei... Do que diabos tu tá falando aí?!

Sua respiração dificultada por conta da dor era forçada ao limite pela sede da dúvida. Não deveria existir modo de saber disso.

— Ah, agora você tá afim de conversar? Foi mal! O tempo para isso acabou!

O Perfurador de Elderlog correu em círculo até estar plenamente de frente para Mark e pela primeira vez em vários segundos, os dois firmaram um perigoso contato visual.

— Mas vou te deixar sabendo que a minha galera vai adorar saber que vocês colocaram uma nova adição no grupinho...!

Sem respostas e em uma situação pior do que qualquer outra, não moveria a mesa como escudo a tempo, tampouco seria capaz de fugir graças aos danos feitos pelos últimos ataques.

— Pode ir dizendo adeus!

Estendeu a mão direita, que depressa acumulou todos os tipos de pedaços e fragmentos de quaisquer coisas que fossem antes de serem reduzidas a tais.

Mirou um tiro certeiro, adequado de última hora para ter o formato exato do contorno de Mark e, enfim, acertou.

— Heh!

Não lembrava mais um ser humano. Incapaz de se proteger com a mesa, tudo o que lhe restou foi se deixar ser dolorosamente acertado por todos os projéteis.

— Ghk... Guh... — Gemidos molhados eram as únicas coisas que escapavam de sua boca.

Ele caiu de joelhos, olhos vidrados no chão já tão rapidamente deixado sangrento, logo à frente de si. Viu suas mãos, todas cheias de tantos pedaços que nem mesmo podia começar a contar.

O grosso tecido de seu casaco não se provou suficiente para impedir os cacos dessa vez, e cavaram fundo em suas vísceras. Ouvia os gritos de seus intestinos, clamando pela satisfação da piedosa morte.

— Ah, Mark...! — Ele falou, quase a cantar. — Que pena que as coisas tiveram que acabar assim... Mas não se preocupa, eu não sou um cara tão ruim... Não vou te deixar sangrar até morrer de hemorragia. Eu me considero um sujeito legal.

Ergueu sua mão esquerda, acumulando uma série de lascas grandes de madeira vindas da mesa.

— Eu digo para a Sam que você mandou muitos beijos... Adeus!

E os lançou. Os grandes pedaços de madeira perfuraram o estômago e a garganta de Mark, que caiu de costas, um olhar vazio dirigido ao teto conforme o sopro da vida lhe era forçadamente tomado.

— Eu adoraria continuar e ver o processo até o final, mas já disse que ainda tenho gente para caçar.

O Perfurador de Elderlog caminhou orgulhoso até a entrada da arruinada sala de aula, ciente de que nenhuma aula poderia ocorrer ali por um bom tempo. Por um segundo, apreciou sua obra de arte, não deixando de sorrir. Foi um bom trabalho.

Agora, tudo o que restava era ir atrás de Lira Suzuki e daquele tal Ryan.

— Heh... Olha só como ele caiu direitinho na pegadinha do malandro...

... ... ...

O frio cortou sua espinha como o flash de uma lâmpada a acender e, tão rápido quanto isso, tornou todo o corpo para trás, pronto para acumular seus objetos e atacar outra vez.

— Tarde demais! — Mark sorriu, ainda ferido, embora bem mais ileso do que se apresentou antes.

— MAS CO... ARGH...!

A borracha de sapato a acertar a lateral esquerda de sua face o mandou pelos ares, dois metros além.

— Aquele também não era o certo! — falou o verdadeiro Mark, ao tirar do braço o último pedaço de vidro alojado.

Com dificuldades, ele se levantou, mas logo se viu perfeitamente curado outra vez. Isso não retirava sua raiva, no entanto.

— Como...? Eu já tinha te enquadrado... Você não escapou...! Não teve brecha para isso!

— Ah, mas tu acha mesmo? — o inquiriu, em zombaria. — E aquele seu discursinho sobre matar a Lira depois que passar de mim? E aqueles quatro segundos e meio que tu ficou sem atacar, se regozijando num futuro que nem sabia se ia fazer acontecer mesmo?

— Ah, não...

— Ah, sim! E agora que a gente tá aqui, no meio do corredor, quero ver que sorte é essa que tu vai ter de achar o que ficar jogando na minha cara! Parece que a tua arma ficou sem balas, sniper de araque!

A situação para ele mudou tão velozmente que ainda sentia a disparidade estranha entre a sensação de sua aparente vitória passada e a novidade de descobrir que tudo não passou de uma mentira arquitetada perfeitamente desde o princípio.

Uma gota de sangue escorreu das pequenas marcas circulares na bochecha esquerda de Mark, pingando ao chegar à ponta de seu queixo.

— Vai! Mostra que tem alguma coisa aí reservada para mim!

— Mark... Seu filho da puta...!

Ele levantou por completo e pôs a mão no bolso. Em uma última tentativa desesperada de atacar, puxou dali duas pontas de lápis.

— Olha... Isso para mim não é insulto nenhum — respondeu o Menotte. — Ela é mesmo uma vadia da pior categoria.

Desviou graciosamente do ataque graças ao espaço expandido, com direito a um salto acrobático para a lateral ao nível de um ginasta profissional.

— Vai ter que tentar melhor do que isso.

“Não tem como ele ter me encaixado tão direitinho desse jeito... E eu caí que nem um patinho!”

O assassino adolescente não encontrava muitas opções, às tendo arruinado para si mesmo. Não havia qualquer objeto pequeno o suficiente para ser usado nas proximidades e a possibilidade de atraí-los de dentro da sala não existia também.

“Eu preciso encontrar alguma coisa nos outros corredores... Ou atrair ele para outra sala...!”

— Ah, tu vai querer fugir de novo? Mas é um covardão mesmo, viu! — Mark zoou, assobiando ao vê-lo correr para longe.

Não se preocupou em tentar segui-lo imediatamente, até porque...

“Isso vai ser bem mais divertido do que eu imaginei.”

... ... ...

— Eu tenho que... Achar...!

Nem mesmo olhou para trás, preocupado com a certeza de ser seguido. Graças às ilusões, Mark poderia deixar seus passos silenciosos.

— Eu vou achar alguma coisa...!

Entrou na primeira sala de aula que encontrou, outra vez em seu território de conforto. Ali iria encontrar tudo o que precisaria e levar esse combate para os corredores não seria trabalho nenhum.

“Eu só tenho que atrair tudo para mim...!”

Levantou seus braços e chamou por seu poder. Com sua nova força, não demoraria para que os novos objetos viessem a ele.

— Hmm... Foi mal, cara... Mas eu acho que você não é parte dessa sala...!

A voz dele ecoou, vinda debaixo de uma das mesas. Como um fantasma, sua forma pálida se ergueu assombrosa, ao mesmo tempo que os olhos vermelhos como sangue perfuraram as profundezas de sua alma.

Sumiu em um piscar de olhos...

— Não vai conseguir fugir de mim assim, lindão.

... E reapareceu, logo diante dele, com um soco bem preparado em seu punho direito.

— Quer um conselho? Só desiste. Não tem mais chance nenhuma para ti.

Foi o que ouviu logo ao se recuperar de ter sua consciência mandada pelos ares. Não teve tempo de respirar, antes de ser agarrado pelo pescoço e lançado com toda a força contra o quadro-negro.

— A gente vai ter uma conversinha das boas agora. Vamos discutir essa história todinha e nada de segredinhos!

Tinha que fugir e essa era sua única chance. Em um fragmento de segundo, puxou toda a energia de três pessoas para suas pernas e atingiu velocidades que jamais o fariam ser alcançado.

“Não é aqui que eu vou acabar! Ele nunca vai me alcançar.”

A saída: não era uma ilusão. Os corredores, antes seus rivais, agora seus melhores amigos. Àquela altura, já sentia o sabor de sua liberdade.

Abençoado seja o poder de Samantha por ter compartilhado de três vidas inocentes para tomarem os fardos e dores dele.

— Hahahaha! Não vai ser hoje nem nunca, Mark...!

Sua corrida acelerada pelos corredores vazios tinha apenas um destino: o térreo. Não se importava com os policiais, já que sequer pegariam o seu rosto com toda essa velocidade.

“Basta eu mudar de cidade ou alguma coisa assim! Ninguém nunca vai me capturar!”

Confiante, deixou o sorriso aparecer, bastou apenas uma curva à direita, de olhos fechados.

 

“Hein...? Por que... Meu peito tá tão quente...?”

Um estampido.

— Um tiro certeiro. — disse a voz feminina, inexpressiva.

Uma mancha molhada em seu peito mostrou sangue a fluir desimpedido.



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