Volume 8

Capítulo 247: Coletando informações com Neete

E assim, após devolver Sheena Nº3 ao Meu Mundo, parti junto de Neete para a cidade de Hanmuno.

Aquele maldito Fuyun ficou obediente no instante que Neete segurou as rédeas.

— Mestre, qual seria a nossa história?

— História?

— Minha relação com o Mestre. Não podemos seguir com homúnculo e Mestre, podemos?

Isso era verdade, havia uma chance de sermos questionados no portão.

Nesse caso, devia ser melhor pensar em uma história com antecedência.

— Não podemos dizer que somos uma dupla de irmão e irmã que vendem óleos?

— Mas não somos nada parecidos. As cores de nossos cabelos também são completamente diferentes.

— Que tal um jovem mestre mascate e sua aprendiz.

— Mas não vamos ser desmascarados na mesma hora se escolhermos um jovem mestre mascate e sua aprendiz sem pertencermos a nenhuma companhia famosa?

— Uh… então, que escolhas melhores temos…

— Por que não usamos nosso habitual?

Neete falou e pegou algo.

Era o colar de escravo que Haru usava.

Neete o encaixou em seu próprio pescoço.

— Muito bem, a partir de agora eu sou a escrava do Mestre... ah, talvez eu deva te chamar de Goshujin-sama[1]?

— Você… escravos ilegais não são permitidos.

Naturalmente, o colar não estava travado, então ele podia ser removido com facilidade.

— Nesse caso, só temos uma escolha.

Neete disse e sorriu.

Ela deve ter planejado isso desde o início.

Então essa é a cidade de Hanmuno. Imaginei algo mais marrom já que ouvi que essa era uma cidade no deserto, mas ela era completamente branca.

Os muros da cidade também eram todos brancos.

Havia uma fila formada por um grande número de pessoas na entrada, dessa forma, me juntei a ela com minha carruagem.

Havia um surpreendente número de tráfego humano, considerando que havia rumores de uma guerra acontecendo. Ou talvez isso se deva ao fato de haver uma guerra? Havia muitas carroças seguindo para o Noroeste. Eles deviam estar entregando suprimentos de guerra na cidade da fronteira.

A propósito, apesar de me referir a elas como carroças, a grande maioria delas não era puxada por cavalos. A maioria era puxada por camelos ou animais que pareciam dinossauros.

Como o lado Norte era uma área deserta, não devia ser costume utilizar cavalos para transportar mercadorias. Na verdade, as carruagens tinham formatos um pouco estranhos.

Elas tinham rodas, mas a base tinha algo parecido com um trenó.

Imaginei que assim que eles chegassem no deserto, eles removeriam as rodas e viajariam usando o trenó.

Chegou minha vez enquanto ficava impressionado com o conhecimento deles sobre o deserto.

— Viajante?

— Sim... a guerra começou e não sei para onde devo seguir.

— Entendo... e quanto a esta garota?

Ele olhou para Neete a meu lado que estava puxando as rédeas.

Hã-hã, ele fez mesmo essa pergunta.

— … minha esposa.

No fim, decidimos que seria estranho se um homem viajasse com uma mulher que não era nem uma escrava nem sua esposa... assim, como não poderíamos usar o cenário de escrava, decidimos agir como se ela fosse minha esposa.

O dedo anelar de Neete estava equipado com um anel de prata que fiz.

— Vocês são casados? A diferença de idade é muito grande.

— É claro, não dizemos que quanto mais novo melhor, tanto o tatame quanto a esposa[2]! Nós estamos profundamente apaixonados! Não podemos nos separar por um único momento!

Essa frase sobre tatame e esposa era algo que o marido iria dizer, não você!

E a pessoa devia ser um inútil para dizer algo como isso.

Além disso, as pessoas deste mundo não devem saber o que é um tatame.

Entretanto, mesmo que ele não tenha entendido o significado dessas palavras, ele parecia ter captado as sutilezas da frase. Além disso, Neete se aproximou de mim e mostrou um pouco de sua língua.

Depois disso, o soldado antipático encarou nossos rostos e escreveu algo em seu pergaminho. Espero que ele não escreva nada estranho.

— Produtos?

— Potes de óleo.

— Óleo, huh, vamos ver.

O soldado deu a volta em nossa carruagem e verificou os produtos. Naturalmente, eu não estava mentindo. Havia um enorme número de potes de óleo colocados na plataforma de carga da carruagem.

Se planejávamos agir como mascates, seria estranho se não tivéssemos nenhuma mercadoria.

Todos foram criados com o Criar Óleo, então eu podia garantir a qualidade.

— Três mil sense por tudo.

De repente, ele disse um preço.

A taxa de entrada na cidade? Quando estava a ponto de pegar o dinheiro...

— Nós vamos pagar. Vamos comprar todo o óleo por três mil sense.

— Por favor, espere um minuto! Eu estava planejando vender isto no entreposto comercial.

— Óleo é necessário para a manutenção dos equipamentos durante a guerra. Você deve ficar grato por não o tomarmos à força.

Após dizer isso, o soldado me passou três sacos com dez moedas de prata e removeu o óleo da carruagem. Assim, com um: — Vocês podem entrar. —, ele conduziu a carruagem vazia para dentro.

Fuu, tudo aconteceu como os piratas disseram.

Após os soldados comprarem nosso óleo à força, e a um preço excepcionalmente baixo, eles não iriam mais nos incomodar. Afinal, eles ficariam com problemas se nos investigassem de forma incompetente ou pedíssemos que devolvessem o óleo.

Apesar de vender essa enorme quantidade de óleo e potes por apenas três mil sense, isso ainda correspondia a 300.000 ienes[3]. Esse era um lucro mais do que suficiente. O poder mágico usado para criar o óleo se recuperaria em apenas um dia, dessa forma, meu custo foi zero. E Sheena Nº3 fez os potes. Talvez isso fosse esperado de um autômato, já que ela era capaz de criar potes com excelente formato mesmo sem uma roda de oleiro[4]. A argila usada para fazer os potes também foi feita no Meu Mundo. Em outras palavras, eles também não custaram nada.

— Muito bem, vamos focar na coleta de informação.

Agora que penso sobre isso, essa será a primeira vez que coletarei informação por conta própria desde Florence. Daquela vez, eu não podia nem dizer o que era esquerda e direita, mas após Carol se tornar minha companheira, deixei toda a coleta de informação para ela.

Para realizar essa tarefa, o melhor deve ser a taberna, não é? Não, talvez a Guilda dos Aventureiros seja melhor?

Haa, se soubesse que isto ia acontecer, teria seguido Carol enquanto ela coletava informação. Na realidade, eu a acompanhei algumas vezes, mas eu a atrapalhava sempre que fazia isso, assim, nós acabávamos sem informação útil.

É verdade, me lembro de Carol comentando que você deveria ir até o entreposto comercial e ao mercado se quisesse obter informação.

Eu assumi que a taberna seria uma fonte de informação, mas era verdade que ao saber sobre as mudanças na diversidade de produtos vendida no mercado e seu preço, poderíamos reunir alguns dados úteis.

Em primeiro lugar, puxei a carruagem para uma área isolada e a guardei no Meu Mundo.

— Muito bem querido! Vamos começar comendo os deliciosos doces na cidade! Doceeees.”

— Por que você está aqui!? Eu já entrei na cidade, então você pode voltar para seu trabalho no Meu Mundo.

— Mas querido. Nossa história é a de um casal recém-casado que não pode se separar por um único momento. Nesse caso, se o soldado que sabe disso nos ver viajando separadamente, ele vai ficar desconfiado do querido e vai te reportar.

— … você escolheu agir como recém-casados de propósito para seu próprio bem, não foi?

— É claro! Você só percebeu isso agora? O querido é muito desatento. Isso significa que vai levar algum tempo até você atacar a entrada traseira desta esposa?

Eu queria agredir ela. Eu queria golpear ela, mas ficaria com problemas se espectadores reportassem minhas ações para os soldados, então me contive.

— A propósito, você sabe como coletar informação?

— É claro...

— Ó?

— ... que não!

Bem, não estou surpreso.

Bom, agir como um jovem casal recém-casado faria nossos alvos falarem com um pouco mais de tranquilidade quando comparado com um homem sozinho coletando informação por conta própria.

— Em primeiro lugar, que informação devemos coletar?

— Você nem mesmo sabe isso!? Bem, é minha culpa por não ter te explicado.

Eu contei a Neete.

Agora, nossa prioridade era informação sobre como deixar este país.

Assim, a próxima informação que eu queria era sobre o Exército do Lorde Demônio.

Pelo caminho, queria investigar algo a respeito do ambiente desta cidade.

Por esse motivo, nosso primeiro destino era o mercado.

Após seguir as direções de um transeunte para o mercado, descobri que já havia uma enorme multidão reunida no local.

— Há uma grande fartura de frutas. Além disso, elas são muito baratas.

Eles estavam em guerra, então imaginei que o preço da comida iria aumentar, mas não apenas as frutas estavam baratas, como também havia uma vasta quantidade de tubérculos[5] com seus preços muito baixos. O mercado de Deijima aumentou os preços devido à escassez de produtos, porém, parecia que eles tinham muito mais margem aqui.

— Neete, o que você quer comer?

— De verdade? Então, tia. Você tem alguma fruta que é doce e pode ser comida crua?

Neete perguntou a tia vendendo frutas com um tom amigável. Ela realmente não temia o desconhecido.

Durante esse tempo, explorei a carne seca que a barraca ao lado estava vendendo. Isso era algo que Haru gostava, então pensei em comprar um pouco e guardar na minha bolsa de itens.

Eu dei a ela e o grupo muito dinheiro, mas essa era a combinação da tesoureira Carol e a insensata Haru. Elas devem ser consideravelmente econômicas para essa jornada e não acho que vão comprar aperitivos.

A carne estava muito barata, entretanto, parecia ser carne de monstro. Devido ao bloqueio do mar, eles só tinham peixes pequenos, apesar de estarmos próximos do oceano.

— Os tubérculos são a maioria do plantio daqui?

— Isso mesmo. Nós também temos trigo, no entanto, como não somos capazes de importar no momento, estamos vendendo os tubérculos que crescem de forma selvagem na floresta.

— Floresta? Há uma floresta por perto?

— Há sim. Ela é chamada de Grande Floresta e fica localizada a leste daqui, que é o território dos Elfos Negros. Os tubérculos, frutas e vegetais que colhemos da floresta são vendidos nesta cidade, assim, nosso celeiro está bem abastecido.

— Entendo... ah, vou querer este tubérculo.

Paguei cinco sense e comprei dez dos tubérculos parecidos com taro[6].

A moça mencionou com pesar que eles teriam um ótimo sabor após fritá-los com óleo, e após eu passar a ela em segredo um pouco de óleo como pagamento pela informação, ela não me cobrou pelos tubérculos.

— Obrigada, na verdade, por essas partes, costumávamos obter óleo de cactos, mas todo esse óleo foi coletado para usar militar. Isto vai me ajudar muito.

— Entendi... acho que a guerra consome muito óleo.

— Não, nós passamos por pequenos conflitos no passado, mas esta é a primeira vez que enfrentamos tamanha escassez de óleo.

Então isso é diferente.

Nesse caso, há uma possibilidade de eles estarem carregando o óleo para outra cidade para vendê-lo por um preço mais alto. Aliás, estou feliz por não ter trazido aquele garoto pirata para os oficiais. Se fizesse isso, eles obrigariam o garoto a criar óleo todos os dias até seu MP acabar assim que descobrissem que ele possuía a habilidade Criar Óleo.

— Querido, já decidi!

— Ei, sua jovem esposa está te chamando.

A moça comentou e eu acabei a conversa enquanto me sentia um pouco tímido e voltei para a barraca anterior.

Neete segurava um limão em cada mão e os mostrou para mim.

— Mas limões são azedos.

— Essas são limas[7], não limões.

Lima?

O formato era certamente mais similar a uma lima do que um limão, mas a cor era amarela.

— Querido, quanto mais amarela as limas são, mais doce é seu sabor.

— É mesmo?

— É, experimente.

Eu paguei a tia da barraca e cortei as duas limas para nós.

… !?

Ela não era azeda e, na verdade, era mesmo doce. Era completamente diferente da lima que eu conhecia.

— Isto também foi colhido na Grande Floresta ao Leste?

— Sim, isso está correto. Elfo Negro-sama o entregou para nós. Estou muito agradecida.

— O Elfo Negro entregou?

— Isso mesmo. Os Elfos Negros-sama vivem na Grande Floresta do leste há muito tempo e eles nos visitam para vender frutas e tubérculos e comprar ferramentas de caça e matérias-primas para remédios antes de voltarem.

Ho, então é por isso que os preços das frutas e tubérculos são tão baratos mesmo durante a guerra.

Eu assumi que eles não estavam interessados nos humanos, já que decidiram permanecer neutros, mas, para minha surpresa, eles coexistiam e prosperavam com a outra raça.

— A propósito, sou um mercador viajante, mas acabei preso na guerra. Você conhece algum método para deixar o país?

— Método para deixar o país, huh? Príncipe-sama anunciou que a guerra acabará logo.

— A guerra vai acabar logo?

— Eles disseram isso há pouco. Ficaríamos preocupados se eles anunciassem que a guerra nunca teria fim.

— Isso é verdade.

Acho que não devo criar expectativas excessivas pelo fim da guerra.

Há outros caminhos a seguir? Eu pensei comigo mesmo.

— Ó, é verdade, há uma forma de deixar o país. Você pode sempre se tornar um mercenário para atacar o exército inimigo. Você poderá cruzar a fronteira legalmente para o Reino Shiraraki se fizer isso. Já que Gagaria está reunindo todos os mercenários no reino.

— Ah, então existe esse método também.

— Isso foi uma piada, uma piada. Nenhum número de vidas será suficiente se você fizer isso. Por favor, valorize sua esposa fofa.

A moça falou e me entregou uma lima.

Ela é tão gentil, ou assim pensei.

— Aqui, um sense por favor.

E ela diligentemente me cobrou por isso.

Bom, eu considerei isso uma taxa pela informação e passei uma moeda de cobre para a moça.

— E aqui um bônus para você.

E ela me entregou outra lima.

— Isso é ótimo querido.

— Sim, vamos comer mais tarde.

A lima era com certeza mais doce e mais saborosa do que a que eu conhecia.


Notas

[1] Em japonês, goshujinsama (ご主人様) significa "mestre" e é um termo usado por um servo, em sua maioria, camareiras. A palavra também pode se referir ao "dono" de uma casa ou um estabelecimento, a um "marido", ou ao "dono" de um animal de estimação.

[2] Existe um provérbio japonês que pode ser traduzido literalmente como: "esposas e tatames são melhores quando são novos".

[3] R$ 10.396,65 (cotação de 02/04/2019).

[4] A roda de oleiro é uma forma milenar de produzir peças, com uma roda feita a partir de madeira ou ferro. O movimento é feito pela perna que vai sendo jogada contra a roda e assim um movimento circular necessário para se produzir artefatos cerâmicos é criado.

[5] Em botânica, tubérculo se refere ao caule arredondado que algumas plantas verdes desenvolvem abaixo da superfície do solo como órgãos de reserva de energia (em geral amido e inulina). O exemplo mais conhecido é a batata-inglesa.

[6] Taro, inhame-coco, inhame-dos-açores, taioba, taiova e taioba-de-são-tomé são nomes comuns dados à espécie Colocasia esculenta, da família das Araceae, e aos respectivos cormos (caules muito curtos e grossos) comestíveis. Devido à semelhança de cultivos e do uso culinário, em muitas regiões do Brasil há confusão entre o taro, o inhame e o cará. Nas regiões brasileiras com imigrantes japoneses, o taro também é conhecido pelo nome japonês sato-imo (里芋).

[7] A lima, fruto da limeira, é na verdade um termo ambíguo no contexto das frutas, referindo-se a um número de diferentes espécies de citrinos, com frutos tipicamente redondos, verde-amarelados, com diâmetro de 3 a 6 centímetros, geralmente contendo polpa azeda, semelhantes ao limão.



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