Cheaters Brasileira

Autor(a): Kuma


Volume 1 – Arco 1

Capítulo 11: Chefes ou só uma forma de superar limites?

 

||TEMPLO DO CULTO MANJU||, pátio principal.

Dia: 24

Player: [Arthur]

 

“VAAI!”

O campo de fogo se abriu e os cultistas se afastam. Juniorai aproveita a deixa para correr em disparada até a torre.

A esquisitona ainda se coloca na frente. Por pouco tempo.

|BOLA DE FOGO|!

A bola de fogo brilhou até explodir perto da cultista. Os demais pareciam terem ficado desorientados. Isso significaria que eles estariam conectados de alguma forma?

Melhor assim. Daria tempo pensarmos em alguma formação para a batalha. Ou então sair degolando todo mundo logo. Era esquisito ter que degolar bonecos com aspectos e características humanas.

“Vai salvar a menina! Nós cuidamos do resto aqui!”, gritei para que ele prosseguisse.

“Certo! Cuidado aí!”, Juniorai responde e sobe as escadarias de pedra correndo.

“Já consegue lutar?”, perguntei a Ludwig.

Ele tenta ficar de pé e tomba de novo. Vou entender isso como um não.

“Parece que eu vou ficar de fora da festa, dessa vez, HAHAHA! Que vexame!”, respondeu ele.

“Você fez sua parte bravamente, amigo! Agora descanse e deixa o resto conosco!”, Laimonas sacou sua espada.

“Sim! Esses cultistas não são de nada! Yup!”

Em resposta, a líder deles reaparece voando na minha frente, desferindo um golpe de lâmina que por um centímetro não me acerta. A bandagem que cobria Salamandra rasgou durante a esquiva e expos meu braço.

“Uou! O que é isso?”

“Aquilo é...”

“Uma manopla?”, Stuz completa a frase de seu companheiro.

“Não. Parece com um braço de um demônio!", disse Ludwig, espantado.

“Droga! Ainda acertou!”

Devia ter sido mais cauteloso.

Depois eu observei melhor e percebi uma coisa bem bizarra: o braço dela havia se desgrudado do corpo! Ela não só parecia um boneco. Seu corpo também se separava tal qual um. Chegava a ser perturbador!

Me perguntava se ela não era um fantoche manipulado por alguém de longe.

“Por que essa cara? Ficou surpreso com a minha habilidade?”, perguntou ela.

“Um pouco...”

“Pois vai ficar ainda mais surpreso com isso!”

Seu corpo se dividiu e formou uma estrela de energia gigante, tendo cada ponta da estrela um membro do seu corpo. Ao centro, seu tronco cai no chão. Sua energia a partir dali ficou invisível e eu não consegui mais ver como era o seu padrão de movimento.

Ela devia ser alguém com um nível alto. Nunca havia visto alguém com uma habilidade daquelas.

“|CUTELO DE VALADARA|!

“O que é isso?!”, eu não acreditava no que via.

“Eu sou Liamaru, a sacerdotisa de Valadara! E eu lhe mostrarei sua ira e vingança!”

Droga! Ela vinha em várias partes rodopiando pelo ar! Cada membro tinha uma lâmina bem afiada em algum lugar. Eu seria fatiado muito facilmente se qualquer golpe acertasse em cheio.

A cabeça continuou flutuando no que seria o topo da estrela e o resto do corpo veio em rasante me atacar. Os braços descem em um mergulho e passam cortando alguns cultistas desavisados no trajeto. Eu me agachei rapidamente e me livrei dos braços, mas a perna direita quase me pegou com um chute que veio pela lateral.

As unhas eram lâminas menores e no calcanhar havia outra lâmina levemente curvada para cima. Qualquer pontapé poderia ser fatal.

Dessa vez, era a perna esquerda que vinha me pisotear. Acho que passei alguns bons minutos me esquivando de seus golpes até que ela recolhe seus membros.

“Droga!”

“Você é bem ágil, garoto. É a primeira vez que alguém sobrevive tanto tempo ao meu |CUTELO DE VALADARA|!”

A habilidade devia estar em recarga. Mas se fosse esse o caso, por que ela ainda estava dividida? Seria o caso então de ser uma habilidade contínua?

*VUUP*

Outra lâmina surgiu do solo e rasgou meu rosto! Todas as partes foram recolhidas, mas como ela havia ocultado aquele membro de forma que eu não tivesse visto ela se movimentando? Ainda assim, o tronco continuava no chão como uma casca morta.

Eu aperto os olhos para tentar ver melhor. Era bem pequeno....

Uma orelha! Fui ferido por uma orelha com uma laminazinha na ponta. Talvez eu tivesse subestimado aquela habilidade. Ela podia ser ainda mais perigosa e imprevisível do que eu imaginava.

“Já desistiu? Se ficar aí parado, vai ser muito mais fácil para eu te fatiar!”, disse ela com sua expressão sádica e perturbadora.

“Maldita! O que você é? Um boneco, por acaso? Você e todos esses seus peões?”

Ela soltou um risinho baixo.

“Isso não importa. Sou apenas uma ferramenta para os desígnios de Valadara, nada mais!”

Literalmente uma ferramenta; nem parecia ser humana. Resolvi olhar seus status, mas apenas mostrava isso:

 


NOME: DESCONHECIDO

RAÇA: DESCONHECIDA

ORIGEM: DESCONHECIDA

IDADE: DESCONHECIDA

HABILIDADE: DESCONHECIDA


 

Não dizia absolutamente nada! Até mesmo o nome que dizia ter não aparecia em sua ficha. Começava a ter certeza de que eu estava sendo pressionado por uma espécie de boneca humana enfeitiçada.

Além disso, os outros cultistas apenas lutavam com os três aventureiros, sem parecer se importarem do que podia acontecer a ela. Estavam me ignorando completamente.

*VUUUSH*

*PIC... PIC...*

 Ela consegue encaixar outro golpe, dessa vez no meu braço direito e eu saio voando com a pressão do impacto. Eu cravei as garras de Salamandra no chão para tentar me recompor do golpe.

Era outra parte pequena que eu não tinha visto se separar dos seus membros principais. Ele fez um corte largo, porém superficial no meu braço. Mas que pressão absurda foi aquela de repente?

Meu HP desce para 1800. Nada de preocupante por enquanto.

Resolvo parar de viajar e começar a me mexer. Se eu fico parado pensando, vou acabar morrendo para ela. Para uma boneca!

O que minha mãe iria pensar de mim? O que meus companheiros do Monastério iriam pensar de mim?

“Muito bem! É agora que a briga começa de verdade!”, gritei.

“Hihihihi…”

|CHAMA DO DRAGÃO|!”

Eu inflei as bochechas e disparo uma labareda de fogo contra ela. A área de alcance da habilidade era grande, então eu não tinha que me preocupar em errar. Então os braços dela giram rapidamente criando um pequeno tufão de ar, o que dispersou um pouco as chamas.

Algumas das labaredas alcançam sua cabeça, mas seu HP não chega a descer.

Será que ela conseguiu dissipar o fogo antes de acerta-la?

Eu não vejo nenhum escudo. Talvez uma resistência natural? E quando dou por mim já estou divagando de novo e me distraindo. Eu não podia me dar ao luxo de ficar teorizando demais sobre suas habilidades.

“O que?!”

“|CORTAR|!”, bradou Liamaru.

Suas habilidades sequer pediam um tempo de conjuração?! Era bem forte porque não dava muito tempo de o inimigo reagir a suas habilidades.

Seus membros vieram rodopiando com as lâminas para me retalhar. Então eu bloqueio os cortes com a Salamandra enquanto procurava uma forma de chegar na cabeça. Uma abertura ou mesmo um padrão para os ataques. Ainda tinha as duas pernas sobrando.

O fluxo de energia também continuava invisível, para o meu azar. Para manter uma habilidade daquelas ativa o tempo todo, demandaria uma grande quantidade de mana. Eu só precisava encontrar o núcleo.

A cabeça me parecia a opção mais óbvia.

*VUSH*

*PISH, PISH*

Os cortes aumentam de velocidade e os padrões mudam constantemente. Eu tinha que me apressar! E seu |CORTAR| continua.

Me livro dos braços e bloqueio seus ataques, mas eles me perseguiam. Eram teleguiados; a medida que eu me aproximava, os braços ficam mais velozes. Após uma certa distância da cabeça, as pernas começam a se mexer também.

Eram muitos projeteis pequenos que cortavam meu corpo em vários lugares enquanto eu me focava apenas nos membros principais.

Minha tentativa de avançar falha e recuo rapidamente. Meu HP já estava beirando os 1000, apenas com os pequenos cortes que ela me causava na troca de golpes. Nenhum dos membros principais me pegou e eu estava perdendo vida descontroladamente.

Como desgraça nunca é demais, ainda consegui um status negativo de //HEMORRAGIA//.

Eu podia sentir todo o meu corpo sendo dilacerado por partes que eu não via. Os membros voltaram aos seus lugares e ela ficou em sua forma de estrela de novo.

“Arf! Arf! Merda! Droga!”

“Tenho que reconhecer que você durou bastante. Mas é só questão de tempo até que você não consiga sequer levantar!”, disse ela com aquela pitada de deboche na voz.

 O pilar de fogo de Salamandra subiu e tomou a visão de Liamaru, impedindo-a de ver minha movimentação. Eu imaginei que ela recolhesse seus membros depois de me ver recuar.

 Mas ela sequer tem tempo de conjuração para suas habilidades. Que diferença faria?

Eu rolei pela lateral e tentava um ângulo para acertar sua cabeça com uma |BOLA DE FOGO| precisa.

“Seu espertinho. Acha mesmo que vai conseguir me distrair com isso?”

“O que...?!”

*TCHAAAK*

O braço direito dela surge girando pelas chamas e agarrou o meu pescoço com tanta força que pensei que fosse esmagar minha garganta, me jogando contra o chão.

“AAAARGHH!!”

“Não adianta espernear. Quanto mais você se mexer, mais forte a minha mão vai te estrangular.”, sorriu a cultista.

A formação em estrela se desfaz e ela junta seu corpo de novo, exceto seu braço que ainda apertava o meu pescoço. Eu me contorci, lutando para pelo menos afrouxar sua pegada. O ar já começava a faltar...

Meu HP começa a descer rapidamente. Minha mana também descia tão rápido quanto e eu sentia a força sendo sugada de mim. Meus músculos iam paralisando à medida que o ar ia acabando. Era a pior situação possível.

Enquanto isso, os outros lá atrás também estavam tendo problemas com os cultistas. Os três foram encurralados por vários deles. Laimonas e Stuz já estavam bem feridos e exaustos depois de derrubar vários e sofrer vários golpes.

“O que acha de tornarmos isso mais interessante?”, disse ela.

Uma sensação estranha... sinto como se ela estivesse dentro do meu corpo. O que ela estava fazendo agora?

Era algo bem esquisito e ainda assim ela não usa nenhuma habilidade para isso. Meu corpo inteiro estava dormente. Era a mesma sensação de ser uma marionete na mão de alguém.

“Essa manopla estranha que você tem... parece bem afiada. Seria uma pena se você tivesse sua garganta destruída por ela, não é?”

...?!”, o que ela estava pensando?

“É algo triste morrer com as próprias mãos, não é?”

“Salamandra?!”

Meu braço esquerdo se moveu lentamente para cima. Sua energia estava controlando meu corpo e eu não tinha mais controle de mim mesmo. Eu iria morrer para a minha própria Relíquia Hospedeira – não que isso fosse algo inédito.

“Não se preocupe. Seu sacrifício irá agradar a deusa Valadara. Nós...”

*POOW*

E seu discurso é interrompido bruscamente. Meu braço se moveu sozinho e ele calou a boca dela da melhor forma possível.

Um soco! Um soco em seu rosto a fez voar longe, capotando até chegar às escadas que conduziam até a torre principal. Eu realmente não entendia o que estava acontecendo.

Era como se eu tivesse passado apenas a ser um espectador. Eu não sentia meu corpo se mover e meus membros... meus músculos se mexiam por vontade própria.

Foi um pouco antes de eu ser subjugado pela habilidade de Liamaru. Não foi por causa dela. Foi outra coisa.

Por falar nela, a desgraçada ainda estava viva! Só estava se contorcendo de dor – e eu nem sabia que fantoches poderiam sentir dor. 

...?!

“Está passando por maus bocados, hein humano?”

Salamandra?! Ele estava falando pelo meu corpo?! Como? O que estava acontecendo? Como isso era possível?

Será que aquilo havia acontecido de novo? Ele havia me dominado como tentou fazer da última vez? Através da habilidade de Liamaru, ele teria visto uma chance de se apossar do meu corpo?

HAHAHAHAHAHAHAHAHA!”, Salamandra gargalha.

...?!”, a expressão de Liamaru mudou completamente.

“Você é mesmo uma grande piada! Uma piada pior ainda foi esse verme pensar que poderia me controlar!”

“O que está acontecendo? A voz dele, a expressão, a aura... tudo nele está bem diferente agora!”

O braço se distorce ainda mais. Eu realmente estava começando a virar um monstro.

“POR FAVOR, PARE COM ISSO!”

“Quem sabe? Nada disso importa mais...”

Algumas labaredas fluem do meu corpo, tomando o solo e criando uma zona quente em volta. Alguns cultistas desavisados foram pegos no alcance e sofreram com queimaduras leves. Os que ficaram por mais tempo tiveram queimaduras piores.

A luta que acontecia atrás parou e todos ficaram bem assustados com aquela quantidade de energia e calor que surgiu no pátio de repente.

Que energia sinistra é essa?”, pergunta Laimonas, tremendo.

“Que calor! YUP!”, Stuz recua alguns passos.

“Essa energia... vem daquele garoto?!”, Ludwig suava frio ao observar tudo de longe.

Não! Esse não sou eu! É um impostor! Eu não quero acreditar que eu morri. Confesso que agora estou desesperado. Isso não era para estar acontecendo.

“Você cometeu um grave erro ao tentar me controlar. Agora o preço pelo seu pecado é a sua vida!”, diz Salamandra apontando para ela.

Cutelo...”

*VRUUUSH*

Salamandra imediatamente usou a |CHAMA DO DRAGÃO| sem sequer ter o tempo de juntar energia! Foi bem mais rápido e mais poderoso do que eu poderia ter feito.

Claramente Liamaru não ia ficar parada feito um poste e saltou para escapar do mar de chamas que cobriu aquela parte do pátio. Todos os cultistas e outros objetos que estavam naquela área foram completamente incinerados em segundos!

Salamandra não perde tempo, pega impulso e salta para alcança-la no ar. Aquele salto foi quase como um voo de tão alto que foi e ele mirou suas garras no pescoço da boneca, mas Liamaru se dividiu de novo e se livrou do golpe de Salamandra bem a tempo.

Porém o tronco caiu, e os outros membros foram junto. No meio do salto, ele se encolhe e libera uma onda de energia que queima os membros e a cabeça de Liamaru que ainda estavam próximos.

Aquilo realmente machucou ela e a forçou a se juntar de novo.

O processo, no entanto, não era tão simples; eu ainda estava em choque e com medo de ter perdido meu corpo para a minha Relíquia Hospedeira, mas ainda conseguia raciocinar.

O |CUTELO DE VALADARA| de Liamaru parecia uma habilidade contínua, mas que sempre estava em canalização. Eu posso ter ouvido uma ou duas explicações de minha mãe falando sobre esses tipos de habilidade.

 

“Canalização. É algo bem chato no mundo que vivemos. É quando precisamos estar 100% focados em qualquer técnica. A concentração é palavra chave. Se sofremos danos ou distrações, essa concentração é quebrada e a canalização, interrompida. Assim, a técnica não pode continuar ou sequer chegar a ficar pronta.”

“Poucas são as habilidades de canalização hoje em dia. Muitos magos habilidosos evitam usá-las em confrontos frenéticos. Outros inventaram meios criativos de utiliza-las durantes os conflitos. Aminarossa está cheio deles!”

 

Parecia algo tão simples que me pergunto como não tinha pensado naquilo antes. Pela forma como os membros seguiram o tronco quando ele caiu, o núcleo de sua energia nunca esteve em sua cabeça, mas sim no tronco! Ele sempre foi o pilar que sustentava a formação em estrela de Liamaru esse tempo todo.

Uma |BOLA DE FOGO| no lugar certo teria resolvido meus problemas muito antes!

Salamandra me fez enxergar algo tão simples que eu me envergonhei de mim mesmo. Ele agora estava lutando no meu lugar, o que me deu espaço para analisar a habilidade do fantoche mais calmamente – ou nem tão calmamente, considerando que eu perdi meu corpo.

Até quando eu iria depender unicamente da força dele? Até quando eu seria um fraco que não conseguiria sequer vencer minhas lutas?

Não vai escapar!”, Salamandra continuava sua perseguição frenética.

“|CORTAR|!

E de novo, em um instante, ele reage com uma |CHAMA DO DRAGÃO| ainda mais intensa. O fogaréu consumiu completamente os braços de Liamaru, reduzindo-os a cinzas. As lâminas nem chegaram a tocá-lo.

O medo e a dor intensa a fizeram perder a formação em estrela e as pernas voltaram a se grudar no tronco. Era estranho a ver lutar apenas com as duas pernas. Pelo visto, estavam acabando as opções.

Maldição!”, praguejou ela, arfando.

“Você é bem ágil. Como vai lidar com isso então?”

Ele gira o corpo e com o braço transformado alcança o pescoço de Liamaru, suspendendo-a no ar. Foi uma cena terrível e surpreendente ao mesmo tempo – ainda mais se você ver da mesma perspectiva que eu.

Fazia tempo que eu não comtemplava algo tão maluco. A última vez que me recordo de algo do tipo ainda estava em ||ARCÁDIA||, assistindo aos treinos dos Doutrinadores.

Liamaru não tinha muita chance de revidar agora. A boneca cuspiu um jato de sangue para cima, tendo seu pescoço castigado pela pegada impiedosa de Salamandra. Eu podia enxergar todos assistindo paralisados na parte de trás, certamente se perguntando o que aconteceu comigo.

Por isso até alguns dias atrás, eu sempre evitei grupos.

"Não se preocupe. Seu sacrifício irá agradar seu deus. Ou não..."

Ele joga o corpo de Liamaru para o alto, fazendo-a voar, e estende a palma da mão concentrando muita energia e calor. Uma foice de fogo resplandecente surge em sua mão onde estava suas garras.

Que técnica era aquela que eu ainda não possuía? Seria uma habilidade exclusiva da Relíquia Hospedeira?

Era surpreendente como ele podia manipular livremente o fogo. As labaredas não pareciam serem controladas por ele, mas sim faziam parte de seu corpo e vibravam junto com sua energia. Eram uma extensão da própria Salamandra.

*FROOOOOOOOOOO*

“|CEIFADORA DE FOGO|

Ele manejou a foice de fogo, balançando-a em torno do seu corpo como se fosse uma arma convencional e desferindo uma sequência de 7 golpes: dois cortes horizontais, dois diagonais e três verticais intercalados que massacram o corpo de Liamaru, ainda no ar.

Cada golpe gerava uma explosão de fogo que alvejava o corpo da cultista abruptamente. Ao terminar o combo, ele finaliza com um corte horizontal e um avanço para frente, terminando em uma última explosão que reduziu o corpo dela a pó.

Incrível, mas ainda assim assustador!

O trio de aventureiros ainda estavam embasbacados com tamanho poder e violência. Os cultistas restantes se dispersaram e fugiram, recobrando a razão. Parecia algo tão natural para Salamandra quanto respirar – mesmo não sabendo se Relíquias Hospedeiras respiravam.

Ela... foi derrotada!”, Ludwig exclamou.

“O rosto dele... está diferente.”

“Ele... parece outra pessoa! Yup!”, até o soluço de Stuz estava trêmulo.

“BAH... BWAHAHAHAHAHA!”

Eu tinha que parar com isso logo. Não podia continuar deixando ele fazer o que bem entendesse com o meu corpo. Não podia correr o risco dos três serem atacados por Salamandra.

HORA DE PARAR!

.....?!”

“Saia!

Eu ouço minha própria voz ecoar. A voz do meu subconsciente, talvez?

“O QUE ESTÁ FAZENDO?!”

“Eu mandei você deixar o meu corpo!”

“IDIOTA! FIQUE QUIETO NO SEU CANTO!”

“...?!”, os três aventureiros apenas observam tudo, com cara de paisagem.

Ele se debateu, agarrando a cabeça e gritando como um louco. Pelo modo como reagia, parece que estava funcionando. Aos poucos eu conseguia expulsá-lo e “puxar” minha consciência de volta.

“AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHH!!”

O olho que ficava no peito da mão começa a brilhar. As chamas se revolveram agressivamente no meio das cinzas dos cadáveres e uma aura latente avermelhada pulsou em volta do meu corpo, sendo sugada de volta para a manopla.

“AAAAAAAAAAAAHHHHHH!!”, eu e minha Relíquia berramos ao mesmo tempo.

Um estalo bem alto!

Então sucedendo isso, tudo apagou por um instante e volto a sentir tudo de novo. Permito meu corpo cair deitado no chão quente do pátio enquanto o vento frio e revolto da madrugada aliviava meu rosto calejado.

Os ferimentos, os hematomas, a tontura... eu voltei a sentir tudo.

Fiquei bem mais aliviado e não levantei. Eu abri os braços e fiquei lá deitado no chão, aproveitando o breve momento de sucesso.

Não queria levantar agora. Queria aproveitar meu corpo mais um pouquinho.

 

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Enquanto isso, na ||TORRE PRINCIPAL||.

Player: [Juniorai]

 

Corro o mais rápido que minhas pernas conseguiam. Não que eu fosse muito de correr. Meu joelho era bem castigado inclusive – para não dizer, podre –, mas dava para o gasto. Pior que aquelas escadas pareciam não ter fim.

Devia ter algum sistema de mapas naquela bodega! Eu subia e subia e parecia não chegar a lugar algum. Era frustrante.

Depois de subir escadas feito um condenado, uma porta aparece. Uma porta finalmente! Estava mais para um portão do que uma porta; era enorme e feito de ferro, com dobradiças e os ferrolhos bem ao estilo medieval. Parecia ser bem antigo também.

Eu poderia abri-lo? Meu atributo mais generoso era força, mas eu ainda não tinha tanta – e aquele portão aparentava necessitar de um aríete para abri-lo. Não tinha sequer parado para distribuir meus pontos com toda essa confusão.

Para a minha alegria, eu não precisei. Ele já estava semiaberto.

Eu engoli em seco, ficando nervoso de repente. Não sabia o que encontraria ali dentro e agora eu estava sozinho. Eu temia por várias coisas naquele momento; o desconhecido, a segurança de Justine, a segurança dos que ficaram lá embaixo e a minha, obviamente.

 

Relaxa! Não... adianta ficar nervoso. Você ainda tem que ficar vivo, já se esqueceu?!”

 

Eu repetia aquilo quase como um mantra, junto com um amigável “vai dar certo”. Confesso que não adiantou muito.

Passei timidamente pelo portão de ferro. Era um salão enorme e continha vários baús abarrotados de tesouros; peças de ouro, joias, diamantes e tudo que pudesse brilhar naquele mundo estavam reunidos naquele lugar. Colossais pilhas douradas ocupavam a maior parte do espaço.

Tive seriamente que controlar minha ganância por um bom tempo enquanto passeava por lá.

Talvez eles não sentissem falta de um baú ou dois, não é mesmo? Mas o que eu estava fazendo? Eu já começava a pensar como um [LADINO]. Sempre me dei bem com a classe quando jogava minhas campanhas de RPG.

Anda, anda, anda. Procura, procura, procura.

E então no fundo do salão eu consigo ver uma silhueta humana pendurada por uma corda. Felizmente, a corda não era no pescoço. Eu me forcei a correr de novo até lá e encontro Justine, amarrada e suspensa.

Ela ainda estava desacordada. Seu corpo tinha sinais de agressões como marcas e leves escoriações, o que me deixou ainda mais emputecido.

“JUSTINE!”

Antes que eu chegasse até ela, uma mão gigante me acerta no rosto e me derruba no chão, saída detrás de uma das pilhas de din-din. Outro “quase nocaute” para a coleção.

“AAAH! Merda!”

“Eu sabia que você viria. Valadara deve estar sedenta por enviar tantos sacrifícios!”

Eu rolei para o lado e escapei de ser pisoteado pelo pé daquele gigante que veio logo em seguida. Aliás, era bem grande mesmo! Não chegava a ser um humanoide monstruoso, mas era gigante para os padrões normais. Devia passar fácil dos 3 metros. Além disso, ele era careca e tinha uma tatuagem de uma estrela roxa no meio da cara.

Tirando esses fatos bizarros, vestia um quimono tamanho extra GGG como a dos outros cultistas, tinha traços duros e atléticos e um olhar morto sinistro que dava calafrios só de encarar.

“Uou! Que merda é essa?!”

“Você veio para buscar essa mulher?”, ele para na minha frente perguntando o óbvio.

Na mosca! Aliás, você é o cretino que me bateu na taberna, não foi?”

Não tinha como errar. Era ele mesmo! Ele quem capturou Justine naquela hora na //TOCA DO FAUNO//. Eu queria muito devolver o presente – em dobro agora pela segunda mãozada.

“Oh, sim. Então vocês estavam no momento em que invadimos a praça e pegamos nosso presente para a Senhora!”

Até a forma como ele falava aquelas coisas com aquela voz grossa e ardilosa era perturbador, assim como tudo nele.

“Quem é você? Por que você capturou ela?”

Era tão clichê perguntar as motivações do inimigo. Coisa de seriados e animes antigos – ou quase tudo na ficção. –, mas eu estava tão imerso no personagem que eu nem liguei. Eu finalmente me sentia o herói salvando a princesa do ogro gigante, literalmente!

Fetiches da adolescência estavam sendo satisfeitos ali. Agora era esperar que ele se apresentasse e dissesse tudo que eu já sabia que ele ia dizer e depois anunciar que eu ia detê-lo em um tom austero e com uma voz retumbante.

Não tem errada, cara!

Eu sou Edoradd. Sou o líder do Culto Manju e um sacerdote e cumpridor da vontade de Valadara! Tudo o que faço é apenas para satisfazer suas vontades, nada mais.”

BINGO!

Você é um escravo da sua própria crença, é isso?”

“Sou uma ferramenta. Uma ferramenta que executa a vontade de nossa Senhora! Minha missão é apenas conseguir sacrifícios para satisfazê-la e ela exigiu a jovem nobre herdeira dos Lidooberry!”

Tudo bem, já estava chato. Hora de irmos para a parte interessante!

Eu corri até ele e saltei o mais alto que consegui. No mundo real, eu não saltaria a uma altura de mais de 3 metros sem foder completamente com o meu joelho – ou o que sobrou dele –, mas lá era outra história.

Minhas pernas pareciam molas e facilmente eu cobri essa distância. Obrigado mecânicas de jogo pelo serviço sujo.

Meu punho encontrou o rosto de Edoradd, amassando aquela cara repulsiva e morta dele. Foi o melhor soco que já dei até hoje – e o mais emocionante, sem dúvida!

“Então diz para a sua “Senhora” que fracassou!”, gritei.

Ele agarrou minha mão e me segurou como se eu fosse um bonequinho de trapo. Vira o rosto lentamente e começa a me encarar com aqueles olhos gelados e inexpressivos. Meu soco não pareceu ter causado um dano considerável nele – eu jurava que o sangue no canto da boca era sinônimo de dano sofrido.

“A vontade de Valadara prevalece! Eu executo sua vontade e sua vingança!”

O grandalhão aperta meu braço como se fosse amassar um copinho de plástico. Eu jurava que consegui ouvir cada um dos meus ossinhos da mão até o antebraço estalando.

“AAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHH!!”

“A vontade de Valadara é absoluta!”, bradou ele.

“|AUMENTAR CARGA|!”

Meu corpo ficou pesado como uma bola de chumbo e levou o grandalhão a cair comigo também. Claro que eu me machuquei mais.

O chão feito de uma pedra que lembrava mármore se esmigalhou completamente com a queda. Eu fiquei deitado por algum tempo, imóvel. Eu estava tão pesado que sequer conseguia me mexer.

“Droga! ARGH! Que merda de skill! Porque eu upei essa merda?”

O rapagão se recuperou rapidamente do tombo e juntou as mãos, fechou os olhos e se preparava para lançar algo. E eu ainda colado no chão como um manequim de mais de 200kg.

“|CASTIGO DE TROVÃO|!”

“Anda, anda, anda! Termina logo essa porra! TERMINA! TERMINAAA!”

*ZAAAAAASSSSHH*

Um pilar de raios desceu brutalmente em cima de mim e explodiu o lugar onde eu estava. Minha sorte é que o efeito da skill terminou e eu consegui rolar para o lado antes de ser fritado pela habilidade.

Uma skill de trovão daquelas a queima roupa e era um “espetinho de aventureiro” saindo no ponto. A poeira e as pedras que voaram cobriram o salão e ele pareceu não perceber que eu não havia sido atingido.

Acho que essa era a hora que eu revido, não é?

“|ZONA IMOBILIZADORA|!

“......?!”

Eu mentalizei uma barreira ao redor do corpo dele. Foi um pouco difícil enlaçar os seus contornos e imaginar algo que o prendesse – não é fácil prender um monstrão de quase 4 metros de altura. Ali a poeira atrapalhou um pouco também.

Mas eu consegui. A habilidade iria durar por 30 segundos. Seria tempo o suficiente para eu parti-lo ao meio com meu machado. Depois eu iria gritar: “MADEIRAAAAA”!

“Ah!”

Quê? A energia aumentou do nada?! Eu recuei, mas o machado foi.

“|PILARES DO SUBMUNDO|!”, Edoradd usou uma habilidade de súbito.

*ZAAAAASSSHH*

 Outro pilar de raios desce, mas dessa vez em cima dele! O campo de ação da habilidade desmanchou a minha |ZONA IMOBILIZADORA| como açúcar na água. Qual era a daquele cara?

Me lembrei inclusive que não tive tempo de olhar seus atributos – na verdade, eu esqueci mesmo. E isso me ferraria muito como agora.

Alguns raios se separam do pilar principal de energia e começam a faiscar no meio do salão. Minha preocupação é que algum deles atingisse Justine que ainda estava suspensa lá atrás e um alvo fácil, mas não aconteceu.

Uma das faíscas ricocheteou em uma das pilhas de moeda próximas e acertou no ombro. Meu corpo é jogado para trás com a violência do impacto e só paro ao bater de cabeça em um baú perdido lá perto da entrada.

Perdi uma quantidade considerável de HP. Merda!

A sensação era uma mistura de um choque à 1000 volts com um soco de um lutador de boxe. Tive a sensação de perder a consciência por poucos segundos. Eu me alertei de novo e desviei de outros vários raios, enquanto rolava e dava cambalhotas para desviar. Não me lembro de feito muitas cambalhotas recentemente.

Gastei muito mais estamina do que deveria para aquela ação. Maldito para-raios gigante!

Ainda por cima, habilitei uma skill completamente inútil! Esse |AUMENTAR CARGA| não me parecia que ia ser útil em nenhum momento. Tinha uma habilidade a menos para lutar com Edoradd.

“Vai apelar mesmo?! AAAAAAHH!”

Ele me ignorou e juntou as duas mãos como se fosse rezar ali mesmo. E eu falei “como se fosse”?

 

“Ó céus de ira, céus de maledicência! Se contorçam, se unam em carne e sangue para saborear os desejos e os pecados conjuntos! Em nome daquela que há de se vingar por todos os violentos e injustiçados, eu suplico que invista sua ira desde as nuvens negras e revoltas e que faça derramar um rio de sangue sobre esta terra. Sobre justos e injustos, bons e maus, honestos e trapaceiros... que a vingança divina seja plena! OHJAH!”  

 

Os raios se dispersam e apenas seus punhos permanecem produzindo descargas. Seu corpo agora estava em um aspecto escamoso e dourado, cobrindo boa parte do seu corpo com grandes músculos de ouro que produziam quantidades massivas de eletricidade.

Ele realmente aceitou o mano-a-mano. O chão já estava muito destruído e difícil de se mover e lutar ali em cima. Para mim, é claro.

Para alguém de mais de 3 metros era moleza.

Trocas de golpes acontecem. Uma tensão se forma na batalha e meu corpo estava ardendo somente ao bloquear seus punhos carregados com o machado. Mesmo que seus golpes não me atingissem diretamente, os raios que brotavam constantemente queimavam o meu corpo e tiravam minha vida aos poucos. Ainda assim, eu acertei todos os meus golpes de machado nele.

Entretanto //WINGSLASH// sequer arranhava seu corpo dourado e resistente. Sua vida mal descia direito e mesmo não sendo acertado por nenhum de seus golpes, daqui a pouco estaria morto.

Eu recuei ofegando e me escondi por entre as pilhas de ouro. Tirei aquele tempo para beber uma //POTION DE VIDA// Lv.5 e encher meu HP. A sensação de recuperar seu corpo e sua disposição quase instantaneamente era incrível! Então era assim que nossos personagens se sentiam ao beber poções de vida? Essa sensação revigorante e de euforia era a mesma coisa que o Mario sentia quando pegava um cogumelo?

“AAAAH! Agora sim! Novinho em folha!”

Era bem melhor sentir isso do que ver por uma tela de computador. O gosto não valia nada, mas a sensação era indescritível.

Um ruído metálico estrondou atrás de mim. A pilha de ouro explodiu e vários relâmpagos vieram para me liquidar. Eu desviei bem mais facilmente agora que estava recuperado. Ainda assim, eu sentia as queimaduras e a dor no braço continuava insuportável.

“Droga!”

“|PILARES DO SUBMUNDO|!”

Um pilar de raios bem maior! Meu machado atrasou o movimento e uma das descargas rugiu na minha direção.

*BOOOOOM*

*DAAAAAAMM*

Uma explosão no meu peito me enterra em outra pilha de baús e moedas. Eu cuspi um jato de sangue pela boca e fiquei semiacordado, a visão parcialmente escura. O HP que ainda recuperava com a poção de vida desce instantaneamente de 720 para 130, piscando em vermelho com aquela famosa mensagem.

Que dor excruciante! Meu peito estava em chamas. Eu não conseguia respirar direito. Parecia que eu ia desmaiar ou me engasgar com meu próprio sangue a qualquer momento.

OHJAH!!”, o para-raios dourado ainda mantinha sua postura solene e meditativa. Estava apenas servindo de torre de comando para seus relâmpagos.

A energia que me restava era apenas para eu conseguir me levantar. O machado era absurdamente mais pesado agora. Meu MP também estava escasso, dando apenas para usar |AUMENTAR CARGA| e mais uma |ZONA IMOBILIZADORA|.

A segunda já tinha se provado inútil contra Edoradd. A primeira eu nem precisava falar né?

O que eu podia fazer agora? Esperar um milagre.

Um milagre...

Não. Não ia acontecer milagre nenhum. Gallatin não estava mais lá para me dar uma vida extra. Agora era eu e somente eu.

“AAAAAAAAAAAAHHH!!”

“Ainda se levanta? Quanta petulância! Apenas aceite e cumpra seu propósito tal qual Valadara definiu!”

Eu ainda não conseguia falar por causa da falta de ar. Usei o que me sobrou de força para arrastar meu corpo até atrás das pilhas. Os raios explodem a pilha de moedas de novo e eu me arrasto para outra. Eu só precisava de um tempo para tomar a última poção de HP que me restava.

“ARF! ARF! Mer...da...”

“Que inseto mais inconveniente! Morra de uma vez! Já era para eu estar começando o ritual!”

Haviam três pilhas ordenadas em fila, uma ao lado da outra. Eu mergulhei no meio das moedas e outro raio acerta minha perna antes de eu conseguir me enfiar lá dentro totalmente.

Mais HP foi embora. Agora só me restavam parcos e sofridos 45 de HP! Cheguei rastejando do outro lado e perdendo muito sangue. Como haviam muitas coisas ali, mesmo explodindo tudo seria difícil dele me achar. Agora eu consigo tomar minha poção finalmente!

A sensação refrescante alivia meu corpo ferido. Sentia um pouco da minha energia voltando e eu já conseguia me mover melhor.

Aquela era minha última poção. Me serviu bem. Agora eu tinha 450 de vida para torrar de novo – literalmente, torrar para aqueles raios!

Respira! Eu ainda não fui vencido. Vou virar essa luta! Primeiro, eu tinha que olhar seus atributos para ter uma ideia do que eu podia fazer.

Seria meio difícil com vários raios tentando me fazer virar carvão. Eu tinha que ficar em um ângulo muito bom ou me manter escondido. Mesmo com a vida regenerando, me mover era difícil por causa da dor insuportável das queimaduras. As potions não saravam aquilo.

Penei para subir a grande pilha de moedas douradas. Lá no topo, eu tinha uma panorâmica de todo o salão.

“Vai ficar só fugindo, inseto?”

“Está com pressa para ser solado, é?”

“O que disse?”

Um pequeno blefe de leve.

“Só estou dando um tempo para pensar. Já ouviu falar em pause? Timebreak?”

Era óbvio que eu só queria ganhar tempo para o meu HP regenerar o máximo possível. Enquanto isso, eu dava uma boa olhada no ambiente. E principalmente, em seus status:

 


FORÇA: 200(+100)       CONSTITUIÇÃO: 320(+150)

DESTREZA: 40(0)        SABEDORIA:  148(+50)

ESPÍRITO: 200(+100)   HP: 5450 / 5700

                                        MP: 1270 / 1870

                                        STATUS ADICIONAIS:

FÚRIA DO TITÃ DO TROVÃO: + 100 DE //FORÇA// E //ESPÍRITO//

ANEL DA VINGANÇA: + 50 DE //CONSTITUIÇÃO//

 

<TÍTULOS>

 

- LÍDER DO CULTO MANJU > + 50 DE //SABEDORIA//

- SACERDOTE DE VALADARA > + 40% DE RESISTÊNCIA CONTRA STATUS ANORMAIS.

- SOBREVIVENTE DO CULTO > +20% DE DANO REDUZIDO EM CRÍTICOS.

- TRANSFORMAÇÃO: CAPA DE VALADARA: +70% DE ABSORÇÃO DE DANO.

                                                                                     +20% DE DANO ELEMENTAL DE RAIO AMPLIFICADO.

-TITÃ IMPLACÁVEL > + 40% DE RESISTÊNCIA À EFEITOS DE CONTROLE MENTAL.

 

                                      < EFEITOS NEGATIVOS: NÃO TEM>


 

Só podia estar de sacanagem comigo, não é? Olha quantos atributos! Era o primeiro cara naquele mundo que eu analisava e encontrava tantos títulos com atributos eficientes.

Não era de se estranhar que eu parecia não dar dano nele. A absorção de dano era ridícula. Até mesmo um //MACHADO DE BATALHA// Lv.10 conseguiria no máximo arranha-lo. Talvez um |TRESPASSAR| causasse algum dano nele, mas eu não tinha aquele atributo ou a habilidade.

Começava a me questionar sobre as minhas chances de vitória. O que eu tinha para detê-lo?

Eu tinha |REPELIR|, que apesar de ser uma boa habilidade que provavelmente me manteria vivo contra ele, não me daria nenhuma vantagem ofensiva. A |ZONA IMOBILIZADORA| era uma ótima habilidade também, mas me custava muita energia e era praticamente inútil contra alguém que tinha 40% de resistência contra status anormais – sem falar que a habilidade estava Lv.1 apenas. Para completar, eu tinha a rainha da inutilidade: |AUMENTAR CARGA|.

O que eu ia fazer com uma skill que aumentava meu próprio peso?

“|PILARES DO SUBMUNDO|!”

De novo aquele ataque desgraçado! Eu tremia apenas de ouvir aquele nome.

Mais raios vem. Eu me protejo atrás da pilha de tesouros que explode em uma chuva dourada misturada com vários traços lampejantes. Moedas chamuscadas caiam aos montes. Que desperdício!

Merda!”

Acabou a pausa pro descanso. Agora ele vinha com tudo de novo.

Os raios fizeram um círculo elétrico ao redor dele. Devia ter um padrão para os seus ataques e eu tinha que enxergá-lo. No entanto, continuo na minha ofensiva.

“AAAAAAAAHHHHH!”

Desajeitado. Minha corrida foi torta e eu sinto uma dor ardente no meu corpo. Eram as queimaduras me atrapalhando de novo. A pegada no machado vacila e o ataque errou, me deixando vulnerável aos relâmpagos.

“Se ao menos ela pudesse ver...”

O que?!

Sua mão gigante e faiscante veio pela lateral, quebrando sua postura de oração que mantivera agora. Seu corpo gigante e dourado reluziu com os raios e me afastaram dele rápida e violentamente. Ainda assim eu consigo encaixar outro golpe, porém mais um golpe inútil.

BLOCK!

Eu saí voando com o impacto do trovão no solo.

“AAARRRGH!”

“Nossa deusa retirou sua presença desse templo, insatisfeita com nossas oferendas medíocres. Está na hora de oferecermos algo... diferente.”

“O que? O QUE VOCÊ ESTÁ DIZENDO, SEU LUNÁTICO?!”, eu já estava puto e impaciente com todo aquele falatório repetitivo de deusa.

“Há muito tempo não tivemos contato com nossa deusa, de nenhuma forma. Ela está insatisfeita com nossas oferendas e por isso, sua fúria caiu sobre nós!

Do que aquele maluco estava falando? Ele ia recitar algum trecho da bíblia ou algo assim?

E o que a Justine tem a ver com isso?! Ela sequer deve saber que essa deusa aí existe!”

“Nossa deusa tem critérios. Uma pessoa de influência e que goza de todos os privilégios e riquezas enquanto o mundo se afunda em uma guerra de mortes e egoísmo. É melhor sacrifício que Valadara poderia desejar! O sangue corrupto dos nobres!”

“.....?!”

Ela pode se agradar com um grande banquete de sacrifícios ou apenas uma pessoa. Desde que sua presença sumiu de nosso templo, procuramos pela oferenda perfeita para que ela volte a nos agraciar com suas bênçãos!”

E então, vocês acham que uma inocente é a oferenda perfeita, é isso?”

“Nenhum nobre é inocente. Todos comem de seus corpos tombados no campo de batalha. Eles bebem todo o sangue derramado e ao dormir em seus travesseiros confortáveis a noite, os gritos dos verdadeiros inocentes não os deixam dormir! O sangue de uma nobre corrupta com certeza irá agradar Valadara. Agora chega de conversa! Morra!

Ele avança ainda mais forte e intenso. Os raios quebraram todo o solo ao nosso redor enquanto ele vinha.

“|REPELIR|!”

A polaridade oposta fez os raios convergirem para dentro dele e causaram algum dano interno nele. Aproveito para desferir um golpe com o machado e que arranha sua pele dourado, criando faíscas. Vendo que o dano continuava nulo mesmo com o breve atordoamento, eu recuo.

Dano 0. Pelo menos, o |REPELIR| iria me dar uma janela para contra-atacar. As outras duas habilidades eram inúteis contra Edoradd.

|AUMENTAR CARGA| era uma habilidade de uso cadenciado, o qual eu possuía até 5 cargas e tinha um tempo de espera de 15 segundos entre elas.  Me permitia aumentar o peso de mim mesmo ou qualquer coisa ou objeto que estivesse em contato comigo.

Qualquer coisa... Qualquer coisa...

.....

E se...?

“E se eu...?”

|FLECHA DO TROVÃO DA DEUSA VINGATIVA|!”

O que é isso? Uma flecha gigante de raios se forma e vem na nossa direção. Aquilo iria destruir tudo!

“Não!”

“SINTA TODA A IRA DE VALADARA!”, ele estava completamente louco.

Uma habilidade que consumiu quase todo seu MP? Aquilo não era brincadeira! Tinha energia suficiente para explodir muita coisa ali. Justine ainda estava na linha de fogo também.

Não só ela; Arthur e os outros lá embaixo também seriam atingidos!

“É o fim...”

Para com isso! Vai explodir tudo!”

“Um pequeno preço a se pagar pela vontade de Valadara!”, essa era a resposta dele pra tudo?

 A minha reação básica instintiva é usar a minha principal skill defensiva.

“|REPELIR|!”

A flecha apenas trava um pouco seu percurso, mas eu continuo pressionando. Não parecia que só aquilo bastaria e eu só tinha mais duas cargas de |REPELIR|.

“|ZONA IMOBILIZADORA|! |REPELIR|!”

Era a primeira vez que eu fazia aquilo: combinar duas habilidades – isso se chama desespero. Eu sinto minha energia secando, mas eu estava tão desesperado que não me importei com aquilo.

Foquei apenas em criar uma barreira em torno da |FLECHA DO TROVÃO DA DEUSA VINGATIVA| dele. Uma skill de alto nível sendo usada em um confronto daqueles. Acho que não era só eu quem estava desesperado.

“Não adianta! A vontade de Valadara é absoluta!”

“Cala a boca! Droga!”

Muita energia estava sendo consumida ali. Eu dei tudo de mim para manter a sua habilidade presa na zona, enquanto tentava frear seu ímpeto com o |REPELIR|. Aos poucos, a flecha enorme feita de raios começa a se distorcer. Parecia que ela ia implodir.

AAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHH!!!”, ambos gritamos enquanto usávamos o máximo de nossas forças.

Uma disputa de forças estava sendo travada ali. Mas bem no ápice, algo inesperado me acontece:

Juniorai?!”

“O qu...”

Eu ouvi por um breve segundo a voz de Justine. Depois somente uma explosão.  



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