Cheaters Brasileira

Autor(a): Kuma


Volume 1 – Arco 3

Capítulo 39: O rei e uma profecia. Parte I

 

||FORTALEZA DE FERRO||, distrito central de ||BASIN-C||, meia hora depois do ocorrido nos túneis subterrâneos.

PLAYER: [Juniorai]

 

Estava surpreso o quão linear foi o caminho que seguimos até agora. Me pareceu como se o próprio jogo quisesse que estivéssemos lá. Ah, realmente me parece um jogo linear demais para ser um MMORPG, não neguei, mesmo pensando sobre isso.

E porque estou pensando nisso pra começo de conversa? Não queria encontrar meus amigos logo para podermos voltar? Longe de mim reclamar da linearidade do jogo, remendei meus pensamentos, temendo alguma penalidade.

Arthur não disse muito desde o encontro com a mulher encapuzada e me pareceu que havia sofrido algum tipo de choque. O que será que aquela maluca tinha feito ele ver pra estar como uma cara de morto tão grande? Estava pálido, os olhos sempre fixos a frente e sem quase piscar, além da respiração irregular.

O menino parecia que tinha visto um fantasma. Decidi puxar conversa pra quebrar aquela monotonia — esperava não conversar com uma porta, se é que me entendem.

— Ei, Arthur.

— Hmm? Hã? — Pareci acorda-lo de um longo sono.

— O que acha que aquela maluca quis dizer com “resultados satisfatórios para ela”?

— Ah, não sei.

— Tá tudo bem, cara? — Fui logo ao ponto enquanto parei na frente dele.

Arthur fugiu do meu olhar virando a cabeça para o lado.

— Tá... tá sim... só estou... um pouco cansado.

— Wiwiwi. Wiwiwi!

— Não é isso. Eu... só vi coisas que não queria ter visto. Vou ficar bem com comida e uma boa noite de sono. — Arthur forçou um sorriso com sua resposta.

Apenas suspirei e continuei andando. — Não esconda as coisas da gente, viu? Tamo junto nessa, seu idiota. — concluí sem tocar mais no assunto. Ele fez o mesmo.

Seguimos o túnel até ele se inclinar e então, o que somente era um caminho em linha reta começa a virar uma verdadeira rampa em espiral. Forçamos mais um pouco as pernas — e eu, meu pobre e calejado joelho, que dó de mim — para continuarmos a caminhada. Imaginei que houvessem armadilhas, mas minhas preocupações eram tolas.

Nada mais atravancou o nosso caminho; o túnel foi se estreitando até terminar em uma pesada porta de ferro lacrada com vários cadeados. Vixe, acho que agora babou pra gente, pensei enquanto encarava os cadeados grossos de metal reluzindo com a luz dos archotes. — E agora? Tá tudo trancado aqui...

WHOOOSH!

Arthur tocou nas correntes e as derreteu mais fácil do que manteiga. Então ele se virou pra mim e disse com um singelo sorriso: — Você primeiro. — Abriu passagem para mim com um irônico gesto cortês.

Acho que não tenho que me preocupar com trancas tão cedo então, se Arthur podia derreter um ferro tão resistente quanto aquele ferro negro, nem podia imaginar o que ele não seria capaz de fazer com suas chamas.

Nós passamos e acabou que demos de cara com uma parede. Que merda é essa?! Andamos isso tudo e quase morremos pra uma doida de capuz pra dar de cara com o quartinho do zelador?, aquilo foi totalmente inesperado.

— Sério isso? — Arthur falou desanimado. — Será que erramos o caminho?

— Como a gente erraria? Só seguimos reto!

— Você mesmo disse que a mulher que a gente enfrentou tinha o poder de criar ilusões. Será que ainda não estamos na ilusão dela? — opinou Arthur, tocando as paredes enquanto as verificava.

Pensei a respeito por um momento. Se fosse o caso, como saberíamos? Eu sei, tenho certeza! Eu vi com meus próprios olhos a sua ilusão se despedaçando. Continuei procurando qualquer coisa lá dentro que nos desse uma luz fora a garra de Arthur.

O negócio é que não tinha nada lá, ou parecia não ter. Era um cubículo de terra quente que se tentasse escavar você se queimava, o que também queimava nosso fôlego mais rápido. Em um certo momento, Arthur tentou até cravar suas garras na terra à nossa frente e as retirou logo em seguida bem rápido.

— Merda! — grunhiu Arthur franzindo o rosto e balançando a garra. — É como se eu estivesse enfiando a mão nas paredes de um vulcão ativo, que merda!

— Não tem nada nada nessa bodega! Acho que a gente vai ter que voltar. — Só de pensar no tanto que a gente teria que voltar, meu corpo pesava.

— Espera. Eu senti algo do outro lado — Arthur começava a tatear a parede mais uma vez como se procurasse algo que a gente ainda não tinha visto. — Deve estar por aqui.

— O que exatamente? — perguntei, ofegando muito. Já sentia o oxigênio acabando.

— Deixa eu veeeer... Aqui! — Arthur forçou um ponto da parede que estava cheio de galhos e o solo tremeu. As paredes se comprimiram e quando nos demos conta, estávamos sendo carregados para cima.

O teto do quartinho desabou sobre a gente, revelando uma passagem elevada que conduzia para outra porta mais acima. O chão era na verdade um tipo de elevador hidráulico que nos levou até lá bem devagar. — Então tinha algo sim. Como esses anões são espertos. — disse Arthur focando a porta alta.

A porta saía em um salão vasto e luxuoso, com o chão decorado com um piso seccionado em fitas de metal de cores diferentes que reluziam com as luzes que vinham de grandes tochas localizadas em pilais colossais. O teto daquele lugar parecia ter a distância de um terceiro ou quarto andar de um prédio até o térreo.

Caralho! Que lugar é esse?! Não consegui conter meu deslumbre ao ver cada canto daquele lugar, apesar de me sentir praticamente um inseto ali. — Estamos mesmo na ||FORTALEZA DE FERRO||?

— Parece que sim. — Arthur respondeu, quase dando um giro de 360° com o pescoço, também boquiaberto. — E também parece que não tem ninguém aqui. O que aconteceu com a guarda da fortaleza?

— Devem estar ocupados com as forças rebeldes — deduzi sentindo os abalos sutis das explosões no lado de fora. — Vamos logo enquanto não tem ninguém pra encher o saco.

Saímos em uma porta no meio de duas escadarias grandes que levavam para a sala do rei Thor-ardd — segundo meu mapa que estava se atualizando conforme progredíamos —, sem resistências. Pegamos escada, corredor, escada e outro corredor com grandes pilares que terminava em um portão de ferro que lembrava os portões do templo de Bjorn.

Engoli em seco. Será que ele vai nos escutar? Esse era o principal questionamento. Sem que fizéssemos algo, aquela entrada se abriu sozinha para nos receber. Os portões de ferro negro se arrastam no chão, criando uma nuvem de poeira na entrada que inibiu a visão do que tinha no interior.

Só dava para ver que havia algo enorme ao centro da sala. Andamos à passos tímidos, passando pela poeira que nos encobriu completamente. Aos poucos eu pude ver o ser que estava sentado em um gigantesco trono de ferro parecendo ser feito de várias armas juntas.

Ele era um pouco maior que Bjorn e com uma aura bem mais ameaçadora. Vestia uma brilhante armadura de batalha de //FERRANIUM// puro e outro metal que não soube identificar e que encaixava perfeitamente em seu corpo forte.

Ao seu redor, um esquadrão de pelo menos 20 [LEGIONÁRIOS DE AÇO] faziam sua proteção. Por sua expressão neutra, ele parecia estar tranquilo. Seus olhos severos colaram em nós assim que entramos. Um anão ainda maior? O que tão dando pra esses anões pra crescerem tanto?

Como eu disse antes, longe de mim questionar essa lógica.

A gente se aproxima. Um suspense enorme preencheu o lugar. Sua respiração era como rajadas quentes de vento que entravam e saiam pelo salão. Atrás dele, na parede, uma coleção inteira de armas estava exposta como se fossem troféus emoldurados.

— Quem são vocês? Como entraram na ||FORTALEZA DE FERRO||, estrangeiros? — Sua voz estrondou como uma explosão nuclear, bem grave e poderosa.

Se fosse a primeira vez que eu estivesse me encontrando com um anão tamanho família com uma voz daquela, acho que eu teria me cagado todo. Nesse momento, eu agradecia ao Bjorn por proteger minhas calças.

Mostrei a runa que Bjorn deu para nós como um símbolo amistoso. Thor-ardd ergueu uma sobrancelha.

— Viemos em nome do deus de forja, Bjorn, para conversar com o senhor! — Mesmo usando toda a potência da minha garganta, minha voz ainda parecia insignificante naquele lugar. — Pedimos que o senhor nos ouça, por favor!

A medida que íamos na sua direção, os [LEGIONÁRIOS DE AÇO] fizeram uma barreira e nos cercaram. Thor-ardd interrompeu a formação deles com um gesto de mão.

— O que buscam aqui, enviados de Bjorn? — perguntou.

— Queremos que você feche os pontos de distribuição de //FERRANIUM// para as outras cidades e que comande os seus [LEGIONÁRIOS DE AÇO] a pararem de atacar os rebeldes!

Ele apertou a pegada em cima do descanso de mão de seu trono, como se fosse destruí-lo apenas com a pressão. Uma veia se destacou em sua testa.

— E porque eu deveria fazer isso? Porque eu deveria dar ouvidos à estranhos como vocês?

Ai, ferrou! Pensa, pensa, pensa, pensa, pensa, pensa, pensa...

— ...?! — De repente, algo cintilou na minha cabeça. Era a voz de Bjorn que eu ouvia nos meus pensamentos me dizendo:

 

Tanto você como o outro me fazem lembrar de uma antiga profecia que era contada de tempos em tempos entre meu povo.

 

— Por que eu sou o herói da profecia! — anunciei com uma voz triunfal.

Todos os anões que formavam a barreira se entreolharam e cochicharam entre si. Thor-ardd franziu a testa em uma reação de leve surpresa que finalmente quebrou aquele semblante impassível.

— Você? Você é o herói da profecia?

— Sou sim! — Eu nem sabia que profecia era essa. Eu só arrumei uma boa desculpa para ele me escutar. — Por isso estou aqui.

De repente, o anão gigantesco se levantou de seu majestoso Trono de Ferro com os [LEGIONÁRIOS DE AÇO] dando passagem para ele. Uma rajada de ar quente acompanhou seus movimentos e nos empurrou para trás violentamente.

— Eu sei muito bem quem são vocês — Ele fez uma pausa, parando em pé na nossa frente, nos olhando de cima. — Vocês são os tais escolhidos que contam as histórias do nosso povo. Aqueles que vão nos guiar em uma grande batalha contra o deus do mal. O herói de pele escura e seu ajudante que possuí a alma de um dragão selada em seu corpo!

Alma de dragão selada? Salamandra é um...? Pensei olhando rapidamente para Arthur que estava com a expressão nublada. Será que foi um baque muito grande saber que sua Relíquia Hospedeira é um dragão selado? — Arthur... eu...

— Por que... Por que eu tenho que ser o ajudante?! Imagina ser ajudante desse cara! — Ele protestou, indignado. — Ajudante é o caramba! Não saia interpretando as lendas errado!

Ah?! Ele realmente perdeu a linha por ter sido chamado de ajudante? Ele realmente está ignorando várias coisas importantes aqui. Então o cortei, continuando o raciocínio: — É isso mesmo! Estamos aqui para ajudar, mas precisamos do seu apoio.

— Não concorde com ele, seu safado!! — rosnou Arthur.

— Wiwiwi!

— Hmm... Que idiotice...

— ...!

— O que? Como assim? — perguntei sem entender porque do clima ficar tão tenso de repente.

— Vocês dizem ser os heróis que VÁRIAS gerações do meu povo esperaram! Várias! E agora chegam em um tempo oportuno como esse e usam de nossos mitos e nossa cultura para nos enganar? Vocês sabem... — De repente, um tremor abalou todo o lugar. Uma aura dourada podia ser vista cobrindo seu corpo. — ... o crime que acabaram de cometer?

— Essa não. — Arthur ficou em posição de guarda.

— Mas é verdade! Você precisa confiar em nós! Nós não somos seus inimigos! Há gente na cidade que está conspirando para derrubá-lo e é contra eles que você tem que lutar!

— Ele não tá com cara de que vai nos ouvir, Junior! — gritou Arthur.

— Vários anões os esperaram e vocês nunca vieram! Vários reis e xamãs os esperaram e nunca vieram! Todos que acreditavam nos heróis lendários morreram desamparados! Apesar de eu ter sido criado com base nas nossas tradições, eu nunca acreditei em nenhuma palavra sequer que essas lendas mentirosas contavam!

Saímos do espeto e caímos na brasa, merda! Acho que a ideia de usar a lenda deles para conseguir credibilidade foi um tiro no próprio pé! Ele agora estava irritado em dobro com a gente.

— Isso sempre foi um artificio para dar esperança aos corações ingênuos e temerosos dos anões, que preferiram se esconder atrás de mitos e historinhas do que encarar o mundo lá fora! Tomar o que é nosso por direito! Um povo perdido em sua própria tradição e, enquanto isso, o mundo zomba de nós!

— Como pode falar isso do seu próprio povo?! Ainda se diz um rei? — Alfinetei, meio que sem pensar.

— SILÊNCIOOO!! — A potência de sua voz nos jogou longe e quase estourou nossos tímpanos, levando um bom tempo para o som se dispersar para o ambiente exterior. E então, continuou: — Nenhum posto será fechado! Eu irei SIM abrir ||BASIN-C|| para as nações vizinhas e iremos esmagar qualquer um que se oponha à essa aliança! ||BASIN-C||... NÃO, OS ANÕES IRÃO PROSPERAR!

Não haverá mais uma nação para prosperar depois que tudo isso acabar!

Assim que gritei aquilo — como se realmente eu pudesse disputar voz com aquele cara — um anão entrou pelo portão principal correndo, porém sua corrida era desleixada. Ele estava ferido e mancava muito.

O soldado forçou uma reverência e disse: — Meu rei... a cidade está... sendo atacada!

Todos na sala perderam o ar com aquela notícia. Sujo de sangue e com sua armadura em frangalhos do jeito que estava, não tínhamos como duvidar.

— Atacada? ||BASIN-C|| está sob ataque?! De quem? Quem são os inimigos? — Thor-ardd pareceu temeroso.

— Ainda... Não... sabemos, meu rei — O soldado anão fez uma pausa, sentindo muita dor. Sua voz saia abafada entre pigarros e fungadas. — Invadiram... o portão Leste e o... Oeste também... Arf!

O soldado caiu ao se forçar a falar. Estava bastante ferido e perdendo muito sangue. Me atirei em sua direção para socorrê-lo, mas as tropas de [LEGIONÁRIOS DE AÇO] no local barraram meu avanço.

— Ei! Se não ajudar ele logo, ele vai morrer! — gritei.

Os olhos do rei se voltaram para mim, se perdendo em uma fúria irracional. Algo me dizia que todo aquele cenário só estava me queimando cada vez mais. Recuei uns dois a três passos para trás, prevendo uma possível agressão.

— Então foi por isso que chegou aqui justamente nesse momento, não é? Acha que toda essa invasão pode ir contra os meus aliados e à mim?!

— Ah, o que?! Não! Você está entendendo tudo errado! Esse ataque não é culpa nossa! — Mostrei novamente a runa do ferreiro para ver se ele caía na real, mas ele o rei dos anões estava alterado demais para ouvir alguém. Merda! Ele está fora de si!

— Junior! Sai logo daí! — Arthur gritou lá detrás.

Eu recuei ligeiro. — Tsc! Perdemos toda chance para conseguir dialogar com ele! — grunhi enquanto me afastava do centro.

— Wiiii! Wiwiwi, wiwiwii! — Picker sinalizava algo para nós.

— Hã? Tem certeza?

— O que ele tá dizendo, Arthur?

— Ele disse que tá sentindo a mesma energia que sentiu no túnel e que o rei pode estar sob o controle de alguém. — explicou.

De novo aquela mulher? Ela chegou aqui antes de nós?!, senti um calafrio percorrer minha espinha.

— Criando um cenário perfeito para um herói salvador chegar e ser aclamado como um líder perante toda uma nação fragilizada? Se aproveitando do receio e da ignorância de um povo carente e deslocado? Um truque muito sujo para alguém que foi enviado pelo guardião da ||FORNALHA||! — Uma aura dourada começa a envolver o corpo do rei dos anões.

Ignorei suas provocações e pensei em alguma estratégia. Antes que o sistema enviasse uma mensagem dizendo que tínhamos de derrota-lo, não seria uma má ideia dar uma olhada em seus status antes, não é?

 


FORÇA: 1120(700) CONSTITUIÇÃO: 1280(+860)

DESTREZA: 367(+100) SABEDORIA: 1000(+650)

ESPÍRITO: 830(+500) HP: 142750 / 142750

MP: 127000 / 127000

 

* MACHADO DO RAIO DE RAGNAR: + 300 DE //FORÇA//

- + 200 DE //ESPÍRITO//

- EFEITO ESPECIAL: CHANCE DE 50% DE CONJURAR [RAIO] E DEIXAR INIMIGOS [ATORDOADOS] POR 3s APÓS USAR UMA HABILIDADE.

- EFEITO ESPECIAL: ATAQUES TEM CHANCE DE APLICAREM O DOBRO DE ACERTOS.

* ARMADURA DE BATALHA FERRO-SOMBRA DO REI ANÃO: + 460 DE //CONSTITUIÇÃO//

- + 350 DE //SABEDORIA//

- + 280 DE //ESPÍRITO//

- EFEITO ESPECIAL: REFLETE 30% DE TODO DANO CAUSADO CONTRA ELE.

- EFEITO ESPECIAL: IMUNE À [ATORDOAMENTO], [SUPRESSÃO], [DORMÊNCIA] e [LENTIDÃO].

- EFEITO ESPECIAL: AO SOFRER 8 ATAQUES, TEM 60% DE ATIVAR AURA DA VONTADE DE FERRO DO REI ANÃO, POR 15 SEGUNDOS.

- AURA DA VONTADE DE FERRO DO REI ANÃO: GANHA [SUPER ARMADURA], [AUMENTO DE DANO CRÍTICO] e LIBERA RAIOS CONTINUAMENTE.

 

< TÍTULOS >

(...)


 

O maluco tinha tanto título que eu resolvi nem começar a lista — e com certeza não seria um adversário para derrotarmos ali. A diferença entre nossos atributos era como a distância entre o céu e a terra. Já era... não tem como derrotar esse cara. Temos que vazar daqui.

— Merda! Arthur, volta...

Rápido demais! Thor-ardd avançou tão rápido quanto pude perceber sua movimentação. Para alguém do tamanho dele, até que ele era bem veloz.

ZUUP! Esquivei a tempo rolando para longe e escapando da rushada violenta que ele deu pra frente, atropelando 3 pilares e os destruindo completamente. Uma nuvem de poeira desceu do teto e da parede.

— Meu rei! — gritou um dos [LEGIONÁRIOS DE AÇO].

— É, não tem jeito. Ele realmente perdeu completamente o juízo. — constatei com minha //WINGSLASH// em punho.

E como previ, a mensagem do sistema veio logo em seguida em um tom desesperador.

 


MENSAGEM DO SISTEMA

 

– NOVA MISSÃO PRINCIPAL DO [PRIMERIO ATO], DESBLOQUEADA! –

– SOBREVIVA À OFENSIVA DO REI DOS ANÕES –

– (TEMPO RESTANTE: 3min)

 

........

[MAIS DETALHES]


 

 

Acho que “sobreviver” era uma palavra muito ameaçadora para uma missão como aquela. Sinto que o nosso maior inimigo dessa vez não era nem o rei dos anões, mas sim o relógio.

Essa bodega vai ser mais complicada do que imaginei!

 

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||ATELIÊ VÖLUSPÁ||, algum tempo depois da partida de Junior e Arthur para a ||FORTALEZA DE FERRO||.

PLAYER: [Astholf]

 

Estranho... estava se mostrando um desafio maior para mim subir as escadas do que qualquer caminhada que eu tivesse feito no meio dessa cidade caótica. A cada passo, minha cabeça voltava a doer mais do que qualquer ressaca poderia proporcionar.

Enquanto subia lentamente as escadas, por vezes massageando as têmporas para tentar aliviar um pouco a minha dor, ia pensando nas palavras que aquele fedelho de pele escura tinha me dito:

(...) Por que tentar mudar um mundo que não quer mudar?

Por que é o que um aventureiro faz!

(...)

 

— Por que estou tão incomodado com essas palavras vazias e sem sentido? — perguntei como se indagasse minha própria consciência. Bah! Esses aventureiros jovens... Sempre arriscando suas vidas a troco de nada. Bom... não tenho nada a ver com isso.

A subida pareceu durar uma eternidade. Atravessei a porta e cheguei à sala onde Zibret e Pefrid estavam trabalhando, concentradas. Só foi o ruído de madeira soar e ela me lançou um olhar azedo e desagradável.

— Ah, você já voltou? Jurava que tinha topado nos degraus, batido a cabeça e ficado por lá mesmo.

Ignorando seu comentário engraçadinho, sentei no sofá ao lado de sua mesa de trabalho com a mão repousada na testa, suspirando.

— Tô vendo que você está todo ferrado. Venceu mais uma copa cirrose em alguma taverna recentemente?

— Na verdade é só uma dor de cabeça passageira — respondi com a voz arranhada. — Agora se puder parar de falar comigo, agradeço.

— Posso providenciar alguns remédios para você, senhor Astholf. — Pefrid se levantou e caminhou até a estante atrás de analgésicos. Antes que ela arrumasse algum eu me levantei.

Oh, eu já tô esperando uma voz dizer de fun...

— Aonde você vai mesmo? — Era Zibret. Como tinha previsto, ela perguntaria assim que visse eu andando rumo à porta de saída.

— Vou dar uma volta. Pegar um ar.

— Hum... Espero que você não tenha deixado eles irem sozinhos por aquele túnel antigo pra ficar enchendo a cara por ai, ou realmente vou enfiar uma fole quente no seu rabo!

— Como eu vou beber com a cidade desmoronando, Zibret? Seja mais perspicaz! — retorqui sentindo uma pontada forte na lateral da cabeça. — Só preciso... ficar um pouco... só.

— Ei, ei. Então seria por causa daquilo?

— “Aquilo” o quê, especificamente?

— Não se faça de burro comigo, Astholf — Zibret vociferou. — Você foi lá embaixo com eles, então sabe bem do que estou falando! Posso estar velha, mas não doida. Ainda...

— Pois como uma boa velha que é, cuide de seus afazeres e me deixe sossegado. — cuspi as palavras e saí batendo a porta do ateliê.

— Senhor Astholf! Seu remédio! — Pefrid gritou.

— Deixe ele. Ele precisa sair pra tomar um ar. Acho que ele mais perturbado que o normal ultimamente.

— ... — Pefrid nada mais disse. Apenas concordou com um gesto de respeito e guardou os remédios onde tinha achado.

Finalmente saí daquele lugar sufocante. Ah, não aguentava mais aquelas duas! Enquanto isso, sons da guerra podiam ser escutados ao longe. Os tanques avançavam pelas avenidas principais de ||BASIN-C||, alguns ficando pelo meio do caminho depois de levarem uma chuva de bombas tecnomágicas na cabeça.

Seus modelos imperfeitos, claramente fabricados clandestinamente e sem o consentimento do deus de forja, não ofereciam suporte para combates prolongados, sem falar que eram lentos e ineficazes para controle urbano. Pf... Amadores.

Enquanto cambaleava pelas ruas menores para evitar ser abordado por qualquer um dos lados, a cabeça quase explodindo, conseguia ver da fachada de alguns prédios algumas crianças observando toda a ação lá de cima, alguns assustados, outros empolgados.

O brilho, o fascínio pela guerra e pela ação eram coisas familiares para mim. Por que estou pensando tanto sobre essas coisas, afinal? Pensamentos do meu antigo aprendiz me vieram na cabeça no tempo que eu trabalhava na ||FORNALHA||. Seu sorriso, sua empolgação para aprender e fazer e seus receios e esperanças eram refletidos nos rostos daquelas crianças.

 

Por que é o que um aventureiros faz!

Por que – é – o que um – ferreiro – faz... Zzzzib... ziizz...

 

...! Urgh! Uurgh! — gemia com a cabeça parecendo uma bomba relógio.

Por que?! Por que o rosto dele... está parecendo tão borrado pra mim agora? Será que alguém tão indigno como eu... teria o direito de ao menos... lembrar dele?

Me debrucei sobre uma cerca pequena que delimitava um terreno ainda em construção, sentindo muita dor. As imagens passavam velozes como harpias na minha cabeça. Imagens confusas de muito tempo atrás.

Olha! Eu consegui, hahaha!

Um dia eu quero me tornar um grande ferreiro... não, o maior de todos os ferreiros! Então passa pra cá esse martelo!

Me ensine, mais! Ainda não está bom!

Eu... não queria isso.

Quero ser tão bom quanto você um dia, Sr Svo...

Zzzi... Zzzzzz...

— Uurgh! Maldição. — A dor vinha em picos e pontadas e depois baixava. Era esse ciclo de dor infernal que flagelava agora, mas não podia me dar ao luxo de ficar parado me doendo em algum canto, mesmo que fosse uma rua ou beco mais isolado.

Acho que estou muito sóbrio pra pensar... Tenho que beber alguma coisa.

 



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