Date A Live Japonesa

Tradução: Shirogatari Scans


Volume 1

Capítulo 1: A Garota Sem Nome

Parte 1

"Ahhh..."

A sensação de acordar é a pior.

Afinal, quando você acorda para ver sua irmã dançando apaixonadamente num ritmo de samba enquanto pisa por todo seu estômago, peito ou cabeça, diferente de um grupo especial de pessoas, ninguém estaria feliz.

Segunda-Feira, 10 de abril.

Ontem foi o último dia das Férias de Primavera, então hoje era dia de aula. Enquanto esfregava os olhos turvos, Shidou declarou numa voz baixa:

"Ahh, Kotori. Minha irmãzinha fofa."

"Ohhhhh!?"

Só então ela finalmente notou que Shidou estava acordado. A irmãzinha, com o pé ainda no estômago de Shidou— Kotori, virou a cabeça enquanto ajeitava seu uniforme do ensino fundamental.

Seu cabelo comprido, separado em duas chiquinhas, balançou quando ela olhou para Shidou através de seus olhos redondos como bolotas.

Incidentalmente, mesmo tendo sido apanhada pisando em alguém no início da manhã, ela não parecia estar xingando secretamente, tipo "Merda!" ou "Fui pega!". Se alguma coisa, parecia que estava honestamente feliz por Shidou ter acordado.

Oh, e da posição de Shidou, havia uma visão deslumbrante das suas roupas de baixo.

Não era como se não estivesse apenas mostrando um vislumbre. Até falta de vergonha tem limites.

"O que é? Meu irmão fofo!"

Kotori respondeu, sem mostrar nenhum sinal de tirar o pé. No caso de que esteja imaginando, Shidou não é fofo.

"Bem, saia de cima de mim. Você é pesada."

Kotori deu um aceno exagerado com a cabeça e pulou da cama. O estômago de Shidou caiu com o impacto do golpe.

"Gfhu!"

"Ahahaha, gfhu! Ahahahaha!" "..."

Shidou silenciosamente puxou o cobertor sobre sua cabeça. "Ahh! Hey! Por que está dormindo de novo!?"

Kotori aumentou sua voz, balançando Shidou lentamente. "Só mais dez minutos...”

"Não mesmo! Acorde agora!"

Depois de sentar e fazer careta por causa da tontura resultante de balançar a cabeça ainda atordoada, Shidou abriu a boca com um gemido.

"F-fuja..." "Eh?"

"...Na verdade, eu fui infectado com o 'se eu não dormir por mais dez minutos, vou fazer cócegas na minha irmã, o também conhecido como C-Vírus..."

"O-o quê!?"

Kotori estava surpresa como alguém que houvesse acabado de encontrar uma mensagem de aliens escondida.

"Fuja... enquanto eu ainda posso me controlar..." "M-Mas, o que você vai fazer!?"

"Não se preocupe comigo... enquanto você estiver segura..." "Não mesmo! Irmão!"

"Gaaaaahh!"

"Kyaaaaaaaaaaaaaa!"

Shidou jogou o cobertor, movendo animadamente as duas mãos e rugindo, enquanto Kotori corria com um grito medonho.

"...Sigh"

Expirando, ele se cobriu com a coberta de novo. Olhando o horário, viu que ainda eram antes das 6.

Resmungando, subitamente lembrou-se de algo.

Com o seu cérebro meio adormecido acordando lentamente, as memórias da última noite ressurgiram.

Ambos os seus pais saíram numa viagem de trabalho ontem.

Por causa disso, Shidou foi temporariamente deixado a cargo da cozinha, e então Shidou, que era ruim para acordar, pediu a Kotori para ajudá-lo.

"Ah..."

Incomodado que pudesse ter feito alguma coisa ruim, ele rapidamente saiu da cama.

Segurando o cabelo pós-acordar e suprimindo um bocejo, Shidou se arrastou para fora do quarto.

Nesse momento, o pequeno espelho pendurado na parede chamou sua atenção.

Um garoto cuja franja estava para invadir sua visão, provavelmente porque ele não havia cortado o cabelo fazia um bom tempo, estava projetando uma aparência idiota de Shidou.

"..."

Junto com sua visão decadente, sua aparência também estava levemente degradante. Suspirando, desceu as escadas e entrou na sala.

"...Huh?"

Uma visão levemente diferente da normal o recebeu.

A mesa de madeira que estava no meio da sala, agora estava de lado, como se tivesse virado uma barricada. Atrás disso, uma cabeça com marias-chiquinhas estava tremendo levemente.

"..."

Silenciando seus passos, Shidou se aproximou do lado da mesa.

Certamente, Kotori estava sentada abraçando seus joelhos e tremendo. "Graaaaaahh!"

"Kyaa!Kyaaaaaa!"

Quando Shidou agarrou-a pelos ombros, Kotori soltou um grito desesperado enquanto suas pernas ficaram moles.

"Calma, calma! Eu sou meu eu normal." "Gyaaa!Gyaa...ah? I-Irmão?"

"Aham, exato."

"Você...Você não é mais assustador?"

"Está tudo bem agora. Eu sou amigo da Kotori." "Oh, ohhhhhh."

Quando Shidou falou na sua voz de bebê, seu rosto angustiado relaxou lentamente. Era como se ela fosse um esquilo Fox que houvesse tido seu coração aberto. "Desculpa, desculpa. Eu vou fazer o café da manhã agora mesmo."

Depois de soltar a mão de Kotori e levantar, Shidou botou a mesa de volta ao lugar que pertencia e entrou na cozinha.

Trabalhando na grande companhia de eletrônicos que ambos construíram, os pais de Shidou frequentemente estavam longe de casa ao mesmo tempo.

Nessas horas, sempre era responsabilidade de Shidou preparar a comida, então ele já estava acostumado com isso. Na verdade, ele estava confiante de que poderia usar as ferramentas de cozinha melhor que sua mãe.

Enquanto Shidou fritava alguns ovos na frigideira, ouvia o som da TV vindo por detrás dele. Parecia que Kotori tinha se acalmado e ligado a TV.

Pensando nisso, parecia que Kotori tinha uma rotina diária de comer enquanto checava horóscopos ou rodas da fortuna.

Bem, a maioria das rodas da fortuna vinha no final dos programas principais, e que são obviamente apenas especulações. Depois de passar por todos os canais, Kotori começou a assistir o que parecia ser um programa chato de notícias.

"-Hoje de manhã cedo, no subúrbio da cidade de Tenguu—" "Huh?"

Ao ouvir o conteúdo do programa de notícias inútil que normalmente poderia servir apenas como BGM, Shidou levantou uma sobrancelha.

A razão era simples. Vinda da voz clara da anunciante, ele ouviu o nome de uma rua familiar.

"Nnn? É bem perto daqui. Alguma coisa aconteceu?"

Debruçando-se sobre o balcão, ele estreitou sua visão e encarou a TV.

Na tela, a imagem de uma rua que havia sido absurdamente destruída estava sendo exibida.

Prédios e ruas haviam sido reduzidos a montanhas de pedregulhos.

A devastação era como o impacto de um meteorito ou talvez a cena de um ataque aéreo.

Shidou encolheu os ombros, e soltando a respiração, disse:

"Ahhh... Então isso foi um spacequake." Como se cansado, balançou a cabeça.

Um 'space earthquake' se refere ao fenômeno do tremor de uma grande área.

Era um termo genérico dado a explosões, terremotos, desaparecimentos e coisas do tipo, que ocorrem por motivos desconhecidos em horários e lugares aleatórios.

Isso aconteceu bem no meio da Eurásia- a região que continha países como a União Soviética, China e Mongólia desapareceu apenas numa noite.

Para a geração de Shidou, só olhar as fotos do livro texto era desagradável.

Era como se tudo sobre o chão tivesse sido raspado, deixando absolutamente nada para trás.

O número de vítimas era de cerca de 150 milhões. Foi a maior catástrofe mortal na história humana. Nos seis meses que se seguiram, incidentes similares ocorreram em uma escala menor ao redor do mundo.

Shidou não conseguia lembrar o número exato, mas foram cerca de 50.

Em terra, nos pólos, no oceano, até em pequenas ilhas, esses casos foram confirmados.

Claro, Japão não era uma exceção.

Seis meses depois do "Eurasia Sky Disaster", a região de Tokyo do Sul até a Prefeitura de Kanagawa virou um círculo de terra queimada, como se uma borracha tivesse apagado tudo.

Exatamente— isso inclui a área que Shidou está vivendo hoje em dia.

"Mas isso subitamente parou de acontecer por um tempo, certo? Por que isso voltou a ser frequente?"

"Eu me pergunto por que...?"

Com a pergunta de Shidou, Kotori, ainda encarando a TV, inclinou a cabeça.

Depois do acidente em Kanto do Sul, spacequakes não haviam sido detectados por um tempo.

Entretanto, cinco anos atrás, começando num canto da reconstruída Cidade Tenguu, esses fenômenos misteriosos começaram a aparecer aqui e ali de novo.

De qualquer maneira, a maioria deles aconteceu no— Japão.

Claro que os humanos não ficaram sentados sem fazer nada durante esses 25 anos entre esses eventos.

Começando trinta anos atrás nas áreas em que a reconstrução foi terminada, abrigos subterrâneos se espalharam numa velocidade explosiva.

Junto com o fato de que se tornou possível observar precursores de spacequakes, uma equipe de respostas á desastres, certificada pela JSDF, foi criada.

O propósito deles é viajar pelas áreas de desastre e reconstruir as estradas e instalações destruídas, mas seu trabalho pode ser apenas descrito como mágica.

Depois de tudo, as estradas completamente destruídas podem, em um período insanamente curto, serem restauradas para como costumavam ser.

Seu trabalho foi classificado como super secreto, então nenhuma informação foi disponibilizada ao público, mas quando vê um prédio desabado ser restaurado numa noite, você não pode evitar em sentir como se tivesse visto um truque de mágica.

De qualquer maneira, mesmo se o trabalho de reconstrução pudesse ser feito realmente rápido, isso não significa que houvesse uma pequena ameaça dos spacequakes.

"Não parece que a área ao redor daqui tem tido um monte de spacequakes? Principalmente ano passado."

"..Hmm, parece que sim, huh. Talvez seja um pouco cedo..."

Kotori murmurou, enquanto apoiava a parte superior do corpo nos braços do sofá. "Cedo? O que?"

"Nnn..., nada."

Dessa vez Shidou quem inclinou a cabeça.

Não por causa do que Kotori disse, mas sim porque a última metade da frase parecia um pouco abafada.

"..."

Silenciosamente, ele circulou em torno do balcão e andou em direção ao sofá em que Kotori estava apoiada.

"Kotori, vire para cá por um instante." "..."

*bonk*

"Guhh!"

Kotori segurou a cabeça com as mãos e virou com um solavanco. Um barulho estranho veio da sua garganta.

Mesmo que fosse um pouco antes do café da manha, Kotori tinha seu lanche favorito, um Chupa Chups, na boca.

"Hey! Eu já não te disse para não comer lanches antes das refeições?" "NNNnnn! NNNnnnnn!"

Levando embora o doce e trazendo um bastão, ele encontrou Kotori tentando resistir fazendo beicinho.

Shidou ficou tenso quando olhou para onde estava para bater, já que ele não queria realmente bater em alguém com essas características tão fofas.

“... Jeez. Você deveria comer seu café propriamente!"

No final, foi Shidou quem cedeu. Coçou a cabeça de Kotori e voltou para a cozinha. "Ohh! Eu te amo irmão!"

Shidou acenou adequadamente as mãos e voltou ao trabalho.

"..Agora que penso nisso, hoje é a cerimônia de abertura do ensino médio, certo?" "Certo~"

"Então você volta na hora do almoço... Kotori, algum pedido?"

Depois de Kotori pensar sobre isso com um "Hmmmmm", balançou a cabeça e subitamente levantou.

"Prato Infantil Deluxe!"

Essa era uma opção oferecida em um restaurante familiar próximo. Shidou endireitou o corpo e assim deu uma reverência de desculpas. "Isso não pode ser preparado nessa loja."

"Ehh~"

Enquanto chupava um pirulito, Kotori respondeu com uma voz insatisfeita. Shidou deu um suspiro alto e encolheu os ombros.

"Tanto faz, não há nada que eu possa fazer. É uma ocasião especial, então vamos almoçar fora."

"OHHH! Sério?!"

"Sim. Então vamos nos encontrar no restaurante familiar de sempre depois do colégio."

Shidou disse e Kotori esfregou as mãos em excitação.

“Não volte com a sua palavra! É uma promessa! Você tem que estar lá nem que um terremoto comece, ou uma erupção vulcânica, ou um spacequake aconteça, ou o restaurante esteja ocupado por terroristas!

"Não, se tiverem terroristas lá nós não vamos comer." "Você tem que estar lá!"

"Certo, certo, entendi."

Ouvindo Shidou dizer isso, Kotori levantou vigorosamente as mãos no ar com um "Whooooo~!"

A partir de hoje à noite, eles teriam que comer em casa por um tempo, mas era a cerimônia de abertura para os dois. Toda essa luxúria estaria ok.

Bem, quem sabe se um almoço de crianças que custa 780 yen realmente conta como luxo.

"Nnnn..."

Shidou se esticou levemente e abriu a janelinha da cozinha. O céu estava claro. Parecia que aquele seria um dia bom.

***

Parte 2

Eram em torno de 8:15 da manhã quando Shidou chegou no colégio.

Depois de verificar a lista das salas posta no corredor, entrou na sala onde passaria seu próximo ano.

"Segundo ano, Classe 4, huh?"

Desde o spacequake há trinta anos, a região de Tóquio do Sul até a Prefeitura de Kanagawa— em outras palavras, a região de terra vazia criada pelo spacequake, foi reconstruída como cidades-teste, usando várias técnicas novas.

O colégio público que Shidou frequentava, Raizen High School, era um exemplo.

Cheio de facilidades para se orgulhar, aquele colégio que ninguém acreditaria que fosse público, foi construído apenas alguns anos atrás, então ainda estava em perfeitas condições. Claro, sendo um colégio construído numa área de desastres antiga, veio equipado com o mais novo tipo de abrigo subterrâneo.

Por essas razões, a taxa de requerimento era alta, então Shidou, que decidiu entrar no colégio apenas por "ser perto de casa", teve que trabalhar duro.

"Mmmm..."

Com um zumbido leve, inspecionou a sala.

Ainda havia um pouco de tempo antes da hora da aula, mas boa parte das pessoas já havia se reunido.

Haviam pessoas exultantes por estarem na mesma classe, pessoas sentadas sozinhas parecendo entediadas, e pessoas com vários outros tipos de reação... mas não parecia haver ninguém que Shidou conhecesse.

Enquanto Shidou movia sua cabeça para verificar o mapa de assentos no quadro, "—Itsuka Shidou."

Inesperadamente, detrás dele, uma voz calma falou monotonamente. "Huh...?"

Ele não reconheceu a voz. Curioso, virou. Uma menina magra estava lá.

A garota tinha um cabelo que mal chegava ao ombro e um rosto que parecia de boneca.

Provavelmente não existe alguém que possa descrever melhor como "estilo-boneca".

Embora nobre como uma criatura precisamente artificial, ao mesmo tempo, seu rosto não parecia conter nenhum tipo de emoção.

"Eh...?"

Shidou rapidamente olhou ao redor da sala, e inclinou a cabeça. "...Eu?"

Como não conseguia achar nenhum outro Itsuka Shidou por perto, ele apontou para si mesmo.

"Sim."

Sem nenhum sentimento especial, a garota imediatamente respondeu, dando um breve aceno em direção a Shidou.

"Por que você sabe meu nome...?"

Shidou perguntou, e a garota, como se confusa, inclinou a cabeça. "Você não lembra?"

"...Uhm."

"Entendi."

Shidou hesitou em responder, e a garota, parecendo particularmente deprimida, deu um breve comentário e andou até uma carteira perto da janela.

"O que... está acontecendo, exatamente?" Shidou coçou o rosto e franziu a testa.

No caso, parecia que ela conhecia Shidou, mas teriam eles se encontrado em algum lugar antes?

*pow* 

"Gefhuu!"

Enquanto Shidou estava imerso em seus pensamentos, um tapa magnífico acertou suas costas.

"O QUE ESTÁ FAZENDO, TONOMACHI!?"

Ele imediatamente reconheceu quem era o agressor, e gritou enquanto esfregava as costas.

"Hey, você parece bastante animado, sua besta sexual Itsuka."

O amigo de Shidou, Tonomachi Hiroto, antes mesmo de ficar animado por estar na mesma sala que ele, como se para mostrar seu cabelo encerado e corpo musculoso, cruzou os braços e inclinou o corpo levemente enquanto ria.

"...Sex... O que você disse?"

"Besta sexual, seu bruto. Eu tirei meus olhos de você só por um momento e você ficou todo atirado. Quando e como você se aproximou da Tobiichi, huh?"

Envolvendo seus braços em torno da cabeça de Shidou enquanto sorria, Tonomachi perguntou.

"Tobiichi...? Quem é essa?"

"Vamos, não aja como um idiota. Agora mesmo vocês estavam conversando animadamente, não estavam?"

Tonomachi apontou o queixo para a carteira perto da janela.

E lá estava sentada a garota de antes.

Como se notando que estavam a encarando, a garota ergueu os olhos do livro, virando para olhar para eles.

"..."

A respiração de Shidou ficou presa em sua garganta enquanto desviava os olhos estranhamente.

Por outro lado, Tonomachi estava sorrindo e acenando de uma maneira excessivamente familiar.

"..."

A garota, sem demonstrar nenhuma reação particular, voltou o olhar para o livro em suas mãos.

"Aí, olhe, ela é sempre desse jeito. De todas as garotas, ela é a mais difícil, sendo comparada com a Guerra Fria, ou Mahyadedosu. Como diabos você conseguiu fazê-la falar com você?"

"Huh...? D-Do que você está falando?" "Mentira, você realmente não sabe?"

"...Hmm, ela realmente estava na nossa sala ano passado?"

Ao Shidou dizer isso, Tonomachi segurou as mãos em uma pose "Eu não acredito nisso", fazendo uma expressão surpresa. Ele era alguém que gostava de imitar as reações dos Westerners.

"Vamos lá, cara, é Tobiichi, Tobiichi Origami. Ela é a super gênio que o nosso colégio se vangloria. Você nunca ouviu de nada sobre isso?"

"Não, essa é a primeira vez que ouço falar sobre isso... ela é mesmo tão incrível assim?"

"Nem incrível pode descrevê-la. Suas notas estão sempre nos primeiros lugares do ano, e no simulado há pouco tempo atrás, ela teve uns resultados loucos e foi direto pro topo da nação."

"Huuuh? Por que alguém assim está num colégio público?"

"Não sei. Provavelmente alguma coisa como circunstâncias familiares?" Dando de ombros, Tonomachi continuou.

"De qualquer jeito, isso não é tudo, as notas de EF dela também estão sempre no topo, e ao mesmo tempo ela é bonita. No 'Ranking das Namoradas Mais Desejadas - Treze Melhores' do último ano, ela ficou em terceiro, eu acho. Você não viu?"

"Eu nem sabia que existia alguma coisa assim. Ou melhor, as treze melhores? Por que esse número?"

"Porque a garota que organizou isso tinha treze anos." "...Aaah."

Shidou riu fracamente.

"Falando nisso, o 'Ranking dos Namorados Mais Desejados' chegou aos 358 melhores."

"Tudo isso!? O final dele está perto da pior colocação possível, não é? O organizador que decidiu isso também?"

"Ahh. Ele realmente não sabia quando desistir." "Em que lugar você está, Tonomachi?"

"No 358º lugar."

"O organizador era você!?"

"Os motivos para que eu ficasse nessa colocação incluíam: 'sua paixão parece ser bem forte', 'ele parece ser peludo' e 'suas unhas devem cheirar mal'."

"Como eu pensava, esse é a pior colocação!"

"Bem, abaixo disso tem apenas as pessoas que ninguém votou. Pelo menos com pontos mínimos eu consegui vencer."

"Isso está chegando um pouco longe demais! Com um rank desses, seria melhor desistir."

"Não se preocupe, Itsuka. Você foi posto como Sr. Anônimo e ganhou um voto e o 52º lugar."

"Resposta errada!"

"Bem, outras razões incluem: 'ele não parece se interessar por mulheres' e 'para ser honesto, ele parece ser homo'."

"É um martelo de ferro trazendo morte por calúnia irracional!"

"Apenas acalme-se. Na "Escolha Fujoshi dos Melhores Casais", eu e você estamos no topo do ranking como um casal."

"EU NÃO ESTOU NEM UM POUCO FELIZ COM ISSO!"

Shidou gritou. Ele estava levemente preocupado em fazer parte do casal, em primeiro lugar.

De qualquer maneira, parecia que Tonomachi não se importava nem um pouco (ou melhor, parecia ter superado isso), quando cruzou os braços e voltou ao assunto.

"Bem, de qualquer maneira, não é exagero dizer que ela é a pessoa mais famosa do colégio. Itsuka, sua ignorância consegue surpreender até mesmo esse grande Tonomachi."

"Que tipo de personagem você está tentando ser?"

Ao Shidou dizer isso, o sinal familiar que ele tem ouvido desde seu primeiro ano tocou. "Oops."

Agora que pensava nisso, ele ainda não tinha confirmado sua carteira.

Shidou seguiu o mapa escrito no quadro e colocou a mochila na carteira de dois lugares ao lado da janela.

Logo depois, ele notou. "...Ah"

Como se por uma ironia do destino, a carteira de Shidou era ao lado do da pessoa no topo do ano.

Tobiichi Origami fechou e guardou o livro assim que o sinal parou de tocar.

Ela então sentou olhando diretamente para frente, com uma postura tão bonita como se medida com uma régua.

"..."

Sentindo-se um pouco estranho por algum motivo, Shidou voltou os olhos para o quadro, como Origami também havia feito.

Como se combinado, a porta da sala abriu com um estrondo. De lá, saiu uma mulher baixa usando óculos de aros finos, que andou até a mesa da professora.

Ao redor, os alunos estavam sussurrando animadamente.

"Então é a Tama-chan..." 

"Ah, é a Tama-chan." "Sério? Yeahh!"

-No geral, coisas boas estavam sendo ditas.

"Certo, bom dia á todos. Nesse ano, eu vou ser a professora de todos dessa sala, meu nome é Okamine Tamae."

A professora de estudos sociais, Okamine Tamae- apelidada por Tama-chan- falou em um ritmo lento e se curvou. Talvez tenha se curvado um pouco demais, pois os óculos escorregaram um pouco, ao que ela colocou no lugar rapidamente.

Seu rosto de criança e corpo pequeno que não podia nem passar em ser da mesma geração dos seus alunos, combinado com sua postura descontraída, tornavam-na bastante popular entre os alunos.

"...?"

No meio dos alunos animados, a expressão de Shidou endureceu.

Sentada do lado esquerdo de Shidou estava Origami, que estava encarando na sua direção intensamente.

"..."

Por um momento, seus olhos se encontraram. Shidou rapidamente desviou os olhos.

Por que ela estava encarando Shidou- não, ela poderia não estar encarando ele, havia a possibilidade de que fosse alguma coisa atrás dele, mas no momento Shidou não conseguia se acalmar.

"...O-o quê exatamente está acontecendo...?"

Ele murmurou silenciosamente, enquanto uma gota de suor descia pelo seu rosto.

Desde então, aproximadamente três horas se passaram.

"Itsuka~, você não tem nada para fazer de qualquer maneira, certo, que arranjarmos alguma coisa para comer?"

A cerimônia de abertura tinha acabado, e enquanto os alunos terminavam de arrumar as coisas e saíam da sala, Tonomachi, com a mochila pendurada no ombro, começou a conversar.

Além do período de testes, era raro a escola terminar de manhã. Aqui e ali, grupos de amigos estavam discutindo aonde ir para almoçar.

Shidou estava prestes a acenar, mas com um "ah" ele parou. "Desculpe. Eu tenho planos para hoje."

"O QUÊ? Uma garota?" "Ahhh, bem... sim." "MENTIRA!"

Tonomachi fez um V com os braços enquanto levantava o joelho, fazendo uma pose parecida com o Glico¹.

"O que diabos aconteceu nas férias de primavera!? Você não está satisfeito nem depois de ter sido capaz de falar com a Tobiichi, e agora fez uma promessa de almoçar com uma garota!? Nós não prometemos virar mágicos juntos!?"

"Não, eu não me lembro dessa promessa... e de qualquer forma, é apenas a Kotori." Shidou respondeu, e Tonomachi deu um suspiro aliviado.

"Que merda, não me assuste!"

"Você quem tomou conclusões precipitadas.

"Meh, se é a Kotori-chan então não tem problema. Posso ir junto?" "Mm? Ahh, acho que tudo bem..."

Logo que Shidou terminou, Tonomachi colocou os cotovelos na mesa de Shidou e falou em voz baixa.

"Hey hey, Kotori-chan está no segundo ano do ensino fundamental, certo? Estaria tudo bem em ela arranjar um namorado ou alguma coisa por agora?"

"Huh?"

"Uhum, não tem nenhum significado oculto por trás disso, mas o que Kotori-chan pensaria sobre um garoto três anos mais velho que ela?"

"...Na verdade, esquece. Não ouse vir junto."

Shidou estreitou os olhos e empurrou de volta rosto de Tonomachi, que havia chegado mais perto.

"Haha. No caso, eu não sou tão idiota a ponto de perturbar seu feliz encontro entre irmãos. Eu tento jogar seguindo as regras."

"Você sempre diz um pouco mais do que deveria."

Agarrando as bochechas, Tonomachi fez uma expressão inesperada enquanto falava.

"Mas cara, você não acha a Kotori-chan super fofa? Poder morar sob o mesmo que ela deve ser incrível."

"Se você realmente tivesse uma irmã mais nova, acho que iria definitivamente mudar de opinião."

"Ah... Você ouve muito isso. Então é verdade que pessoas com irmãs mais novas não tem esses fetiches?"

"É, elas não são garotas. São apenas criaturas chamadas irmãzinhas." Shidou afirmou fortemente e Tonomachi sorriu timidamente.

"Esse é realmente o caso, huh?"

"Esse é realmente o caso. Se você tentar encontrar algo que não é exatamente uma garota, seria provavelmente uma irmã mais nova."

"E irmãs mais velhas?" "..Onnashi?"

"Wooow, uma mulher da cidade!" Rindo, Tonomachi respondeu.

-Nesse momento.

UUUUUUUuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu—————

"Huh!?"

A janela da sala balançou violentamente enquanto uma sirene soava desagradavelmente pelas ruas.

"O-O que está acontecendo?"

Tonomachi abriu a janela e olhou lá fora. Surpreso pela sirene, um incontável número de corvos voaram para o céu.

Os alunos que permaneceram na sala pararam de conversar e olharam fixamente, com os olhos arregalados.

Seguindo a sirene, uma voz mecânica que pausava depois de cada palavra, provavelmente para facilitar o entendimento, saiu.

"—Isso, não é, um teste. Isso, não é, um teste. O antechoque, foi, observado. A ocorrência, de um spacequake, foi prevista. Pessoas da vizinhança, por favor, movam- se para o abrigo mais próximo, imediatamente. Repito—"

Nesse instante, a sala silenciosa se encheu de arquejos dos alunos.

—Alerta de spacequake.

O palpite de todos foi confirmado. "Oi oi... Sério?"

Tonomachi pronunciou numa voz seca enquanto suava profusamente.

De qualquer maneira, em termos de tensão e aflição, Shidou, Tonomachi e os outros alunos da sala, estavam relativamente calmos.

Pelo menos nenhum dos alunos parecia ter entrado em pânico.

Depois dessa cidade ter sido destruída severamente pelo spacequake trinta anos atrás, crianças como Shidou foram treinadas persistentemente em exercícios de evacuação desde o jardim de infância.

Além disso, aquilo era um colégio. Existia um abrigo subterrâneo que caberia todos os alunos.

"O abrigo está bem aqui. Se nós calmamente nos escondermos, então vai ficar tudo bem."

"C-Certo, está certo."

Tonomachi assentiu com as palavras de Shidou.

O mais rápido possível sem correr, eles saíram da sala.

O corredor já estava cheio com os alunos formando uma fila em direção ao abrigo. "Tobiichi...?"

Exatamente, correndo pelo corredor com a saia esvoaçando, estava Tobiichi Origami. "Hey! O que você está fazendo!? O abrigo é na outra direção—"

"Eu estou bem."

Origami parou por um instante, dizendo apenas isso e, mais uma vez, voltou a correr. "Bem... o quê...?"

Intrigado, Shidou virou a cabeça e se juntou á fila de alunos com Tonomachi.

Ele estava levemente preocupado com Origami, mas talvez ela simplesmente houvesse esquecido alguma coisa e voltou para pegar.

Na verdade, mesmo que o sinal tenha sido emitido, não significava que um spacequake aconteceria imediatamente. Se ela voltasse rápido, então ficaria bem.

"A-Acalmem-se por favooor! É, assim mesmo, beeem devagaar! Lembrem-se 'okashi', O-Ka-Shi! Não empurrem, não corram!

Da frente da fila, a voz de Tamae ecoou, direcionada aos alunos. Ao mesmo tempo, risadinhas saíam dos estudantes.

"...Vendo alguém que está mais afobado que eu me acalma por algum motivo." "Ahh, eu meio que entendo o que você quer dizer."

Shidou deu uma risada leve, e Tonomachi respondeu com uma expressão similiar.

Diante de um professora que parecia completamente insegura como Tama-chan, mais do que inseguros, na verdade a tensão dos alunos parecia ter sumido.

E assim, Shidou lembrou-se de certa coisa, procurou o bolso e tirou o celular. "Hm? O que foi Itsuka?"

"Nada. Licença por um instante."

Enquanto ignorava a pergunta, selecionou o nome 'Itsuka Kotori' na lista de contatos e discou.

Entretanto— não atendia. Todas as vezes que tentou, o resultado foi o mesmo. "...Merda. Será que ela conseguiu evacuar?"

Se ela ainda não houvesse deixado o colégio então estaria tudo bem.

O problema era que havia a possibilidade que ela houvesse deixado o colégio e estivesse indo para o restaurante familiar.

Na verdade, deveria ter abrigos públicos por perto, então normalmente não teria problema... mas por alguma razão Shidou simplesmente não conseguia se livrar daquele sentimento sinistro.

Ignorando o fato de que o alerta já havia sido emitido, por algum motivo a imagem de Kotori esperando Shidou como um cachorrinho obediente surgiu em sua mente.

Na sua cabeça, as palavras de Kotori, "É uma promessa!" giravam e ecoavam.

"B-Bem, nós fizemos uma promessa absoluta de nos encontrarmos mesmo se um spacequake acontecesse, mas... nem ela é tão estúpida assim... Oh, certo, ainda tem isso."

O celular de Kotori devia ter um serviço de GPS instalado.

Manipulando seu celular, o GPS mostrou um mapa da cidade na tela, que tinha um ícone vermelho marcado.

"..."

Vendo isso, a garganta de Shidou travou.

O ícone que mostrava a localização de Kotori estava exatamente na frente do restaurante familiar prometido.

"Aquela idiota..."

Amaldiçoando, guardou o celular sem desligar a tela e deslizou para fora da fila de alunos.

"H-Hey, onde você está indo, Itsuka!?" "Desculpe! Eu me esqueci de algo! Vá na frente!"

Respondendo Tonomachi enquanto ia na outra direção, ele correu em direção á entrada contra o fluxo da fila.

Desse jeito, Shidou rapidamente trocou os sapatos, e quase caindo para frente, correu para fora.

Passado o portão, ele desceu a colina em frente ao colégio.

"...Desde que a situação ficou desse jeito, nós vamos apenas avaliar normalmente...!" Correndo o mais rápido que podia, Shidou gritou.

Espalhando-se na vista de Shidou, havia uma cena muito estranha.

Estradas sem carros em movimento, uma cidade desprovida de todos os sinais de pessoas.

Nas ruas, nos parques, até mesmo nas lojas de conveniência, não restou nem uma pessoa.

A presença das pessoas que estavam aqui alguns minutos atrás foi deixada para trás, suas figuras simplesmente desapareceram.

Era como um filme de terror.

Desde o desastre há trinta anos, aquela era a Cidade Tenguu que havia sido reconstruída cuidadosamente enquanto lidava nervosamente com os spacequakes. Ignorando as facilidades públicas, até mesmo a porcentagem de famílias normais ganhando um abrigo são as maiores do país.

Por causa da frequência dos spacequakes recentemente, as pessoas evacuaram rápido. Mas mesmo assim...

"Porque essa idiota teimosa está esperando lá...!"

Ele soltou um grito e abriu o celular enquanto continuava correndo.

O ícone que mostrava a posição de Kotori permaneceu na frente do restaurante familiar.

Enquanto decidia qual seria a punição de Kotori, continuou mexendo os pés em alta velocidade em direção ao restaurante familiar.

Ele não estava fazendo nada como regular o passo ou alguma coisa assim. Apenas correu implacavelmente para o restaurante familiar o mais rápido que podia.

Seus pés doíam e as pontas dos seus dedos ficaram dormentes.

Sua cabeça estava atordoada, a garganta começou a colar, e um ruído podia ser ouvido de dentro da sua boca.

Entretanto, Shidou não parou. Coisas como perigo ou cansaço não entravam na sua mente, já que estava cheia com um único pensamento: o de chegar onde Kotori estava.

Mas— "...?"

Enquanto corria, Shidou olhou para cima. Ele pensou ter visto alguma coisa se mover na borda da sua visão.

"O que são... esses..."

Shidou franziu as sobrancelhas.

Haviam três... talvez quatro. No céu, coisas que parecia com humanos estavam flutuando.

Mas Shidou imediatamente parou de ligar para isso. O motivo—

"Uwaahhh...!?"

Shidou instintivamente cobriu os olhos.

A rua á sua frente foi subitamente engolfada com uma luz ofuscante.

Seguido por uma explosão ensurdecedora e uma onde de choque violenta, que atingiu Shidou.

"O qu-"

Shidou reflexivamente cobriu o rosto com os braços e colocou a força nas pernas, mas foi inútil.

A pressão do vento, que era como a de um tufão, soprou e tirou-lhe o equilíbrio, fazendo-o cair para trás.

"Que... O que diabos aconteceu...?"

Enquanto esfregava os olhos que continuavam piscando, ele empurrou seu corpo para cima.

"-Huh—"

Vendo a paisagem que se espalhava pela sua visão, Shidou soltou um ruído de surpresa

Depois de tudo, a rua que estava logo na sua frente alguns momentos atrás, no breve período em que Shidou fechou os olhos— Sem deixar nada para trás, ela simplesmente 'desapareceu'.

"O-O que é isso, o que diabos aconteceu, isso é..." Ele murmurou, em transe.

Não importa que metáfora você use, não seria uma piada. Era como se um meteorito tivesse caído na terra.

Não, se alguma coisa, era como se tudo no chão houvesse desaparecido completamente.

A rua á sua frente havia sido raspada na forma de uma tigela rasa. E, na esquina da rua que havia se tornado uma cratera—

Havia alguma coisa como um amontoado de metal, que subiu. "O que...?"

Por causa da distância, não conseguia discernir os mínimos detalhes, mas— ele viu que a forma era alguma coisa parecia com o trono que um rei de RPG sentaria.

Entretanto, isso não era o importante.

Havia uma garota usando um vestido estranho, que parecia estar de pé sobre o trono com o pé no braço (do trono).

"Essa garota— porque ela está em um lugar como esse?"

Ele podia apenas ver vagamente, mas conseguia identificar o cabelo preto longo e a saia que estava radiante com um brilho misterioso. Provavelmente não estava errado sobre ela ser uma garota, entretanto.

A garota examinou casualmente a área, virando subitamente o rosto em direção á Shidou.

"Un...?"

Ela notou Shidou... Provavelmente. Era muito longe, então ele não podia dizer exatamente.

Como Shidou estava intrigado com isso, a garota se movimentou mais.

Com um movimento oscilante, ela parecia ter agarrado algo que estava crescendo detrás do trono, e lentamente foi puxando-o.

Aquilo era— com uma lâmina larga, uma espada enorme.

Emitindo um brilho ilusório como o de um arco-íris ou de uma estrela, era uma lâmina curiosa.

A garota sacudiu a lâmina e a trilha que deixou traçou um caminho tênue de luz. E depois—

"Eh...!?"

A garota encarou Shidou, e com um braço, balançou a espada horizontalmente.

Ele instantaneamente abaixou a cabeça. Não, colocando com mais precisão, os braços de Shidou, que estavam sustentando seu corpo, perderam a força, e como resultado, a parte superior do seu corpo caiu.

"O qu-"

O rastro da lâmina passou pelo lugar onde estava a cabeça de Shidou. Claro, não era uma distância que uma espada podia alcançar fisicamente. Entretanto, ela certamente—

"...Haah—"

Com os olhos bem abertos, Shidou virou a cabeça para trás.

As casas, as lojas, as árvores á beira da estrada, os sinais e assim por diante, que estavam atrás de Shidou, foram cortados na mesma altura.

Um segundo depois, o som de destruição ecoou como um trovão distante. "Eeek...!?"

Aquilo tinha ido além da compreensão de Shidou. Tremendo, seu coração apertou.

-Qual o significado disso?

A única coisa que ele entendeu era que se não tivesse abaixado a cabeça naquele momento, agora estaria que nem a cena atrás dele, relativamente reduzida.

"P-Pare de brincar comigo...!"

Como se puxando um corpo que houvesse sido cortado na cintura, Shidou se arrastou para trás. Assim que possível e na medida do possível, eu tenho que sair desse lugar...!

Entretanto.

"-Você também... huh"

"...!?"

Uma voz extremamente cansada saiu de cima da sua cabeça.

Sua visão, que estava um pouco atrasada, agarrou-se com seus pensamentos.

Na frente dos seus olhos, estava a garota que a um momento atrás não estava ali. Exatamente, era a mesma garota que estava no meio da cratera agora a pouco. "Ah—"

Intencionalmente, sua voz saiu.

Ela devia ter mais ou menos a mesma idade de Shidou, ou talvez fosse um pouco mais nova.

Dentro do seu cabelo que ia até o joelho, estava um rosto que possuía tanto beleza quanto dignidade.

No centro, um par de olhos emitiam um brilho misterioso, quase como cristais que refletiam uma variedade de cores de luz em todas as direções.

Sua roupa era bem estranha. Com a forma de um vestido de princesa, era feito com uma matéria que não podia dizer se era roupa ou metal. Além disso, suas costuras, peças internas, saia e tal, eram compostas de um filme ou luz misteriosa que não parecia mesmo ser de um material físico.

E nas mãos, estava segurando a espada enorme que devia ter em torno do seu próprio peso.

A anormalidade da situação.

A estranheza da sua aparência.

A singularidade de sua existência.

Todos eles seriam muito mais do que suficiente para capturar a atenção de Shidou. Entretanto. Sim, Entretanto.

O que roubou os olhos de Shidou não continham impurezas. "smdash, smdash"

Nesse momento.

O medo da morte, até mesmo a necessidade de respirar, foram esquecidos, quando seus olhos foram pregados na garota.

Aquilo era tudo isso.

A garota era tão intensamente... linda.

"—Qual o..."

Atordoado, Shidou falou pela primeira vez.

Mesmo que minha garganta e meus olhos sejam destruídos por blasfêmia, pensou. A garota lentamente moveu seu olhar para baixo.

"...seu nome?"

Sua voz, carregando a dúvida vinda do fundo do seu coração, sacudiu o ar. Entretanto.

"-Eu não tenho tal coisa."

Com um olhar triste, a garota respondeu. "---"

Foi então que os olhos de Shidou e da garota se encontraram pela primeira vez.

Ao mesmo tempo, a garota sem nome, com uma melancolia extrema, fazendo uma expressão de que estava prestes á chorar, chamou a espada novamente com um 'kachiri'.

"Espere, espere, espere!"

Com um pequeno som, seu tremor retornou. Shidou gritou desesperado. Mas a garota simplesmente lançou um olhar confuso á Shidou.

"...O quê?"

"O-O que voce está planejando fazer...!?" "Claro— matar você rapidamente."

Ouvindo a garota responder tão naturalmente, seu rosto ficou azul. "P-Por que...!?"

"Por que..? Não é óbvio?"

Com um rosto cansado, a garota continuou.

"-Além do mais, você não veio também para me matar?" "Huh...?"

Diante de uma resposta inesperada, a boca de Shidou caiu aberta. "...Eu não faria isso."

A garota olhou para Shidou com uma mistura de surpresa, suspeita e confusão.

Entretanto, a garota imediatamente estreitou os olhos e desviou o olhar para longe de Shidou, virando o rosto para o céu.

omo se tivesse sido levado junto, Shidou também olhou para cima- "O quu...!?"

Seus olhos abriram ainda mais que antes e a respiração ficou presa na garganta.

Afinal, haviam alguns humanos usando roupas estranhas voando no céu- e pra piorar, das armas nas mãos milhares de coisas parecidas com mísseis foram atiradas em direção á garota e Shidou.

"O-O Queeeeeeeeeee!?" Instintivamente, ele soltou um grito.

Entretanto— mesmo depois de alguns segundos, Shidou permaneceu consciente.

"Eh...?"

Atônito, sua voz saiu.

Os mísseis que foram lançados do céu flutuavam imóveis no ar metros acima da garota, como se tivessem sido segurados por mãos invisíveis.

A garota deu um suspiro exasperado.

"...Esse tipo de coisa é inútil, por que eles nunca aprendem?"

Dizendo isso, a garota levantou a mão que não estava segurando a espada e a fechou.

Ao fazer isso, os incontáveis mísseis amassaram como se tivessem sido comprimidos e explodiram onde estavam.

Até mesmo a magnitude das explosões foi assustadoramente pequena. Era como se toda a energia tivesse sido sugada para dentro. Ele podia entender mais ou menos a confusão das pessoas flutuando no céu.

Entretanto, eles não pararam os ataques. Um após o outro, os mísseis eram atirados. "-Hmpf"

A garota deu outro breve suspiro, fazendo uma cara de que parecia que as lágrimas iriam cair a qualquer momento.

Era o mesmo rosto de quando ela estava apontando a espada para Shidou antes. "---"

Vendo essa expressão, Shidou sentiu o coração bater ainda mais forte do que quando estava prestes a perder a vida.

Que cena estranha aquela.

Quem a garota era, ele não tinha a menor ideia. Quem as pessoas voando eram, ele também não tinha a menor ideia.

Entretanto, o fato de que a garota era mais forte do que aquelas pessoas voando, ele entendeu muito bem.

E é por isso que ele pensou vagamente na pergunta: Ela era a mais forte.

—Então porque estava fazendo aquela expressão?

"...Desapareçam, desapareçam. Tudo e todos... Simplesmente desapareçam...!"

Enquanto dizia isso, ela apontou a espada, que liberou um brilho tão misterioso quanto dos seus olhos, em direção ao céu.

Cansada, tristemente, ela ingenuamente balançou a espada. Em um instante— o vento uivou.

"...W-Wah...!"

Uma onda de choque atingiu a área e o golpe voou em direção ao céu, ao longo do caminho da lâmina.

As pessoas voando no ar correram para evitá-lo e saíram da posição.

Mas no outro momento, de uma direção diferente, um feixe de luz com uma potência tremenda foi disparado em direção á garota.

"...!"

Ele involuntariamente cobriu os olhos.

Como o esperado, o feixe de luz parecia ter batido em uma parede invisível no ar acima da garota e parou.

Como fogos de artifício explodindo no céu da noite, espalhou-se em todas as direções, brilhando lindamente.

Entretanto, como se o feixe de luz houvesse continuado, alguma coisa pousou atrás de Shidou.

"O-O que diabos está acontecendo..."

Desde um momento atrás, Shidou não tinha sido capaz de entender nada do que estava acontecendo.

Ele sentia como se estivesse assistindo á um pesadelo.

No entanto— ao ver a figura que tinha acabado de pousar, o corpo de Shidou enrijeceu.

Estava vestindo uma máquina, ou alguma coisa assim.

Coberta de cima a baixo com uma roupa estranha, estava uma garota.

Ela carregava propulsores gigantes nas costas, e uma arma em forma de um saco de golfe nas mãos.

A razão para o corpo de Shidou ter congelado era simples. Ele reconheceu a garota. "Tobiichi...Origami...?"

Murmurou o nome que Tonomachi falou para ele naquela manhã.

A garota com aparência excessivamente mecânica era sua colega Tobiichi Origami. Origami lançou um olhar para Shidou.

"Itsuka Shidou...?"

Como resposta, ela chamou o nome de Shidou.

Mesmo que estivesse surpresa, sua expressão não mudou. Entretanto, era apenas um pouco, mas sua voz carregava um tom perplexo.

"...Huh? O-O que há com essa roupa—?"

Ele nem percebeu que era uma pergunta estúpida, mas naquela hora já havia dito.

Oprimido por tudo que havia acontecido, ele não sabia nem com o que deveria se preocupar mais.

Entretanto, Tobiichi rapidamente desviou o olhar de Shidou, encarando a garota de vestido.

Depois de tudo, "-Fmph"

A garota balançou a espada do mesmo jeito de antes em direção á Origami.

Origami imediatamente pulou, esquivando da direção em que a espada foi balançada, e se aproximou da garota em uma velocidade incrível.

Da frente da arma na mão de Origami, uma lâmina feita de luz apareceu. Focando na garota, Origami balançou a arma para baixo com toda a força. "-ugh"

A garota uniu as sobrancelhas ligeiramente, interrompendo o golpe com a espada na mão.

—Nesse momento. Do ponto que a garota e Tobiichi cruzaram as espadas, um choque violento se formou.

"Wa-W-Waaaahhhhhhhh!?"

Com um grito lamentável, ele enrolou o corpo e de alguma forma, conseguiu resistir.

Origami foi repelida, e momentaneamente as duas foram separadas, encarando uma a outra com as armas equilibradas.

"..."

"..."

Imprensando Shidou, os olhares cortantes da garota misteriosa e de Origami se misturaram.

Aquela realmente podia ser chamada de uma situação crítica. Elas estavam num estado em que parecia que qualquer gatilho faria a luta retomar imediatamente.

"..."

Shidou, por outro lado, estava se sentindo desconfortável.

Com o suor se formando na sua testa e com o pensamento de que precisava sair daquele lugar, ele lentamente arrastou o corpo horizontalmente pelo chão.

Contudo, nesse momento, o celular dentro do seu bolso subitamente começou a tocar com uma melodia brilhante.

"——!"

"——!"

Isso se tornou um sinal.

A garota e Origami pularam do chão exatamente ao mesmo tempo, colidindo na frente de Shidou.

"Gyaaaaah!"

Diante da pressão do vento esmagadora, Shidou foi impiedosamente jogado e desmaiou após bater na parede.

***

Parte 3

“—Qual a situação?"

Usando uma blusa e um uniforme militar vermelho pendurado nos ombros como um manto, uma jovem entrou na ponte e fez a pergunta.

"Comandante."

O sujeito esperando ao lado do assento do capitão deu uma saudação tão perfeita quanto se aquilo fosse um livro militar.

A garota que havia sido chamada de comandante apenas deu um aceno, e então chutou os pés do cara.

"Oww"

"Pule as saudações e explique a situação."

Enquanto dizia para o sujeito que estava angustiado, ou melhor, com uma expressão extasiada, ela sentou no assento do capitão.

O sujeito se endireitou imediatamente.

"Sim. O ataque começou assim que o 'espírito' apareceu."

"AST?"

"Parece que sim.” AST, Anti Spirit Team.

Usando armaduras mecânicas para caçar espíritos, capturar espíritos, matar espíritos; acima dos humanos, mas não exatamente ao nível de monstros; são tipo magos modernos.

Em outras palavras— a realidade é que mesmo estando em um nível sobre-humano, não era o suficiente para competir seriamente com os espíritos.

O poder dos espíritos era de uma magnitude diferente.

"—Nós confirmamos dez pessoas. Nesse momento eles estão seguindo um, que está envolvido numa batalha."

"Mostre-me as imagens."

Com a ordem do comandante, imagens em tempo real apareceram no grande monitor da ponte.

Em uma estrada larga em torno de duas quadras do centro, duas garotas lutando enquanto moviam armas enormes ao redor, apareceram.

Com o choque das armas, explosões de luz escaparam, o chão rachou, e prédios desabaram. Era difícil imaginar que aquela cena era parte da realidade.

"Ela é realmente boa. Mas, bem, com um espírito como oponente provavelmente não poderá fazer nada."

"É o que você diz, mas também é verdade que nós também não podemos fazer nada." "..."

A comandante levantou o pé e com a ponta da bota, pisou no pé do sujeito. "Guhgii!"

Ignorando o sujeito que estava fazendo uma cara extremamente feliz, a comandante suspirou silenciosamente.

"Eu entendo isso mesmo sem você precisar me dizer. Eu também estou cansada de só poder assistir."

"Então, o que você está tentando dizer é..."

"Sim. Finalmente a Mesa Redonda deu seu consentimento. O plano está começando agora."

Com essas palavras, o som dos membros da tripulação na ponte engolindo a respiração pôde ser ouvido.

"Kannazuki."

A comandante inclinou-se levemente para trás no assento, e levantou a mão direita com o segundo e o terceiro dedo mantidos em linha reta. Era como se ela estivesse pedindo por um cigarro.

"Sim, senhor."

O rapaz ligeiramente alcançou o bolso e pegou um pirulito. E rapidamente, mas cuidadosamente, removeu a embalagem.

Então, ajoelhou-se ao lado da comandante e disse "por favor, aproveite" enquanto colocava o pirulito entre os dedos da comandante.

A comandante pôs o pirulito na boca, que começou a mover-se para cima e para baixo.

"...Ahh, agora que eu lembrei, cadê a nossa importante 'arma secreta'? Ele não atende o telefone. Imagino se foi adequadamente para um abrigo?"

"Deixe-me investigar— e, huh?" O rapaz virou a cabeça, perplexo. "O que foi?"

"Bem, isso."

O rapaz apontou para a foto. A comandante moveu seu olhar para lá— "ah", fez um breve som.

Do outro lado da batalha entre o espírito e o membro da AST, um garoto vestindo um uniforme escolar estava espalhado.

"... Na hora certa. Vá verificar isso." 

"Entendido."

O sujeito deu outra reverência de cortesia.


Nota:

1 – É uma empresa que tem esse logo aqui: 



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