Demon And Human Brasileira

Autor(a): The_Mask

Revisão: Alluna Idle


Volume 1

Capítulo 15: Não tem como resumir guerras

Era uma tarefa árdua caminhar naquela floresta. Não por causa do terreno ou do cansaço, mas sim porque Lira se recusava a olhar para frente. Não conseguia olhar nos ombros do “Homem-demônio” à sua frente da mesma maneira que antes. O medo lhe assolava.

Ela e Philip saíram de casa depois daquela confusão. Ele deixou uma carta para Merlin, que Lira não quis ler. Durante todo o caminho eles não conversaram, sequer trocaram olhares.

Philip tinha tristeza estampada em seu rosto. Nunca imaginou que aquela sua expressão voltaria algum dia e definitivamente não queria que alguém a visse de novo, ainda mais uma criança que acabara de perder seus pais. 

Ele parou abruptamente e Lira bateu em suas costas. Ela caiu no chão e estava prestes a reclamar com Philip, quando lembrou daquela expressão. Não conseguiria olhar para ele, mesmo se quisesse.

“Logo estaremos na clareira.” Philip comentou, tentando disfarçar a ansiedade na voz. Voltou a caminhar e ela se apressou para acompanhá-lo 

Talvez eu deva pegar mais leve. Ela pensou. Novamente tentou olhar para ele, mas a memória daquela cena a impediu.

Tempo depois, chegaram na mesma clareira do primeiro dia do treino de Lira. Philip soltou os equipamentos no chão e começou a organizá-los.

Lira fez o mesmo com os seus itens. Diferente da primeira vez, ela não estava com uma bolsa tão pesada, trouxe poucas coisas. 

Os itens mais importantes eram: uma faca, um fio de nylon, alguns pedaços de arame, sílex e algumas mudas de roupa. Mesmo que não pudesse sobreviver como da última vez, queria poder se trocar a qualquer momento.

Quando terminou de arrumar suas coisas, começou a pensar como sobreviveria nos próximos três dias.

“Lira, vou caçar." Ela se arrepiou ao ouvir aquilo. “Já volto.” Philip levou seus equipamentos e foi embora sem se virar.

Ela suspirou de alívio. Ficou surpresa com o quão amedrontada estava, talvez não conseguisse superar aquele olhar tão cedo.

“Acho que vou pensar melhor agora.” Falou consigo mesma, e voltou a pensar em um plano de sobrevivência. Por um tempo, não veio nada, até que olhou para seus equipamentos.

Ela viu uma oportunidade naqueles pedaços de arame.

Armadilhas. Pensou.

Do pouco que sabia, ela tinha certeza sobre uma coisa em relação a armadilhas: se quiser pegar alguma coisa, precisa colocá-la próximo de onde a presa passa.

Ela procurou por qualquer vestígio de animais pela floresta. Fosse fezes, pegadas ou galhos quebrados. Qualquer coisa serviria. Qualquer coisa era um sinal de que algo passaria ali mais tarde.

 O primeiro rastro que encontrou foi um arbusto cheio de frutas. Havia algumas sobras, fezes e pegadas no chão.

Parece até armado. Pensou enquanto ria de sua sorte.

Armou uma armadilha simples. Qualquer criatura menor que um esquilo ficaria presa no fio de nylon e sufocaria até a morte. Pensar desse jeito, no entanto, fazia Lira se achar a vilã da história. 

São eles ou eu. Admitiu para si mesma.

Armou outras duas mais tarde. Uma para criaturas um pouco maiores que coelhos e outra para porcos selvagens.

Voltou para a clareira com os dedos doloridos e sangrando. Na armadilha para porcos, teve que usar o arame farpado e se furou algumas vezes, mas não reclamava. Pelo contrário, tinha um sorriso orgulhoso no rosto.

“Alguém parece feliz com os resultados.” Philip comentou. Ele já havia retornado ao acampamento e carregava consigo os cadáveres de 3 coelhos. Lira não conseguia ver como eles haviam morrido.

“Coloquei armadilhas.” Ela tentava evitar contato visual. Também tentou não pensar nos três cadáveres na mão de Philip. Rapidamente foi até sua mochila para guardar as coisas que havia usado, ficando de costas para ele.

“Sério? Que bom. Aliás, não olhe para cá.” Philip comentou.

Ela, por curiosidade, olhou e se arrependeu. Philip agarrou o rabo do coelho morto e deu um único puxão, arrancando a pele. Foi rápido, mas horroroso de se ver. Sentiu o café da manhã subir pela garganta e quase sair.

“Falei para não virar.” Philip riu. Para caçadores, aquilo era normal, mas para ela, que nunca viu algo do tipo, foi horrendo. Principalmente depois de similar aquilo com o olhar de antes.

“Escute, isso é algo normal.” Ele tentou se explicar depois de ter visto a reação dela. “Me desculpe.”

Enquanto Philip se desculpava, um tremor passou várias vezes pelo chão em um curto espaço de tempo, e ficava mais forte a cada segundo.

“Tem algo vindo.” Philip disse.

“O que tá acontecendo, Philip?” Lira perguntou, foi o único momento que se virou para ele. Ignorou seus sentimentos e o olhou com medo e apreensão.

“Eu não sei.” Ele então olhou horrorizado para Lira. Não, não foi para ela. Foi para algo atrás dela. “LIRA, ABAIXA!”

O primeiro pensamento de Lira não foi abaixar, mas sim olhar para trás. Viu mais adentro da floresta, longe dela, uma enorme silhueta vermelha que vinha rapidamente. Quanto mais perto chegava, mais parecia crescer. Aquela coisa pulou em sua direção.

Um estrondo alto veio de trás de Lira, seguido de escamas quebrando e algo acertando no olho da criatura, fazendo-a cambalear antes de tombar na direção da garota.

Ela foi puxada pelo colarinho da camisa e antes que percebesse estava atrás de Philip, vendo a criatura gigantesca agonizando. Ela estava se debatendo e se fosse uma situação diferente, daria para dizer que era magnífica.

Três ou quatro vezes maior que um búfalo, aquela coisa possuía escamas rochosas por todo o corpo. Sua cabeça tinha um formato meio triangular e dois chifres saindo do que seria a base do triângulo.

O corpo era bem semelhante ao de um lagarto, mas fazia lembrar bem ao de uma salamandra. Era vermelho sangue com várias manchas pretas. 

Sua cauda não perdia em nada para o resto do corpo, talvez tivesse até o mesmo tamanho.

“Kaijin.” Philip estava apreensivo. “Achei que eles não passassem mais por aqui.” 

Ele colocou a mão na frente de Lira, deixando-a o tempo todo atrás dele. Sua mão não mostrava qualquer sinal de hesitação ou medo, muito menos sua voz ou postura. Estava pronto para qualquer coisa que viesse pela frente.

O kaijin não avançou contra eles, mas procurava uma abertura.

“Está irritado.” Philip começou a murmurar enquanto observava o kaijin. “E ferido.” Com a outra mão, ele apontou para a perna da criatura.

Sua perna dianteira esquerda estava circundada por um pedaço grande de arame e sangrava muito. Além disso, também havia o ferimento que Philip fez quando disparou no olho do kaijn.

“Lira, qual foi o tamanho da maior armadilha que colocou?” Ele não tirou os olhos da criatura. 

O kaijin, por outro lado, começou a circulá-los. Philip ficou de frente olhando-o nos olhos e Lira continuou na proteção de sua mão.

“Fiz uma para matar porcos selvagens.” 

“Aquela perna parece ter o mesmo diâmetro do corpo de um porco.” Lira então percebeu o que havia acontecido. “Você pegou um peixe grande demais para a sua vara e agora o tubarão tá te caçando.”

O kaijin soltou um rugido que arranhou os ouvidos dos dois.

“Ok, desculpa. O que a gente faz?” Ela perguntou, desesperada.

“Vai ser difícil vencê-lo sozinho.” Philip fechou a mão em um punho, parecia irritado. “Se ao menos estivesse com a minha espada.”

Ouvindo aquilo, Lira se virou na direção da bolsa do Philip. Uma bainha marrom de couro repousava ao lado dos equipamentos dele. 

Talvez se eu... 

Lira olhou uma última vez para o kaijin. Aquela coisa olhava fixamente para ela e acima de tudo, queria matá-la.

“Philip.”

“O quê?” 

“Me dê cobertura.” Então ela correu. Ambos, tanto a criatura quanto Philip, se surpreenderam, mas não ficaram assim por muito tempo.

O kaijin saltou por cima do Philip, indo para cima dela. Ela reagiu a tempo e esquivou-se para o lado com uma cambalhota.

Philip, o mais rápido que pôde, aproximou-se da cabeça da criatura e disparou na mesma ferida que havia causado antes. O kaijin gritou em agonia. Lira voltou a correr para a bolsa, dando as costas para a briga dos dois.

Quando chegou lá, a primeira coisa que fez foi tirar a espada da bainha. Não tinha grandes adornos, nem enfeites complexos. Era simples ao ponto de parecer uma arma de padrão militar.

Quando se virou para jogar a espada para Philip, viu os dois em um impasse.

Philip estava estirado no chão com o kaijin em cima dele, o tempo todo a criatura atacava e ele se esquivava. 

Tentava acertar a ferida no olho sempre que a cabeça se aproximava, mas sua posição desfavorável o fazia errar.

“Philip!” Lira gritou sem perceber.

O kaijin parou no meio de um movimento e se virou para ela lentamente. Philip aproveitou e atirou na criatura, mas as escamas bloquearam completamente a bala. O monstro começou a andar lentamente na direção de Lira, brincando com ela.

Cambaleou para trás, com medo. Tentou erguer a lâmina contra o kaijin, mas estava tremendo e a ponta da espada não queria parar no mesmo lugar.

“Se concentre, Lira!” Philip gritou. Só agora Lira percebeu que a cauda do kaijin forçava Philip contra o chão. “Ele está te subestimando! Eu te treinei, menina, você é mais do que capaz! MIRE NO OLHO!”

Ela engoliu em seco e respirou fundo. Fechou os olhos, não se importando com o perigo em sua frente e deixou sua mente em branco. Vagou sem perceber pelas suas memórias, até chegar no começo de tudo. 

“Fique junto das suas irmãs que eu vou daqui a pouco, okay?”

“Você não entende, Lira!” 

“...ela não passou pelo que nós passamos.”

Eu não sou mais como era naquele dia. Sou capaz... Tenho certeza!

Quando abriu os olhos, o kaijin estava quase em cima dela, prestes a atacá-la. Esquivou-se com um rolamento e, sem hesitar, avançou com uma estocada na ferida que Philip havia feito antes.

A espada entrou sem grandes dificuldades e o kaijin deu um grito estridente de dor. 

Ele ficou ereto nas patas traseiras, levantando Lira para o alto. O monstro tentava tirar a espada da ferida, mas quanto mais se mexia, mais a ferida piorava.

Enquanto se debatia, já tinha esquecido de Philip. Ele, portanto, levantou-se o mais rápido que conseguiu e foi correndo para ajudá-la.

“Solte-se, Lira!” Ele gritou.

Dito e feito. Lira largou a espada e caiu no chão. Ralou as mãos no processo, mas isso não era nada no momento.

Os dois se afastaram do kaijin enquanto ele se debatia tentando arrancar a espada.  Estavam feridos, cansados e arfavam sem parar, mas ainda não havia acabado.

“Ou matamos essa coisa...” Philip comentou tentando recuperar o fôlego. “Ou ela mata a gente!”

Foi nesse momento que o kaijin tombou para trás, o baque foi tão forte e fez muita poeira se erguer. Ele não estava morto, mas sua respiração estava lenta e fora de ritmo.

A tensão do ambiente diminuiu aos poucos. O kaijin ainda estava vivo, mas parecia estar cansado de lutar. Philip, com seu revólver em mãos, caminhou e subiu em cima da criatura.

Olhando-a nos olhos, a criatura parecia cansada. Vendo agora, ela carregava várias cicatrizes nas escamas. Era um kaijin que já vivia há muito tempo e que passou por muitas coisas.

A barriga de um kaijin era a parte com menos escamas, ficando quase completamente aberta. Era a única forma de matá-lo facilmente.

Philip puxou o cão do revólver e mirou onde seria o coração.

“Aos olhos de Deus, você é uma mera formiga digna de piedade.” Falou, com a voz carregada de luto e lamentação. “Aos meus olhos, você é alguém que passou por muita coisa e que estava cansado. Sinto muito por ter que fazer isso, mas pelo menos, agora sua alma estará livre.” Colocou o dedo no gatilho e respirou fundo. “Libereco.” Disparou.

A bala atravessou o coração sem grandes dificuldades e o kaijin nos instantes seguintes deixou de respirar. Morreu com um tiro no peito e uma espada fincada no seu olho.

“Droga.” Philip reclamou. “Se pelo menos fosse uma luta justa.” Se distanciou do cadáver da criatura. Tinha um semblante triste e fúnebre.

“É só um kaijin.” Lira disse, sem perceber.

“Um kaijin é uma vida...” Philip falou. Parecia impassível com o comentário dela, mas um toque de irritação estava na sua voz. “Assim como um demônio, assim como eu e assim como você.” Caminhou até a espada fincada no olho do kaijin e a arrancou. O sangue na lâmina a tornava amedrontadora. “Todos sangramos, no fim das contas.”

Philip balançou a espada, retirando o sangue. Foi buscar sua bainha e guardou a arma de volta na bolsa conforme a garota o observava.

Parecia preocupado... atordoado... triste... aparentava estar muitas coisas, mas não estava bem. Definitivamente.

“Philip...” Lira soou preocupada quando disse. “Como é a guerra?”

Ele ficou parado por alguns instantes, parecia relutante em responder aquilo. Mesmo assim, se virou e, tentando manter um olhar impassível, respondeu.

“Não dá pra resumir guerras, Lira.” Respondeu enfim. “É horrível, pode ter certeza. O sangue de inocentes se misturava com a terra tantas vezes quanto o número de balanços dessa espada.” Apontou para a bainha perto da bolsa.

Lira entendia isso, mas sempre parecia haver mais. Algo além disso tudo. Além de uma simples culpa. Ela ainda estava curiosa sobre algo.

“O que aconteceu com a Merlin?” Perguntou, temendo que o olhar voltasse à tona.

Philip apertou a mão em um punho firme. Parecia prestes a socar algo, mas não mostrou aquele olhar demoníaco.

“Sono manático.” Respondeu, relutantemente. 

Foi uma resposta curta, que ela não entendeu, então não estava satisfeita. Pensou em perguntar mais coisas, mas vendo a situação do seu mestre, decidiu não insistir.

O tempo passou rápido depois disso. A penumbra chegou, mostrando o quanto aquele dia foi agitado. 

Philip começou a ajeitar a fogueira para a noite fria e Lira arrumou as coisas dos dois. Nesse meio tempo, eles trocaram poucas palavras ou olhares.

Lira pegou os coelhos que Philip havia caçado e os colocou para assar perto da fogueira. Teve um pouco de nojo de pegar nos cadáveres sem pele daqueles pobres bichinhos, mas com um pouco de relutância começou a vê-los assarem lentamente enquanto sua fome aumentava.

“Isso vai demorar muito?” Perguntou, salivando enquanto observava o coelho assando na fogueira.

“Acho que não.” Philip disse. Ele se sentou no chão enquanto olhava para o céu que transitava entre a penumbra e a noite. “Vai ser uma noite cheia de estrelas.”

“Aham...” Falou, sem prestar muita atenção, olhava apenas para aquele coelho escorrendo gordura e sangue. “Com certeza.”

O tempo passou de novo. Philip ficou deitado na grama enquanto Lira ficou olhando o coelho assar. Quando ele ficou pronto, a noite já havia caído. 

Ela devorava o seu rapidamente, saciando sua fome na mesma velocidade. Philip, no entanto, aproveitava cada pedaço com calma. Ele parecia... Pensativo? ... Preocupado? Era difícil dizer, mas algo o incomodava. 

Lira percebeu isso.

“O que aconteceu?” Perguntou, de boca cheia.

“Nada.” Falou, abrindo um sorriso forçado e tentando disfarçar. “Só estava me lembrando de algo.”

“Da guerra?” Perguntou sem pensar e se arrependeu no mesmo instante.

“Sim.” 

Aquela resposta quebrou as expectativas dela, esperava algo mais agressivo ou evasivo, no mínimo. Um silêncio desconfortável veio em seguida, e nenhum dos dois sabia como continuar a conversa.

“Philip, há quanto tempo saiu do exército?” Lira perguntou e se sentiu desconfortável.

“Quinze anos.”

“Nossa, parece um bom tempo. E se mudou para cá assim que saiu?” Tentava ao máximo não fazer aquilo soar um interrogatório, uma invasão de privacidade ou uma tentativa desesperada de puxar assunto.

“Não, tenho essa fazenda há treza anos. Era do meu pai, mas nunca a usei.” 

“Era difícil trabalhar junto com a Merlin?”

“A Merlin não veio junto comigo.”

“Não?” Lira se surpreendeu.

“Ela não abandonou o exército como eu...” Deu um longo suspiro e hesitou um pouco antes de continuar. “Foi obrigada a fazer isso.”

Lira agora estava totalmente curiosa sobre aquilo.

“O que aconteceu?”

“Ela lutou mais do que aguentava.” Foi o máximo que Philip conseguiu dizer. E esse máximo irritou Lira.

“Só isso que vai dizer?”

“Merlin é uma maga, que sofre de sono manático.” Philip respondeu impacientemente. “Imaginei que a situação já estaria óbvia. Bem, a Merlin veio faz uns sete anos. Pela situação dela, mal consegue fazer um esforço que quase desmaia de sono.”

“De sono?”

“De sono.”

Lira ficou completamente confusa, mas Philip não continuou e pareceu ficar deprimido. Ela não se aprofundou mais naquilo.

“Esse coelho ficou bom, não?” Perguntou, tentando mudar o assunto.

“Teria ficado melhor se eu tivesse trazido algum tempero.” Ele se espreguiçou e olhou para cima no processo. “Uau!” Disse admirado.

Ela seguiu seu olhar, e viu que o céu parecia uma pintura. 

Dezenas de milhares de estrelas cintilavam nas centenas de constelações. Umas brilhavam como uma vela num quarto escuro, outras como se fossem uma explosão numa noite silenciosa. 

Os padrões de constelação formavam rastros e mais rastros de estrelas, tão lindos de se ver que quase cegavam Lira.

Era uma visão digna para canções de sereia.

“Isso...” Lira estava sem palavras.

Philip deitou-se na grama para admirar aquilo e ela foi logo atrás. Os dois ficaram em um silêncio confortável enquanto observavam aquele céu que talvez fosse a coisa mais próxima do paraíso.

“Isso me lembra de quando eu vim pra cá.” Philip comentou. “Não gostava de ficar em casa. Vinha para essa floresta toda noite e admirava esse céu. Parece não ter mudado nada.”

De repente, uma das diversas estrelas começou a se mover. Brilhava tão forte quanto as outras, mas se destacava pelo seu brilho vermelho. Lira abriu um sorriso infantil, enquanto Philip olhou encucado com aquilo.

“Uma estrela cadente!” Lira gritou. Philip não teve a mesma empolgação.

“Definitivamente não é uma estrela cadente. Seria mais rápida.” Comentou. “É um meteorito...”

“O quê? Sério?” Lira não parecia acreditar.

“Não sei, talvez seja outra coisa, mas definitivamente não é uma estrela cadente.”

O brilho dela começou a se afastar no horizonte, até se perder da vista dos dois. Foi nesse momento que Philip deu um longo bocejo.

“Estou exausto, acho que vou dormir. Boa noite, Lira.”

“Boa noite.” Falou sem prestar muita atenção. Ela ainda olhava para onde a “estrela cadente” havia caído.

Quase esqueci. Pensou exacerbada. Cruzou as mãos e murmurou algo para aquela “estrela cadente”.

“Quero que a Merlin melhore!” Desejou.

Descruzou as mãos e foi dormir com um sorriso infantil no rosto.  

Pela primeira vez em vários dias, seus sonhos foram calmos e isso continuou até os próximos três dias.

 



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