Demon And Human Brasileira

Autor(a): The_Mask

Revisão: Hide


Volume 1

Capítulo 32: Primeiro dia

Era barulhento… 

Havia gritos para todos os lados, assim como aplausos, assobios e urros de comemoração. Toda a plateia estava festejando o começo de uma nova era. Uma leva inteira de novos discípulos havia chegado, e eles só podiam comemorar numa hora dessas. No entanto, não era somente eles que festejavam.

Os mestres abraçavam e parabenizavam seus discípulos por esse novo começo. Todos tinham largos sorrisos no rosto. Alguns choravam; outros gritavam para a plateia. 

Mas Arnok… Ele olhava para os lados, confuso e incrédulo.

Incrédulo consigo mesmo, por não sentir nada além de um vazio quase impassível. E confuso por não saber como se portar. Ele de repente sentiu uma pancada forte nas costas e se virou para ver quem foi o sujeito que fez aquilo. 

“Grande dia, em?!” Ilja comentou com um sorriso que se contrastava com sua pele negra. 

“É…” Arnok disse inseguro e forçando um sorriso. Ilja não aparentava ter percebido os sentimentos de seu amigo, mas ele se aproximou e jogou seu braço por cima dos seus ombros.

“Como acha que vai ser daqui pra frente, em?” Ele perguntou, parecia estar se divertindo com tudo aquilo. 

“Eu não sei… Só espero ficar mais forte.” Murmurou para si mesmo.

“O quê?” Ilja perguntou, pensando ter ouvido Arnok dizer algo. De repente, um estalo tão alto quanto uma explosão surgiu, atraindo a atenção de todos, suscitando em um silêncio repentino.

“Hoje é um grande momento na vida de nossos discípulos…” Malar falou subitamente, com sua voz aprimorada magicamente. “No entanto, não somente para eles que começam as aulas.”

Ele deu um sinal por trás da cabeça e enquanto caminhava alguns passos à frente e destacava-se do grupo, os demais Anciões ajeitaram os discípulos na mesma fila de antes. Atrás deles, todos os demônios de sangue azul começaram a se retirar da arena, sem dizer mais nada. 

“Não é somente um dia para apresentarmos nossos discípulos, mas também as respectivas salas que eles serão representantes.” Malar deu uma breve pausa conforme olhou para a platéia e viu seu silêncio quase hipnótico. “Vocês, novos alunos do primeiro ano! Em suas cartas de aprovação está a sala que você estudará por toda sua vida nessa academia.”

Malar calou-se mais uma vez e se aproximou do discípulo mais distante pelo lado direito da fila.

“Quando eu disser seus números, retirem-se da arena e dirijam-se para suas salas.” Ele levantou a mão da primeira discípula, uma Demonkin do tipo vermelho. “Número um!” Gritou.

Então, onze pessoas na parte mais baixa da arquibancada se levantaram e começaram a sair da arena. Logo depois disso, a demonkin junto de sua mestra, Visina, também saíram de cena. 

Malar andou até o segundo aluno, um feline de roupas engomadas e coladas no seu corpo, discípulo de Querap.

“Número dois!” 

O mesmo se repetiu, onze alunos na arquibancada saíram de cena, sendo seguidos por Querap e seu discípulo. 

Se continuar assim, eu serei o sétimo…” Arnok pensou, olhando de relance para a direita. 

O terceiro foi um sujeito alto de pele parda, que Arnok não soube dizer ao certo sua raça, mas viu que suas orelhas eram longas e pontudas. Algo que ele raramente via entre as raças que ele conhecia. 

O quarto era um Homalupo de pêlo negro como carvão. Seu mestre, Artuno, tinha um sorriso arrogante no rosto e saiu da arena acenando para as pessoas na plateia. 

A quinta, uma Feline com uma aparência infantil, que não combinava com os outros discípulos ao seu redor, saiu da arena acompanhada de um Ancião com longas asas de borboleta que Arnok desconhecia o nome.

Em sexto estava Ilja. Ele saiu da arena desacompanhado de seu mestre, já que Malar estava ocupado designando os discípulos.

Quando ele ficou de frente para Arnok, Malar deixou um sorriso de canto de olho aparecer. A mão do discípulo de Hiotum foi erguida e Malar inspirou antes de gritar.

“Número sete!”

Arnok sentiu todos os olhares da plateia recair sobre ele mais uma vez. Prendeu a respiração por um momento, sentindo um suor escorrer por suas costas. 

Quando Hiotum começou a se afastar, Arnok logo seguiu no encalço de seu mestre e suas costas começaram a queimar com os olhares de ameaça. Não sabia dizer se eles eram reais ou não, tudo o que sabia é que deveria suportá-los. 

À frente deles dois, um grupo de onze alunos se formou. Havia alguns sujeitos engomados, filhos de famílias nobres que ingressaram após uma "recomendação" da família.

Em meio a esse grupo, estavam duas figuras conhecidas por Arnok. Por alguma coincidência incrível, Kaesar e Vincent estavam na mesma classe que ele. 

Ele deu um aceno de cabeça para ambos, e eles retribuíram da mesma forma. 

“Muito bem!” Hiotum disse animado para os alunos à sua frente. “Logo estaremos na sala do primeiro ano. Decorem o caminho, não estarei aqui sempre para guiá-los para lá.”

“Entendido!” Todos os alunos gritaram em uníssono, exceto por Arnok. Ele na realidade se assustou com a formalidade que eles tinham com Hiotum. Às vezes se esquecia da posição de seu mestre. 

Quando chegaram ao prédio principal da universidade, passaram por inúmeros corredores até de fato chegarem na sala do primeiro ano. 

Levou algum tempo, mas ali estavam eles. Era uma sala relativamente grande para doze pessoas, semelhante a um anfiteatro, mas incrivelmente menor e espaçado. As cadeiras eram embutidas às mesas e ao chão, enquanto todas elas estavam viradas para alguns metros abaixo. Hiotum se dirigiu ao centro do anfiteatro, enquanto os alunos andaram até seus devidos lugares, já separados pela sorte e o gosto de cada um. 

Olhando para cada um dos alunos, Hiotum esperou eles se ajeitarem em suas cadeiras, enquanto tirava do bolso um giz numa cor indefinida. Respirou fundo uma vez, e então mais uma. Até que finalmente começou a falar, quando a atenção de todos estava sobre ele. 

“Farei uma pergunta simples para um de vocês…” Ele se virou para a parede e escreveu no ar com o giz, deixando para trás um traçado tão límpido e claro quanto a escrita convencional. “O que é magia… Sariah?” Disse apontando para uma das alunas. 

Uma feline com olhos largos demais e um corpo magro, porém definido, se levantou de sua cadeira e manteve uma expressão séria enquanto dizia:

“Magia é a reação da mana em larga ou pequena escala.” Disse confiante, mas sem demonstrá-la. Esperou Hiotum permitir que descansasse, e assim ele o fez. 

“De maneira simples e resumida, está completamente correta, Sariah.” Ele comentou. “No entanto, a magia é muito mais do que isso. Se olharmos somente a teoria, poderíamos envolver filosofia, ciências exatas, humanas e religiosas que não chegaríamos a uma resposta certeira. Tudo piora ainda mais se olharmos a prática.” 

Por mais que dissesse algo um tanto decepcionante para os alunos, ele ainda mantinha um sorriso largo no rosto. Parecia se divertir em explicar aquilo. 

“Mas ainda assim, temos noção de uma coisa em comum para a magia. Não há magia se não houver uma reação, e não há reação se não existir mana na equação. E com isso, faço minha segunda pergunta…” Deu uma pausa em sua fala enquanto procurava por algum aluno distraído, e por mero azar, Arnok era esse sujeito. “Arnok, o que é mana?”

Quando ouviu seu nome ele se levantou da sua cadeira. Não agiu tão rápido ou sério como Sariah, mas não foi desrespeitoso. 

“Explicação simples, ou complexa?” Respondeu a pergunta com outra pergunta. 

“Qual você preferir.” 

“...” Ficou por um breve momento em silêncio enquanto pensava com exatidão em sua resposta. Foi então que se decidiu, iria partir para a melhor resposta possível. “De maneira simples, a mana é uma energia divida em dois tipos. A interna, dos seres vivos, e a externa, para os avivos. Chamados assim, por existirem exceções no conceito de ‘vivo’.”

“Correto!” Hiotum o parabenizou. “E a complexa?” Completou ao perceber que seu discípulo não deu sinal de que aquilo era uma resposta definitiva. 

“Mas, de maneira complexa, a mana pode se assemelhar a conceitos muito maiores que somente ‘energia’.” Repetiu as palavras do livro que havia lido há algumas semanas na carruagem de Hiotum. “Nos cansamos rapidamente quanto mais mana consumimos, e isso tem haver também com a concentração que os dois tipos de mana geram no ambiente.” 

Deu uma breve pausa, ao sentir a atenção de todos os alunos sobre si. Não conseguiu esconder sua hesitação, no entanto, não demonstraria mais do que isso. Com o pesar dos olhares de ameaça, fossem eles reais ou não, Arnok continuou.

“A mana externa por basicamente habitar o ambiente aberto, sem algum tipo de matéria para prendê-la, ou segurá-la. Ela extremamente mal concentrada e sozinha é incapaz de produzir grandes coisas. Contudo, a mana interna é concentrada ao nível de um espaço ínfimo conter a mesma quantidade de poder de reação que um amplo espaço de mana externa, como essa sala se for comparada aos nossos corpos. A reação, em diferentes concentrações, gera diferentes magias.” 

Depois de todo o falatório, ele finalmente havia finalizado sua linha de raciocínio e sentou-se de volta na cadeira. Seu mestre bateu algumas palmas breves e continuou sua aula.

“Corretíssimo Arnok, e para complementar. É justamente por essa concentração em diferentes níveis que existem os animais modificados pela mana, ou também conhecidos como criaturas de mana. Com isso abrangemos o básico sobre magia e mana. Porém, tem uma pergunta que quero fazer a todos vocês. Por que entoamentos e conjurações facilitam o uso da magia, se ela depende apenas da reação da mana?”

Um silêncio apossou-se da sala. Ninguém arriscou responder a pergunta, nenhum deles sabia ao certo a resposta. Nem Arnok havia lido algo sobre isso. 

“Ninguém?” Hiotum perguntou, caçoando. “Bem, isso é muito mais abrangente que o conceito de mana ou magia. Mas… tudo tem haver com a experiência e a mente.”

Todos pareciam ficar ainda mais confusos com aquilo.

“Os entoamentos não possuem nenhuma relação com a reação em si. São uma figura de linguagem, ou direcionamento através das palavras, criado há muito tempo para facilitar no desenvolvimento e manipulação da magia. O fato é que as palavras influenciam a mente, e portanto, influenciam o controle sobre a magia.” 

Enquanto disse tudo isso, ele escreveu palavras chaves na lousa. Como mente, experiências, entoamentos, controle e facilitar. Alguns olhares entre os alunos já demonstravam compreensão, outros pareciam ainda mais confusos.

“Acho que na prática fará mais sentido. Quantos alunos aqui tem afinidade com o fogo?” Ele perguntou e oito alunos, incluindo Arnok, ergueram suas mãos. “Muito bem… Quero que todos vocês pensem em uma flecha e criem usando sua magia quando eu disser três.” 

Eles todos se prepararam e já estavam em posição para criar a flecha. Arnok, no entanto, ficou inseguro por um momento. Ele nunca havia manipulado o formato de suas chamas, então não sabia exatamente como se sairia. 

“Três!” Hiotum repentinamente gritou. Todos se assustaram com aquilo, mas ao mesmo tempo perceberam o que tinham de fazer. Todos criaram flechas semelhantes, mas todos tinham problemas. 

Para uns, faltavam as penas. Com outros, ela era pequena demais, quase um dardo de bar. O oposto também aconteceu, criando não uma flecha de fogo, mas sim um arpão de fogo.

Arnok não chegou perto de fazer algo assim. Havia apenas uma bola de fogo em suas mãos que tentava se assemelhar a um cone.

“Exatamente o resultado que eu queria.” Hiotum comemorou. “Temos diversas coisas aqui, mas poucas que se encaixem no conceito de flecha. Elas ainda são usadas como uma, obviamente. Mas quanta mana vocês acham que o garoto que fez um arpão gastou?”

A turma riu do comentário, e os usuários de fogo dispersaram suas magias. Arnok fez o mesmo depois de hesitar novamente, não sabendo ao certo como dispersar o fogo em suas mãos. 

“É aqui que as coisas ficam interessantes. Quando digo que a magia tem mais haver com sua experiência com ela, do que com a mana, é por causa disso.” 

As mãos de Hiotum de repente brilharam em azul, até que o brilho se transformou em eletricidade. Ele a manipulou como uma maestria quase artística, e aos poucos a instável e mutável energia em suas mãos ganhou a forma de uma flecha. Ela tinha uma forma tão semelhante e realista que parecia ser palpável. 

“Usei magia pela primeira vez com 9 anos, e desde então tenho a exercitado e a transformado nisso. A experiência cria o saber, e o saber cria a capacidade de fazer coisas como essa.” Com um balançar de mãos, toda a energia se dispersou num piscar de olhos. Só então, Arnok percebeu que estava boquiaberto. “Os entoamentos são um substituto temporário para a experiência. Com isso dito, quero que tenham em mente algumas coisas quando criarem mais uma vez a flecha.”

Ele se virou para o “quadro” e começou a escrever algo semelhante a uma lista. O primeiro item era o tamanho, o segundo era o formato e o último era o gasto. 

“Pensem no gasto como a concentração de mana que está entrando na flecha. Vocês vão colocar cada um desses conceitos em suas cabeças. Podem murmurar-los como mantras, se preferirem. Mas o essencial é criar uma flecha semelhante a uma real, seja em tamanho ou formato. E nunca, lembrem-se, nunca ignorem o gasto.” Deu ênfase nisso. “Comecem!”

E assim se fez. Alguns alunos já tentaram criar uma flecha logo de cara e cometeram erros semelhantes aos de antes. O resto aguardou e fixaram em suas mentes os conceitos ditos por Hiotum.

Arnok fez a mesma coisa. Seus pensamentos se tornaram murmúrios e sequer percebeu quando suas mãos começaram a faiscar. As faíscas aumentaram e se tornaram chamas de fato, essas começaram a tomar forma e se afinarem como um cilindro. 

Uma nova chama surgiu e ela formou a ponta da flecha, ficando num formato triangular. A ponta traseira se desvinculou com o resto do corpo, formando linhas retas, semelhantes a penas. 

Depois de tudo isso, só então que Arnok se permitiu abrir os olhos. Em sua frente estava seu primeiro objeto criado pela magia. Uma flecha quase perfeita no formato e que mal havia se fatigado ao fazer aquilo. 

Todos os outros tiveram resultados semelhantes, e Hiotum os aplaudiu de pé.

“Meus parabéns!” Disse, enquanto fitava os olhares dos alunos. Muitos estavam orgulhosos com o próprio resultado, mas alguns tinham um olhar de tédio. “Imagino que para alguns de vocês, que vêm de famílias nobres, isso seja algo que vocês já saibam…”

Ele andou entre os alunos e olhou para cada um deles nos olhos, os advertindo daquele pensamento.

“Então vamos com algo novo, para todos vocês. Tenho absoluta certeza que vocês vão gostar disso.” Ele voltou ao centro do anfiteatro e tinha um sorriso animado no rosto. “Mas sobre o que eu disse antes, alguma pergunta?”

Meio hesitante, Kaesar levantou a mão.

“É possível criar magias com os entoamentos?” Ele perguntou, e a reação de Hiotum foi no mínimo cômica. Seu sorriso animado de repente sumiu e foi substituído por um olhar decepcionado.

“E eu pensando que ensinaria algo novo…” Ele comentou triste. “Sim, Kaesar. De maneira simples é através dos entoamentos que se cria a “magia”... Existem diversos tipos de magias, incluindo as que eu chamaria de senso comum. Por exemplo…”

Sua mão começou a se iluminar na típica luz azul da sua magia de eletricidade, formando uma esfera que concentrava uma enorme quantia de energia. 

“Uma bola de energia… Se pensarmos de maneira lógica, houve há muito tempo alguém que não sabia ao certo como criar uma esfera através da magia. Ela, talvez tenha usado os entoamentos.” Ele dispersou a esfera e começou a escrever algumas coisas no ar. “No entanto, como se cria magias complexas?”

Depois de escrever a palavra “criação” no ar, ele se virou para a turma com um olhar inquisitivo. Alguns alunos olharam confusos para Hiotum. 

“Simples entoamentos não são o suficiente para concentrar uma mente complexa como a nossa. Então, definitivamente não dessa forma…” Abriu espaço para possíveis perguntas, mas só a expressão de confusão no olhar de todos os alunos foi o suficiente para perceber que estava indo no caminho certo.

Estava ensinando algo novo para todos seus alunos. Independentes de suas origens.

“Para fins de comparação, vou lhes dizer. Um ferreiro é capaz de criar machados e facas simples sem sua bigorna ou fornalha, mas e quanto a espadas, anéis, engrenagens, coisas verdadeiramente complexas. Sua habilidade e conhecimento não são o suficiente sem uma área de trabalho apropriada.” 

Ele virou-se mais uma vez para o quadro e complementou a palavra de antes, escrevendo a frase.

mesas de criação.

“As chamadas mesas de criação, são praticamente placebos. Os magos criam um espaço mental, ou físico, que seja propício para criarem magias.” Hiotum estalou os dedos e à sua frente, a forma meio translúcida de uma mesa lotada de livros, penas e tinteiros surgiu. “Minha mesa de criação, como podem ver, é literalmente uma mesa. No entanto, elas tomam diferentes formas no seu inconsciente, e é agora que vocês encontram ela. Não me importo com quanto tempo levem, mas se foquem em algum lugar em que você se sente seguro, ou confortável.”

Foi com isso dito, que os alunos começaram. A maioria fechou os olhos, assim como Arnok, e dispersaram suas mentes para lugares distantes. 

Aos poucos, Arnok teve vislumbres de diversas coisas que viu nas últimas semanas. A primeira delas foi a floresta de pedras, seu primeiro e breve momento de paz após o ocorrido. 

Aquele breve dia, foi o começo de tudo. Quase morreu pela primeira vez, conheceu Hiotum, decidiu que iria para a universidade. Muitas coisas. 

“Engraçado, né? Tanta coisa aconteceu e mudou...” Ele ouviu de repente. Maike estava meio distante. Olhava para cima como se houvesse algo a ser observado em toda aquela escuridão da mente de Arnok. “ Mas você se sente mais forte?”

Aquilo foi como um golpe. Arnok havia realmente ficado mais forte? O que ele fez de grandioso que pudesse conquistar as estrelas? Ou se tornasse um rei dos demônios? E quanto a seu pai?

“Você não mudou nada peninha, sabe disso. Que marcas o seu corpo tem  para contar uma história?” Maike se aproximou devagar, enquanto tinha um olhar assustadoramente inexpressivo. “Você tem as cicatrizes de combate de um espadachim? Tem os hematomas de um lutador de rua? Ou os calos de um ferreiro batendo seu martelo em um pedaço de ferro fervente? Você não é digno da atenção deles.”

Não é verdade! Arnok quis dizer, mas as palavras não saíram. Nem ele acreditava nisso. 

Então, Maike começou a piscar cada vez mais lentamente até não abrir mais os olhos e só ter um sorriso forçadamente alegre no rosto. 

“Vou assumir o silêncio como um sim.” Ele virou e se distanciou. Arnok tentou gritar e correr atrás dele, mas sua voz travou e seu corpo começou a afundar no que parecia ser um piche grosso e denso.

Seus pés estavam ficando cada vez mais imersos no piche, e o fato de não conseguir gritar, fez ficar completamente desesperado. Ele se debateu incessantemente. Até que seus joelhos estavam completamente submergidos.

E então sua cintura…

Então seu peito…

Ele teve um último vislumbre do sombrio teto em sua mente, até que tudo se tornou pesado, imundo e melancólico.

Seu corpo não se movia, seus olhos não enxergavam, seus pulmões não puxavam ar. Nada parecia funcionar, mas tudo o puxava para baixo.

“Alcance as estrelas, meu filho!” Como se fosse um eco distante, ele pôde ouvir a fraca voz do seu pai e só conseguiu pensar em uma coisa… 

Libereco.

Ele abriu os olhos… e não estava mais no piche, mas sim de volta ao anfiteatro. Confuso, olhou para os lados e viu todos os seus colegas ainda tentando encontrar suas mesas de criação, foi quando, com o canto dos olhos, ele viu uma leve luz ofuscante na cor azul.

À sua frente, estava a sua mesa de criação. Algo semelhante a uma bigorna de ferreiro, mas estava encoberta em chamas azuis que eram trêmulas por um lado, e do outro queimavam vigorosamente como as chamas de uma forja.

“Interessante…” Hiotum comentou em seu cangote. “Muito interessante.”

 



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