Volume 4

Capítulo 1.4: A Estação que não me Pertence

Lorde Demônio da Benevolência, Rank 9, Paimon
Calendário Imperial. 03/04/1506
Planície de Bruno, Exército da Aliança Crescente

 

“Lorde Demônio Dantalian, Rank 71. Aqui neste local renunciarei as minhas autoridades de Lorde Demônio e me colocarei sob tribunal militar.”

No momento que Dantalian pronunciou estas palavras, os arredores congelaram. O mesmo aconteceu com esta dama. Alguém solicitar a própria execução por meio de um tribunal militar, não há precedentes para isso. Isso… Isso, vai além da compreensão.

Com a expressão de alguém perdida em seus próprios pensamentos, Barbatos olhou para Dantalian.

“As palavras de um Lorde contém muito peso. Uma vez ditas, elas jamais podem ser retiradas, Dantalian. Isso é um conselho como sua sênior e amiga íntima. Estou te dando a chance de, pela última vez, retirar as palavras que acabou de dizer.”

“Minhas mais sinceras desculpas, Vossa Excelência, mas não tenho a intenção de retirá-las. A General Farnese é uma criança que este servo ama. Preferiria morrer a passar a culpa para ela.”

“…”

Todas emoções se esvaíram do rosto de Barbatos.

… Originalmente, para punir um Lorde Demônio, a confirmação do crime e a severidade da punição devem ser decididas formalmente durante uma Noite de Walpurgis. Em outras palavras, um Lorde Demônio só pode ser punido durante uma Noite de Walpurgis. Como todo Lorde Demônio possui a autoridade para recusar qualquer outra espécie de julgamento, esse era um dos nossos privilégios. Se este não fosse o caso, então haveria o perigo de Lordes Demônios usarem a guerra como pretexto para eliminar Lordes de menor ranking durante um tribunal militar.

No entanto, Dantalian acabou de renunciar sua autoridade como Lorde Demônio. Isso significa que ele decaiu para um status em que é legalmente capaz de ser submetido a um tribunal militar.

Traição racial, insubordinação frente ao inimigo, amotinação em grupo e blasfêmia. Esses eram os nomes das ofensas que Dantalian cometeu… E cada uma dessas são graves crimes de guerra. Delas, um soldado normal seria executado se cometesse mesmo que apenas uma.  Mas ainda ele cometeu 4 lésemajesties… Caso realizemos um tribunal militar em uma situação dessas, será impossível evitar que o Dantalian seja executado.

“Eu definitivamente te dei a oportunidade. Aliás, diversas vezes.”

“E eu me expressei com clareza, Vossa Excelência.”

“Você não tem nenhum arrependimento, certo?”

“Sim, correto. Estou, a todo e qualquer momento, preocupado apenas com a honra e segurança de Vossa Excelência Barbatos.”

“Haaa.”

Barbatos suspirou. Até mesmo ela sabia quais seriam os resultados caso realizassem um tribunal militar. E por saber, é muito provável que ela pretendia só encobrir esse incidente apenas submetendo o Dantalian a algumas chibatadas.

Até mesmo essa pequena punição parecia estar pesando na mente dela, já que se deu ao trabalho de fazer aquela garota humana tomar a maior parte da responsabilidade no lugar do Dantalian. O mínimo possível de culpa recairia nele. Ele sofreria um castigo que mal passaria de uma mera formalidade. O próprio Dantalian deveria estar ciente disso. Então, por quê?

“Tudo bem. Vamos iniciar então, o julgamento militar ou seja lá o que for. Por acaso, todos os comandantes estão aqui também. Não é uma maravilha? Eu, Barbatos, como a Lorde de 8º rank e líder da Facção das Planícies, aquela que detém a imortalidade, conduzirei a Corte Marcial do Lorde Demônio Dantalian.”

Por padrão, a pessoa responsável por este julgamento é a maior na hierarquia militar.

Como Dantalian não é afiliado com nenhum outro Lorde Demônio e contratou uma tropa de mercenários autonomamente, nesta situação, a pessoa de maior poder na hierarquia militar que pode ter responsabilidade sobre as tropas dele são os Comandantes Militares. No caso, Barbatos, Marbas e esta dama. No momento, todos estavam reunidos aqui para o início da guerra…

“Marbas, velhote. Declare sua intenção quanto a participar deste julgamento.”

“Mm.”

O magnata da Facção Neutra e comandante do segundo exército. O Lorde Demônio Marbas de 5º Rank, em um movimento lento, confirmou com a cabeça

“Confirmo minha participação neste julgamento.”

Seu rosto estava um misto de expressões. Este homem possuía uma dívida para com Dantalian.

Graças a perda que Marbas sofreu em sua batalha anterior, havia uma alta possibilidade que toda a expedição da Aliança Crescente ruísse naquele momento. Não, se Dantalian não tivesse conquistado a vitória, então, sem dúvidas, a expedição teria falhado. Marbas estava sentindo um grande peso por causa disso.

Se possível, ele teria encoberto os crimes do Dantalian… um julgamento militar não era bom para ele. Isso era algo ligado diretamente com a moral do exército. Um tribunal militar perdoando uma Alta Traição seria absolutamente impactante para a moral. Para Marbas, que colocava tanta ênfase nos regulamentos e legislações, seria quase impossível tomar o lado do Dantalian durante o julgamento. Não importa o quanto tente, o melhor que pode fazer é votar em branco.

…E.

O mesmo se aplica a esta dama.

Independentemente do Dantalian ser ou não a primeira pessoa que esta dama encontrou com a mesma ideologia que ela em toda a sua vida, independentemente de ser a primeira vez que esta dama encontra alguém com a sua mesma mentalidade, com o mesmo no peito, no momento, esta dama é a comandante de um exército com 30.000 homens.  Esta dama está em uma posição em que precisa se preocupar com a moral de todos estes oficiais e soldados. Esta dama não pode fazer algo como votar contra as regras enquanto outras pessoas veem.

Porque esta dama é uma pessoa no comando.

Porque este é o dever de um comandante que lidera um exército.

“…”

O que esta dama precisa fazer?

O que esta dama precisa fazer para passarmos por este julgamento com naturalidade e sem que eu tenha que votar contra as regras?

Não sendo um tribunal militar, então preservar a vida do Dantalian é possível. No fim, em uma Noite de Walpurgis todas as questões são decididas através de votos. Em outras palavras, era uma pura luta de números.

Como a líder da Facção das Montanha, esta dama consegue mobilizar 20 votos. Se a Barbatos utilizasse os 15 votos da Facção das Planícies aqui, então mesmo assim, esta dama teria a maioria dos votos. Isso mesmo. Se não fosse um tribunal militar. Se apenas pudéssemos evitar esse evento…

“Ei, cadela. Declare sua intenção quanto a participar deste julgamento.”

“O quê? Agora está me ignorando? Vadia. Olá? Senhorita Puta cuja mente é tão vasta quanto seu cu é arrombado. Sua porca, apesar dessa sua aparência, você ainda é uma comandante do exército, você sabe né? Se sim, então diga que você vai participar no…”

Tudo bem.

Se for assim, então pode ser possível.

Apesar de ser perigoso. Apesar de ser uma aposta incomparavelmente perigosa.

Sendo esta dama, ela pode conseguir.

Já que se atirar em apostas é a especialidade desta dama.

Recompondo sua mente, esta dama levantou o leque de penas para esconder seus lábios. Esta é a postura que esta dama sempre assume. Cobrindo até pouco acima dos lábios, apenas metade do rosto fica exposto. Esta é a posição mais confortável.

Encarando Barbatos, esta dama falou.

 

“Não. Esta dama não declarará sua participação.”

 

… Uma quietude recobriu os arredores.

Começando pela Barbatos, todos os Lordes Demônios olharam para esta dama como se estivessem se perguntando sobre a possibilidade de terem escutado errado.

Era óbvio. Até agora, esta dama e Dantalian estabeleceram uma relação de oposição em todas ações que tomaram. Pode não ser o caso para Barbatos ou para o Marbas, mas é muito provável que todos jamais pensaram que esta dama seria a pessoa que vetaria a realização do tribunal.

E era essa a exata razão.

Comparada com os outros, esta dama era a rival política que mais se destacava ao tentar eliminar Dantalian, e era por isso que este plano, que esta dama desenvolveu, era aplicável.

“… Mas caralho, que porra é essa agora? Ei, vocês todos se drogaram até sangrar o nariz só pra brincar com a minha cara? O filho da puta do meu amante resolveu espontaneamente foder com tudo, e agora está requisitando sua própria corte marcial. Pra melhorar, essa vadia aqui está vetando o processo por alguma razão de merda. Vocês dois foram transar em algum cantinho enquanto eu não estava prestando atenção?”

“Por favor, não presuma que todas as pessoas são tão vulgares quanto você. É claro, se alguém nascer com a mesma falta de inteligência que você, então não há nem o que se discutir.”

Esta permitiu que vissem seu pequeno sorriso. Uma veia de raiva pulsou na testa da Barbatos, mas isso não era de importância. Afinal, esta dama a provocou de propósito.

“Esta dama lhe falou antes, não? Barbatos, este homem não é mais um brinquedo seu, agora é meu. Esta dama planeja trazer Dantalian para a Facção das Montanhas. Sendo este o caso, não há como esta dama concordar com a execução de tal julgamento.

“Hããã?”

“Seja uma corte marcial ou qualquer outra coisa, faça você mesma. Contudo, sabia disso, Barbatos? Apesar de que o Dantalian mandar uma garota humana como substituta ser de fato uma lésemajeste, foi você que que o selecionou para ser o orador da Aliança Crescente.”

“…”

Bastou um instante para o rosto da Barbatos ficar frio.

“E daí? Que merda você está tentando dizer?”

“Quem sabe? Esta dama está apenas curiosa. Já que foi você quem o colocou à frente, sendo ele nada mais do que um Lorde de Rank 71, certamente não seria o caso de você tê-lo instruído sobre o que discursar?”

Esta dama sorriu.

Quanto mais ela misturava um pouco de sua risadinha maliciosa na fala, mais o humor nos arredores desta dama esfriava. De poucas em poucas pessoas a cada vez, os outros Lordes Demônios começaram a compreender o que esta dama estava querendo dizer.

“Barbatos, esta dama possui algumas suspeitas. Se Dantalian cometeu um erro, então para começar, isso não seria sua responsabilidade? Você empurrou o Dantalian à frente como negociador da guerra, e também foi você, Barbatos, que o selecionou para ser o orador. Se, por um acaso, Dantalian cometeu um equívoco meramente por ter sido descuidado, então a responsabilidade é sua por não ter percebido a incompetência dele. Além disso, se novamente, por um caso, Dantalian cometeu o equívoco de propósito…”

Sim.

Isso mesmo.

“Então não seria você a criminosa que cometeu lésemajeste?”

Atacar a Barbatos ao invés do Dantalian.

Este era o estratagema desta dama.

Agora um completo silêncio encobriu os arredores. Ninguém ousou abrir suas bocas precipitadamente. As pessoas estavam olhando para esta direção com seus rostos tingidos pelo choque.

Neste momento, o que esta dama fez não foi nada diferente de ter declarado guerra à Barbatos, que também era uma comandante de exército. Apesar de que tudo que esta dama fez foi levantar uma suspeita, na política bastam suspeitas para matar alguém.

Barbatos encarou esta dama por um bom tempo sem proferir uma palavra sequer. Não havia hostilidade ou raiva em seu olhar. Seus olhos transpareciam apenas um desprezo tranquilo.

“… Hmm. Achei mesmo estranho que uma cadela como você queria tomar o Dantalian de mim, assim de repente. Presumi que estava agindo por impulso, se deixando levar pelos seus pensamentos estúpidos de novo, mas de certo… Você está mesmo tentando começar uma batalha de tudo ou nada contra mim no meio desta guerra?”

“Oh querida. Isso não passa de uma interpretação exagerada, Barbatos. Tudo que esta dama disse é que ela estava curiosa. Você nomeou o Dantalian como orador e então o atacou imediatamente depois do discurso acabar? Não importa quem olhe para essa situação, não é um tratamento justo.”

“O quê? Você acha que mandei o Dantalian fazer o discurso de propósito só para poder me livrar dele depois? Por que não aproveita a oportunidade pra me acusar de ter incitado o conflito todo?”

“Quem sabe? Nada que esta dama afirmou foi com certeza. Ela simplesmente deseja expressar sua objeção a realizar essa corte marcial com muito mais pressa do que cuidado. Afinal, existe a possibilidade do Dantalian se tornar uma testemunha importante. Sim, e se possível, usar essa oportunidade para trazê-lo para a facção desta dama.”

“…”

Um momento de silêncio tomou o local.

“Aha, puhahah —, puhahahahah —!”

De repente, Barbatos começou a gargalhar.

As pessoas ficaram surpresas e se entreolharam. Apesar de estar enfrentando uma declaração de guerra, longe de ficar furiosa, ela estava morrendo de rir. Para eles, era muito provável que essa fosse uma cena desconcertante.

Mas, esta dama sabe. Barbatos sempre foi esse tipo de mulher. Uma pessoa que causava medo nos outros ao ficar séria quando seria normal rir, e ao gargalhar quando não se deveria.

Barbatos riu a ponto de lágrimas escorrerem dos seus olhos.

“Sim, hmm. Isso mesmo. Esse é tipo de puta que você é, Paimon. Você sempre foi uma vadia bem astuta. Você anda por aí fingindo ser uma mulher certinha e se fixa em coisinhas minúsculas. Da última vez, foi você que levantou a suspeita de que eu havia criado a Peste Negra e agora está sugerindo que instiguei uma traição racial? Iyaaaah. Putas como você são mesmo putas impressionantes pra caralho. Eu! Sim, eu admito! Eu admito! Admito o fato de você ser uma desgraçada de merda, Paimon!”

“…”

“Então porra, o que você pretende fazer? Como pode ver, a corte marcial já não é uma opção. Hmm, então deveríamos convocar os Lordes Demônios que estão se cagando lá na retaguarda? Quer realizar uma Noite de Walpurgis aqui? Para decidir se seria apropriado ou não eu morrer, já que cometi alta traição? Ou será que eu deveria apenas aceitar essa suspeita e ficar, ‘Ó, Senhorita Paimon, isso jamais aconteceu, vamos resolver isso depois’, e deixar o fato de ter me acusado por isso mesmo?”

Barbatos cuspiu no chão.

“Ha, sua filha de uma puta. Sua vadia de merda do caralho. Você está mesmo fazendo um ótimo trabalho como general, ainda mais se considerarmos que o inimigo está bem na nossa frente. A expedição da Aliança Crescente também acabou, já era. Em todo caso, a sua habilidade de puta de destruir lares é mesmo impressionante.”

Os Lordes Demônios afiliados à Facção das Planícies estavam organizados em uma linha logo atrás da Barbatos. Todos eles estavam emitindo uma intenção assassina enquanto olhavam para essa direção. O mesmo estava acontecendo deste lado, os companheiros desta dama estavam emitindo suas intenções assassinas, praticamente rosnando em intimidação. Com isso, em um mero instante, a Aliança Crescente se dividiu em dois lados. Os Lordes da Facção Neutra estavam dando tudo de si para acalmar a todos, mas isso estava muito além das suas capacidades.

Em meio ao exército em uma tempestade caótica.

“…”

Dantalian estava de pé, olhando para esta dama.

Seus olhos eram tremendamente escuros, como o fundo de um poço. Era difícil para esta dama adivinhar que pensamentos e emoções se escondiam no fundo daqueles olhos. Parecia que ele estava pensando em algo, ou então tentando analisar as intenções desta dama. E se dirigindo a ele, Barbatos falou.

“Dantalian.”

“… Sim, Vossa Excelência.”

“Estou suspendendo seu julgamento por tempo indeterminado. Vou preparar uma cela, então espere aqui. Discutiremos seus crimes direito quando essa situação se acalmar.”

Dantalian concordou acenando com a cabeça.

“Entendido. Porém, excluindo-me, peço que seja tolerante com o resto dos meus vassalos. Durante o inverno, eles recrutaram mercenários e, notavelmente, construíram uma força de 7.000 homens. Sem dúvidas eles não serão inúteis quando lutarem contra os humanos.”

“Sim, sim. Faça o que bem quiser.”

Então Barbatos guiou a sua Facção colina abaixo. ‘Deste momento em diante, a Facção das Planícies se separará do fronte unificado e agirá na guerra individualmente’. Essa ação da Barbatos exibia implicitamente isso.

Marbas suspirou.

“Vamos nos dividir antes mesmo da guerra sequer começar? Ó, Paimon. Era esse mesmo o seu objetivo? Pouco a pouco, estou começando a te entender cada vez menos.”

“… Marbas.”

“Tomarei conta da supervisão do Dantalian. Com o que aconteceu agora, não posso confiar em você ou na Barbatos para cuidar do prisioneiro. Seria bom se a vigilância da prisão fosse realizada por uma facção diferente a cada dia. Contudo, se essa nossa Aliança Crescente falhar desta vez também, então quantas vezes isso já teria acontecido…?”

Com os olhos repletos de gentileza, Marbas olhou à frente. Por um momento, o coração desta dama ficou entorpecido ao ver tamanha melancolia nos olhos do seu veterano.

Marbas muito provavelmente partiu nessa expedição com o desejo sincero de que a Aliança Crescente fosse vitoriosa. Mesmo sendo uma escolha inevitável, esta dama havia ignorado a intenção dele. Contra sua própria vontade, a cabeça desta dama se abaixou…

Sem falar mais, Marbas se retirou, conduzindo a Facção Neutra. Os únicos que estavam na colina eram os membros da Facção das Montanhas, incluindo esta dama. A criança, que estava nos mais altos escalões desta Facção, abaixo apenas desta dama, Sitri, se aproximou e falou. O seu rosto transparecia sua animação.

“Irmãzona Paimon, você foi incrível! Iyaah. Aqueles filhos da puta da Facção das Planícies. A cena deles nos encarando por causa do seu ataque repentino valeu a pena. De qualquer forma, aqueles caras, que só tem merda na cabeça, estavam tentando fingir que estavam por cima!”

“…”

Não era só Sitri. Os outros companheiros da Facção estavam demonstrando reações similares. ‘Mas que satisfatório.’, ‘Impressionante como sempre, Vossa Alteza Paimon.’, ‘Não esperava que ela fosse agir assim naquela situação…’ Sem se cansarem, os elogios dirigidos a esta dama não pararam, continuando indeterminadamente.

A base da nossa Facção das Montanhas estava a uma distância considerável do ponto de conflito, localizada próxima às montanhas e zonas costeiras. Mesmo que a expedição da Aliança Crescente falhe, não receberemos danos tão severos quanto a Facção das Planícies ou a Neutra podem receber, então a atitude dos membros da Facção desta dama quanto a guerra também era despreocupada. ‘Mesmo que essa falhe, sempre há uma próxima vez’. Esse tipo de pensamento estava totalmente à mostra.

Esta dama não acredita que isso seja errado. Afinal, toda guerra desperdiça grandes quantidades de mão de obra e riquezas. Se possível, resolver essa questão por meio da diplomacia seria o melhor. É por isso que até agora esta dama havia negociado com o Império em segredo e havia preparado operações diferentes por baixo dos panos.

Entretanto, por alguma razão.

O riso insano da Barbatos e o suspiro arrastado do Marbas, por algum motivo, esses sons se prenderam aos ouvidos desta dama e se recusaram a soltar.

Como se estivesse tentando se livrar de algo que se recusava a desaparecer, esta dama tornou seu olhar para o exército humano do outro lado da planície. Um número incontável de bandeiras estavam balançando naquele local, já sendo golpeadas pelo vento da estação que se aproximava. Muito provavelmente a guerra vai estourar a qualquer momento.

“…”

No terceiro dia do quarto mês.

O inverno se retraía conforme a primavera se aproximava.

A única coisa que esta dama podia fazer era fechar os olhos diante da cena do nosso povo desejando derramar sangue nesse momento negro da história, enquanto que, ao mesmo tempo, as flores estavam todas emitindo as suas fragrâncias em plena floração. Esta dama desejava manter seus olhos fechados assim, para sempre. Até mesmo emoções como essa se escondiam nas reentrâncias da mente desta dama.

“Irmãzona Paimon, por que já não estamos indo? Temos que nos preparar para a guerra.”

Todavia, havia uma voz puxando esta dama de volta a realidade.

Assim que esta dama abriu os olhos, havia Lordes Demônios, que estavam apenas aguardando suas ordens, alinhados diante dela. Estando em uma posição que a obriga a mover esta Facção rumo à guerra, esta dama assentiu.

“…Sim. Sitri e todos, retornem ao nosso acampamento militar e ordenem nossos soldados a entrarem em formação de batalha. Sitri, por favor, seja nossa vanguarda. Esta dama ficará no centro e a seguirá.”

“Tudo bem. Deixe a linha de frente comigo, irmãzona! Afinal, desde que nasci, a única coisa que sei fazer é lutar!”

Sitri riu inocentemente, fazendo ‘Ehehe’. Era difícil identificar essa face como sendo a de uma general que estava prestes a partir para guerra. Mas é bem provável que isso se devia a sua inocência.

Tudo bem. Se todos vocês continuarem a exibir essa aparência inocente, então esta dama pode continuar sorrindo. Esta dama poderá continuar andando. Mesmo sendo uma guerra que vocês não desejaram, esta dama fará o que puder para conquistar a vitória.

“Companheiros. Ordenem que os portadores das bandeiras as hasteiem. Soprem as trombetas! É hora de avançar.”

“Sim, Comandante, Vossa Excelência!”

Toda a Facção das Montanhas presente aqui respondeu em uníssono.

Muito provavelmente não deveríamos atacar a unidade comandada pela Princesa Imperial Elizabeth. Isso seria um atalho para o Inferno. O exército mais fraco da Aliança Humana, também conhecida como os Cruzados, provavelmente é o Exército Imperial Franco… Apesar da República da Batávia também ser a mais fraca em batalhas de campo aberto… sim. Obviamente, devemos tomar o Exército Imperial como alvo.

 

⎯⎯ Buuuuuu…

 

Antes que percebesse, o som das trombetas foi ouvido. Era o som dos instrumentos da Facção das Planícies. Parece que Barbatos começou a se movimentar. Vendo a direção da sua marcha… eles estão indo direto rumo ao Exército Imperial de Habsburgo, comandado pela Princesa Elizabeth. Que pena.

“Irmãzona, finalizamos os preparativos! Agora você só precisa nos dar a ordem!”

Sitri correu e olhou para esta dama como um cachorrinho.

“Para onde devemos ir? Quais humanos devemos executar primeiro? Habsburgo? O Reino Franco? Bretanha? Os polaco-lituanos? Ou varrê-los todos de uma só vez?”

“Não. Primeiro exterminaremos o Exército Imperial Franco.”

“Tudo bem!”

Sitri bateu um punho contra o outro, produzindo um barulho alto. Só com esse gesto, o ar foi deslocado com tanta força que esta dama quase derrubou seu leque. Apesar de ser uma criança simples, ela tem o defeito de agir precipitadamente.

Então agora.

Não havia tempo para hesitar. Apesar de ser uma guerra, não foi esta dama que a começou, e era uma guerra que não desejava participar, em todo caso, agora esta dama estava em um local muito próximo a ela. Por sorte, a essência do exército desta dama é desejar a paz, mas sem desprezar a guerra. Sendo um grupo como as tropas Francas, que foram desoladas pela doença, podemos esmagá-los com facilidade.

Esta dama ergueu a ponta do seu leque de penas e o apontou na direção que devíamos seguir.

“Facção das Montanhas. Avance.”

 

 



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