Em Outro Universo Angolana

Autor(a): Tayuri


Volume 1

Capítulo 4: Estranho Familiar

— Kira. — O nome escapou dos lábios de Astrid, alguns segundos depois de ter aberto os olhos. E de a ter visto. Seu rosto permanecia o mesmo, porém seus olhos eram azuis ao invés de castanhos e seu cabelo loiro estava curto chegando apenas aos seus ombros. Ela estava em pé ao lado de Astrid, mexendo em um tablet, tão absorvida e concentrada como de costume. Entretanto, em um dado momento ela pareceu notar seu olhar e por fim tirou os olhos do ecrã e a encarou, mas não disse nada e Astrid fechou os olhos, quando uma ardência os atingiu.

Alguns segundos morreram e Astrid permaneceu de olhos fechados. Seu corpo de forma alguma parecia ter energia ou vontade de se levantar. A luz do ambiente era forte de modos que tornava a tarefa de abrir os olhos mais difícil, no entanto alguns segundos mais tarde ela o fez e não mais viu Kira.

Apoiando o cotovelo direito na cama, Astrid forçou seu corpo a se levantar, até estar sentada em uma posição que lhe permitiu ver melhor o lugar em que se encontrava. Seus olhos vaguearam pela ampla sala; cheia de equipamentos médicos, carrinhos lotados de remédios, pacientes, homens e mulheres de fato preto, médicos e por fim um pequeno número de adolescentes, os quais junto dos médicos cuidavam dos pacientes que por sua vez eram todos adolescentes.

Isso é mesmo um hospital? Desde quando crianças podem trabalhar aqui?! E... porquê eu estou aqui? Instintivamente Astrid começou a tatear os braços, depois fez o mesmo com a bariga e por fim as pernas que ao retirar o lençol descobriu estarem cobertas com uma calça hospitalar ao invés de sua calça esportiva. Eu pareço estar bem... A mente de Astrid foi invadida por várias lembranças como: Sua memorável performance na partida de Aquaswim. O sorriso de Chloe após se despedirem. Sua casa destruída. Sua luta contra Ciborgues, de verdade e por fim Zayn, atirando nela. Sim! Ele atirou em mim.

Por uma fração de segundos Astrid sentiu-se ficar sem ar. Em desespero tateou a barriga, novamente. Tateou os ombros e até a cabeça, no entanto para além de cansaço ela percebeu que não sentia mais nada, ao menos nada que indicasse que estava gravemente ferida. Para alguém que havia sido baleada ela estava completamente bem e por alguma razão isso não foi o suficiente para acalmar seu coração o qual batia descontroladamente. Aquilo...foi só um sonho?

— Vejo que já está acordada. Acha que consegue se colocar em pé?

A voz era calma e suave, porém ainda assim Astrid se sobressaltou e por pura sorte conseguiu não cair da cama. Com uma mão no peito, ela levantou seus olhos para quem falara, encontrando assim um rosto muito familiar.

— E...lis?! — Seu tom era muito baixo, quase um sussurro. — Elis! — Seus lábios se esticaram em um sorriso e seu rosto se iluminou.

— É doutora Swooney — falou e com a ponta da unha bateu no crachá, preso ao seu jaleco. — Mas como você sabe meu primeiro nome? Usaste algum poder para descobrir isso? — Retirou um tablet e uma caneta do bolso do jaleco e apressou-se a perguntar. — Se sim qual foi? 

— Do que...Não, mais importante, quando você voltou para universidade? E mesmo que tenha o feito como...como pode já ser médica?! Achei que seu salão estava indo bem.

— Meu salão? — Astrid assentiu. — Sabes quem és, certo?

— Ahh...Sim! — respondeu, um tempo depois.

— Tens lembranças do que aconteceu antes de chegar ao centro de ajuda?

— Centro de ajuda...!? Aqui não é um hospital? A-a última coisa que lembro é de estar em um lugar com muita neve e...e... você pode não acreditar, mas eu lutei contra ciborgues. — Riu. — Foi surreal, muito surreal. Por momentos achei que aconteceu mesmo. Pensei que tinha mesmo levado um tiro, foi um sonho realmente estranho. — Astrid continuou rindo, mas para sua surpresa Elis não acompanhou e apenas ficou tomando anotações em seu tablet.

— Não foi um sonho. — O sorriso sumiu dos lábios de Astrid. — No relatório que li, constava claramente que você se encontrava no local quando os ciborgues apareceram. Só não há qualquer informação de você ter levado um tiro ou até de ter lutado contra eles.

— Não...Não tem como aquilo ter sido real. Ci-ciborgues... não existem. Não tem como eu ter lutado contra aquelas coisas...

— Segundo o relatório você não o fez. — Elis estendeu sua mão esquerda em direção a Astrid. Tocou em sua testa e fechou seus olhos azuis.

— E...Elis? — Astrid perguntou, porém não recebeu qualquer resposta da doutora a qual permaneceu de olhos fechados.

— Não parece haver qualquer problema com sua cabeça — falou e em seguida abriu os olhos. Retirou a mão da testa de Astrid e se afastou um pouco. — Mas as tuas palavras dizem o contrário. Por acaso esqueces-te das coisas facilmente? Normalmente suas lembranças não são claras? Confundes...

— Faça uma pergunta de cada vez, Swooney.

Uma mulher parou de frente a cama de Astrid. Doutora Swooney rapidamente se virou em direção a ela e abaixou a cabeça.

— Boa noite, senhora diretora.

— Boa noite, Swooney e muito boa noite, nova soldada — disse se dirigindo a Astrid, a qual tinha os olhos deslumbrados enquanto olhava para os diamantes que haviam na tiara que enfeitava o cabelo azul escuro da mulher. Nos quatro pares de brincos que estavam em suas orelhas, contrastando perfeitamente com seus olhos cinzentos. E por fim no broche em forma de pássaro que enfeitava a faixa cheia de medalhas que caia de seu ombro direito e fechava em sua cintura bem ao lado de uma fina espada que para surpresa de Astrid também continha diamantes entalhados na bainha.

Isso tudo é mesmo de verdade?! Os olhos de Astrid se estreitaram. 

— Descobriu alguma coisa? — perguntou a diretora.

— Não, senhora. Ela apenas acordou há pouco tempo, então ainda não tive a oportunidade de interrogá-la.

— Ou seja, ainda não há qualquer informação sobre quem seja essa...criança. É quase como se ela não existisse. — Sorriu, divertida.

— Quer que consiga informações sobre seus familiares também?

— Isso não será necessário. Apenas informações sobre ela já serão o suficiente, por agora. O mais importante é saber quais são seus poderes... isso se ela os tiver — falou a última parte em um tom mais baixo.

Poderes...? A atenção de Astrid se voltou para a conversa.

— Vai parar as investigações por enquanto?

— Não! Mesmo se essa criança for apenas uma civil, ainda deverá ser investigada. — Desviou seu olhar para Astrid. — Ah! Já agora, meu nome é Kendra Russell. Sou a directora deste centro o que quer dizer que sou sua superiora, ao menos até termos a certeza se você realmente pertence aqui. Muito prazer — falou e em seguida sorriu. Um sorriso que aos olhos de Astrid era lindo e ao mesmo tempo assustador.

— Desculpe, senhora Ru...

— Chama-me, diretora Russell.

— ...Diretora Russell... o que quer dizer com pertencer aqui? Por acaso eu terei de ficar mais tempo no hospital?

— Hospital? — Russell repetiu e Astrid assentiu. — Ah! Você acha que aqui é um hospital.

— E não é? — Astrid desviou seus olhos para Elis, que ainda se mantinha olhando para baixo.

— Não. Aqui é o centro de ajuda cinco. Um lar para todos aqueles que possuem habilidades sobre-humanas.

— E a senhora acha que eu... — Astrid apontou para si mesma, após voltar a encarar Russell. — Tenho habilidades sobre-humanas?

— Diz-me tu, tens?

— Não. — Astrid respondeu muito rápido. — E desculpa se isso soar rude, mas... Argh!! — As costas de Astrid se arquearam e seu rosto se contorceu em uma careta de dor, quando sentiu um beliscão, bem na parte de baixo de suas costas, forte o suficiente para a fazer morder a língua.

— Desculpe a intromissão, diretora. — Elis levantou a cabeça, olhou em direção a Russell, no entanto não fez contacto direto, mantendo seus olhos um pouco para baixo. — Creio que hoje mesmo ela poderá receber alta. Em qual grupo deveria mandá-la?

Porquê me beliscou? Suas unhas são muito cumpridas, você poderia ter cortado minha pele. Astrid quis dizer isso, porém a mão de Elis em suas costas não lhe permitiu. Seus dedos coçavam a parte de baixo das costas de Astrid, em uma clara ameaça de que a beliscaria de novo.

— Ela não parece ter menos de catorze anos... Atualmente há quantos integrantes no grupo dezassete?

— Dez.

— No quinze e no dezenove?

— No grupo quinze há seis e no dezenove...

— Coloque-a no grupo quinze.

— Entendido.

— Ficará em tuas mãos até que se saiba se realmente tem poderes. Se possível traga-me um relatório antes do final do mês. Fiz-me entender?

— Perfeitamente.

— Ótimo! Irei me retirar agora. Tenham uma boa noite. — Russell, tornou a sorrir. Acenou para as duas e lhes deu as costas.

— A senhora também.

Com os olhos voltados para o chão, Swooney acompanhou o som dos saltos altos contra o piso, até que eles cessaram e por fim ela levantou o olhar para a porta onde Russell saíra.

— Será que... já pode tirar as mãos das minhas costas?

— Ah! Claro. — A doutora puxou sua mão, porém não se afastou da cama.

— Porquê me beliscou? Eu fiz algo de errado? — perguntou, enquanto passava a mão esquerda no local atingido.

— Você ia falar algo errado — disse dando ênfase na última parte. — Olhe! Deixe-me te dar um pequeno conselho. Se por acaso voltares a falar com ela ou mesmo se ela apenas passar perto, de modo algum a encare diretamente. Olhe para baixo ou para alguma outra coisa, mas não a encare diretamente.

— Por que? E por que você ficou olhando todo tempo para baixo? Ela é alguém muito poderosa?  É dona desse...

— Só siga meu conselho. Agora se levante, ainda há coisas a fazer antes de te enviar para o grupo quinze.

— O que é esse grupo quinze? Porquê aquela senhora estava falando sobre habilidades sobre-humanas? Ela também me chamou de soldada e falou sobre poderes... ela não bate bem?! — Astrid perguntou a última parte em um tom muito baixo.

— Já terminou?

— Huh!?

— Perguntei se já acabou com seu interrogatório? — Astrid ficou em silêncio. — Tomarei isso como um sim. — Colocou o tablet em um bolso e a caneta em outro, em seguida pegou Astrid em seus braços, deixando-a assustada e incrédula.

— Eu posso andar sozinha. O-onde está me levando?

— Apenas para um pequeno interrogatório.

.

.

Após ter suas medidas tiradas e sua altura medida, Astrid foi forçada a se sentar em uma cadeira de frente a doutora Swooney, que aos olhos de Astrid cada vez mais se parecia menos com a Elis que ela conhecia.

Mas se ela não é a Elis, então quem pode ser? Uma irmã gêmea? Talvez elas tenham sido separadas à nascença e.. espera, porquê raios ela teria o mesmo nome que a Elis? Coincidência? Talvez... mas ainda assim elas são parecidas demais. Os gêmeos normalmente têm algumas diferenças... certo?

— Vamos começar — anunciou Swooney, capturando a atenção de Astrid. — Qual é seu nome? O primeiro e o último.

— ...

— Não lembras do teu nome?

— Lembro e... você também deveria lembrar.

— Não tem como eu lembrar de algo que nunca soube. Então que tal você me dizer qual é seu nome, para que assim eu possa me lembrar dele, huh?

— Elis...

— Doutora Swooney.

— Como queiras! — Astrid respirou fundo. — Você... realmente não sabe o meu nome? Não me reconheces?

— Eu deveria?

— Sim! Não tem como você ter se esquecido de mim. Mesmo se ficasse um ano inteiro sem me ver vo... Elis nunca se esqueceria de mim.

Swooney começou a bater a caneta na tela do tablet.

— Qual é seu nome? — Sua voz soou calma, tal como a de Astrid quando respondeu:

— Astrid... Axel.

— Astrid... Desculpe, mas não me lembro de você. Na verdade, posso dizer com toda certeza que nunca nos vimos antes. Agora que esclarecemos isso, vamos continuar com as perguntas. Quantos anos tens?

— Dezasseis. — Sem encará-la, Astrid respondeu em um tom baixo, porém alto o suficiente para os ouvidos de Elis.

— Nacionalidade?

— Aquari...

— Astrid?

— Meu pai. — As sobrancelhas de Swooney se elevaram. Astrid a encarou. — Vocês não deviam estar falando com meu pai? Eu sou menor, não devo ser interrogada sem a presença do meu responsável. Se-se por acaso. — Um arrepio passou por seu corpo. — Não poderem entrar em contacto com o meu pai, ao menos devem chamar minha diretora de turma ou a diretora do colégio ou o meu trei...

Senhor Moore?

— Como está indo com a nossa nova Campeã?!

Um homem de cabelo loiro parou atrás de Swooney. Com uma mão no bolso do jaleco e a outra carregando um tablet.

— Não a chame assim, isso dá azar — falou Elis e o homem riu.

— Não me diga que acredita nisso? — Elis não respondeu e ele continuou: — Chamando-a assim ou não, eles iram aparecer na mesma.

— Se você diz.

— Senhor Moore — Astrid chamou e o homem desviou sua atenção para ela.

— Sim?

Astrid abriu a boca, no entanto a fechou rapidamente. Olhou atentamente para o rosto conhecido, capturando assim alguns detalhes que lhe eram desconhecidos.

Até ontem...? Treinador Moore tinha cabelo verde e seus olhos também eram verdes. Porquê ele o pintaria?! Porquê ele usuária lentes? Porquê ele também está usando um jaleco?

— Por que ela está me encarando assim? — Sussurrou para Swooney.

— Ela tem me olhado como se eu fosse algum tipo de alien desde que acordou, então não creio que seja pessoal. Ela provavelmente te confundiu com outra pessoa.

— Quem? Eu não acho que tenha um rosto comum. — Passou a mão livre pelos fios loiros, desegrenhados. — É difícil ser confundido com outra pessoa.

Elis o encarou pelo canto do olho e depois desviou o olhar dizendo:

— Se você diz.

— ...Astrid — falou o homem, após ler o nome que estava escrito no tablet de Swooney.

— Sim! — respondeu prontamente. Um sorriso surgiu em seus lábios e antes dele poder prosseguir perguntou: — O senhor é Ian Moore, certo?

— Huh!

— E é professor de natação, não é?

— Errado!

O corpo de Astrid caiu para trás e seu sorriso murchou.

— Sou médico, porém algumas vezes também atuo como professor. Mas nunca dei aulas de natação. — Sorriu levemente e acrescentou: — Eu sequer sei nadar.

— Também não me reconhece não é? — Ian abanou a cabeça em resposta. — Parece que você... não Ian Moore.

— Eu sou Ian Moore! Porém... não sou a pessoa que você conhece como Ian Moore.

.

.

— Elis. — Astrid chamou e pela quarta vez Elis apenas continuou caminhando, sem encará-la ou dizer algo. — Doutora Swooney.

— Sim?

Astrid revirou os olhos, antes da doutora a encarar.

— Para onde estamos indo? E por que... — Olhou de relance para os homens e mulheres parados feitos estátuas, vestidos com um fato preto de corpo inteiro. Eles carregavam várias armas que pareciam um aviso claro de: Não se aproxime. — Por que tem pessoas armadas aqui? — Sussurrou. — Os seguranças não deviam estar do lado de fora do... centro?

— Há outros guardas no lado de fora. E não precisa se preocupar, desde que não faça nada idiota, eles não iram atirar você.

— Atirar... E-eles podem realmente fazer isso? — perguntou, mais alto do que gostaria.

— Eles têm autorização para isso. Mas como disse, isso apenas contecera se você fizer algo idiota.

Que tipo de coisa idiota faria eles atirarem em mim? Astrid cogitou em perguntar, no entanto ao olhar novamente para as armas que eles carregavam decidiu apenas guardar suas palavras para si.

— Chegamos!

Os olhos de Astrid piscaram em confusão diante da porta numerada, com um grande número quinze. Doutora Swooney foi a primeira a atravessar e hesitante Astrid a seguiu. A porta de metal atrás delas se fechou e o nervosismo atacou Astrid. Seus olhos passearam por seus arredores que para olhar não tinha praticamente nada. Havia uma porta no lado esquerdo e outra no lado direito da sala e por fim um grupo de adolescentes que estavam sentados em uma roda, mas para, além disso, não havia mais nada. Nenhum tipo de mobília ou decoração que pudesse dar lhe uma noção do que seria aquele lugar.

— Levantem-se, tenho algumas informações a dar!

Os seis se colocaram em pé ao mesmo tempo, se posicionando logo em seguida em frente a Elis e Astrid.

— É quase hora de dormir — relembrou um menino, sem encarar nenhuma das recém-chegadas. — Que raio de informações aquela velha... — Uma cotovelada foi desferida na lateral de seu abdomén fazendo-o se contorcer e cerrar os dentes. Com mão no local atingido o menino, de cabelo cacheados, olhou para o responsável que apenas pronunciou um: Continuei por favor! Para Swooney, ignorando seu olhar irritado completamente.

— Chloe! — Uma menina de estatura baixa sussurrou para outra, enquanto puxava a manga de sua camiseta azul. — É a nova soldada, não é?

— Huh!! — respondeu sem muita emoção. — Qual é o problema dela? — Sussurrou, olhando para Astrid que a encarava de volta de uma forma tão intensa e atenta que ela não pode deixar de achá-la muito invasiva.

— Uaaaa! Eu quase cheguei a pensar que não acorda...

— Lucky?

— Sim! Doutora Swooney! — disse em um tom alto, após se voltar para doutora e endireitar sua postura.

— Será que poderia se calar por alguns instantes para que eu possa dar a informação?

— Aaaah! Claro! Descul... — Foi puxada para trás, pelo menino que se encontrava ao seu lado. Ele trocou um breve olhar com ela que sorriu sem graça e em seguida encostou os dedos na ponta dos lábios e moveu-os até a outra ponta. Moveu a mão como se fechasse um cadeado, levou-a ao bolso da calça e depois assentiu com a cabeça. O menino por fim olhou para doutora e disse:

— Por favor! Continue.

— Obrigado! A partir de hoje Astrid Axel estará fazendo parte do grupo quinze. Ela tem dezasseis anos e como vocês bem sabem. — Seus olhos se fixaram em Lucky. — Ela é nova no centro de ajuda e como tal fica de vossa responsabilidade explicar lhe como as coisas funcionam e ajudá-la a cometer o mínimo de erros possíveis... para o bem de todos.

— Ela fala como se ela fosse cometer muitos erros — sussurrou o menino de cabelo cacheado e Lucky sussurrou de volta:

— Huh! Acho que estamos muito encrencados.

— Ela pode vos ouvir.

— Sério? — Lucky perguntou para o garoto que se encontrava a sua frente e depois olhou para Swooney.

— Sim! Eu posso. Por isso se não quiserem ser ouvidos tentem falar mais baixo.

— Nós falamos. Que culpa temos se você tem orelhas grandes.

— Jase! — Seus companheiros disseram em uníssono.

— Ter orelhas grandes não significa ter uma capacidade de audição melhor, você deveria saber isso melhor do que ninguém. — Jase desviou o olhar e Chloe e Lucky riram.

— Doutora Swooney. Posso fazer uma pergunta? — Ao lado de Jase, um menino de cabelo loiro tinha uma mão no ar, aguardando pela resposta de Elis.

— Pode perguntar Logan.

Logan... É aquele garoto do primeiro ano. Astrid o encarou de cima a baixo e depois olhou para Chloe e em seguida para Aiyslnn, que tal com Chloe também estava estranha. Os longos cabelos de Chloe, agora não passavam do seu maxilar. Aiyslnn tinha os fios loiros entrelaçados com brancos. Seus olhos eram azuis ao invés de verdes, no entanto o que mais assustou Astrid foi o sorriso... ele não era desdenhoso ou maléfico. Ele era bonito, gentil e parecia verdadeiro e ele estava sendo direcionado para ela.

— Qual é o poder dela? — Logan perguntou, porém como resposta apenas recebeu silêncio.

— Também estou curiosa sobre isso. — Chloe olhou para o cabelo de Astrid. — Quantos poderes ela tem? Ou...ela ainda não manisfestou nenhum? — perguntou, após um longo tempo sem resposta.

— Não sabemos. — Os olhos de Chloe se estreitaram. — Até ao momento não temos qualquer informações sobre seus possíveis poderes.

— Quer dizer que vocês não têm a certeza se ela tem poderes ou não? — perguntou Logan, e novamente Swooney demorou a responder.

— Eles se manifestarão em breve. Bem isso é tudo que queria informar, então tenham uma boa noite. E você!

Cruzou seus olhos azuis com os de Astrid.

— Não sei como tem vivido até agora, mas enquanto estiver aqui não se tratara apenas de você. Por isso tente não colocar seu grupo em problemas.

Doutora Swooney foi embora, deixando a sala em completo silêncio, tal que se perdurou até que Aiyslnn deu um passo em direção a Astrid e falou:

— Sou a Aiyslnn, muito prazer — Estendeu a mão para Astrid a qual olhou para ela e depois voltou a olhar para os olhos agora azuis de Aiyslnn.

— Por quê...

— Humm?!

— Por que está se apresentando? Por acaso... — Astrid riu. — Você também não me reconhece? Ou melhor, você não é a Aiyslnn que conheço?

— ... — Aiyslnn recolheu sua mão.

— Me responda! Você não é Aiyslnn!? Sabe quem eu sou?

— Desculpe, mas... não estou conseguindo te entender. Poderia ser mais clara. — Seus lábios se esticaram levemente em um sorriso simpático.

— Porquê está sorrindo? Você enlouqueceu? Por que continua sorrindo assim para mim!!! — Aiyslnn deu um passo para trás e Chloe se colocou entre elas.

— O que pensa que está fazendo? Ela estava sendo simpática com você, porquê está gritando com ela? Nova aqui ou não se você insultar qualquer um dos meus amigos, eu não deixarei passar. — Deu um passo em direção a Astrid e pousou a mão em seu ombro. — Você entendeu?!

Suas últimas palavras saíram em um sussurro que só foi ouvido por ela e por Astrid, a qual não pode evitar ficar com medo diante do olhar frio que lhe era direcionado por aquela que deveria ser sua melhor amiga.

 



Comentários