Em Outro Universo Angolana

Autor(a): Tayuri


Volume 1

Capítulo 7: Astrid é Alvo de Tiro

Ainda estou aqui!

Astrid suspirou. Forçou seu corpo a ficar sentado ao passo que ele começou a doer, porém tal como das vezes anteriores não havia quaisquer ferimentos, só dor que muito lentamente começou a diminuir.

— Boa noite. — Elis cumprimentou, após parar perto da cama em que Astrid se encontrava. — Acha que consegue ficar em pé?

— ...A pergunta certa não seria algo como...você está bem? Ou como te sentes?

— Todos os teus ferimentos foram curados, não detectei qualquer problema no teu corpo, então creio que fazer tais perguntas não seja necessário. Agora por favor tente se colocar...

— Doutora Swooney!

Kira, de cabelo curto, parou ao lado de Elis e tal como alguns poucos adolescentes que estavam na ala médica, a menina usava um fato de corpo inteiro azul escuro com os ombros e as mangas brancas. No lado superior esquerdo do peito tinha um emblema e nas laterais do fato havia a sigla CDA 5 e por fim um cinto que portava seis bolsas estava a volta de sua cintura e olhando mais atentamente para elas, Astrid lembrou-se de Zayn... o Zayn que atirou nela.

— Por que o Logan...ou melhor todos do grupo quinze foram para dimensão das punições? — perguntou Swooney, após lhe ser estendido um tablet.

— Desclassificação.

Em uma fração de segundos os olhos de Elis se abriram mais e alguns segundos mais tarde olhou para Astrid, que por sua vez tinha os olhos fixos na menina que se parecia com Kira.

— Entendo! — Swooney voltou sua atenção para tela, movendo o dedo sobre ela até que por fim o devolveu para menina. — Layna?

— Ainda não voltou.

— Faça uma transfusão de sangue no Edward e na Chloe. Peça a Ava para tratar do Jase, eu irei averiguar a condição da Aisylnn e quanto ao Logan... A diretora deu alguma instrução com relação a ele?

— Creio que o relatório já deve ter chegado a ela, mas até agora ela não instruiu nada. O que devemos fazer?

— O algemaram?

— Sim.

— ...

— Ele está perdendo muito sangue, se não o tratarmos rápido...

— Vamos esperar.

— Não podemos esperar muito... Logan não pode esperar muito.

— Até a diretora dizer algo, teremos de esperar. — Os olhos da menina se fecharam, contudo voltaram a abrir quando Elis continuou: — As ordens chegaram em breve.

— Esperemos que sim — disse em um tom baixo.

— O que aconteceu... — Os olhos de Elis e da menina se voltaram para Astrid. — Para o Logan estar machucado? E Chloe e...os outros porquê precisam de transfusão de sangue? O que aconteceu com eles?

Por longos segundos nenhuma delas disse algo. Elis levou as mãos aos bolsos e lhe deu as costas.

— Vá para sala do teu grupo. Vamos! — A menina assentiu e logo que Swooney começou a andar ela seguiu logo atrás, no entanto parou quando ouviu Astrid dizer:

— Kira. É você, não é?

— Não. — A resposta veio após longos segundos de silêncio. — Não sou ela...então por favor. — Virou-se para Astrid, seus olhos azuis expressando nada mais que frieza. — Não volte a me chamar assim.

A menina tornou a lhe dar as costas e quando deu o primeiro passo, a porta da ala médica se abriu e várias macas transportando adolescente passaram por ela. Eles estavam sujos de sangue e lama, usavam as mesmas roupas que Astrid e tal como as delas elas também eram de cor azul escuro, tal facto que a fez se questionar o que significava vestir aquela roupa, ou aquela cor, visto que outros adolescentes e crianças vestiam as mesmas roupas, no entanto na cor branca, porém ao contrário dos de uniforme azul, eles pareciam estar menos machucados.

A ala médica se tornou mais barulhenta e agitada. Médicos andando de um lado para o outro, com alguns homens e mulheres de fato preto os acompanhando, a fim de socorrerem os pacientes.

 Talvez eles tenham ido para o mesmo pesadelo que eu, mas...

Astrid analisou seu próprio corpo, percebendo assim que para além do enorme cansaço que sentia, não havia mais nada do qual ela pudesse reclamar, sua dor de cabeça já havia passado e os ferimentos de que se lembrava já não mais estavam lá.

Os ferimentos sumiram, tal como o ferimento de quando fui baleada. Aquilo com certeza aconteceu... Tenho a certeza! Então como posso estar bem? Por que raios todos estão fingindo não me conhecer? E como os ferimentos dessa garota...

De olhos azuis arregalados, Astrid assistiu enquanto um corte anteriormente profundo sumia do braço de uma menina que estava inconsciente. Ela estava em uma cama um pouco afastada da qual Astrid se encontrava. Um menino que não deveria ter mais do que dezassete anos, tinha a mão esquerda em seu ombro e só a tirou quando o ferimento fechou totalmente, deixando apenas uma cicatriz que nada mais era do que uma linha fina que ia do cotovelo até seu ombro.

Poder... Essas pessoas realmente... Astrid olhou ao seu redor, procurando mais anomalias, procurando alguma coisa que poderia lhe confirmar que o que viu foi real, que a luta que teve contra ciborgues foi real, que pessoas com poderes realmente existem. No entanto, não viu mais nada, além de médicos fazendo seu trabalho.

— O que está olhando?

Um calafrio passou pelo corpo de Astrid, contudo ela não gritou e apenas ficou repetindo vários: Oh! Meu Deus! Em sua mente.

— Vamos?!

Em primeira instância Astrid pensou em perguntar um: Quem é você? Entretanto acabou reconhecendo seu rosto, mas infelizmente o nome não veio junto fazendo-a assim encará-la com um olhar distante enquanto sua mente trabalhava na busca do nome da menina de sorriso infantil.

— Astrid!

— Por... porque estás aqui? — perguntou a primeira coisa que lhe veio à cabeça.

— ...Oras pela mesma razão que todos os soldados vêm para cá. Tens força o suficiente para ficar em pé?

Essa é algum tipo de pergunta padrão, por aqui? Astrid quis perguntar, porém apenas balbuciou um: Acho que sim.

Astrid muito lentamente jogou o lençol para o lado e antes que pudesse descer da cama, a menina estendeu sua mão para ela que a aceitou alguns segundos depois. Quando seus pés tocaram no chão, Astrid se sentiu fraca, contudo não caiu ou até se desequilibrou como julgou que talvez aconteceria.

— Calce suas botas e me siga. — Recolhendo sua mão a menina lhe deu as costas e começou a caminhar e após calçar as botas Astrid a seguiu.

Enquanto atravessava a ala médica, Astrid avistou alguns rostos conhecidos como o de: Edward, Jase e Aiyslnn, todos inconscientes e com as roupas manchadas de sangue.

Será que foram punidos como eu? Mas porquê? A suposta razão de eu ter sido punida é provavelmente porque não fui com eles... então visto que eles foram, porquê estão aqui? Afinal de contas quais são os requisitos para ser elegível naquele pesadelo? Será que eles ficaram bem? Será que Chloe está bem? Será que talvez eu vá para lá novamente? O que tem ela?

Antes de atravessar a porta, Astrid viu, o azul claro que manchava o lado esquerdo do rosto de Aiyslnn.

.

.

Há uma cama da sua, se é que poderia chamá-la dessa forma, estava sua companheira de grupo que ela apenas lembrou-se chamar Lucky, quando percebeu que na frente de cada cama havia uma tela que continha o nome da pessoa que dormia-lá, foi desse modo que encontrou a sua suposta cama que era muito parecida com uma cama de hospital, possuindo apenas uma almofada e um cobertor fino que como quase tudo aí possuía a sigla CDA 5. Após identificar sua cama, Astrid se sentou nela e mesmo quando sua companheira dormiu, Astrid não conseguiu de forma alguma seguir seu exemplo, pois o medo de acordar no mesmo pesadelo não a permitiu fechar os olhos por mais de cinco segundos e assim permaneceu no mesmo lugar até que uma ideia surgiu em sua mente.

Com certeza deve haver um lado de fora, se eu ir muito lentamente e escolher os caminhos certos, talvez chegue ao lado de fora. Com tais pensamentos Astrid deslizou para fora da cama e caminhou em direção ao túnel que se encontrava ao lado dela. Por favor! Astrid olhou para Lucky, que tinha se coberto até a cabeça. Não havia ronco algum, mas Astrid achou que provavelmente ela estaria dormindo, se não, ela era boa em ficar imóvel por muito tempo. Que dê para o lado de fora! E não para outra punição. Pediu, jogou no chão a bolsa preta que estava sob uma pequena superfície metálica e adentrou ao túnel.

Muito cautelosamente, Astrid começou a engatinhar, com a escuridão aumentando mais e mais até que ela se viu em completa escuridão. Por breves momentos ela pensou em voltar, entretanto não o fez. Abanou a cabeça e continuou em frente, tentando se contentar com o fato de que até ao momento não havia encontrado qualquer curva ou algum tipo de elevação.

Sua caminhada perdurou mais alguns minutos até que, abruptamente, ao som de um barulho seu corpo parou e não demorou para ela perceber que o que ouvira eram guinchos.

Não deve ser real. É apenas da minha imaginação. Tentou se convencer, tentou seguir em frente, porém a esteira sobre o qual ela engatinhava se moveu tão repentinamente que Astrid não pode evitar cair de cara no chão, contudo isso não foi tão ruim comparado ao que se seguiu: Alguma coisa que ela não se deu ao trabalho de pensar sobre acabou tocando sua perna, foi rápido, mas definitivamente Astrid sentiu e tal coisa foi o suficiente para fazer o terror tomar conta de si.

Ra-Ratosss!

Sem soltar um único grito Astrid começou a se debater, se chocando contra o teto e as paredes e quando tentou avançar para fugir do barulho a esteira voltou a mover-se puxando-a para trás a uma velocidade que ela não pode fazer nada além de gritar um alto: Aaaahhhhh!!

O corpo de Astrid saiu do túnel e foi de encontro ao chão, onde rolou de um lado para o outro enquanto tossia e tentava não gritar e chorar.

Muito suavemente uma mão tocou o tornozelo de Astrid a qual arregalou os olhos e rapidamente se arrastou para longe daquele toque, indo para debaixo da cama que continha o nome: Chloe, escrito em uma pequena tela, que estava afixada na parte de frente da cama.

Tremendo e com os olhos azuis horrizados, Astrid encontrou os olhos de Lucky a qual estava agachada, com a cabeça apoiada no punho.

— Terminou? Ou tem mais alguma ideia brilhante para escapar?

Em silêncio os olhos de Astrid se voltaram para baixo.

— Acho que as ideias devem ter acabado... ao menos por agora — disse enquanto se levantava. Caminhou até Astrid e lhe estendeu a mão. — Levante! Não será bom para sua cabeça se Chloe te encontrar aí. — Um sorriso surgiu em seus lábios.

— Chloe... está vindo?

— Elas deveram estar aqui durante a primeira abertura da cela.

— Ela está bem?

— Acredito que até ao momento suas feridas já devem estar curadas, por ser do mesmo tipo sanguíneo que Kora, seus ferimentos curam muito mais rápido após receber o sangue.

— Sangue?!

— Ande logo, meu braço está ficando dormente.

Astrid olhou para a mão que lhe era estendida e a segurou. Lucky a puxou e a ajudou a ficar em pé.

— Os ratos...

— Eles são simpáticos. — Sorrindo deu um leve tapa no ombro de Astrid e foi para sua cama. — Boa noite Astrid!

Já em sua cama, Lucky se cobriu até a cabeça e em seguida os ouvidos de Astrid foram atacados por pequenos ruídos os quais a fizeram se jogar em sua cama e cobrir-se até a cabeça, sem sequer se importar em tirar as botas.

Com as mãos atrás da cabeça, Lucky sorriu enquanto assistia sua companheira tremer debaixo do cobertor.

.

.

Quando Astrid despertou Chloe e Aiyslnn já haviam chegado. Nenhuma delas falou, ao menos não com ela. Em silêncio suas companheiras foram para o banheiro, e mesmo quando Astrid as seguiu, nenhuma delas disse algo, nenhuma expressou surpresa ao vê-la seguindo as regras.

Após um inesperado banho de água quente, Astrid e suas companheiras deixaram o banheiro e cada uma, exceto ela seguiram para o túnel que se encontrava perto de suas camas e lá colocaram suas bolsas, apertaram no botão que havia perto dele, fazendo assim a esteira começar a se mover levando a bolsa preta para longe. Após perder de vista a bolsa de Chloe, Astrid baixou o olhar para a que estava em suas mãos e assim calmamente repetiu as ações de suas companheiras e no final sentou-se em sua cama.

O silêncio perdurou, porém Astrid achou que só ela deveria estar se sentindo desconfortável, visto que as outras não carregavam tais expressões ou davam algum indício disso. Lucky estava sentada na beirada da cama, movendo os pés e a cabeça ritmicamente enquanto tinha os olhos voltados para o teto, onde não havia nada de especial para ver, ao menos foi isso que Astrid concluiu quando seguiu seu olhar, a fim de ver o que ela tanto olhava.

Aiyslnn por sua vez estava apoiada na cabeceira da cama, seu rosto estava pálido e seu cabelo com mais fios brancos, entretanto a mancha azul que Astrid se lembrava de ter visto na noite anterior já não mais cobria sua pele. Os olhos azuis ainda estranhos para ela, pareciam distantes enquanto olhava para parede oposta a qual sua cama era encostada e tal como aconteceu com Lucky, Astrid não encontrou nada de interessante nela e por fim seus olhos se voltaram para Chloe.

Seu cabelo ruivo na altura do queixo, cobria seu rosto que estava voltado para o chão. Suas costas estavam curvas e assim ficaram até que a porta da cela se abriu.

Uma a uma elas foram deixando suas camas, indo em direção a porta e novamente Astrid somente as seguiu. Da cela do lado oposto saíram os três meninos, ostentando um ar cansado, porém sem qualquer sinal de ferimentos. Alguns breves cumprimentos foram trocados, alguns de seus companheiros se mantiveram em silêncio, outros desataram em uma conversa animada e um pouco alta demais para duas pessoas que estavam bem próximas uma da outra e dois deles se mantiveram atrás de todos conversando em um tom muito baixo, contudo Astrid em algum momento enquanto caminhavam ouviu um: Me desculpe, vindo de Logan para Aiyslnn que sorriu gentilmente e depois desatou a falar em um tom baixo demais para a audição de Astrid, que decidida a não bancar a fofoqueira desviou sua atenção para o corredor cheio de guardas em cada esquina e vários adolescentes de uniforme azul e crianças de uniforme branco. A maioria tinha expressões cansadas, cicatrizes no rosto, nas costas das mãos e pescoço. No entanto seus olhos puderam registrar alguns sorrisos, conversas em um tom alto demais e algumas pessoas bem peculiares.

Após virarem em dois corredores, Astrid se viu em um amplo refeitório que tinha as mesas divididas em brancas, azuis, pretas e uma única que tinha as três cores e um grande número zero em sua superfície. Ela ficava no centro do refeitório enquanto que as outras mesas também numeradas ficavam ao seu redor a uma pequena distância. Provavelmente o lugar dos populares. Astrid pensou antes de se mover mais para dentro do refeitório. Parou em frente a uma tela enorme onde era apresentado diversas informações em blocos tais que eram referidas como atividades e conectadas a cada bloco havia um grupo e dentre eles Astrid encontrou o número quinze ligado a duas atividades que eram: Tiro com arco e corrida com obstáculos.

Esses são os supostos treinos? Não parecem ser muito dificeis.

— Venha! — Uma voz baixa chegou aos ouvidos de Astrid, que prontamente descruzou os braços e virou-se, encontrando assim um rosto conhecido, porém tal como aconteceu com Lucky, ela não se lembrou de seu nome.

O menino de olhos cinzentos não disse mais nada e somente a puxou pela manga da camisa. Afastou algumas poucas pessoas guiando-a assim para uma fila, onde a colocou a sua frente e atrás de Chloe.

Os minutos foram morrendo, a fila foi encurtando até que Astrid se viu diante de uma bandeja de...comida? Ela não tinha a certeza, quer dizer havia um pão, que não parecia delicioso, uma caixa de leite, um copo de água e por fim uma tigela com alguma substância que ela não conseguia identificar, tudo que sentiu foi repulsa instantânea, ela definitivamente não iria comer aquela coisa, não quando não conseguia sentir qualquer cheiro conhecido vindo dela, na verdade ela até estava em dúvida se aquilo realmente cheirava a alguma coisa.

— Pegue-a.

— Essa coisa...— Apontou para tigela. — É realmente o pequeno almoço? Não! isso é realmente comestível?

— Dizem que é. Agora pegue, não tarda o sino irá tocar.

Astrid quis perguntar sobre o sino, mas achou que talvez atrasar a fila, naquele lugar poderia acabar em punição também, então engolindo suas reclamações sobre a aparência ruim da comida, pegou na bandeja e saiu da fila.

Seu companheiro de cela deu dois passos em frente e a esteira elétrica do balcão tornou a se mover e por um pequeno túnel trouxe uma bandeja contendo a mesma comida que havia na bandeja de Astrid. Ele a pegou e saiu da fila.

— Vamos!

O menino começou a caminhar, Astrid o seguiu e enquanto encarava suas costas ela lembrou-se de seu nome.

Jase! Repetiu em sua mente, recordando de Lucky tê-lo pronunciado algumas vezes, quando estavam no corredor.

Jase parou de frente a uma mesa azul a qual continha o número quinze. Todos os seus companheiros estavam sentados à volta dela, deixando assim cinco cadeiras livres na qual uma foi ocupada por Jase e a outra por Astrid.

Enquanto seus companheiros comiam suas refeições, Astrid encarava sua própria bandeja, mas especificamente para sopa, tal que não conseguia parecer minimamente convidativa, nem mesmo quando sua barriga roncava e doía de tal forma que ela envolveu um dos braços ao redor dela e fechou os olhos com força.

— Tudo bem?

Astrid abriu os olhos e os direcionou para Logan.

— Você tem de comer para a dor...

— Estou bem. — Endireitou-se, e desviou sua atenção para sua bandeja, decidida a comer, começou pelo pão que tal como suspeitava não tinha gosto algum e era pequeno, tão pequeno que poderia apertá-lo na palma de sua mão e comer de uma só vez. De seguida tomou o leite e por fim pegou na colher, contudo não conseguiu fazer mais nada além de mexer nela, com uma careta de nojo.

— Podes parar?

— Hum!? — O braço de Astrid parou de se mover e seus olhos se voltaram para Jase.

— Já é bem difícil engolir essa coisa, se...se você ficar mexendo...Apenas pare de fazer isso.

Em silêncio Astrid baixou a colher, segurou o copo de alumínio e tomou o líquido de uma vez.

Argh! Sabe a comprimido.

Pousou o copo e afastou a bandeja.

— Você precisa tomar a sopa.

— Estou chei... — Envolveu os braços à volta da barriga e baixou a cabeça.

— Coma pelo menos um pouco. Não será bom se você estiver faminta.

— Logan tem razão. Você não comeu nada desde que chegou aqui, se for para os treinos vais perder a consciência muito rápido e caso as tuas dores de estômago prosseguirem, provavelmente não conseguiras nem passar pelo primeiro obstáculo.

— Meu estômago vai parar de doer logo. — Encarou Edward. — Eu vou ficar bem, não precisa se preocupar comigo.

— Não estou preocupado com você. — Baixou seu olhar para sua tigela e começou a despedaçar a metade do pão que havia sobrado. — Estou preocupado com todos nós. Se você cair...caímos todos.

O som de um sino preencheu o ambiente e ao som dele várias pessoas incluindo seus companheiros se levantaram.

— Levante!

— Porquê? Não... para onde? — perguntou para Jase.

— Para mais uma tentativa de morte forçada.

.

.

— E-e-e-espereee!!

— Não grite. — Jase abaixou o arco, pela quarta vez. — Se acalme ou em vou realmente acabar machucando você — falou em um tom calmo que foi rebatido pelos gritos de Astrid.

— Você quase perfurou meu braço, seu idiota. Como quer que fique calma.

— Não exagere. Nem cheguei a pegá-lo de raspão.

— Mas poderia!!

— Mas não o fiz. Então por favor! Pare de gritar, estás a tirar toda a minha concentração e todos sabem que quando não estou concentrado, me torno ainda pior.

— É verdade! — disse uma mulher de cabelo azul, a qual estava parada bem ao seu lado desde o momento que ela descobrira como funcionava o treino de tiro com arco. — Ele consegue ser ainda pior do que já é. Aconselho-te a ficar muito quieta.

Jase levantou o arco e apontou a flecha no alvo que se encontrava acima da cabeça de Astrid.

— Não mova a cabeça de forma alguma. — Avisou e assim Astrid o fez enquanto fazia uma oração silenciosa. Seu companheiro soltou a flecha ao passo que ela fechou os olhos com força e quando tornou a abri-los a primeira coisa que perguntou foi:

— Minha testa?!

— Está bem. Ele não te acertou e...nem ao alvo.

Um suspiro escapou dos lábios de Astrid que tentou inclinar seu corpo para frente, entretanto foi impedida por dois cintos grossos de metal que a prendiam a um poste que ia até ao teto, com vários discos de madeira presos aos seis braços do poste, estando três deles em cada lado e um sétimo disco se encontrava um pouco acima de sua cabeça, no entanto ela não era a única nessa situação, mas ao contrário dela os outros não pareciam aterrorizados, alguns deles até acabaram tirando um cochilo enquanto um outro alguém atirava uma flecha nos alvos que estavam perigosamente próximos de seus corpos.

— Já posso sair? — Pela décima vez Astrid perguntou a mulher de fato preto, e novamente ela negou com a cabeça enquanto escrevia algo em seu tablet.

— Faltam apenas mais duas pessoas. Aguente mais um pouco!

Duas! Astrid tentou sorrir. Faltam apenas duas pessoas...Eu vou morrer!

— Pode começar.

Astrid levantou seu olhar, e onde antes estava Jase agora se encontrava Chloe.

— Não se preocupe. — Levantou o arco. — Sou melhor que o Jase, nisso. Não falho o alvo e acerto exatamente onde quero.

Astrid engoliu em seco, quando Chloe apontou para seu coração.

 



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