Emissários da Magia Brasileira

Autor(a): Gabriel Gonçalves


Volume 1

Capítulo 26: Isolado

— Faremos o seguinte: vamos usar nossa vantagem numérica para subjugá-lo, ele pode ser mais forte, mas além de termos a Sira aqui, ele não vai conseguir lidar com tantos de nós! Ele não está em um bom estado racional e está usando sua magia sem cuidado algum, não vai demorar muito para ficar esgotado — disse Luther.

— Pensou nisso bem rápido, a mestre Lihua vai ficar orgulhosa! — disse Sira.

— Esqueceu que esse era o erro que eu mais cometia?

“Muita energia mágica, mas falta de cuidado a administra-lá”, pensou Sira.

A princesa sorriu se lembrando de como Luther era descuidado antigamente, mas voltou sua atenção para o draconiano que lançou suas esferas contra os emissários. As esferas foram mais rápidas do que antes fazendo com que os emissários esquivassem com dificuldade, Sira observou que a ferida na barriga de Castiel não estava regenerando.

Quando Castiel avançou na direção de Lia, Luther e Sira foram ao encontro do draconiano.

— Formem um círculo ao redor dele! Para ele não conseguir fugir! Eu vou primeiro, cuidado para não serem atingidos! Arte Elemental: Passos de Vento! — disse Sira.

Dando um pulo para trás, Lia escapou das chamas do draconiano e em seguida bloqueou suas investidas com a sua Adaga. Sira atingiu Castiel no queixo com o cabo de sua katana fazendo ele cambalear, o draconiano tentou atingir a princesa com suas asas, mas ela sendo mais rápida o atingiu em seu ferimento na barriga. 

Luther tentou se aproximar de Castiel, mas ele cuspiu fogo para que ele recuasse. O draconiano levantou voo, mas Sira e Sho usando o impulso de vento, se lançaram em sua direção para evitar que ele fugisse. Castiel, no entanto, foi ao encontro de Sho o atingindo com um chute o lançou de volta ao chão e evitou a princesa, Sira conseguiu pousar sem dificuldade, mas logo foi alertada pelo grito de Lia que o draconiano estava indo em sua direção. 

A princesa conseguiu desviar de seu soco revestido de fogo e o atingiu na perna direta com um corte preciso de sua katana, mas foi atingida pela cauda do draconiano. Alastar correu para segurar Sira, enquanto os demais emissários atacavam o draconiano. 

Quando Alastar estava prestes a se retornar para a batalha, a sua atenção foi roubada pelo olhar de desespero de Jasmim, que percebeu que as ervas medicinais que tinha não eram o suficiente e estava perdendo Kira. Ele correu até Jasmim e disse:

— Jasmim! O que está havendo?!

— A regeneração de Kira não está conseguindo dar conta dos ferimentos, a energia mágica dela está muito baixa e a caçadora também está com sua respiração piorando! Podemos acabar perdendo as duas! — disse Jasmim.

— Espera, você está tentando salvar essa caçadora também?!

— Ela pode ser útil para conseguirmos informações… e ela não parece ser igual aos outros! Mas nada disso importa agora, por favor fique aqui protegendo as duas até eu voltar com mais medicamentos!

Receoso o homem reveza seu olhar entre os emissários e as duas mulheres no chão e notando isso, Jasmim segurou a sua mão e disse:

— Alastar, eles vão conseguir! Não se preocupe, a Sira e o Luther são muito cabeças duras para perder.

— Tudo bem, Jas. Pode ir, eu vou ficar aqui! — disse Alastar.

— Obrigada!

Usando os passos de vento, a kitsune foi em direção ao bar para poder impedir que Kira e Ash morressem. Em paralelo, Sira lançou contra as chamas expelidas por Castiel uma forte corrente de ar. 

Sho e Lia, aproveitando que Castiel estava concentrado em Sira, tentaram segurar o draconiano pelos braços, mas ele ainda resistia fervorosamente. Luther o puxou pelo pescoço, o imobilizando com seu braço e direcionando seu rosto para que não atingisse mais a princesa ao cuspir fogo. 

— Segurem ele firme! — disse Sho.

— Ele é muito forte, como ele ainda não caiu de exaustão! — disse Lia.

A princesa instintivamente chutou uma de suas pernas para que Castiel caísse no chão e os emissários o seguravam enquanto ele se debatia e grunhia tentando se libertar.

— Deve ser a adrenalina ajudando ele! — disse Sira.

— Castiel! Me escute, a batalha já acabou, por favor, você está seguro! Por favor, chega! — disse Luther.

— Castiel! Precisamos que você pare com isso! — disse Lia.

Escutando a voz distante de Luther e Lia, Castiel se encontrava em um lugar bem diferente de Port Strong. Ele estava sentando e encolhido no chão de um quarto antigo e escuro, nem mesmo as chamas que o cercava em um círculo pareciam capazes de iluminar a escuridão.

— Eu não sei como parar! Eu já tentei, mas eu não consigo mais sair daqui! — disse Castiel.

Suas palavras eram carregadas de frustração por saber que não conseguia ser ouvido por seus colegas, enquanto seu corpo continuava lutando do lado de fora para se libertar e ferindo aqueles que queriam o ajudar no processo. 

“A caçadora estava certa, eu sou um monstro! Deve ser por isso que eles estavam receosos quando viram a minha runa, já deviam saber que isso iria acontecer!”, pensou Castiel.

Ele sabia que estava lutando contra seus companheiros, porém não sabia ao certo o que seu corpo estava fazendo e se perguntava se não feriu gravemente ou até mesmo matou alguém em seu acesso de raiva. 

— Eles nunca deviam ter confiado em mim! Eu nem ao menos sei quem eu sou, como eu poderia conseguir usar minhas habilidades? Como eu pude ser tão tolo! — disse Castiel.

— Castiel, você não é um tolo, pelo menos não o tempo todo — disse uma voz familiar.

O draconiano se levantou assustado olhando ao seu redor à procura de quem havia falado com ele, mas não conseguia ver nada além do muro de chamas que o cercava. Após alguns segundos ele escutou uma risada e foi então que ele se deu conta de quem era.

— Você é a pessoa de antes… a mulher que tem me ajudado. Eu pensei que você tivesse sumido — disse Castiel.

— Eu te ajudei? — disse a voz.

— Nas lutas, você me ajudou a lembrar como usar as minhas espadas direito e eu também vi você em um dos meus sonhos. Eu não consigo me lembrar de nada sobre quem eu sou, além do meu nome, você é a única coisa que eu tenho do meu passado.

Confuso por começar a lacrimejar, ele pode ver, em uma das extremidades das chamas, a mulher de cabelo e olhos vermelhos sorrindo para ele e também lacrimejando.

Desta vez ela estava vestida com traje de mercenária, mas aparentava se tratar de uma mercenária de elite pela qualidade dos seus equipamentos, com os mesmo tons de preto e vermelho. Ela passou pelas chamas e abraçou Castiel que retribuiu mesmo não sabendo ao certo que era, ele chorou sentindo um enorme alívio em seu peito.

— Eu achei que tinha te perdido, tem tanta coisa que eu queria te falar! Nós não temos muito tempo, eu posso sentir que você está muito fraco, está na hora de voltar ao controle e parar antes que você se mate por exaustão — disse a mulher.

— Você poderia dizer pelo menos que eu sou? — disse Castiel.

— Castiel, você precisa sair daqui! Essa não é a última vez que vamos nos ver, eu vou te explicar tudo, até porque eu mesmo tenho algumas perguntas. Agora segura minha mão, hora de sair desse círculo.

— O fogo não me deixa passar! Eu já tentei, ele quase me queimou!

— Estamos na sua mente, Castiel, confia em mim, você vai conseguir. Não tenha medo do seu poder e ele vai obedecê-lo.

Respirando fundo, o draconiano pegou a mão da mulher e os dois caminharam em direção às chamas.

Retornando a praça, Luther percebendo que Castiel parou de se debater, foi o primeiro a soltá-lo e disse:

— Castiel?

Não houve resposta alguma, os outros seguiram o exemplo de Luther soltando Castiel. Embora Sira e Sho optaram por continuar com suas armas em mãos, prontos para agir caso aquilo fosse um truque. Jasmim, que havia retornado com medicamentos, cuidava de Kira e Ash com a ajuda de Jinn que havia se juntado a eles, mas ao ver que soltaram Castiel, Jinn pediu licença para averiguar a situação.

Acordando, Castiel sentiu seu corpo pesado, principalmente na região do tórax. Ele tentou se mexer, mas ao sentir dores por todo o corpo se manteve parado no chão.

— Calma, você abusou demais do próprio corpo, sua energia mágica está baixa, então sua regeneração não vai funcionar bem — disse Luther.

— Kira… a caçadora… bem? Elas estão bem? — disse Castiel com dificuldade.

— Elas vão ficar bem, já estamos cuidando dela e você é próximo — disse Jinn.

— Ótimo, eu pensei…

Castiel se interrompeu ao lembrar da emissária de sangue e novamente teu sem levantar sem sucesso.

— Não faça isso, nesse estado você não vai conseguir se mexer sem causar um dano permanente — falou Lia.

— A Ena… eu tava lutando com ela… muito forte…

— A Ena era a Emissária de Sangue?!

Castiel assentiu e Luther voltou a falar:

— Ela já se foi, quando nós chegamos só estava você aqui. Acabou Castiel, descansa um pouco.

Se acalmando com o sorriso de Luther, Castiel fechou seus olhos se entregando à fadiga e a sua forma voltou a aparência humana. A princesa olhou para Sho e mesmo com o plano de Luther dando certo e tendo ouvido sobre a situação de Castiel, ela foi atingida por uma enorme desconfiança.

“Se ele consegue esconder a sua verdadeira forma, é possível que outros como ele, estejam fazendo o mesmo? Por que os draconianos estão se escondendo por tanto tempo? Como esse tipo de magia é possível?”, pensou a Princesa do Vento.

— Luther, eu vou querer escutar de novo tudo que aconteceu aqui, mas com detalhes. Um resumo está longe de ser satisfatório dada as circunstâncias. Você entendeu? — falou Sira.

Desconfortável com o tom formal de Sira, Luther se levantou do chão ignorando as contusões e ferimentos e falou:

— Agora que tudo acabou vamos ter tempo de sobra, então não se preocupe, eu vou te contar tudo que precisar saber.

“Queria que realmente tivesse tempo de sobra, mas vou te poupar disso agora. Você pode enganar os outros, mas posso ver que está exausto, devem ter sido dias difíceis para você, desculpe ter demorado tanto”, pensou Sira.

— Bom, vamos levar esses três embora daqui. Essa praça parece agora um cenário de guerra, uma cama em um lugar melhor é o mais apropriado — falou Sira.

Enquanto Luther e Sho pegavam Castiel e Jinn ia até Kira e Ash para irem a outro lugar, Himiko chegou acompanhada de Koloman. A nobre se espantou com o estado em que a praça estava, porém, continuou caminhando até Luther.

— Seu rosto está horrível — falou Himiko.

— Você devia ver o outro cara, uma pena que ele fugiu — falou Luther.

— Desculpem, eu não consegui impedir ela de vir. O emissário que estava conosco, pediu para esperarmos, mas depois que passou um bom tempo sem sons de luta, ela quis vir aqui para ver como o senhor estava — disse Koloman.

O rosto de Himiko ficou inexpressivo, embora por dentro ela estivesse constrangida com a fala de Koloman, mas optou por não permitir que aquilo transparecer dada a seriedade da situação que estavam e após analisar seus arredores a nobre disse:

— Luther, o que aconteceu aqui?! Isso não foi os caçadores, não é?! A cidade está segura?!

— Isso é uma longa história, eu vou te explicar tudo, mas fique tranquila, Port Strong está a salvo. Nós conseguimos. A cidade está a salvo.

Uma lágrima escorreu do rosto de Himiko, sentindo o enorme cansaço dos últimos dias que tiveram e mesmo que estivesse cheia de perguntas, se contentou naquele momento a sentir o alívio de que o pior por fim havia passado.



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