Volume 1

Capítulo XXIII: Confraternização Beneficente

No dia seguinte o monarca acompanhado de sua família e de Kuria foram para o evento de caridade nos subúrbios da capital. A família imperial trajava trajes simples de passeio enquanto Kuria vinha vestida com sua farda de Marechal.

D Rafael optou como gostava de fazer dirigir ele mesmo o carro oficial sendo acompanhado por uma discreta escolta até o destino e enquanto dirigia resolveu pôr em dia os assuntos com Kuria.

—Então cara amiga, como vai aquele rapaz?

—Gilmar?

—Sim, há tempos não tenho notícias dele...

—Se não me engano Senhor, havia um desejo de ele se tornar um soldado altamente capacitado.

—Sim você ofereceu esta possibilidade e os generais principalmente aqueles que desejavam se verem livres daquele rapaz depois daquela trapalhada no exercício de admissão para o curso de elite apoiaram o plano e lhe deram todo o aval inclusive mandando ordens para que ele se reportava diretamente a você, estou enganado?

—Pai, você fala daquele português que destruiu por engano alguns veículos no treinamento? Perguntou o príncipe herdeiro.

—Sim meu filho este mesmo, veja como um dia difícil ou simplesmente a falta de sorte pode causar a alguém, confesso que fiquei muito sentido com o que aconteceu, mas Kuria o que você fez dele?

—O que eu fiz? Cumpri suas ordens...

—E agora onde ele está?

—Vocês irão gostar de ouvir, há algumas semanas fui com ele a uma cidade onde o coloquei em um Gimnasius para que ele aprendesse com os mestres locais alguns conhecimentos.

—Eles os donos do lugar eram seus devotos, tia Kuria? Perguntou o jovem Pedro Bertrand.

—Não, não, eu não gosto de me apresentar a todo o momento, então o acompanhei como uma companheira, além de dar uma soma de dinheiro em nome do garoto.

—E por quanto tempo ele ficará lá? Questionou D Rafael Antonio.

—Não sei, talvez um ano para ele conhecer o básico...Ah, essa cidade é em território hostil, mas o governante local me deve um favor...

—Kuria, Kuria, não tem jeito você. Respondeu rindo a deusa.

—Veja como fala comigo rainha? Olha, sou uma deusa! Kuria falou em tom de galhofa e todos caíram de rir, D Rafael riu tanto que até perdeu por um instante o controle do veículo quando o seu filho mais velho comentou:

—Pai se deseja morrer de forma idiota que não seja junto comigo assim a coroa do império será minha.

—Fico tão feliz pela consideração que tem por mim meu filho....

Todos riram muito, tão grande foram as gargalhadas antes e depois do momento que o monarca quase perdeu o controle do carro fazendo com que o chefe da segurança um oficial da Guarda Imperial e que estava no carro de trás telefonou para o carro do Monarca que após ativar o viva voz respondeu que estava tudo bem que não tinha ocorrido nada porém o chefe de segurança extremamente preocupado repreendeu ao Cáiser e ameaçou no próximo gabinete comunicar o incidente esperando que pela integridade do monarca o mesmo fosse proibido de dirigir.

Assim logo chegou ao local do evento a comitiva imperial que atendendo aos desejos do monarca foi o mais discreta possível, apenas o mínimo necessário para garantir a segurança da família imperial e era constituída de apenas dois veículos oficiais e três pequenos drones, pequenos o bastante para serem lançados e controlados por apenas um operador e que voavam a grande distância a frente e a atrás varrendo com seus sensores todo terreno ao redor.

D Rafael seguido de sua família e de Kuria cumprimentou todos os que viam dando abraços e dando atenção especial às crianças, muitas vindas de orfanatos ou comunidades carentes.

O local nos subúrbios da capital era amplo, ali antes era um bairro cheio de habitações irregulares, mas que o governo há alguns anos tratou de construir habitações dignas aos moradores que quando receberam em mãos seus novos lares propuseram que os barracos fossem demolidos e se criasse um espaço amplo para eventos comunitários, oficinas, cursos profissionalizantes, aulas de várias modalidades esportivas, artes e música.

Do lado havia uma antiga planta de uma fábrica de cimento e tijolos que por vários motivos acabou falindo e uma vez que abandonou o terreno foi decidido que o local seria demolido e em seu terreno se construiria uma fazenda modelo para que as crianças e os jovens pudessem conhecer e aprender novas atividades tendo essa fazenda constituindo parte importante do complexo que passou a se chamar Paço do Porvir.

Estava cheio de mesas, barracas e locais de jogos, na entrada uma paróquia erguida em honra de Nossa Senhora Aparecida padroeira da capital e do Império e foi para lá inicialmente que o monarca se dirigiu com sua família, pois como bom católico primeiro participou dos ritos sacros.

Kuria já tinha neste curto tempo de convívio com os Brasileiros e presenciado vários exemplos de devoção típica e inerente deste povo. O seu subordinado e por que não meio a contragosto, protegido, rapaz que ela sem saber o motivo desejou sua alma constantemente realizava privadamente rituais de devoção tendo entre os itens que solicitou levar contigo, quando ordenado a conviver com ela no seu templo, um altar com imagens de Santos Católicos tais como a Virgem, São José, São Nicolau, São Jorge, Santa Albertina, Menino Jesus entre outras figuras menores do qual tinha admiração e para os quais pedia a intercessão ao seu Deus.

Porém Kuria jamais tinha assistido uma missa e observou curiosa aquela fé que lhe ainda era estranha, assistiu sentando-se próxima a porta, os fieis que ali passavam sabiam que ela era uma dita divindade pagã que inclusive demonstrou o porquê de ser uma, mas ninguém a destratou e todos a cumprimentavam com respeito.

Sentada observou com curiosidade e tal como se estivesse em um templo de um deus estrangeiro (certa vez ela deu a entender que os duocoteseus não eram os únicos existentes no novo mundo tendo ela inclusive em sua longa existência visitado templos de outras divindades em terras distantes).

Enquanto observava a missa, um monge franciscano em seu rústico hábito cujo semblante transmitia seus votos de pobreza e humildade de sua vocação sentou—se ao seu lado e disse:

—Sei quem você é, uma divindade pagã.

—Jovem está me ameaçando?

—Não, não, se tu vieste à casa do Senhor e dele está participando, mesmo como espectadora, da comunhão então pelo menos neste momento és minha igual como todos aqui fico feliz e honrado em ver que até deuses pagãos vem até aqui observar a ceia do Cordeiro, se desejar eu posso explicar o significado de cada ato pois não importa qual mundo que seja e por mais caótico que seja, tudo tem um lugar e razão de estar e existir.

—Interessante eremita, eu irei permitir mesmo eu sendo a divindade da inspiração e que tem o poder natural de aprender a quem me foi ensinada esse dom por minha amiga a deusa da sabedoria (essa divindade se chamava Filaka Vivlios Foreas ou Portadora e guardiã do Livro) que me mostre o significado destes ritos.

Apesar do ar arrogante desta fala, Kuria ouviu curiosa as explicações que o monge dava ao longo da celebração religiosa sempre feita de forma calma e tranquila.

Finada a celebração o Monarca demorou um longo tempo cumprimentando muitas pessoas de várias origens e condições e continuou dando um tempo especial às crianças e jovens dando conselhos e cobrando desempenho nos estudos. 

Depois Kuria ficou sabendo que muitos daqueles jovens principalmente os mais pobres estavam apadrinhados pelo imperador tendo inclusive alguns órfãos que quando chegasse à maioridade poderia utilizar como nome de família o sobrenome escolhido especialmente para eles: Bragança—Juvante ou ajudado pelos Braganças para que nunca se esqueçam que na necessidade foram acolhidos pela Casa Imperial.

Então a família imperial com seus amigos seguiram para a primeira rodada de Bingo, os seguranças, soldados de elite da Guarda Imperial estavam atentos, mas a paisana garantindo a segurança do César e de todos, tão discretos que um leigo não saberia identificar, poderia ser o cara legal que disputava os jogos com o coração tal como um competidor profissional ou alguém que brincava com as crianças e todos imaginariam que ele era um Pedagogo ou Pedagoga de vocação ou longa data ou simplesmente alguém que ama cuidar dos fracos e inocentes.

Todos compraram suas cartelas de bingo e Kuria tirando de sua bolsa um artefato, um broche de ouro que recebeu há muito tempo como oferenda entregou para os organizadores da partida e disse:

—Esta será a última prenda, mas se é para fazer algo útil se é para ajudar muita gente como me falaram e espero que seja verdade que se triplique o valor da cartela na rodada final, o vencedor terá este valioso objeto que eu cedo a vocês!

Sem palavras os juízes ficaram olhando uns para os outros e depois de um breve silêncio aceitaram as condições, aquele objeto seria a prenda final e o valor da cartela seria três vezes mais caro.

Tudo foi correndo bem ao longo do dia, parece que a vida é cheia de coincidências, pois na rodada final do Bingo coube a sorte figura oculta, mas sempre presente no cosmo, o capricho de escolher um jovem historiador, antiquário e colecionador, o prêmio daquele belo artefato.

Kuria parabenizando o jovem disse:

—Cristão! Lembre-se que a sorte lhe premiou com uma oferenda que eu a própria Kuria Epcha recebeu de meus devotos e por generosidade o tirou de seus espólios e botou a prêmio em prol da causa dos mais fracos, não se esqueça!

Os olhos dela brilhavam e o jovem via uma emanação rara de energia em volta que dava um ar angelical, mas ao mesmo tempo causava pânico, vultos em forma de asas podia ser vistos por suas costas, tudo foi tão intenso e tão rápido o rapaz pensou ter delirado, pois sabia quem era aquela moça que o abordou e desde então julgou aquela visão como fruto de sua imaginação movida pela mistura intensas de sentimentos desencadeadas pela obtenção de valioso artefato e presença da dita divindade do novo mundo.

Terminada as celebrações e confraternizações daquele dia todos se recolheram e Kuria retornou para o Palácio da Alvorada junto com a família imperial, no caminho de volta o Monarca comentou:

—Fico extremamente feliz e animado com a quantidade de recursos que levantamos para aquela galerinha, a cada ano, cada evento que passa mais pessoas ajudam, acho que por hoje minha missão está cumprida.

—O que fará agora Kuria querida? Perguntou a imperatriz

—Bom, vou ficar em um hotel esta noite e amanhã pegar um avião para São Paulo e de lá seguir para a Mesogeia, tenho negócios a resolver.

—Fique mais um pouco Marechal, ainda não me contou direito o que foi feito de Gilmar, a onde é esse ginásio, como viajaram o que está sendo dele.

—(Risos) Se é do desejo de meu imperador, entenderei isso como uma ordem e vou contar de forma mais detalhada quando chegarmos. Sabe crianças vosso pai é um soberano de fina estirpe, pois se preocupa com cada um dos soldados que juraram por espontânea vontade enfrentar a morte pela glória do nome de seu Deus e de seu monarca, não me lembro de ter visto isso de onde vim.

—Somos mais civilizados e avançados senhorita Marechal

—Não importa se vocês são avançados ou atrasados, soldados são soldados e na guerra as pessoas morrem em bom número, eu vi com meus próprios olhos, as guerras deste lado são mais mortíferas do que do meu lado.

—De certa maneira sim e de certa maneira não.

Chegando finalmente em casa, D Rafael mandou servir uns biscoitos de maizena com chá mate, nada mais Brasileiro e Kuria então contou sobre o paradeiro de Gilmar de Leiria Castanho e a sua estranha aventura na presença de Kuria.

Quando começou a contar algo estranho começou a surgir, o tempo pouco importava, era como se a família imperial fosse transportava para outro lugar e tudo o que Kuria contou eles não ouviram, mas testemunharam tal como expectadores de um filme, e a deusa, maestro e regente da sinfonia disse:

—E iniciou assim majestade.. 

 

 

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